SAUDADES DE MAX BRUHNS... |
sexta-feira, 30 de março de 2018
IGREJAS DE RIO PARDO
(1)
* NOVEMBRO
1797 – Irmãos Confrades do Senhor dos Passos da Freguesia de Nossa Senhora
do Rosário do Rio Pardo pedem autorização para mudar Imagem do Senhor dos
Passos para uma casa de sua Confraria, durante a obra da Matriz, onde a imagem
estava colocada, e onde não existiam condições para tal; se propõem também os
Irmãos Confrades de Nossa Senhora das Dores, que são os mesmos Confrades do
Senhor dos Passos, pedem ao Governador um terreno na Rua de Santo Ângelo, que
se acha há muitos anos devoluto e servindo de pasto aos animais, “onde na
primitiva daquele povo tinha sido a primeira Matriz” ; governador concedeu, e
irmãos querem ali construir uma Casa para recolherem a imagem do Divino Senhor.
* 31 JANEIRO
1805 – Devotos do Senhor dos Passos da Freguesia do Rio Pardo construíram
“casas” para abrigar a imagem do Divino Senhor que se achava recolhida embaixo
da Torre da Matriz (cujo templo fora demolido
para ser novamente reidificado) e solicitam autorização para dizer missa nas ditas
“casas” – pedido concedido – emitida Provisão para celebração da missa no
oratório do Senhor dos Passos na Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Rio
Pardo.
* 21
SETEMBRO 1812 – “Agostinho Joze Mendes dos Reis Vizitador Geral das Igrejas do Continente do Sul por
Sua Excelência Revendíssimo o Senhor D. Joze Caetano da Silva Coutinho Bispo do
Rio de Janeiro Capelão mor de Sua Alteza (...).
Atesto, e fasso Certo que vizitando eu
pessoalmente e no dia dezoito do corrente mez e anno a Capela do Senhor dos
Passos novamente fabricada nesta Villa a achei decentemente ornada e com os
ornamentos das Cores de que uza a Igreja e tudo o mais necessário para a
celebração do Santo Sacrificio da Missa com toda a decência. Para o referido na
verdade, que afirmo pelo juramento do meu Cargo. Villa de N. Snrª do Rozario do
Rio Pardo, 21 de setembro de 1812”
(assinado: Agostinho Joze Mendes dos Reis)
(Continua)
REFERÊNCIA: documento do Arquivo Histórico de Rio Pardo, transcrito por Raimundo Panatieri (linguagem
adaptada)
quarta-feira, 28 de março de 2018
ALDEIA DE SÃO NICOLAU CASA DA ORDEM (3)
* Os moradores negros de São Nicolau tinham uma
religião protestante fechada, representada por sua igreja que era chamada de
Casa da Ordem. Suas crenças eram diferentes da católica, mas tinham relações
com ela: credos, uso do rosário, culto à Santíssima Cruz (cruz de madeira).
Usavam como cumprimento a frase “Deus Nosso Deus, Deus Salve nós”, rezavam
quartos de serviço,
* Casamentos dos moradores da Aldeia eram por
contrato. Batizados, casamentos e óbitos eram registrados na Casa da Ordem, por
muitos anos não existiram registros na Igreja Católica.
* Tinham orações específicas para caso de doenças e
epidemias. Rezavam o Reto pedindo boa colheita.
* Provavelmente integração do povo negro da
Aldeia na Festa de São Nicolau, mas não participavam das cerimônias religiosas.
CHEFE:
- Homem
- Juízas: mulheres – confeccionar os credos
- Pão – era distribuído nos retos em todos os
domingos
- Com a morte do chefe deixaram de rezar o reto
- Dia do nosso Deus: 7 de Novembro
* Luto: quando perdiam um ente querido nem as
crianças escapavam do luto (cor preta – 1 ano para o pai/mãe, 6 meses para
irmãos, 3 meses para tios (xadrez branco e preto gola e punho preto).
* Quando morria alguém era levado ao cemitério no
Santo Caixão, lá era enterrado na terra pura e o caixão voltava para a Casa da
Ordem até o próximo enterro.
REFERÊNCIA:
Informações de Leonete Romilda Romano Domingues – Janeiro de 1992 e Abril de
1993. Pof. Silvia Barros
terça-feira, 27 de março de 2018
DECISÕES ERAM TOMADAS NA CASA DA ÓRDIA (2)
Cont.... 2
A participação dos negros na comunidade da Aldeia de São Nicolau é recente, mas já passa de cem anos. Antes o grupo realizava seus cultos na Casa da Órdia (Ordem). Algumas ruínas ainda existem atrás do Cemitério da Aldeia. Todas as determinações eram decididas no local, mas apenas, os homens integravam as reuniões. As mulheres somente podiam fazer parte de algumas confraternizações especiais, como a festa que acontecia todos os anos no dia 12 de fevereiro, quando se comemorava o nascimento da primeira criança negra nascida na aldeia. Mas ainda não se descobriu algum registro para saber o nome, desta criança.
