sábado, 31 de dezembro de 2016

PROFESSORA BRUNHILDE LOTZ


Quem estudou, como nós, no Curso de Estudos Sociais da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras na FISC, na década de 70 do século passado, foi aluno da professora Brunhilde. Pois no Arquivo Histórico de Rio Pardo encontramos, numa edição do Jornal de Rio Pardo, de 29 de janeiro de 1956, página 4, a seguinte notícia sobre ela:

A fim de proceder pesquisas no Museu local, esteve nesta cidade vários dias a Senhorita Brunhilde Lotz, professora do Ginásio Mauá, de Santa Cruz. Naquele local, tivemos oportunidade de palestrar longamente com aquela ilustre mestra e ficamos sabendo que é neta do Sr. Ernesto Beulke.
Professora Lotz, por duas vezes esteve na Europa. Na primeira vez, em fevereiro de 1953, fora matricular-se na Universidade de Mearburg (Faculdade de Filosofia), onde passou mais de dois anos estudando literatura romana e germânica, pois voltou em maio de 1955. Nesse mesmo ano, em Julho, retornou àquela Universidade, permanecendo ali até Dezembro último. No período de férias escolares a Senhorita Lotz percorreu vários países europeus, além da Alemanha, como Holanda, Bélgica, Suíça, Itália, França, Espanha e Portugal.
Colheu maravilhosas fotografias e conheceu várias cidades e regiões célebres e tradicionais.


A Professora Brunhilde faleceu em 3 de outubro de 2004, no Hospital de São Leopoldo, aos 90 anos de idade. 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

EXPANSÃO TERRITORIAL – CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO

 Quando acabaram as invasões dos espanhóis, houve grande expansão em Rio Pardo, trazida pelo desenvolvimento rápido da pecuária e da agricultura, com o povoamento, por elementos portugueses e nativos, ao longo da margem esquerda do Jacuí, entre este e a Serra Geral.
As concessões de terras foram numerosas, mediante apenas a exigência de ocupação imediata, com a construção de casas, mangueiras, plantações, etc.
Inúmeras famílias retiraram-se do povoado, com seus escravos e empregados, indo habitar as grandes estâncias, obtidas por concessão do governo de Portugal e doadas principalmente a oficiais e praças que serviram no Quartel de Rio Pardo. Essas estâncias tornaram-se a origem da riqueza pastoril do Continente de São Pedro do Rio Grande do Sul.
A partir de 1780, foram demarcados os terrenos urbanos e concedidos a oficiais, médicos, capelães e inferiores da guarnição do Quartel.
O trabalho de demarcação das ruas foi realizado, a princípio, por engenheiros militares e, mais tarde, prosseguiu sob a direção de engenheiro civil.
Oficialmente, Rio Pardo nunca foi capital do Rio Grande do Sul, mas, por várias vezes, serviu de sede de governo, algum tempo, aos Governadores Gomes Freire de Andrade, Francisco Barreto Pereira Pinto e José Marcelino de Figueiredo.
A importância estratégica e econômica do Rio Grande do Sul, seu grande desenvolvimento, a lealdade dos súditos portugueses que habitavam seu território concorreram para que fosse elevado a capitania. Por decreto de dezenove de setembro de 1807, foi criada a Capitania Geral de São Pedro, sendo seu primeiro governador o Capitão-General D. Diogo de Souza. O Alvará de 27 de abril de 1809 dividiu-a em quatro municípios: Rio Grande, Porto Alegre, Santo Antônio e Rio Pardo.
O imenso território, que formava o município de Rio Pardo, abrangia uma área de cento e cinquenta e seis mil oitocentos e três quilômetros quadrados, ou seja, mais da metade do território da nova Capitania.
No ano de 1975, essa área, que já fora ocupada pelo nosso município, compreendia duzentos e sete municípios do Estado e, atualmente, muito mais.

FONTE: REZENDE, Marina de Quadros. Rio Pardo – História, recordações e lendas. 2ª. Ed. Rio Pardo:  s/ed., 1987. p. 41-42.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

SOBRADO DOS PANATIERI

O Sobrado localiza-se na Rua da  Ladeira, pertence a família dos Panatieri. Foi construído em 1798 e pertencia à congregação das Irmãs  do Imaculado Coração  de Maria. Na época da visita de D. Pedro II, pela segunda vez em Rio Pardo, em 1865, serviu para hospedagem do Imperador. Era propriedade do juiz Abílio Alvaro Martins e Castro. Depois comprada em 1930 pelo médico Luciano Raul Panatieri. As irmãs Panatieri administravam o Solar Panatieri espaço cultural de visitação de turistas principalmente os fins de semana.
Contam as filhas que o pai, após ser diplomado médico  em 1922, em Porto Alegre, foi residir em Rio Pardo. A cidade ainda não tinha hospital e o jovem teria feito parto da esposa de um fazendeiro sob a mira de um revólver. O homem havia ordenado que nem a  mãe nem o filho poderiam morrer e ficou tão satisfeito com a atuação do médico que lhe pagou 40 mil réis, dinheiro com o qual ele adquiriu a casa.


 FONTE: Rio Pardo, Uma Luz para a História- 200 anos, 

                Gazeta do Sul, 2008. 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

ANTIGO SUL HOTEL

Antigo Sul Hotel, localizado na Rua Dr. João Pessoa. Prédio de valor histórico e cultural do Século XX, cuja atividade hoteleira foi uma das mais importantes deste período.
Restaurado e hoje é sede do Banco do Brasil em Rio Pardo.



