quinta-feira, 15 de março de 2018

JACINTHA SOUZA


TRECHO DE UM DOCUMENTO ESCRITO ENTRE 1866 A 1878, POR EVARISTO ALVES DE OLIVEIRA

A casa de D. Jacintha está situada no Distrito do Arroio das Pedras, distante oito milhas da cidade de Rio Pardo, sendo fundada por Jorge de Souza, que era natural da Ilha dos Açores.
Foi hum dos primeiros povoadores deste districto como o forão Matheus Simões, e João Pereira Fortes, que, guiados pela religião bem entendida lhe servião de bussola no labor da vida domestica, como invariaveis costumes a todas as reformas sociais, e por isso deixarão sanzonados frutos dessas famílias, que formam o pedestal desta Provincia; e que não invejarão aos actuaes Colonos, porque occuparão se simultaneamente na lavoura, na vida pastoril, e em expelir os bugres, e hespanhoes, onde hoje está plantado o pavilhão brasileiro.
Antonio de Souza Nunes, filho de Jorge de Souza era lavrador laborioso, e fazendeiro, e guiava seus escravos desde a idade infantil no ensino religioso, na lavoura, e na vida pastoril, e ao mesmo tempo como se devião portar para com os seus superiores, fazendo sempre essa pratica, por isso sua filha D. Hacintha tirou o fruto benéfico desse resultado, que, vivendo n’uma casa de campo exolada, foi sempre obedecida por elles, e respeitada pelas forças beligerantes dos LEGAIS, e REPUBLICANOS por espaço de dez anos da revolução nesta Provincia.
Hua força republicana de tres mil homens ali estivera acampada mais de um mês, defronte de sua casa, e não só a respeitavam, como a seus fâmulos. Os officiais, e generaes diambos os partidos lhes offerecião proteção por escrito, para que as forças sob suas influencias a respeitassem, e não fizessem o menor insulto em sua casa, mas ella recusava a todos esses offerecimentos, por que o seu partido era a caridade, curando, e cuidando aos doentes, e dar de comer a quem chegasse a sua casa com fome, sem attender a partido algum, e assim foi venerada, e respeitada por todo as as pessoas que alli chegavão.”

NOTA DA REDAÇÃO – É evidente que se trata da Revolução Farroupilha (1835-1845). Possivelmente é a mesma força que a 30-4-1838, depois de atravessar o Rio Pardo e ali abrir picadas, de Rincão Del Rei a Aldeia de São Nicolau, surpreendeu as forças legalistas em Rio Pardo, enfrentando-as e derrotando-as, no célebre combate de Barro Vermelho.

REFERÊNCIA:
Jornal de Rio Pardo – 20 de maio de 1954. Edição Especial Comemorativa do 66º aniversário da abolição da escravatura (4 folhas).

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