A participação dos negros na comunidade da Aldeia de São Nicolau é recente, mas já passa de cem anos. Antes o grupo realizava seus cultos na Casa da Órdia (Ordem). Algumas ruínas ainda existem atrás do Cemitério da Aldeia. Todas as determinações eram decididas no local, mas apenas, os homens integravam as reuniões. As mulheres somente podiam fazer parte de algumas confraternizações especiais, como a festa que acontecia todos os anos no dia 12 de fevereiro, quando se comemorava o nascimento da primeira criança negra nascida na aldeia. Mas ainda não se descobriu algum registro para saber o nome, desta criança.
No Ano Novo também se realizava uma celebração especial em
adoração a uma santa, chamada pelo grupo de Nossa Mãe, com a participação das
crianças e mulheres. Leonete Domingues afirma que a santa não existe mais na
comunidade e ninguém sabe o paradeiro, assim como nunca se descobriu quem
representa a imagem. No dia se realizava a descida da Cruz e cada participante
da celebração fazia a sua reverência.
Conforme relatos
obtidos de filhos das primeiras famílias, a Casa da Órdia foi fechada quando o
último sacerdote morreu e não passou a
missão a outro. O prédio era de alvenaria, ao contrário da maioria das casas
dos primeiros negros na localidade, que
era de pau-a-pique.
O atual presidente da
comunidade da Aldeia de São Nicolau, Francisco Romano dos Santos é de
descendência negra. Leonete Romano Domingues também faz parte da diretoria como
ministra da comunidade e secretária.
A História da capela de São Nicolau faz parte da formação e
crescimento de Rio Pardo. O LOCAL INICIALMENTE FOI UM ALDEAMENTO DE ÍNDIOS QUE
O Governador da Capitania, Marcelino de Figueiredo, reuniu em ranchos nos arredores
da localidade. Não existem dados exatos sobre o ano da instalação, mas
documentos mostram que isto ocorreu entre 1763 e 1771.
FONTE: Gazeta do Sul,
10/11/2001. Otto Tesche. Matéria do Jornal encontra-se no Arquivo Histórico de Rio Pardo RS.
domingo, 25 de março de 2018
RECORDANDO CONQUISTA HISTÓRICA
COMUNIDADE LEMBRA CONQUISTA HISTÓRICA - 2001 (1)
A Aldeia de São Nicolau, a sete quilômetros do centro de Rio Pardo, festejam um marco histórico para a comunidade negra do município. Há cem anos um grupo 24 famílias se uniu para comprar uma área de terra de 27 hectares atrás da igreja e do cemitério. Cada um contribuiu com o que pode e mais tarde os lotes da colônia foram distribuídos de forma proporcional à participação das pessoas. A propriedade ainda pertence a descendentes.
O s festejos começam às 16 horas com uma concentração comunitária no local conhecido como figueiras, próximo a igreja de São Nicolau, seguindo com uma caminhada pelas ruas do aldeamento, no Bairro Ramiz Galvão. O Bispo dom Gílio Felício, PRIMEIRO NEGRO no Estado a receber a ordenação e hoje atuando em Salvador (BA), preside a celebração Afro defronte ao templo às 17 horas . As comemorações se encerram à noite com um jantar no pavilhão comunitário.
A idéia da celebração começou após a descoberta de documentos de compra e venda da terra, que estavam em posse de Debaldina e Marta Romana, descendentes do grupo que participou da negociação . Os papéis têm a data de 5 de janeiro de 1901, mas a professora Leonete Romano Domingues explica que a decisão de fazer a comemoração neste fim de semana se deve a proximidade com a data consagrada ao Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro).
Leonete é uma das descendentes de famílias que participaram da compra das terras. Ela segue as pesquisas para obter mais dados e busca a ajuda de outras pessoas. As primeiras informações ela coletou por meio de depoimentos de familiares do grupo que participou da compra. “É muito difícil encontrar algo, pois até há pouco tempo os próprios negros evitavam falar sobre o seu passado”, diz.
UNIÃO: A professora observa que chama a atenção o fato de que a comunidade negra no época possuía uma organização e se preocupava com o coletivo . “Pelo documento, ninguém poderia vender as terras, apenas mantê-las para seu usufruto”, conta. Nos primeiros documentos não consta o total pago pela área, mas numa escritura posterior aparece o valor de dois contos e 600 mil réis. O documento não previa a área de terra para cada família e a divisão ocorreu de forma verbal.
Na comunidade se tornaram conhecidas as balaieiras, as mulheres dos negros que iam até a cidade carregando verduras e frutas na cabeça para a comercialização. Leonete conta que quando faltava algo na produção em suas terras, as famílias compravam na localidade vizinha de Rincão Del Rey para vender à população urbana. Muitos na cidade ainda lembram-se das mulheres pelas ruas, com sua forma de andar para equilibrar o balaio na cabeça, as mãos para baixo, trazendo produtos frescos para a cidade. A tradição se estendeu em Rio Pardo até meados da década de 70.