FONTE: Jornal de Rio Pardo, 2010.
Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

TEATRO EM RIO PARDO (2)

É de lastimar-se que a imprensa rio-pardense não tivesse nascido mais cedo[1]como ocorreu, por exemplo, no Rio Grande onde o Noticiador assistiu não só ao nascimento do principal Teatro (o 3º cronologicamente), o Teatro Sete de Setembro, como ainda através do seu correspondente em Pelotas, testemunhou os primeiros vagidos do Teatro Sete de Abril. Assim, pedra não restando sobre pedra, do primitivo Teatro Rio-Pardense, só se pode almejar que novas pesquisas deitem mais luz sobre o que aconteceu de artístico entre bastidores e bambolinas[2] na simpática cidade do Jacuí.
Tanto o Teatro Rio-Pardense como o que lhe sucedeu, o Teatro Sete de Setembro, tornaram-se atraentes para elencos itinerantes. Desse último escreveu Biágio Tarantino (Rio Pardo, 1903 – Porto Alegre, 1975): “Ainda no período imperial, no final do século XIX, até a década de 1920, existiu o conhecido Teatro Sete de Setembro, vistoso prédio com alegorias à arte teatral em seu frontispício e, em seu interior, três ordens de camarotes, guarnecidos de madeira torneada”[3]. E precisa, no artigo, que esse teatro ficava na Rua Brasil, depois General Osório e hoje Avenida Almirante Alexandrino; que em 1917 passou a chamar-se Teatro Apolo e que, já servindo para funções de comércio de atacado, foi destruído por incêndio. Também nele atuaram conjuntos locais e visitantes; entre estes, as companhias de Germano Alves (Portugal, 1859 – Rio de Janeiro, 1936), Apolônia Pinto, Alves da Silva, Aura Abranches, Furtado de Medeiros, Ribeiro Cancela e Zaparolli, segundo o referido pesquisador.
Por outro lado, sabem os rio-pardenses serem conterrâneos de Manuel de Araújo Porto Alegre, um dos grandes batalhadores do teatro nacional.
Dona Aurora do Amaral Lisboa referia que esse edifício reproduzia em ponto menor o Theatro São Pedro, da capital do Estado, dispondo de bom palco e de três ordens de camarotes, o mais alto correspondendo ao “paraíso”. O palco era elevado, normal. A iluminação era elétrica (1915). Recordou também que, ao princípio, quando ainda não possuía o mobiliário, os senhores da heróica cidade mandavam seus escravos e criados levarem cadeiras, de véspera, para suas famílias assistirem às representações.
Após um período em que não havia grupo dramático em atividade, o prédio foi adquirido pela firma Irmãos (Osvaldo e Nicolau) Fischer e, sucessivamente, transformado em cinema, casa de bolão, depósito de fumo, depósito de arroz, secador de arroz... e aí, o incêndio que lhe deixou somente as velhas paredes de pé.
Também entre os rio-pardenses o teatro encontrou no passado operosos cultivadores. Segundo testemunha um deles, Francisco Rodrigues Ferreira Filho, cujo pai Francisco Ferreira além de político, de intendente e de republicano, era um apaixonado amador das coisas de teatro, houve na “Tranqueira Invicta” pelo menos quatro grupos dramáticos sucessivos, e mais dois, de teatro infantil.
REFERÊNCIA
HESSEL, Lothar. O teatro no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1999. p. 150-152.



[1] O primeiro jornal rio-pardense, ao que consta, surgiu em 1853: o Correio do Rio Pardo.
[2] Parte do cenário que liga os bastidores pelo alto e finge o céu ou o teto.
[3] Almanaque do Correio do Povo, 1970, p. 218. Artigo “O teatro em Rio Pardo”.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

QUEM FOI BIAGIO TARANTINO?

Biagio Soares Tarantino nasceu em Rio Pardo,em 08 de dezembro de 1903, e começou sua vida profissional como barbeiro em Cachoeira do Sul. Casou-se com a cachoeirense  Eva Ilda  da Luz  e retornou para a cidade Histórica. Uma das paixões de Biagio eram os objetos antigos. Em muitas de suas viagens pelo interior, adquiria materiais  que remetiam à Revolução Farroupilha e imagens sacras. Em 1935, por ocasião do centenário do embate entre farrapos e imperiais, promoveu-se uma exposição  cultural. Com  o êxito da iniciativa surgiu o Museu  de Arte Sacra, do qual Biagio Tarantino foi fundador e primeiro diretor. Mesmo  sem formação acadêmica, sendo um  autodidata  que conhecia a história de sua Cidade, passou a fazer parte de um grupo de intelectuais de Porto Alegre. Foi também organizador e Diretor do Museu Municipal e do Arquivo Histórico de Rio Pardo.
Morreu em 1976, aos 73 anos.
Hoje  o Arquivo tem o nome de BIAGIO SOARES TARANTINO, em homenagem do seu fundador.

FONTES: Rio Pardo, 200 anos, Cultura, Arte e Memória/Olgário Vogt, Maria Zoch Romero/ Gazata do Sul,2010.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

TEATRO EM RIO PARDO (1)


Dos primitivos teatros dessa cidade não resta mais pedra sobre pedra. Resta, porém, um dos mais antigos documentos sobre a história do teatro no Rio Grande do Sul, o Livro de Registro de sócios do Teatro Rio-Pardense, fundado naquela então vila, em 1845. Esse livro foi doado em 1965 ao Arquivo Municipal de Rio Pardo pelo desembargador Décio Pellegrini, natural desse município.
Foi a 1º de novembro daquele ano que Joaquim José da Silveira, na qualidade de “diretor externo interino” da associação que se formava, abriu o Livro com o habitual Termo de Abertura e rubricou as primeiras 94 folhas que, aliás, nem foram todas utilizadas. Segundo informa Dante de Laytano, “Joaquim José da Silveira era vice-presidente da Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional de Rio Pardo. A Sociedade teve destacada atuação nos acontecimentos de 1835[1], Identificável com a pessoa homônima que, segundo Sacramento Blake, em 1850 era diretor das escolas de primeiras letras da Corte e seu município.[2]
Matricularam-se sócios-fundadores, sócios-prestativos e sócios-contribuintes (isso sem falar nos sócios-honorários) num total que oscilou entre 132 e 196, ao sabor dos anos, das inscrições e dos desligamentos, entre 1845 e 185... . Distribuíam-se, por outra parte, entre assinantes de camarotes e de cadeiras da platéia, atingindo o número daqueles a cerca de quarenta, e o dessas a 180, o que já permite fazer-se um juízo sobre as dimensões do prédio. Quanto a este, talvez a única referência impressa seja ainda a de Dante de Laytano: “no Primeiro Império existia um teatro em Rio Pardo, na Travessa da Praça de São Francisco, ainda da Travessa Mateus Simões”[3], localização que é contestada por outras fontes documentais.
Os sócios apunham sua assinatura no livro, ascendendo seu número a 133. Deles, dez parecem ter sido os fundadores iniciais e destes, dois apenas têm assinaturas “a rogo”. Na lista geral constam diversos nomes de personalidades que se destacaram na vida da cidade (título concedido a Rio Pardo já no ano seguinte, 1846), da Província e do Império.[4]
Sobre as atividades dramáticas propriamente ditas, pouco se depreende das anotações do Livro, cuja finalidade obviamente era outra. De autores, atrizes, peças, interpretação, crítica, nada consta. Entretanto, em documento alheio ao Livro de Registro, consta haver madame Robert pago à Câmara Municipal a importância de 72$000 “por abrir teatro por três noites para divertimento público”, o que dá azo a imaginar-se que antes do Teatro Rio-Pardense, outro houvesse à semelhança de Rio Grande, Porto Alegre e Pelotas, que já antes da Revolução Farroupilha se deliciavam com as artes de Talia e Melpômene.
Uma anotação lateral informa-nos de que à récita de 17 de maio de 1854 compareceram aos camarotes 23 sócios-contribuintes e seis prestativos; à platéia, dezessete e oito respectivamente. Nesse ano se anotaram ainda récitas a 1º de julho e 30 de agosto, quando se interromperam definitivamente os registros no histórico livro. (continua)

