quinta-feira, 15 de setembro de 2016

ANNA AURORA, professora, poetisa e política

Primeira parte
A MINHA INTERVENÇÃO NA POLITICA
Seja – me permitido, uma vez por todas, esclarecer este ponto,visto como tem sido a minha intervenção na política a causa ou motivo apresentado para justificar todas as denuncias, intrigas e perseguições de que tenho sido victima.
Admittindo que eu tome parte activa na política, o que é falsissimo, não há lei, que eu conheça pelo menos, que vede á mulher este direito; há, sim, o preconceito social do qual sou acérrima defensora de que a missão da mulher deve restringir-se aos deveres do lar.
Quanto a tomar o mais vivo interesse pelo que se passa em sua Patria, pelo desenrolar dos acontecimentos que hão de constituir mais um período da historia dessa Patria, sustento que a mulher que tem alguma instrucção e patriotismo, tem ,não o direito, mas o deverde faze-lo, mórmente quando essa mulher escolheu a missão de educadora da mocidade; para essa então essa então esse dever é imprescindível.
Para que estudamos a HISTORIA? Para que faz parte das matérias do ensino primário o estudo da HISTORIA PATRIA? Não é para desenvolver nas crianças o sentimento do amor à Patria, despertando-lhes a admiração pelas acções patrióticas e pelos grandes vultos da nossa HISTORIA?
Uma pratica uso eu no exercicio do magistério : ao annunciar aos meus alunnos que o dia seguinte é feriado por ser uma data nacional, narro-lhes o facto que essa data commemora, procurando fazer-lhes comprehender a gloria que aos brazileiros advem de tal facto, e dou-lhes muitas vezes este assupto para exercicio de redacção ou de composição.
Se isso é idéas políticas no espírito das creanças, do que tenho sido accusada, confesso aqui publicamente a minha culpa; mas declaro-me peccador impenitente, promptoa recair na mesma falta na primeira opportunidade.
Assim, pois, não approvo( porque o direito não lh’o posso contestar) que a mulher se arvoreem chefe de um partido político, e estarei ao lado dos que a combaterem nesse terreno; mas defendo o direito e sustento o dever que tem a mulher  instruída, principalmente a preceptora, de tomar o mais vivo interesse pelos acontecimentos contemporâneos, como tem o de estudar os acontecimentos passados da HISTORIA PATRIA. Com o mesmo affinco com que consulta differentes auctores afim de descobrir a verdade sobre um facto passado, deve ella investigar a verdade dos factos que se passam no seu tempo.
Demais, não creio que, no momento que atravessa a nossa Patria , haja uma só brazileira, ou pelo menos uma rio-grandense,cujo espírito não seja de todo inculto, (e ainda assim!...) que não intervenha na política, se é intervir na política o interessar-se, apaixonadamente que seja, pelo desdobrar dos acontecimentos. Não fora em tal caso brazileira ou rio-grandense!
Eis qual tem sido e será a minha intervenção na política. E que digam esses mesmos que me accusam d’essa outra intervenção, onde e quando me ouviram elles próprios falar e tratar de política. Em parte alguma e nunca.
Sujeito o meu procedimento e os sentimentos que a elle me impulsionam ao juízo das pessoas illustradas, pois que inutil seria querer fazel-os acceitar por certos espíritos entrincheirados por de traz de emperrados preconceitos.
E, se me permittem, um conselho proveitosissimo áquelles que tanto se preoccupam com a política das mulheres: deixai - as tolejar á vontade e usai sómente, para combatel-as, da arma do ridículo. Dar-lhes a importância de julgal-as inimigos ou adversários temíveis, merecedores de perseguições, é o cumulo do ridículo, mas para o sexo forte, mórmente para os representantes de um partido poderosíssimo.
Sobre este ponto, faço ponto.
OBs.: Texto conforme caligrafia da época.
FONTE: Texto do livro “A MINHA DEFESA DE ANNA AURORA DO AMARAL LISBOA - 1895, PORTO ALEGRE – Officinas typographicas da Livraria Americana – pag. 07 a 09
Arquivo histórico Municipal Rio Pardo


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