A ex- diretora do Instituto Ernesto Alves, de Rio Pardo, e uma das fundadoras da Escola de Samba Embaixadores do Ritmo, Luiza Costa Ferreira, já falecida, compôs uma música homenageando as balaieiras da Aldeia. As mulheres negras que carregavam produtos na cabeça também foram várias vezes lembradas nos desfiles de carnaval da cidade.
Por causa das dificuldades de água, em época de estiagem, as mulheres também seguiam a pé com cestas de roupa na cabeça para lavar no Arroio do Couto, a 45 minutos da Aldeia. A água para abastecer as famílias em época de estiagem o grupo buscava numa fonte próxima, também carregando na cabeça. Da mesma forma levavam a lenha que obtiam no mato, amarrando a carga com cipós. Cont....
FONTE: Gazeta do Sul, 10/11/2001. Otto Tesche. Material que se encontra no AHMRP.
FREDERICO AUGUSTO HANNEMANN
(3)FINAL
... a Fazenda Abelina
Na época havia problemas com as variedades de uva
cultivadas no Rio Grande do Sul, o que causava uma série de problemas,
resultando num vinho de má qualidade. Porém, a produção da Abelina era exceção:
“deve-se porém notar com satisfação o nome de um agricultor e industrial-modelo
residente neste município: Augusto Hannemann, que procura, como todo o
município sabe, com seus incansáveis esforços, aclimatar neste município a
indústria vinhateira e cerícula. Hannemann é o único dos proprietários que
melhor vinho tem fabricado, desenvolvendo-se no cultivo da vinha e
aperfeiçoamento da indústria (...). (Idem, p. 27v.)
Os contemporâneos de Hannemann reconheciam aquelas
qualidades que já haviam dado a ele o reconhecimento do pioneirismo na
apicultura: seus conhecimentos científicos, associados à curiosidade e à
experiência na busca de um produto de melhor qualidade. Habilidades que
tornavam seus produtos conhecidos não só no município: “tem exportado em pipas,
barris e engarrafado para o interior da campanha, e algumas caixas têm ido para
o Rio de Janeiro, de um vinho branco, qualidade sumamente apreciada”. (Idem, p.
27v.)
Os vereadores destacavam ainda a posição de
destaque da Abelina na economia local: “pela sua posição de fortuna pode
conseguir montar um estabelecimento em boa ordem, único que temos visto reunir
as condições exigidas para o bom fabrico do vinho: local apropriado, boas
adegas, excelente prensa para extrair o suco da uva” (Idem, p. 27v.)
A produção de mel da Abelina também se tornou
conhecida fora do município. Em 1881 Hannemann se fez presente na primeira
mostra industrial da Província, realizada em Porto Alegre. Foram expostas
“peneiras e pequenas cadeias para separar abelhas na primavera, visando maior
produtividade, mel e fotos da Fazenda Abelina” (Flores, citada por Alves, 1996,
p. 66)
O próprio Governo Imperial reconheceu a importante
contribuição desse colono alemão para a província gaúcha, em 1884,
concedendo-lhe a mercê de Cavaleiro da Ordem da Rosa.
Para os rio-pardenses nada disso era novidade.
Hannemann era um homem agradável e muito sociável, e adorava receber visitas,
tanto de Rio Pardo quanto de outros municípios. A Abelina era ponto de parada
para os carreteiros que faziam o intenso tráfico comercial para a Serra,
Missões ou Fronteira.
“A população rio-pardense, quase toda, aos
domingos, nas mais variadas conduções, passava o dia nos alegres piqueniques,
saboreando suculentos churrascos, cafés com as famosas cucas e milho-broto com
o néctar das abelhas e os saborosos vinhos por ele elaborados, tanto de uva
como de mel, este uma espécie de champanha que denominava Hidromel. Também
valsas e polcas eram dançadas ao bom gosto germânico, pois tanto Hannemann como
os filhos executavam instrumentos musicais.” (O Apicultor, 1967, p. 7-8)
(Profª Silvia Barros
– Texto produzido em setembro de 2003 para a Associação de Apicultores de Rio
Pardo)
REFERÊNCIAS
DOCUMENTAÇÃO DO
ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL
* Pasta contendo
documentação relativa à Associação Rio-pardense de Apicultores, 1967.
* Coleção de Jornais:
- A Folha, 25/5/1969
– p. 2
- Jornal de Rio
Pardo, 10/1/1954 – p. 5-6
- Jornal de Rio
Pardo, 17/1/1954, p. 5
* Códices:
- Livro nº 346 –
Juramento dos estrangeiros e naturalizados, a partir de 1860
- Livro nº 355 –
Registros de casamento de religiões diferentes da professada pelo Estado –
1863-188, p. 11, 11v, 12v-13v, 18v-19v
- Livro nº 62 –
Secretaria – 1867, p. 218
- Livro nº 375 –
Registro de ofícios e editais da Câmara Municipal – 1871 -1880, p. 27-28
- Livro nº 81 –
Secretaria – 1884, p. 116
* Bibliografia
disponível na Biblioteca Pública Municipal
MUXFELDT, Prof. Hugo. Hannemann e Schenk. In: ALMANAQUE CORREIO DO POVO. Porto Alegre: Cia. Caldas Júnior, 1977.