REFERÊNCIA
HESSEL, Lothar. O teatro no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1999. P. 148-150)



[1] Almanaque do Rio Pardo. Porto Alegre: Tip. Do Centro, 1946. p. 149.
[2] In: Dicionário bibliográfico brasileiro, Rio de Janeiro, 1898, v. 4, p. 179.
[3] LAYTANO, Dante de. Op. cit. p. 48. Guilhermino César transcreve uma notícia da Gazeta de Lisboa de 1794 nos seguintes termos: “Festas Grossa em Rio Pardo [...] No segundo dia, à noite, se encaminhou o sobredito comandante [tenente-coronel Patrício José Correa da Câmara] com o povo ao teatro, onde se representaram por quatro noites excelentes comédias com maravilhosas danças”. (Primeiros cronistas do Rio Grande do Sul, 1605-1801. Porto Alegre: Faculdade de Filosofia da UFRGS, 1969. p. 180).
[4] Entre os sócios: o general José Joaquim de Andrade Neves, Barão do Triunfo; o Dr. Antônio Vicente de Siqueira Pereira Leitão, bacharel pela Faculdade de Direito de São Paulo, 1834; Manuel Ribeiro de Andrada e Silva; Joaquim Pedro da Silva Lisboa; o Dr. Antônio Ferreira de Andrade Neves; e o próprio Joaquim José da Silveira. Há no livro diversas listas de associados, o que torna difícil fornecer com precisão o número, o nome e a categoria dos muitos sócios. Entre eles figuram quatro doutores e cinco mulheres. Dos dezesseis fundadores que assinaram as primeiras listas, todos têm sobrenome luso, exceto o cidadão Henrique Augusto Krause.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

RIO PARDO EM 1940


                 Documento existente no Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo nos mostra como era Rio Pardo naquela época.
                A população urbana era de 11.000 e a rural, 24.412 habitantes, existindo 1.230 prédios na área urbana.
                Ao descrever as ruas, diz que “não têm calçamento, a não ser uma rua que é calçada com pedra irregular, que foi calçada com as pedras do forte de Jesus Maria José, para recepcionar o Imperador D. Pedro II quando de sua passagem por esta cidade em visita à fronteira.” Na verdade, aqui há um erro: a rua citada é a atual Rua Júlio de Castilhos, mais conhecida por Rua da Ladeira, que foi calçada em 1813 e teve seu calçamento recuperado para receber o Imperador D. Pedro II e a Imperatriz Dona Teresa Cristina, que chegaram a Rio Pardo em 1º de Janeiro de 1846[1].
                  A cidade não tinha água encanada nem esgotos, mas já existia luz elétrica desde 1910.
             O atendimento à saúde era ainda precário, havendo muitos casos de tuberculose. Mas a cidade contava com um Posto de Higiene do Estado, inaugurado em 1939, e o Hospital dos Passos.
                Para a instrução pública, tínhamos dois grupos escolares estaduais, uma aula isolada nos subúrbios, um colégio de irmãs com internato e um colégio da Cooperativa dos Funcionários da Viação Férrea. Todas estas escolas juntas tinham 1.650 crianças matriculadas.
             Para sua diversão, a população contava com sete clubes de futebol, quatro sociedades recreativas, uma sociedade de tênis e diversas sociedades de bolão.
                 Nos transportes contávamos com a estrada de ferro, estradas de rodagem ligando Rio Pardo a Santa Cruz do Sul e Encruzilhada do Sul, Cachoeira do Sul, Candelária, Venâncio Aires e General Câmara. O porto do rio Jacuí ainda era ativo, com regular movimento de carga. A zona rural era atendida por ônibus, automóveis e caminhões, e as mercadorias eram, na sua maioria, ainda transportadas em carretas.
                    As indústrias existentes no município eram todas pequenas: engenhos de beneficiamento de arroz, serrarias, ferrarias, tanoarias, oficinas mecânicas, funilaria, olarias, fábrica de bebida sem álcool, fábrica de sabão, fábricas de café, fábrica de salame, padarias e confeitarias, fábrica de bolacha, alfaiatarias, sapatarias, selaria, moinho de farinha de milho, britadeira de granito, fábricas de móveis, caieiras, tipografias, curtume e tamancaria.
                Os administrados informavam ainda: “Rio Pardo está num a situação privilegiada quanto aos meios de comunicação, podendo por isto desenvolver outras indústrias, e achamos que para incrementar e trazer elementos produtores a esta cidade temos necessidade de fazermos o serviço de águas, serviço este que já está sendo projetado pela Secretaria de Obras Públicas.”
                Por fim, uma análise da situação política de Rio Pardo de 1930 até a implantação do Estado Novo em 10 de novembro de 1937:
                “A política dominante em 1930, nesta cidade, era a do Partido Republicano Rio-grandense, cujo chefe local era o Coronel José Antonio Pereira Rego, discordando desta chefia, alguns elementos, haviam formado uma dissidência que se orientara sob as ordens do Coronel Arthur Taurino de Rezende. Outro partido Rio-grandense – Libertador – era chefiado pelo Sr. Hygino Leitão.
                Em 1932 ficaram com o Governo Federal somente os da facção Pereirista, sendo que os dissidentes e Libertadores formaram ao lado dos Constitucionalistas.
            A mudança de regime nesta cidade foi recebida com geral agrado, tanto pelo partido dominante como pelo elemento da Frente Única.
                  O povo, que sempre foi o grande sacrificado nas lutas estéreis dos políticos, aceitou e acata com geral entusiasmo o Estado Novo.
          Auscultando-se as diferentes camadas sociais de nosso povo observa-se que todos compreendem os grandes benefícios advindos com o Estado Novo, e maldizem os regimes passados, que só prometiam e não realizavam.”

