sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

TEATRO EM RIO PARDO (1)


Dos primitivos teatros dessa cidade não resta mais pedra sobre pedra. Resta, porém, um dos mais antigos documentos sobre a história do teatro no Rio Grande do Sul, o Livro de Registro de sócios do Teatro Rio-Pardense, fundado naquela então vila, em 1845. Esse livro foi doado em 1965 ao Arquivo Municipal de Rio Pardo pelo desembargador Décio Pellegrini, natural desse município.
Foi a 1º de novembro daquele ano que Joaquim José da Silveira, na qualidade de “diretor externo interino” da associação que se formava, abriu o Livro com o habitual Termo de Abertura e rubricou as primeiras 94 folhas que, aliás, nem foram todas utilizadas. Segundo informa Dante de Laytano, “Joaquim José da Silveira era vice-presidente da Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional de Rio Pardo. A Sociedade teve destacada atuação nos acontecimentos de 1835[1], Identificável com a pessoa homônima que, segundo Sacramento Blake, em 1850 era diretor das escolas de primeiras letras da Corte e seu município.[2]
Matricularam-se sócios-fundadores, sócios-prestativos e sócios-contribuintes (isso sem falar nos sócios-honorários) num total que oscilou entre 132 e 196, ao sabor dos anos, das inscrições e dos desligamentos, entre 1845 e 185... . Distribuíam-se, por outra parte, entre assinantes de camarotes e de cadeiras da platéia, atingindo o número daqueles a cerca de quarenta, e o dessas a 180, o que já permite fazer-se um juízo sobre as dimensões do prédio. Quanto a este, talvez a única referência impressa seja ainda a de Dante de Laytano: “no Primeiro Império existia um teatro em Rio Pardo, na Travessa da Praça de São Francisco, ainda da Travessa Mateus Simões”[3], localização que é contestada por outras fontes documentais.
Os sócios apunham sua assinatura no livro, ascendendo seu número a 133. Deles, dez parecem ter sido os fundadores iniciais e destes, dois apenas têm assinaturas “a rogo”. Na lista geral constam diversos nomes de personalidades que se destacaram na vida da cidade (título concedido a Rio Pardo já no ano seguinte, 1846), da Província e do Império.[4]
Sobre as atividades dramáticas propriamente ditas, pouco se depreende das anotações do Livro, cuja finalidade obviamente era outra. De autores, atrizes, peças, interpretação, crítica, nada consta. Entretanto, em documento alheio ao Livro de Registro, consta haver madame Robert pago à Câmara Municipal a importância de 72$000 “por abrir teatro por três noites para divertimento público”, o que dá azo a imaginar-se que antes do Teatro Rio-Pardense, outro houvesse à semelhança de Rio Grande, Porto Alegre e Pelotas, que já antes da Revolução Farroupilha se deliciavam com as artes de Talia e Melpômene.
Uma anotação lateral informa-nos de que à récita de 17 de maio de 1854 compareceram aos camarotes 23 sócios-contribuintes e seis prestativos; à platéia, dezessete e oito respectivamente. Nesse ano se anotaram ainda récitas a 1º de julho e 30 de agosto, quando se interromperam definitivamente os registros no histórico livro. (continua)

REFERÊNCIA
HESSEL, Lothar. O teatro no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1999. P. 148-150)



[1] Almanaque do Rio Pardo. Porto Alegre: Tip. Do Centro, 1946. p. 149.
[2] In: Dicionário bibliográfico brasileiro, Rio de Janeiro, 1898, v. 4, p. 179.
[3] LAYTANO, Dante de. Op. cit. p. 48. Guilhermino César transcreve uma notícia da Gazeta de Lisboa de 1794 nos seguintes termos: “Festas Grossa em Rio Pardo [...] No segundo dia, à noite, se encaminhou o sobredito comandante [tenente-coronel Patrício José Correa da Câmara] com o povo ao teatro, onde se representaram por quatro noites excelentes comédias com maravilhosas danças”. (Primeiros cronistas do Rio Grande do Sul, 1605-1801. Porto Alegre: Faculdade de Filosofia da UFRGS, 1969. p. 180).
[4] Entre os sócios: o general José Joaquim de Andrade Neves, Barão do Triunfo; o Dr. Antônio Vicente de Siqueira Pereira Leitão, bacharel pela Faculdade de Direito de São Paulo, 1834; Manuel Ribeiro de Andrada e Silva; Joaquim Pedro da Silva Lisboa; o Dr. Antônio Ferreira de Andrade Neves; e o próprio Joaquim José da Silveira. Há no livro diversas listas de associados, o que torna difícil fornecer com precisão o número, o nome e a categoria dos muitos sócios. Entre eles figuram quatro doutores e cinco mulheres. Dos dezesseis fundadores que assinaram as primeiras listas, todos têm sobrenome luso, exceto o cidadão Henrique Augusto Krause.

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