P. 250-251.
FLORES, Hilda Agnes Hübner.
A exposição de 1881. In: ALVES, Francisco das Neves; TORRES, Luiz Henrique
(org.). Ensaios de História do Rio Grande do Sul. Rio Grande: Universidade de
Rio Grande, 1996.
PORTO, Aurélio et al.
Diccionario Enciclopédico do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Minuano
Ltda, 1936. Fascículo II, Iº Vol.
terça-feira, 20 de março de 2018
EXPOAGRO - RINCÃO DEL REI - RIO PARDO
A Associação dos
Fumicultores do Brasil (Afubra), estabelecida na Região do Vale do Rio Pardo,
surgiu da iniciativa dos agricultores
que, procurando sanar uma necessidade comum, buscavam amenizar o prejuízo causado pelo granizo em
suas lavouras de fumo. Então, a entidade expandiu suas atividades e
constantemente busca melhorias para o produtor rural.
Destacam-se,
entre outras:
·
A produção florestal com eucalipto, que vem em
prol da manutenção das matas nativas;
·
A conscientização ecológica - promovidas entre
os alunos de escolas públicas e privadas, através do Projeto Verde é Vida;
·
O recolhimento de embalagens de agrotóxicos no
meio rural;
·
A promoção da campanha de erradicação do
trabalho infantil, através do Instituto Crescer Legal;
·
E o incentivo às culturas paralelas ao fumo, uma
clara demonstração da preocupação da
Entidade com a monocultura na região.
Há muitos anos, a entidade
desenvolve, através do departamento Agro florestal, trabalhos técnicos que
promovem a complementação de receita nas propriedades dos fumicultores. Essas atividades compreendem a produção de
milho, de frutas e de hortaliças, a criação de animais, a prática do
reflorestamento, o desenvolvimento de experimentos diversos na área florestal e
agrícola, através da promoção de reuniões técnicas e dias de campo, entre
outras.
Esse trabalho é
muito importante não só para a região, mas para todo Sul do Brasil. E foi com intuito de propagar
esses trabalhos e divulgar as tecnologias à disposição do produtor rural que a
Afubra, com apoio de diversas entidades e empresas, resolveu promover a
EXPOAGRO AFUBRA, uma exposição agropecuária que tem por finalidade mostrar o potencial de nossa região e apresentar propostas
de tecnologias, produtos e serviços.
A Primeira Expoagro Afubra realizou-se em março
de 2001 e reuniu 64 empresas expositoras, com um publico de mais ou menos 2.000
mil pessoas.
A Última Edição da Expoagro Afubra (2017), segundo organizadores, recebeu um público estimado em 80.000
mil pessoas, que renovaram conhecimentos e conheceram novas técnicas, trocaram novas experiências através de seminários, novos conhecimentos e descobertas novas e a tecnologias para ajudar no plantio certo de culturas certas para cada lugar ou o solo certo, tudo para que o produtor rural tenha além do seu conhecimento novas técnicas para o seu sucesso e a continuação no meio rural. No ano 2017, teve como tema "A Floresta", segundo o engenheiro agrônomo Marco Antonio Dornelles, coordenador geral da Expoagro Afubra, a floresta nativa oferece renda e ao mesmo tempo que cumpre a sua função fundamental ambiental de proteção das nascentes, matas ciliares e abriga vários tipos de animais e vegetais.... Hoje contamos com grande número de expositores, este evento já atingiu nível Nacional.
FONTE: Gazeta do Sul, vários anos e material do AHMRP
segunda-feira, 19 de março de 2018
FREDERICO AUGUSTO HANNEMANN
(2)
A Fazenda Abelina
Quando emigrou para o Brasil, Hannemann
tinha 34 anos. Já acumulava bons conhecimentos sobre apicultura, silvicultura,
fruticultura e fabricação de vinhos. Na Fazenda Abelina aplicou todos esses
conhecimentos, criando “um dos maiores apiários até então existentes no Brasil.
Hannemann, cognominado ‘o pai das abelhas’ do Brasil, foi precursor da
apicultura adiantada pois introduziu muitos melhoramentos na criação de
abelhas, usando métodos próprios e processos contrários aos da maioria dos apicultores de então. Foi o
arauto da formação de colméias gigantes pela reunião de diversos enxames e como
nesse processo era necessário separar as rainhas e as engaiolar, inventou a
peneira de abelhas e as gaiolas de passagens, apetrechos que trazem seu nome.
Embora conhecendo o sistema mobilista, não usaria em seu apiário as colméias de
quadros, mas um sistema que ideiou, vantajoso para aqueles tempos (...).