REFERÊNCIA:
Códice Geral 239 – 1940, do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo



[1] Ver postagem de 22 de março de 2016.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

BERÇO DA NOBREZA GAÚCHA

Riqueza e luxo marcaram o período de efervescência comercial.
Nesta época, em que as moedas muito tilintavam em Rio Pardo, os sinais de opulência eram evidentes.
Hemetério Velloso da Silveira apontou que as festas realizadas nas igrejas eram aparatosas e completas. Os torneios e as cavalhadas também ostentavam o poder aquisitivo de uma parcela da população. Os saraus familiares eram animados  com a dança do solo inglês, do minuete afandangado, da gaivota, do cachucha e da contradança antiga, desbancada pelas quadrilhas. Eram bem desempenhados  os espetáculos teatrais, em que brilhavam  Felipe Néri, Mello e Albuquerque, Borba e outros jovens amadores – mais tarde chamados para representarem papéis proeminentes na política rio-grandense.
Dante de Laytano deixou registrado, em seus escritos, que Rio Pardo foi berço  da nobreza gaúcha. Que  os velhos solares ainda  guardam o fausto  de uma época quando em seus salões, à luz de candelabros de ouro  e prata, rebrilhavam os fardões cobertos de condecorações  e as joias preciosas que as damas ostentavam na elegância das toiletes custosas.


FONTE: Uma Luz para a História do  Rio Grande, Rio Pardo 200 anos, Olgário Paulo Vogt- Maria Rosilane Romero, 2010.
                                Arquivo Histórico Municipal

domingo, 13 de novembro de 2016

ILUMINAÇÃO PÚBLICA EM RIO PARDO NO SÉCULO XIX


                As autoridades municipais de Rio Pardo, em 1848, resolvem aceitar a proposta de João Francisco Tavares para custear a iluminação da cidade.
                Elevado da categoria de vila para a da cidade dois anos antes, são tomadas várias iniciativas para o melhoramento da urbe e entre alinhamento de ruas, ajardinamento de praças e calçamento de rampas, cuidou-se desse importante serviço público que era a iluminação.
                Rio Pardo foi a quarta cidade a ser criada no Rio Grande do Sul. A primeira Porto Alegre, em 1823, a segunda e terceira, Rio Grande e subsequentemente Pelotas, ambas em 1835; e temos aí em 1846, o Rio Pardo e depois apenas em 1855 é que possuiríamos uma quinta cidade na província que é Jaguarão, pois todos os outros centros de população são vilas ou quando muito sedes de distritos, uma vez que não usamos a palavra aldeia.
                O contrato de arrematação nos revela o sistema de iluminação. O arrematante era obrigado a conservar os lampiões limpos e completamente acesos desde o anoitecer até amanhecer o dia, nas noites em que não houvesse lua; e, nas em que houvesse, por todo o tempo que ela não iluminasse.
                Igualmente era obrigado a conservar os lampiões acesos nas noites em que devendo aparecer a lua, assim não aconteceria por causa do mau tempo e os conservaria acesos por todo o tempo que a lua estivesse encoberta.
                Existiriam, na cidade, setenta e dois lampiões, ganhando o arrematante seis mil e oitenta réis por cada um e previa-se aumento do número.
                O arrematante evidentemente ficava obrigado a fazer os consertos dos lampiões, ferros, vidros, capacetes, e mais utensílios.
                Qualquer pessoa do povo podia representar ao procurador da Câmara, por escrito ou  verbalmente, quando achasse algum lampião apagado, citando também as testemunhas que, com ela, presenciaram o fato.
                Havia para o arrematante uma multa de mil réis por cada torcida que se conservasse apagada mais de uma hora.
                Excluíam-se os casos de noite de luar e de tempestade.
                Às patrulhas, rondas de polícia, guardas municipais, inspetores de quarteirões, fiscais da Câmara e suplentes ficava pertencendo a pontual e minuciosa inspeção e fiscalização dos lampiões.          Muita gente para zelar por setenta e dois postes.

Referência: História particular de velha cidade do Rio Grande do Sul, de DANTE DE LAYTANO

terça-feira, 8 de novembro de 2016

UMA” SEMENTE” REPUBLICANA EM RIO PARDO


Dois anos após a fundação do partido Republicano Rio- Grandense (1882) foi criado o Clube Republicano do Rio Pardo. Suas reuniões eram realizadas no Hotel Brasil, antiga sede da Prefeitura. O número de sócios do clube aumentava ano após ano. Ali surgiram figuras importantes para o movimento republicano, como Ernesto Alves de Oliveira, ferrenho defensor castilhista. Ele se tornaria o substituto de Júlio de Castilhos na direção do jornal A Federação. Destacou-se também como republicano Heráclito Americano de Oliveira. Foi de sua autoria o projeto para a aprovação da bandeira estadual. Além  do órgão oficial do Partido Republicano , em Rio Pardo, no  ano de 1887 começou a circular um novo periódico regional intitulado  O Patriota, jornal que se identificava  com os ideais da causa.
Às vésperas da queda  Casa dos Bragança e Orleans, foi realizada no quinto (5º) distrito de Iruy, a Conferência Republicana. Ela foi presidida e idealizada por Ernesto Alves de Oliveira e relatada em A Federação em 4 de janeiro de 1889 conforme se lê no jornal “O Companheiro Ernesto discursou para um grande número de cavalheiros na casa  do comerciante  José Pascal, sendo o discurso  acompanhado com muita atenção por todos os que estavam no local. O nosso companheiro foi sempre ouvido com facilidade, com a qual outros têm querido hipotecar o braço do Rio Grande à causa ingrata dos Bragança e Orleans.”

