terça-feira, 22 de março de 2016


PRIMEIRA VISITA DE D. PEDRO II A RIO PARDO


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Pedro II, aos 20 anos de idade, 1846 Teresa Cristina, aos 24 anos de idade, 1846

                                       
          Quando terminou a Revolução Farroupilha, D. Pedro II visitou a Província gaúcha. Desembarcou em São José do Norte em 10 de novembro de 1845. Em Rio Grande foi homenageado com um baile que reuniu cento e oito senhoras: “Já dança seis contradanças em uma noite, e já está em um baile fora de casa e de seu Paço, sem sono e sem fastio, até uma hora da madrugada. É um gosto ver os farrapos beijar-lhe a mão e gostar dele. O Imperador ganhou muito nesta viagem e a vantagem que tem adquirido na opinião e amor dos Povos que o têm visto é incalculável.”
                D. Pedro foi escoltado pelo Segundo Regimento de Cavalaria de Osório. A mãe o avisara, em Caçapava: “Vê lá! Tu sabes alguma coisa de etiqueta?” Resposta do militar: “Não se aflija, minha mãe – levo a Jajada para mestra de cerimônias”. Era a criada velha que lhe ensinara os modos da cidade.
                D. Pedro II chegou a Rio Pardo a 1º de janeiro de 1846. Organizando a viagem do Imperador, ainda em 1845 Caxias orientara à Câmara de vereadores de que o Imperador iria percorrer a fronteira depois de sua chegada à Vila de Rio Pardo e que “sem perda de tempo providenciasse em mandar compor as ruas e caminhos públicos.” O Comandante da Guarnição de Rio Pardo, José Joaquim de Andrade, orientou o presidente e demais vereadores, em 4 de outubro de 1845 que providenciasse os concertos em tais caminhos, “com especialidade o que vai ter no Porto do Jacuí, bem como fizesse publicar Edital para que sejam caiadas com a mesma brevidade as frentes de todas as propriedades”. A Câmara lançou mão da “pedra que pertenceu aos antigos Quartéis desta Vila e que hoje se acha em volta de suas ruínas, a fim de ser aplicada para compostura da rua que vai ter ao Porto principal de Jacuí, por onde infalivelmente têm SS.MM. Imperiais de fazer os seus desembarques”, reduzindo à calçada os restos da caserna de Gomes Freire. Manuel Pedroso de Albuquerque ofereceu o seu sobrado, da Rua do Pinheiro, onde repousou a Imperatriz, enquanto o Imperador foi a Cachoeira. Em posterior sessão da Câmara, em 17 de janeiro de 1846, o Vereador Antônio Prudente da Fonseca propôs “que se desse algum testemunho do quanto se achavam possuídos de entusiasmo os habitantes desta Vila, não só pela vinda de SS.MM. Imperiais a ela como por ter ficado entre nós S.M. a Imperatriz, chamando a Rua em que residiram Rua da Imperatriz.” Em 7 de janeiro o Imperador seguiu para Cachoeira.

FONTE:
CALMON, Pedro. História de D. Pedro II. Rio de Janeiro/Brasília: José Olímpio/HNL, 1975. P. 299-303.