(Bergmann, 1954, p. 99)
Aos poucos foi adaptando suas terras para o
desenvolvimento da apicultura. Cultivou flores e criou um pomar com as árvores
que julgava mais apropriadas para seu objetivo: marmeleiros do Japão,
caquizeiros, jaboticabeiras. Também plantou magnólias e eucaliptos. Fazia de
tudo, de acordo com um planejamento prévio. Logo se deu conta de que as abelhas
da espécie Apis mellifera mellifera, que trouxera da Alemanha, não se adaptavam
bem ao novo ambiente. Por isso, trouxe da Itália a espécie Apis mellifera
lingusta e providenciou o cruzamento das duas espécies, obtendo uma nova
variedade, perfeitamente adaptada ao novo clima.
No final do século XIX Hannemann usou seus
conhecimentos literários e difundiu sua experiência. Escrevia artigos para
jornais e revistas especializadas do Brasil e da Alemanha, tornando conhecidas
suas novas idéias, que revolucionaram os conceitos da apicultura européia e
atraíram outros apicultores alemães para o sul do Brasil.
Na revista Brasinialische Bienenpflege,
publicada por Emilio Schenk, em 1899, Hannemann explicava: “Para Portugal
chegam os trabalhadores, vindos da Espanha para ajudar na colheita de uvas e
fabricação de vinhos, por salários baixos. Assim fazem os fazendeiros alemães
contratando todos os trabalhadores disponíveis, na época da colheita de
cereais, para aproveitar o bom tempo. Terminada a colheita, precisa-se menos
operários, pois há menos trabalho. O mesmo acontece com as abelhas, na
primavera, no período forte da floração, nunca se tem abelhas demais. Porém,
antes da florada e depois, precisamos menos abelhas.” (Muxfeldt, 1977, p. 250)
Descrevia o emprego dos caixilhos alemães,
que favoreciam a mobilização mas eram muito caros, obrigando-o a desenvolver um
método próprio. Relatava que “no meu colmeal embora tenha 150 passos de
comprimento, os apicultores da escola moderna ficarão desapontados, porque nele
não encontrarão nenhuma das caixas dos famosos apicultores alemães”. (Pimentel,
1954, s/p) Explicava mais: que seu processo era diferente do praticado na
Alemanha porque ele, além do mel, queria a cera, produto muito valorizado na
época. Defendia a importância da prática da reunião de enxames: “10 a 20, para
formar famílias gigantescas. Eles conservam os favos velhos todo o tempo
possível, e eu os tiro, se puder, todos os anos, porque as abelhas preferem as
construções novas e nelas a prole se desenvolve melhor. Eles têm de prover os
caixilhos de favos artificiais inteiros ao passo que eu só dou aos primeiros
enxames tiras de favos naturais de uns 10 cm de largura e aos outros, apenas
tirinhas estreitas, como início. Segui um sistema diferente dos métodos usados
na Alemanha. Aqui o meio é outro. Deste modo criei meu colmeal e meu sistema de
trabalho apropriado ao clima do Rio Grande do Sul.” (Pimentel, 1954, s/p)
Na Fazenda Abelina também se produzia
vinho. É importante citar este fato, para se ter a real dimensão do pioneirismo
de Hannemann. Em 1872 a Câmara de Vereadores de Rio Pardo informava ao
Governador da Província, Dr. José Fernandes da Costa Pereira Júnior: “que o
cultivo da vinha com o fim de utilizar-se no fabrico do vinho é uma forma que
demanda capital, pois que este fabrico sem ser simples no seu processo requer
certas acomodações e especialidades superiores às condições econômicas da maior
parte dos nossos colonos, únicas dos lavradores do município que se há dedicado
à indústria vinhateira (...)”. (Livro 375, 1871 a 1880, p. 27)
(Continua)
sexta-feira, 16 de março de 2018
FREDERICO AUGUSTO HANNEMANN
(1)
Frederico Augusto Hannemann nasceu em 25 de
maio de 1819, em Wartenburg, Reino da Saxônia. Aos 34 anos resolveu emigrar
para o Brasil, onde pretendia dedicar-se à apicultura. Integrando um grupo de
332 agricultores alemães, enfrentou uma viagem de navio de três meses para
chegar ao Brasil. Desembarcou em 27 de dezembro de 1853 em Porto Alegre. Trazia
consigo a esposa, Frederica Guilhermina Hannemann e a filha Cosmopolitina,
nascida durante a viagem.
O destino do grupo era São Leopoldo. Porém,
Hannemann não encontrou na região condições favoráveis para a criação de
abelhas. Por isso permaneceu pouco tempo ali. Passou a viajar pelo interior do
Estado, até que encontrou “notável proeminência de terrenos, na margem direita
do rio Pardo e esquerda do Jacuí, em frente e ao norte da barra dos mesmos rios”
(Sacarello, citado por Porto et al, 1936, p. 18).
Ele subira o rio Jacuí e descobrira o lugar
ideal para desenvolver seu plano, localizado entre os arroios Cabral e Passo da
Areia, a 10 km da sede, no município de Rio Pardo. Comprou as terras, uma área
total de 180 ha, e ali construiu a casa onde viveu com a família até 1912.