FONTES: RIO PARDO 200 ANOS UMA LUZ PARA A HISTÓRIA DO RIO GRANDE

   JORNAL GAZETA DO SUL-RS/2008





DOUTORA RITA LOBATO


Rita Lobato Velho Lopes nasceu em 7 de junho de 1866 no Rio Grande(RS), tornando-se mundialmente famosa por ter sido a primeira mulher brasileira a concluir o curso de Medicina. Frequentou o curso secundário em Pelotas (RS) e demonstrou desde cedo a sua vocação para a Medicina. Mas apesar do Decreto Imperial de 1879, de D. Pedro II, autorizar as mulheres a frequentarem  cursos de faculdades e obterem um título acadêmico, os preconceitos e machismos da época dificultaram muito, pois a “moda” praticada era relegar a mulher às funções domésticas...
Rita matriculou-se inicialmente na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas, não suportando as gozações, boicotes e perseguições, transferiu sua matrícula para a Faculdade de Medicina de Salvador (BA). Determinada em obter o titulo de médica, venceu a hostilidade inicial dos colegas e até dos professores, conquistando, aos poucos, a simpatia de todos, até receber do corpo docente da tradicional faculdade baiana as maiores considerações.
Especializou-se em Obstetrícia e Ginecologia, defendendo tese sobre “A Operação Cesariana”. Em
1887 tornou-se a primeira mulher brasileira e a segunda da América Latina a obter diploma de Médica. Após a formatura, voltou ao Rio Grande do Sul, onde se casou com Antonio Maria Amaro Freitas, com quem teve uma única filha, Ísis. Clinicou em Porto Alegre durante alguns anos, mas depois decidiu se radicar em Rio Pardo (RS), onde exerceu a profissão de 1910 a 1925.
Por sua dedicação, profissionalismo e amor ao próximo, passou a ser adorada pela população de Rio Pardo, que a elegeu vereadora pelo partido Libertador em 1935, e exerceu o mandato com dedicação e perseverança, cobrando das autoridades um maior empenho quanto à saúde da população. Exerceu seu mandato até 1937, quando Getúlio Vargas decretou o Estado Novo, que fechou as Câmaras Municipais. Um exemplo de sua dedicação e amor à Medicina foi o fato de que em todos os domingos e feriados saía pelos bairros da cidade, a pé, consultando os habitantes de casa em casa gratuitamente, colocando, em prática, verdadeiramente, o “JURAMENTO DE HIPÓCRATES”.
Passou os últimos anos de sua vida na Estância do Capivari, em Rio Pardo (RS). Em 1953 veio a falecer, aos 87 anos de idade.

FONTES:  Texto de João Carlos Ruller/ São José do Rio Preto- SP- 2015.

               Arquivo Histórico Rio Pardo- RS/AHMRP.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

RIO JACUÍ CONFLUÊNCIA COM RIO PARDO



Rio Pardo foi um dos centros  comerciais mais importantes da Capitania. Seu Porto, no Jacuí, tinha grande movimento ali, atracavam  continuamente muitas  embarcações que traziam mercadorias de Porto Alegre, para serem conduzidas, por carroças e carretas,puxadas com várias juntas de bois, a outros lugares, principalmente a Serra e a Fronteira.

FONTE: Rio Pardo, História . Recordações. Lendas. Rezende,Quadros de Marina, 1993.

SOLAR DO ALMIRANTE


        
Biágio Tarantino colecionava objetos antigos e fazia questão de mostra-los. Em 1935 organizou uma exposição sobre a Revolução Farroupilha e depois disto surgiu a ideia de organizar um Museu Municipal. Após passar por vários lugares, o Museu Municipal Barão de Santo Ângelo ganhou um lugar definitivo: o Solar do Almirante, prédio com mais de 200 anos, serviu como moradia e casa de comércio. Também foi abrigo para Tio Luís, um ex-escravo que encantou  muitos rio-pardenses com seu jeito humilde e suas histórias.
Hoje, é o museu quem conta muitas histórias, com a ajuda de várias pessoas da comunidade, organizadas na Associação dos Amigos do Museu Barão de Santo Ângelo. O Solar do Almirante é um prédio antigo, restaurado, que continua servindo à população.


FONTE: Texto de Silvia Barros e Ceres Kuhn. Gazeta do Sul

               ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL

CAPELA DOS PASSOS


Em 1815 a Irmandade dos Passos iniciou a construção da sua capela para abrigar a imagem de Nosso  Senhor Bom Jesus dos Passos. Os recursos para a obra eram provenientes de doações da comunidade.
Durante toda a sua existência, a capela tem servido à religiosidade do povo de Rio Pardo. Foi no seu interior que se realizou a cerimônia religiosa quando do lançamento da pedra fundamental do prédio da Casa de Caridade. Com certeza foi ali que rezaram os cadetes e lentes da Escola Militar, instalada no prédio vizinho no final do século XIX.
A partir de 1931, a capela passou a ser administrada pelas Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Como todas as igrejas da cidade, o prédio da Capela dos Passos tem sido mantida com muitas dificuldades.  A situação melhorou muito a partir de 1997, quando foi criada a Associação dos Amigos da Igreja dos Passos, com o objetivo de melhorar o prédio e possibilitar sua digna utilização pela população. A partir de então, a capela recebeu pintura interna e externa e bancos novos, doados pela comunidade, melhorando muito seu aspecto.

 FONTE: Memória Viva – Texto de Ceres Kuhm e Silvia Barros

Gazeta do Sul, 29/04/2000 AHMRP

segunda-feira, 17 de outubro de 2016


                                                      HISTÓRIA DO HOSPITAL DOS PASSOS
No ano de 1846, a Irmandade de Caridade Nossa Senhora Bom Jesus dos Passos decidiu construir uma Casa de Caridade, em terreno localizado ao lado da Capela dos Passos.
A perda fundamental deste prédio foi lançada em 1º de janeiro de 1848. A casa, porém, nunca chegou a ser usada, pois a Irmandade não dispunha dos recursos financeiro  necessários para equipar o hospital e instalações ao Governo  Imperial, para o funcionamento, ali, da Escola Militar.
Em 1929 é feita novamente a proposta  de criação de um hospital de caridade, pela mesma Irmandade . Finalmente, em 20 de setembro de 1930, é inaugurado o Hospital dos Passos. O prédio foi construído no terreno de uma chácara, adquirida em 1914, situado na Rua 13 de maio. A primeira equipe do hospital era composta pelo diretor, Dr. Miguel de Andrade Neves Meireles, pela enfermeira Dona  Amantina  Gomes, que também acumulava as funções de diretora econômica e responsável pela escrituração do estabelecimento, uma cozinheira e dois serventes.
Nos arquivos da Irmandade assim foram descritas as instalações: “O hospital seria composto de duas enfermarias, uma para homens e outra para mulheres, com a lotação de seis pacientes cada (...). A sala de assistência pública, adida à intendência, foi denominada “Pedro Borba”. A capela servirá, quando preciso, de câmara ardente”.
Com o passar do tempo, o hospital recebeu vários acréscimos em suas instalações, para melhor atender às necessidades  da comunidade, até se transformar no Hospital dos Passos, há 70 anos a comunidade rio-pardense conta com os relevantes serviços prestados por esta entidade hospitalar.