domingo, 13 de março de 2016

POVOAMENTO AÇORIANO

                A partir da segunda metade do século XVIII, a política colonial portuguesa na América incluiu uma nova forma de ocupação territorial, com a fixação de médios e pequenos agricultores em várias partes do Império. A instalação de colonos açorianos no Rio Grande do Sul foi acompanhada de iniciativa semelhante por parte do Império Espanhol, com a utilização de colonos trazidos das Ilhas Canárias.
                O domínio da região Platina motivou constantes conflitos militares entre Portugal e Espanha. Portugal precisava colonizar o litoral ao sul de Laguna como forma de ampliar e garantir o uti possidetis em direção à região platina. A Espanha também se esforçava para ocupar áreas na banda oriental do rio Uruguai, a partir de Montevidéu, pois os inimigos das reduções jesuíticas do Tape na corte espanhola eram cada vez mais numerosos, criando problemas para a administração colonial.
                As primeiras levas de casais açorianos chegaram a Santa Catarina com o objetivo de produzir alimentos para as tropas luso-brasileiras envolvidas na ocupação da Prata. Segundo as determinações das autoridades coloniais portuguesas, os colonos deveriam implantar na região um sistema de policultura, o que era compatível com o trabalho de uma família. Além disso, os açorianos constituiriam uma força de reserva, podendo ser recrutada para as constantes lutas na fronteira.
                Com a assinatura do Tratado de Madri, em que Portugal cedia a Colônia do Sacramento e, em troca, recebia da Espanha os Sete Povos das Missões, impõe-se a necessidade de intensificar a colonização no Continente de São Pedro. Para tanto foram levados compulsoriamente casais açorianos de Santa Catarina para o Rio Grande. O objetivo era construir povoados nas zonas fronteiriças e colonizar a área ocupada pelas reduções jesuíticas. Toda essa movimentação dos colonos obedecia a interesses imperialistas e estratégico-militares.
                O plano de ocupação das Missões pelos açorianos não se concretizou. Não houve distribuição de terras nem formação de povoados, pois não foram realizadas todas as demarcações estipuladas no tratado. As duas metrópoles recuaram na execução do acordo, diante da resistência dos missioneiros que causou a Guerra Guaranítica.
                Como os casais de açorianos já estavam a caminho, decidiu-se assentá-los em três locais: nos campos de Viamão, nas margens do leito inferior do rio Jacuí e próximos ao povoado de Rio Grande. Até 1770, esses colonos ficaram concentrados em Viamão e Rio Grande, ou espalhados irregularmente, para não interferirem nas disputas pela posse de terras entre os soldados e ocupantes civis da região.
                O objetivo das autoridades coloniais portuguesas era criar povoados com médios agricultores para servirem na defesa militar contra as invasões espanholas que marcaram o período de 1763 a 1777. A metrópole pretendia também contrabalançar o poder dos grandes estancieiros, apoiando-se politicamente na camada de pequenos proprietários rurais. Os administradores portugueses acreditavam que a imigração açoriana, da forma como era realizada, minimizaria os efeitos negativos da grande propriedade, pouco produtiva e de difícil controle tributário.
                Entretanto, com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso (1777) esses objetivos perderam importância. Os conflitos militares entre luso-brasileiros e hispano-americanos foram reduzidos. A colonização açoriana – destinada a suprir as tropas portuguesas com alimentos e soldados – foi desestimulada, e a política colonizadora da metrópole reorientou-se para as grandes propriedades pecuaristas.
                Em abril de 1751 chegaram os primeiros açorianos em Rio Grande. No início de 1752 chegaram 60 casais para a sesmaria de Jerônimo de Ornelas, em Porto Alegre, outros 20 foram assentados em Santo Amaro e durante três décadas foram assentados em várias partes de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No período da invasão espanhola, entre 1763 e 1777, muitos açorianos foram deslocados para as proximidades de Viamão, Gravataí e Rio Pardo.
                Apesar do caráter policultor do sistema de colonização implantado com os açorianos, a triticultura alcançou um certo desenvolvimento nesse período. Destacado produto de exportação, o trigo possibilitou o enriquecimento de alguns açorianos, mas logo entrou em decadência. As técnicas de cultivo primitivas e os custos elevados dificultavam a competição com outros centros produtores, como os Estados Unidos, a França e a Prússia. Em 1814 os trigais gaúchos foram assolados por uma doença conhecida como ferrugem, agravando ainda mais a situação. Além disso, era comum a Coroa requisitar o trigo para alimentação das tropas, sem pagar o prometido. Outras vezes, os agricultores eram recrutados como soldados para as campanhas militares, deixando a lavoura sem mão de obra. Com o desenvolvimento da indústria do charque, a pecuária passou a ser um forte concorrente da produção de trigo: os colonos que haviam enriquecido abandonaram a triticultura e se dedicaram à criação de gado. Aos açorianos empobrecidos devido à decadência de suas lavouras, só restou trabalhar como peões nas grandes estâncias de gado. Outros se dedicaram às atividades urbanas, servindo de contrapeso ao modo de vida seminômade dos aventureiros que na época eram comuns.
FONTE:

MOURA, Telmo Remião. História do Rio Grande do Sul. São Paulo: FTD, 1994. p. 51-4. 

domingo, 6 de março de 2016

COLONIZAÇÃO ALEMÃ EM RIO PARDO

                O império brasileiro, implantado com a proclamação da independência em 1822, exigia reorganização da Província para adaptar-se às mudanças estruturais da economia brasileira, geradas pela influência do capitalismo inglês. A imigração européia, no caso do Rio Grande do Sul alemã e italiana, tinha função de estimular um mercado consumidor interno e povoar as áreas periféricas, principalmente a zona do planalto norte.
                Em Rio Pardo a primeira colônia alemã começou a instalar-se em 1849: Santa Cruz, formada por pequenos proprietários rurais, com mão de obra familiar, que cultivavam milho, batata, mandioca, feijão, fumo. Mas os imigrantes trouxeram também técnicas manufatureiras, empregadas mais tarde no desenvolvimento industrial. Muitos eram aristocratas e letrados, outros habilidosos artífices em carpintaria, ferraria e sapataria.
                Rapidamente o núcleo colonial desenvolveu-se e a vila organizou-se, com engenheiros da Coroa estruturando estradas, ruas e prédios. Junto com as atividades agrícolas iniciou-se o processo de industrialização, com moinhos, atafonas, engenhos de açúcar, fábricas de azeite, curtumes, fábricas de arreios, ferrarias. Aos poucos foram sendo abertas novas estradas, integrando a colônia e Rio Pardo ao planalto norte e à fronteira noroeste.
                A colônia cresceu e desenvolveu-se rapidamente: em 1872 tinha 7.310 habitantes, enquanto Rio Pardo tinha 11.571. No final do século XIX a população de Santa Cruz superava a de Rio Pardo. E enquanto os colonos faziam carroças, cortavam pedras e tinham artífices para todo tipo de trabalho, os rio-pardenses simplesmente comandavam seus escravos.
                Em 1877 Santa Cruz desmembrou-se de Rio Pardo. Rapidamente, mostrou-se como um município de grande diversidade produtiva, especializado na produção e exportação de fumo, com atividades comerciais intensas, que logo fizeram surgir novos setores de serviços e infra-estrutura urbana: telefonia, iluminação a gás, água encanada, melhoramentos urbanos, mercado público, companhias de seguros.
                Observa-se, hoje, que Santa Cruz do Sul surgiu de um núcleo colonial, formado a partir de pequenas unidades de exploração, com produção diversificada, criando distribuição de renda menos concentrada, o que resultou numa rede urbana formada por pequenos núcleos próximos uns dos outros. Os descendentes de imigrantes alemães – a exemplo do que fizeram também os italianos – dinamizaram a economia do Rio Grande do Sul, tornando-a industrializada, enquanto a Região Sul permanecia fiel ao manejo do gado.

OBS: Outras colônias alemães criadas no território de Rio Pardo: Rincão Del Rei, 1850; Monte Alverne, 1859; Rio Pardense, 1862 e Candelária, 1863.

FONTE:  SILVEIRA, Emerson Lizandro Dias. Transformações na organização espacial do município de Rio Pardo- RS. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós- Graduação em Geografia, Área de Concentração Meio Ambiente e Sociedade, da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Geografia. Santa Maria, 2009.
Disponível em: http://cascavel.ufsm.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2863