Batizou sua nova propriedade com o nome de
Fazenda Abelina. Ali nasceram sua filha Maria Othilia, em 14 de novembro de
1854 e seu filho Alexandre Maximiliano, em 14 de outubro de 1860. Realizou seu
sonho de dedicar-se à apicultura e produzir vinho, destacando-se como produtor
rural, a ponto de ser distinguido em 1884 com a concessão, pelo Governo
Imperial, da “mercê de Cavaleiro da Ordem da Rosa” (Livro 81, 1884, p. 116).
Nesse mesmo ano resolveu naturalizar-se e no dia 2 de julho compareceu à Câmara
de Vereadores de Rio Pardo, declarando que “vinha fazer, como pelo presente
termo faz as seguintes declarações: que é natural da Alemanha, de sessenta e
cinco anos de idade, acatólico, casado, com filhos, que veio para o Brasil como
colono no ano de mil oitocentos e cincoenta e três, que quer naturalizar-se
cidadão brasileiro, fixar sua residência neste Império e tomá-lo por pátria.”
(Jornal de Rio Pardo, 1954, p. 5)
No mesmo dia, prestou juramento para ser
reconhecido como cidadão brasileiro naturalizado.
Frederico Augusto Hannemann morreu em 26 de
julho de 1912, sendo sepultado no cemitério da Fazenda Abelina, ao lado da
esposa Frederica Guilhermina, que morrera em janeiro do mesmo ano.
(Continua)
quinta-feira, 15 de março de 2018
JACINTHA SOUZA
TRECHO DE UM
DOCUMENTO ESCRITO ENTRE 1866 A 1878, POR EVARISTO ALVES DE OLIVEIRA
“A casa de D. Jacintha está situada no
Distrito do Arroio das Pedras, distante oito milhas da cidade de Rio Pardo,
sendo fundada por Jorge de Souza, que era natural da Ilha dos Açores.
Foi hum dos primeiros povoadores deste
districto como o forão Matheus Simões, e João Pereira Fortes, que, guiados pela
religião bem entendida lhe servião de bussola no labor da vida domestica, como
invariaveis costumes a todas as reformas sociais, e por isso deixarão
sanzonados frutos dessas famílias, que formam o pedestal desta Provincia; e que
não invejarão aos actuaes Colonos, porque occuparão se simultaneamente na
lavoura, na vida pastoril, e em expelir os bugres, e hespanhoes, onde hoje está
plantado o pavilhão brasileiro.
Antonio de Souza Nunes, filho de Jorge de
Souza era lavrador laborioso, e fazendeiro, e guiava seus escravos desde a
idade infantil no ensino religioso, na lavoura, e na vida pastoril, e ao mesmo
tempo como se devião portar para com os seus superiores, fazendo sempre essa
pratica, por isso sua filha D. Hacintha tirou o fruto benéfico desse resultado,
que, vivendo n’uma casa de campo exolada, foi sempre obedecida por elles, e
respeitada pelas forças beligerantes dos LEGAIS, e REPUBLICANOS por espaço de
dez anos da revolução nesta Provincia.
Hua força republicana de tres mil homens
ali estivera acampada mais de um mês, defronte de sua casa, e não só a
respeitavam, como a seus fâmulos. Os officiais, e generaes diambos os partidos
lhes offerecião proteção por escrito, para que as forças sob suas influencias a
respeitassem, e não fizessem o menor insulto em sua casa, mas ella recusava a
todos esses offerecimentos, por que o seu partido era a caridade, curando, e
cuidando aos doentes, e dar de comer a quem chegasse a sua casa com fome, sem
attender a partido algum, e assim foi venerada, e respeitada por todo as as
pessoas que alli chegavão.”
NOTA DA REDAÇÃO – É evidente que se trata da Revolução Farroupilha (1835-1845).
Possivelmente é a mesma força que a 30-4-1838, depois de atravessar o Rio Pardo
e ali abrir picadas, de Rincão Del Rei a Aldeia de São Nicolau, surpreendeu as
forças legalistas em Rio Pardo, enfrentando-as e derrotando-as, no célebre
combate de Barro Vermelho.
REFERÊNCIA:
Jornal de Rio Pardo –
20 de maio de 1954. Edição Especial Comemorativa do 66º aniversário da abolição
da escravatura (4 folhas).
segunda-feira, 12 de março de 2018
ENGENHEIROS NO RIO GRANDE DO SUL – SÉCULO XVIII
“No Sul, a
Coroa portuguesa contou com a participação de engenheiros militares, como José
Custódio de Sá e Faria, José Fernandes Pinto Alpoim, Michelangelo Blasco e
Manoel Vieira Leão. Segundo Weimer, os quatro eram arquitetos que acompanharam
Gomes Freire de Andrada na demarcação do Tratado de 1750. Os
engenheiros-arquitetos representaram uma nova mentalidade na concepção e
ordenação do espaço urbano, e colaboraram em importantes projetos. Todos
chegaram ao posto de Brigadeiro, com excessão de Leão, que era sargento-mor.
Em sua maioria, os engenheiros dedicaram-se
à arquitetura militar e religiosa. As igrejas possuíam uma posição de destaque
dentro das povoações. Isso era uma decorrência das Ordenações Portuguesas. As
Cartas Régias, que prescreviam a criação de vilas, além de outros critérios,
sempre especificavam que deveria haver um lugar para a igreja, capaz de receber
competente número de fiéis quando a população aumentasse.