FONTES: Jornal Gazeta do Sul, 10 /10/2000.

 Texto: Silvia Barros/Ceres Kuhn  (Memória Viva)                                                        

sábado, 15 de outubro de 2016

A IMPORTÂNCIA DA RUA DA LADEIRA

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A Rua da Ladeira já se chamou Rua Direita,Rua do Imperador,Rua Silveira Martins e atualmente tem o nome de Júlio de Castilhos.
Exemplo da influência portuguesa na construção das cidades ou vilas do Brasil, foi também importante para o comércio e o transporte de mercadorias. Ela ligava o alto da Fortaleza, local onde teve origem o povoado, com a parte residencial.
A zona comercial ficava quase toda nas proximidades da praia e ruas a ela circunscritas. Na Rua da Ladeira, onde hoje fica a Praça da Matriz, também funcionava uma das feiras de comércio popular. Nas suas imediações, próximo à praia, ainda estava o Regimento dos Dragões de Rio Pardo.Foi construída supostamente por escravos em 1813, tem sido apontada como a primeira Rua calçada no Estado.
É provável que a Ladeira, com suas pedras irregulares, seja a via calçada mais antiga ainda existente em solo gaúcho. 

FONTE :Vogt, Paulo Olgário 
              Uma Luz para a história do Rio Grande 
              Rio Pardo, 200 anos, Cultura,Arte e Memória, 2010

FOTO: http://memorialdotempo.blogspot.com.br/2014/11/viagens-rio-pardo-rs_82.html

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

RS: O “CELEIRO” DO BRASIL


                A economia do Rio Grande do Sul condicionou a trajetória da sociedade rio-grandense por configurar-se como um setor de abastecimento, subsidiário, complementar e subordinado ao conjunto de economia brasileira. Até hoje, o caráter colonial – primário-exportador – da produção de riquezas no Brasil atende às necessidades de acumulação de capitais nos países hegemônicos; da mesma forma, o Rio Grande do Sul trilha o mesmo sentido, secundário, em um contexto menor: o da história do Brasil.
                Ocorre que o Rio Grande do Sul assumiu esse papel e desenvolveu valores que enfatizam e defendem tal condição. A posição da economia complementar implica também apropriação, por parte da classe dominante, de uma pequena parcela da riqueza produzida. A classe dominante rio-grandense (ao longo da história, basicamente pecuarista) adequou-se a essa situação, conformando-se com sua função secundária.
                Assim, a sociedade rio-grandense, através de seus segmentos dominantes, não criou nada de novo. Apenas elaborou seu projeto histórico circunscrito ao ideal de ser o “celeiro” do Brasil.
                Os setores agropecuários rio-grandenses, sem condições de capitalização, nunca investiram na melhoria das pastagens ou dos solos, no aprimoramento genético dos rebanhos e das sementes, na proteção dos produtores nem no aparelhamento das vias de escoamento e de comercialização da produção. A pecuária manteve-se, e ainda continua, basicamente extensiva.
                Assim, o crescimento dos rebanhos fica condicionado à maior disponibilidade de terras, fortalecendo a grande propriedade rural, desprovida de aproveitamento racional. Nas lavouras policultoras, em geral identificadas com a zona de imigração ítalo-germânica, o esgotamento dos solos e o fracionamento dos lotes inviabilizaram um modelo de desenvolvimento capitalista que mantinha os agricultores na terra. Além disso, os solos do Rio Grande do Sul não são geologicamente privilegiados. O uso extensivo e o emprego de técnicas rudimentares têm comprometido o aumento da produtividade.
                A criação de gado, a produção de charque e a comercialização transferiram prejuízos entre si porque os lucros eram escassos. Os agricultores que ocuparam o planalto e sua encosta recorriam ao uso da coivara, queimando os elementos orgânicos do solo. Esse processo ainda é bastante comum, mesmo nas lavouras comerciais. Os agricultores foram (e ainda são) subordinados ao comerciante, consequentemente, ao industrial e ao setor financeiro.
                Em certa medida, os entraves nunca foram assimilados como problemas de organização da produção, mas apenas como falta de proteção tarifária, que deveria ser estabelecida pelas autoridades federais ou estaduais.
                O que se pretende destacar é que a economia rio-grandense, voltada para a produção agrícola, atendeu aos interesses do mercado brasileiro, ao mesmo tempo que enriqueceu e consolidou uma classe dominante identificada com essas características.
                A vocação de “celeiro” do Brasil privilegiou uma pecuária de baixa produtividade e uma agricultura que não se consolidou enquanto policultora, gerando condições para que muitos agricultores fossem expulsos do campo.
                A ideia de “celeiro” nacional foi fator decisivo para inviabilizar a construção de um projeto de sociedade – ainda que gerenciado pela classe dominante – representativo do conjunto de interesses locais.
                Mesmo com as limitações acima apresentadas, foi possível desenvolveu uma produção primária ampla e diversificada. Além disso, o comércio cresceu, projetou núcleos urbanos importantes e permitiu capitalizar recursos que foram investidos em serviços e na agroindústria.
                Assim mesmo, o projeto capitalista foi restritivo e incapaz de administrar politicamente o desenvolvimento da economia rio-grandense. Mais adiante observaremos que industrialização local não atingiu um nível satisfatório que a capacitasse a concorrer no mercado capitalista. Veremos também que a exportação de grãos não decorre de um desdobramento histórico da lavoura local, mas representa um reforço de atrelamento às políticas econômicas dos centros hegemônicos brasileiros e, em certa medida, algo novo e diferenciado dos objetivos da lavoura mais antiga da região.


Referência: MOURE, Telmo Remião. História do Rio Grande do Sul. 2º Grau. São Paulo: FTD, 1994. p. 86-87.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

24 DE SETEMBRO DE 2016: 156 ANOS DE NASCIMENTO DE ANA AURORA DO AMARAL LISBOA

   Colégio Particular Amaral Lisboa
http://escolaamaral.pbworks.com/w/page/19229534/anaaurora 
                Duas atitudes da jovem Ana Aurora mostraram desde muito cedo o que ela pensava da vida: o voto de pobreza e o trato feito com as irmãs Zamira e Carlota de nunca casarem para poderem se dedicar integralmente à educação.

