sexta-feira, 23 de setembro de 2016

DE RIO PARDO AO CERRO DO BOTUCARAÍ


                Sendo a peregrinação demasiado longa, eram indispensáveis três cavalos para a montaria de cada um dos camaradas ou peões (pois fazem serviços extraordinários além da marcha), dois para cada um dos patrões, dois muares para cada cargueiro e a competente égua madrinha[1], sem a qual é certo o extravio de animais durante a noite.
                De um todo prontos, inclusive a matalotagem[2], partimos pelas quatro horas da tarde, com uma grande animalada por diante, apreciando a bela paisagem que se ostenta à direita e à esquerda da vereda, desde a ponte sobre o rio, que dá seu nome à cidade, até os confins missioneiros.
                Passamos a grande várzea, que nas maiores enchentes é quase toda coberta de água na extensão de nove quilômetros. Nessa ocasião, o terreno era seco, facilmente transitável até o Sítio das Moças Velhas.
                Daí começamos a subir uma ladeira de suave declive até o outrora desprezado e baldio passo colonial, adquirido e consideravelmente valorizado pelo operoso industrialista Frederico Hannemann, então o mais aperfeiçoado vinhateiro do Rio Grande do Sul.
                Um pouco mais além, passávamos o Arroio das Pedras, 6 km mais adiante chegamos ao Capão da Cruz Alta, pernoitando na hospitaleira vivenda de Manoel Pinto Lima.
                Caminháramos já 30 quilômetros, desde a cidade de Rio Pardo.
                Ao seguinte dia, passávamos pelas Três Vendas, pela estância do Chico Thimotheo, começando e continuando a avistar, por mais dois dias, mais próximo ou mais afastado, conforme as curvas da estrada, o majestoso Cerro do Botucaraí, notável por sua excepcional posição sobre a encosta da Serra Geral e por ter sido um dos asilos do célebre Monge que primeiro estivera nas Águas Santas do Campestre, localidade que adiante descreveremos.
                Passada a magnífica ponte de pedra sobre o arroio Butucaraí, subimos por uma suave encosta até a modesta fazenda de Manoel José Severo.

REFERÊNCIA
SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Missões Orientais e seus antigos domínios. Porto Alegre: ERUS, 1979. Estante Rio-Grandense União de Seguros. (Primeira Edição: 1909) p. 152-4.



[1] Égua mansa que atrai e mantém os cavalos juntos.
[2] Bagagem.

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