segunda-feira, 19 de março de 2018

FREDERICO AUGUSTO HANNEMANN


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A Fazenda Abelina

Quando emigrou para o Brasil, Hannemann tinha 34 anos. Já acumulava bons conhecimentos sobre apicultura, silvicultura, fruticultura e fabricação de vinhos. Na Fazenda Abelina aplicou todos esses conhecimentos, criando “um dos maiores apiários até então existentes no Brasil. Hannemann, cognominado ‘o pai das abelhas’ do Brasil, foi precursor da apicultura adiantada pois introduziu muitos melhoramentos na criação de abelhas, usando métodos próprios e processos contrários aos da  maioria dos apicultores de então. Foi o arauto da formação de colméias gigantes pela reunião de diversos enxames e como nesse processo era necessário separar as rainhas e as engaiolar, inventou a peneira de abelhas e as gaiolas de passagens, apetrechos que trazem seu nome. Embora conhecendo o sistema mobilista, não usaria em seu apiário as colméias de quadros, mas um sistema que ideiou, vantajoso para aqueles tempos (...). (Bergmann, 1954, p. 99)
Aos poucos foi adaptando suas terras para o desenvolvimento da apicultura. Cultivou flores e criou um pomar com as árvores que julgava mais apropriadas para seu objetivo: marmeleiros do Japão, caquizeiros, jaboticabeiras. Também plantou magnólias e eucaliptos. Fazia de tudo, de acordo com um planejamento prévio. Logo se deu conta de que as abelhas da espécie Apis mellifera mellifera, que trouxera da Alemanha, não se adaptavam bem ao novo ambiente. Por isso, trouxe da Itália a espécie Apis mellifera lingusta e providenciou o cruzamento das duas espécies, obtendo uma nova variedade, perfeitamente adaptada ao novo clima.
No final do século XIX Hannemann usou seus conhecimentos literários e difundiu sua experiência. Escrevia artigos para jornais e revistas especializadas do Brasil e da Alemanha, tornando conhecidas suas novas idéias, que revolucionaram os conceitos da apicultura européia e atraíram outros apicultores alemães para o sul do Brasil.
Na revista Brasinialische Bienenpflege, publicada por Emilio Schenk, em 1899, Hannemann explicava: “Para Portugal chegam os trabalhadores, vindos da Espanha para ajudar na colheita de uvas e fabricação de vinhos, por salários baixos. Assim fazem os fazendeiros alemães contratando todos os trabalhadores disponíveis, na época da colheita de cereais, para aproveitar o bom tempo. Terminada a colheita, precisa-se menos operários, pois há menos trabalho. O mesmo acontece com as abelhas, na primavera, no período forte da floração, nunca se tem abelhas demais. Porém, antes da florada e depois, precisamos menos abelhas.” (Muxfeldt, 1977, p. 250)
Descrevia o emprego dos caixilhos alemães, que favoreciam a mobilização mas eram muito caros, obrigando-o a desenvolver um método próprio. Relatava que “no meu colmeal embora tenha 150 passos de comprimento, os apicultores da escola moderna ficarão desapontados, porque nele não encontrarão nenhuma das caixas dos famosos apicultores alemães”. (Pimentel, 1954, s/p) Explicava mais: que seu processo era diferente do praticado na Alemanha porque ele, além do mel, queria a cera, produto muito valorizado na época. Defendia a importância da prática da reunião de enxames: “10 a 20, para formar famílias gigantescas. Eles conservam os favos velhos todo o tempo possível, e eu os tiro, se puder, todos os anos, porque as abelhas preferem as construções novas e nelas a prole se desenvolve melhor. Eles têm de prover os caixilhos de favos artificiais inteiros ao passo que eu só dou aos primeiros enxames tiras de favos naturais de uns 10 cm de largura e aos outros, apenas tirinhas estreitas, como início. Segui um sistema diferente dos métodos usados na Alemanha. Aqui o meio é outro. Deste modo criei meu colmeal e meu sistema de trabalho apropriado ao clima do Rio Grande do Sul.” (Pimentel, 1954, s/p)
Na Fazenda Abelina também se produzia vinho. É importante citar este fato, para se ter a real dimensão do pioneirismo de Hannemann. Em 1872 a Câmara de Vereadores de Rio Pardo informava ao Governador da Província, Dr. José Fernandes da Costa Pereira Júnior: “que o cultivo da vinha com o fim de utilizar-se no fabrico do vinho é uma forma que demanda capital, pois que este fabrico sem ser simples no seu processo requer certas acomodações e especialidades superiores às condições econômicas da maior parte dos nossos colonos, únicas dos lavradores do município que se há dedicado à indústria vinhateira (...)”. (Livro 375, 1871 a 1880, p. 27)
(Continua)

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