                Nascida em Rio Pardo, diplomou-se pela Escola Normal de Porto Alegre em 1881. Foi professora pública de 1881 até fundar o Colégio Amaral Lisboa em 1883. Trabalhou por 55 anos, formando três gerações de rio-pardenses. Escreveu poesias, peças teatro, crônicas. Publicou artigos políticos em jornais da época, muitas vezes tratando de assuntos políticos polêmicos. Utilizava os pseudônimos de Aura Lis, José Anselmo e Uma Riograndense. 



DE RIO PARDO AO CERRO DO BOTUCARAÍ


                Sendo a peregrinação demasiado longa, eram indispensáveis três cavalos para a montaria de cada um dos camaradas ou peões (pois fazem serviços extraordinários além da marcha), dois para cada um dos patrões, dois muares para cada cargueiro e a competente égua madrinha[1], sem a qual é certo o extravio de animais durante a noite.
                De um todo prontos, inclusive a matalotagem[2], partimos pelas quatro horas da tarde, com uma grande animalada por diante, apreciando a bela paisagem que se ostenta à direita e à esquerda da vereda, desde a ponte sobre o rio, que dá seu nome à cidade, até os confins missioneiros.
                Passamos a grande várzea, que nas maiores enchentes é quase toda coberta de água na extensão de nove quilômetros. Nessa ocasião, o terreno era seco, facilmente transitável até o Sítio das Moças Velhas.
                Daí começamos a subir uma ladeira de suave declive até o outrora desprezado e baldio passo colonial, adquirido e consideravelmente valorizado pelo operoso industrialista Frederico Hannemann, então o mais aperfeiçoado vinhateiro do Rio Grande do Sul.
                Um pouco mais além, passávamos o Arroio das Pedras, 6 km mais adiante chegamos ao Capão da Cruz Alta, pernoitando na hospitaleira vivenda de Manoel Pinto Lima.
                Caminháramos já 30 quilômetros, desde a cidade de Rio Pardo.
                Ao seguinte dia, passávamos pelas Três Vendas, pela estância do Chico Thimotheo, começando e continuando a avistar, por mais dois dias, mais próximo ou mais afastado, conforme as curvas da estrada, o majestoso Cerro do Botucaraí, notável por sua excepcional posição sobre a encosta da Serra Geral e por ter sido um dos asilos do célebre Monge que primeiro estivera nas Águas Santas do Campestre, localidade que adiante descreveremos.
                Passada a magnífica ponte de pedra sobre o arroio Butucaraí, subimos por uma suave encosta até a modesta fazenda de Manoel José Severo.

REFERÊNCIA
SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Missões Orientais e seus antigos domínios. Porto Alegre: ERUS, 1979. Estante Rio-Grandense União de Seguros. (Primeira Edição: 1909) p. 152-4.



[1] Égua mansa que atrai e mantém os cavalos juntos.
[2] Bagagem.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

ANNA AURORA, professora, poetisa e política

Primeira parte
A MINHA INTERVENÇÃO NA POLITICA
Seja – me permitido, uma vez por todas, esclarecer este ponto,visto como tem sido a minha intervenção na política a causa ou motivo apresentado para justificar todas as denuncias, intrigas e perseguições de que tenho sido victima.
Admittindo que eu tome parte activa na política, o que é falsissimo, não há lei, que eu conheça pelo menos, que vede á mulher este direito; há, sim, o preconceito social do qual sou acérrima defensora de que a missão da mulher deve restringir-se aos deveres do lar.
Quanto a tomar o mais vivo interesse pelo que se passa em sua Patria, pelo desenrolar dos acontecimentos que hão de constituir mais um período da historia dessa Patria, sustento que a mulher que tem alguma instrucção e patriotismo, tem ,não o direito, mas o deverde faze-lo, mórmente quando essa mulher escolheu a missão de educadora da mocidade; para essa então essa então esse dever é imprescindível.
Para que estudamos a HISTORIA? Para que faz parte das matérias do ensino primário o estudo da HISTORIA PATRIA? Não é para desenvolver nas crianças o sentimento do amor à Patria, despertando-lhes a admiração pelas acções patrióticas e pelos grandes vultos da nossa HISTORIA?
Uma pratica uso eu no exercicio do magistério : ao annunciar aos meus alunnos que o dia seguinte é feriado por ser uma data nacional, narro-lhes o facto que essa data commemora, procurando fazer-lhes comprehender a gloria que aos brazileiros advem de tal facto, e dou-lhes muitas vezes este assupto para exercicio de redacção ou de composição.
Se isso é idéas políticas no espírito das creanças, do que tenho sido accusada, confesso aqui publicamente a minha culpa; mas declaro-me peccador impenitente, promptoa recair na mesma falta na primeira opportunidade.
Assim, pois, não approvo( porque o direito não lh’o posso contestar) que a mulher se arvoreem chefe de um partido político, e estarei ao lado dos que a combaterem nesse terreno; mas defendo o direito e sustento o dever que tem a mulher  instruída, principalmente a preceptora, de tomar o mais vivo interesse pelos acontecimentos contemporâneos, como tem o de estudar os acontecimentos passados da HISTORIA PATRIA. Com o mesmo affinco com que consulta differentes auctores afim de descobrir a verdade sobre um facto passado, deve ella investigar a verdade dos factos que se passam no seu tempo.
Demais, não creio que, no momento que atravessa a nossa Patria , haja uma só brazileira, ou pelo menos uma rio-grandense,cujo espírito não seja de todo inculto, (e ainda assim!...) que não intervenha na política, se é intervir na política o interessar-se, apaixonadamente que seja, pelo desdobrar dos acontecimentos. Não fora em tal caso brazileira ou rio-grandense!
Eis qual tem sido e será a minha intervenção na política. E que digam esses mesmos que me accusam d’essa outra intervenção, onde e quando me ouviram elles próprios falar e tratar de política. Em parte alguma e nunca.
Sujeito o meu procedimento e os sentimentos que a elle me impulsionam ao juízo das pessoas illustradas, pois que inutil seria querer fazel-os acceitar por certos espíritos entrincheirados por de traz de emperrados preconceitos.
E, se me permittem, um conselho proveitosissimo áquelles que tanto se preoccupam com a política das mulheres: deixai - as tolejar á vontade e usai sómente, para combatel-as, da arma do ridículo. Dar-lhes a importância de julgal-as inimigos ou adversários temíveis, merecedores de perseguições, é o cumulo do ridículo, mas para o sexo forte, mórmente para os representantes de um partido poderosíssimo.
Sobre este ponto, faço ponto.
OBs.: Texto conforme caligrafia da época.
FONTE: Texto do livro “A MINHA DEFESA DE ANNA AURORA DO AMARAL LISBOA - 1895, PORTO ALEGRE – Officinas typographicas da Livraria Americana – pag. 07 a 09
Arquivo histórico Municipal Rio Pardo