Quando José Fernandes Alpoim esteve no Sul,
em 1763, foi à Colônia, acompanhando o Governador Pedro José Soares de
Figueiredo Sarmento, para encontrar-se com Ceballos e tratar do restabelecimento
da paz em Colônia. A única obra de sua autoria no Sul é o Forte de Rio Pardo.”
“(...) Francisco José Roscio,
engenheiro militar português que atuou no Sul, Roscio fez uma brilhante
carreira militar. Foi ajudante de ordens do Marechal Jacques Funck em 1767.
Após desentendimentos familiares, veio ao Brasil. Construiu fortes e obras civis,
a mais conhecida é a Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Foi comissário de
demarcação de limites em 1778 e governador interino do RS entre 1801 e 1803.
Durante esse período, fez os projetos das matrizes de Nossa Senhora de Rio
Pardo e Nossa Senhora da Conceição de Cachoeira.”
“As capelas de Torres e de São Francisco, em
Rio Pardo e a capela-mor da Igreja de Taquari também são de sua autoria. São
obras de qualidade realizadas nas mais adversas condições (...).”
REFERÊNCIA: BITTENCORT, Doris Maria Machado de. Arquitetura de pedra e cal no
Litoral Sul e Vale do Jacuí, nos séculos XVII e XVIII: Colônia do Sacramento,
Rio Grande, Viamão e Santo Amaro. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2007. p. 152; 188; 190.
sábado, 10 de março de 2018
FORTE JESUS MARIA JOSÉ DE RIO PARDO
De 1756 a 1759 o forte Jesus Maria José de Rio
Pardo foi edificado em terra e pedra, sob a direção de Gomes Freire de Andrade e traço de José
Fernandes Pinto Alpoim. Esta fortificação desempenhou importante papel
dissuasório na invasão de 1774 pelo governador de Buenos Aires, General Vertiz
y Salcedo. Mais do que por suas muralhas valia por sua posição dominante sobre
o estratégico passo do Jacuí.
Em 1775, o general Böhn, comandante do Exército do
Sul, constatou dele haver restado “o mastro, um velho armazém da época da
construção e peças de ferro de alguma utilidade sem grande risco.” Foi
restaurado em grande parte com pedras e prestou serviços, até 1812, quando, com
a expansão da fronteira até os rios Uruguai e Jaguarão, surgiram bases
avançadas em Bagé e São Borja e uma intermediária em Batovi (São Gabriel).
Existem relatos de que em 1813 parte de suas
muralhas serviram para calçar ladeira que ligava o forte à Vila.
O Forte Jesus Maria José do Rio Pardo serviu de base
para reconhecimento, exploração e conquista gradativa e defesa da campanha e
das Missões; foi pólo irradiador para
regiões sob sua influência da “civilização castrense ou militarizada” e sentinela avançada para dar segurança a Porto
Alegre. Por nunca ter sido tomado pelos espanhóis ficou conhecido na história como a "Tranqueira Invicta".
Referência: A
FORTALEZA BRASIL – Coronel Claudio Moreira Bento (Academia de História Militar
Terrestre do Brasil). Disponível em: ahimtb.org.br/fortbrasil.htm#riopardo
quarta-feira, 7 de março de 2018
CEMITÉRIOS DE RIO PARDO
Segundo Dante de
Laytano, em Rio Pardo os mortos eram enterrados em cemitérios existentes atrás
das igrejas: na Matriz, na Capela dos Passos, na Capela de São Francisco, na
Capela da Aldeia de São Nicolau e, no interior do município, nos cemitérios do
distrito de Cruz Alta e das fazendas, além de sepulturas espalhadas pelos
campos.
Relatório
solicitado pela Câmara de Vereadores em 1845 informa a respeito de cemitérios:
“não
há no Município um só que ao devido respeito pelas cinzas dos finados una as
qualidades higiênicas que a ciência tem mostrado necessárias. Aqui, na Vila, os
Cemitérios fartos de cadáveres, com que já não podem, empestam a povoação em
cujo centro se conservam. As nossas Igrejas prenham os próprios muros de catacumbas;
e com prejuízo dos vivos, e com desrespeito talvez da majestade do sítio,
convertem-se em amplas carneiras para se fazer de alguma renda. Tal estado não
é compatível, Senhores, com o bem estar do Município, e com as ideias que
convêm inspirar ao povo, ainda muito abalado e descrido por essa longa e
desorganizadora luta que termina. Por isso a Comissão aponta a construção de
Cemitérios em locais idôneos nesta Vila, Encruzilhada, Aldeia e Cruz Alta como
um dos principais melhoramentos que o Município requer.”.
REFERÊNCIAS:
LAYTANO, Dante de. Guia Histórico de Rio Pardo,
cidade tradicional do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: AGE, 1979. (Edição da
Prefeitura Municipal de Rio Pardo). p .48-50; 126
Documento avulso nº 5 – Caixa nº 46 – Documentos avulsos – 1845, do
acervo do Arquivo Municipal de Rio Pardo. (Documento transcrito com ajustes
ortográficos)
domingo, 4 de março de 2018
RAFAEL PINTO BANDEIRA E OS GUERRILHEIROS NEGROS
Na época das invasões espanholas ao
território do Rio Grande do Sul (1763-1776) a Coroa Portuguesa teve
dificuldades para reforçar as tropas que ali atuavam. Uma saída para tal
problema foi determinar que deveria se adotar o sistema de guerrilha nos
combates: “A guerra contra o invasor será feita com pequenas patrulhas atuando
dispersas, localizadas em matos nos passos dos rios e arroios. Destes locais
sairão ao encontro dos invasores para surpreendê-los, causar-lhes baixas,
arruinar-lhes cavalhadas, gados e suprimentos, e ainda trazê-los em contínua e
persistente inquietação.”
“O horror de negros valentes que o medo não conheciam”
Nessa guerra de guerrilhas, denominada Guerra à Gaúcha,
destacou-se a atuação do corpo de guerrilheiros negros comandado por Rafael
Pinto Bandeira. Para enfrentar a tropa de D. Antonio Gomes, em janeiro de 1774,
ele reuniu 80 escravos nas serras do Tape e do Herval – Rincão do Canguçu e da
Encruzilhada. O grupo venceu as tropas espanholas provenientes das Missões, causando
danos e terror, sem dar sossego ao inimigo que bateu em retirada. Enquanto
isto, homens pretos, brancos e mulatos faziam limpeza nos campos de gado
cavalar e vacum, deixando o exército de Vertiz sem recursos disponíveis.
REFERÊNCIA: FONSECA,
Pedro Ari Veríssimo da. O negro na história do Rio Grande heroico (1725 –
1879). Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 2013. (p. 70-71). Disponível em:
https:/books.google.co.br/books?usbn=83260389.
sábado, 3 de março de 2018
FORTE JESUS MARIA JOSÉ DO RIO PARDO
“O
Forte Jesus Maria José era uma simples “tranqueira”, construída numa elevação
de terreno, utilizando o sistema de paliçadas e fossos.
Inicialmente deveria servir apenas como
ponto de irradiação às tropas portuguesas comandadas por Gomes Freire de
Andrade e encarregadas das demarcações do Tratado de Madri. Porém, a
resistência dos índios missioneiros mudou a situação e ele acabou por se
transformar na “Tranqueira Invicta”, responsável pela expansão e manutenção das
fronteiras portuguesas no extremo sul da América.
Em 1774, já anulado o Tratado de Madri, os
espanhóis atacavam o Rio Grande, planejando “internar-se pela campanha,
penetrar na fronteira do Rio Pardo e apoderar-se de Viamão.
Sob o comando do General Vertiz, o inimigo
acampou a uma légua do Forte Jesus Maria José. Aguardando novos recursos para
levar um ataque decisivo à posição portuguesa. E foi então que ocorreu a
Manobra Salvadora:
“Socorreu-se
José Marcellino de um hábil estratagema, que veiu tiral-o das aperturas em que
se achava.
O Governador, simulando chegar da capital,
fez espalhar os soldados, vibrar os clarins, rufar os tambores e troar em
successivas salvas a artilharia da Fortaleza, que, embandeirada e armada com
flammulas e galhardetes, apresentava um duplo aspecto de festa e de força,
destinado a infundir terror ao inimigo.
De facto, possuiu-se este de invencível
pânico, em face de tanta ostentação de pujança e de esplendor, em contraste com
a idéia que fazia da posição portugueza de Rio Pardo estava desmantelada e com
as peças encravadas.
A realidade, porém, que Vertiz felizmente
ignorava, era que a trovejante artilharia, que tanto o impressionou, não
passava de umas pobres peças de ferro.
O exército hespanhol tomava as ultimas
providencias para levantar acampamento quando, na manhã seguinte á supposta
chegada, o Governador José Marcellino mandou fazer cumprimentos ao General
Vertiz, que os correspondeu affectuosamente.
Não tardou muito que chegasse à Fortaleza
um expresso de parte do chefe inimigo, com um officio para José Marcellino.
Vertiz despedia-se do Governador portuguez, visto ‘achar-se completa a
diligencia de visitar o território pertencente a El-Rei seu amo’.
Estava mallograda a empreza conquistadora
lançada pelo Governador das Provincias do rio da Prata.
E si o Rio Grande, que até então continuava
quase abandonado e desprovido de meios de defeza, não caiu em poder do exercito
invasor, deve-o principalmente ao heroísmo e ao patriotismo de seus filhos
desvelados, conduzidos às pelejas pelo valente Capitão Raphael Pinto Bandeira. “
REFERÊNCIAS
História do Rio
Grande do Sul para o Ensino Cívico, João Maia, Globo, POA, 1920, p. 20-2.
Guia Histórico do Rio
Pardo – Dante de Laytano, 2ª edição, p. 115.
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