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

RIO PARDO NA ÉPOCA DO BARCO A VAPOR

           Um pequeno barco a vapor, repleto de passageiros, separada a câmara dos homens (servindo simultaneamente de refeitório e dormitório), do pequeno cubículo reservado às senhoras, leitos com quarenta centímetros de largura, travesseiros e colchões duros, despidos de lençóis e coberturas, e isso mesmo não chegando para todos, ficando muitas pessoas de pé ou assentadas em tamboretes durante uma noite inteira, uma profusão de mosquitos, desde o crepúsculo da tarde até o da manhã seguinte, tal foi nosso suplício até desembarcarmos, felizmente cedo, em Rio Pardo.    (...)
           (...) desde a pacificação da Guerra dos Farrapos, que as teve o seu forte e alternado teatro de operações, marchou Rio Pardo para uma tal decadência, que nenhum esforço jamais pôde refrear.
             Ouvimos alguns dos poucos velhos que conseguiram transpor várias décadas após aquele período revolucionário, contar as grandezas da opulenta vila de Rio Pardo, a vida expansiva, a união íntima de seus mais antigos habitantes.
             Eram aparatosas e completas as festas na igreja e fora, com os competentes torneios das cavalhadas. Eram ainda animados os repetidos saraus familiares com as danças do solo inglês, do minuete afandangado, da gaivota, da cachucha e da contradança antiga, desbancada pelas quadrilhas. Eram bem desempenhados os espetáculos teatrais, em que brilharam Felipe Neri, Mello e Albuquerque, Borba e outros jovens amadores, mais tarde chamados para representar papel saliente na política rio-grandense.
             Reinava uma excepcional atividade no comércio. Era este abundante em todos os gêneros, era o fornecedor do município e até da maior parte dos negociantes da companhia e da região serrana. Estes e aqueles vinham aí comprar mercadorias e transportá-las para, lá longe, revendê-las com avultado lucro.
              E todos ganhavam bom dinheiro, as onças de ouro, os patacões formigavam.
              Mas passada aquela crise revolucionária e tristíssima, a opulenta vila deixou de ser um entreposto comercial.
             A navegação fluvial a vapor, a princípio bimensal e por fim quase diária, anulando quase a dos lanchões e canoas, atraindo para Porto Alegre toda a freguesia comercial da companhia e da serra, desferiu profundo golpe no comércio de Rio Pardo.
             A supressão do comando da guarnição e fronteira, a retirada das forças que aí estacionavam, diminuiu-lhe mais de metade da antiga população urbana.
          Apesar de elevada à categoria de cidade, nem por isso cessou, antes progrediu, a sua decadência, chegando ao ponto de serem oferecidas gratuitamente as casas, para não permanecerem desabitadas por meses a anos.
             Entretanto, Rio Pardo possuía ainda alguns homens prestigiosos e destes mais de um foi chamado a ocupar uma cadeira de deputado à Assembléia Geral e à Provincial. Esses homens envidaram o melhor de sua influência, para recuperar o antigo esplendor da cidade, digna de melhor sorte.
‘            Os deputados e senadores rio-grandenses, encontrando no Ministério o Marquês de Caxias, amigo devotado do Rio Grande do Sul, conseguiram fosse criada e inaugurada uma Escola Militar, provida de ilustrado corpo docente. Mas, ao cabo de dois anos, já não sendo ministro aquele titular, foi a Escola removida para Porto Alegre. Trinta e cinco anos mais tarde restituída, não demorou em ser-lhe de novo tirada. Uma outra Escola de Tiro, uma guarnição militar com um batalhão de infantaria, uma grande estação da estrada de ferro, nada disso tem melhorado as condições da cidade, que foi a chave da campanha rio-grandense.
                Habitam-na hoje mais de seis mil almas.
          Mas, apesar dos templos, teatro, hospital de misericórdia, grandes casas particulares, ainda reina quase geral pobreza.
               Era ai que os viajantes da capital para a campanha, para a região serrana, ou vice-versa, iam encontrar meios de transporte; foi aí que os procuramos.

REFERÊNCIA

SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Missões Orientais e seus antigos domínios. Porto Alegre: ERUS, 1979. Estante Rio-Grandense União de Seguros. (Primeira Edição: 1909) p. 151-2.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
6 – PONTE DO RIO PARDO (2ª parte)
* REGISTRO DO OFÍCIO DESTA CÂMARA AO DESEMBARGO DO PAÇO, COMO ABAIXO SE DECLARA.
                Senhor. – A urgentíssima necessidade que há de reedificação da Ponte do rio Pardo, contíguo a esta Vila, e de que há muitos anos esteve este Povo na fruição dele até o tempo em que as inundações das águas a levaram em ocasião que se achava a maior parte dos habitantes deste lugar na Campanha e por cujo motivo a Junta da Real Fazenda desta Capitania por providência aos moradores e viandantes faz rematar aquele Passo faz com que pomos na Real presença de Vossa Alteza as súplicas e oferecimentos que se nos tem feito para o futura da mencionada Ponte tendo primeiramente dirigido os nossos primeiros passos a V.A.R. pela sua Real Junta desta Capitania como consta da cópia número um e pela mesma Real Junta nos foi deliberado o que teve da outra cópia número dois vindo por este modo a continuar os gemidos da pobreza e as faltas que experimenta o público desta dita Vila que borda o mencionado rio enquanto se não efetuam as ditas obras; por cujo motivo suplicamos a V.A.R. haja por bem conceder a licença que imploramos por ser um bem comum e passarem continuadamente as tropas de V.A.R. por aquele lugar ficando desde então sustada a arrematação daquele passo que pela referida Junta da Real Fazenda se fez. – Deus guarde a V.A.R. por muitos anos. – Rio Pardo em Câmara de 13 de fevereiro de 1813 = Manoel Pereira de Carvalho = José da Rosa Fraga = Manoel Veloso Rabelo = Francisco da Silva Bacelar =. E não se continha mais coisa alguma em dito ofício que aqui fielmente registrei do próprio e conferi eu Escrivão da Câmara – Leocádio Máximo de Souza.

PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
Respostas aos quesitos formulados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para o fim do Serviço Nacional de Recenseamento.

Documento disponível (cópia carbono datilografada) no Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo