Sendo
a peregrinação demasiado longa, eram indispensáveis três cavalos para a
montaria de cada um dos camaradas ou peões (pois fazem serviços extraordinários
além da marcha), dois para cada um dos patrões, dois muares para cada cargueiro
e a competente égua madrinha[1],
sem a qual é certo o extravio de animais durante a noite.
De
um todo prontos, inclusive a matalotagem[2],
partimos pelas quatro horas da tarde, com uma grande animalada por diante,
apreciando a bela paisagem que se ostenta à direita e à esquerda da vereda,
desde a ponte sobre o rio, que dá seu nome à cidade, até os confins
missioneiros.
Passamos
a grande várzea, que nas maiores enchentes é quase toda coberta de água na
extensão de nove quilômetros. Nessa ocasião, o terreno era seco, facilmente
transitável até o Sítio das Moças Velhas.
Daí
começamos a subir uma ladeira de suave declive até o outrora desprezado e
baldio passo colonial, adquirido e consideravelmente valorizado pelo operoso
industrialista Frederico Hannemann, então o mais aperfeiçoado vinhateiro do Rio
Grande do Sul.
Um
pouco mais além, passávamos o Arroio das Pedras, 6 km mais adiante chegamos ao
Capão da Cruz Alta, pernoitando na hospitaleira vivenda de Manoel Pinto Lima.
Caminháramos
já 30 quilômetros, desde a cidade de Rio Pardo.
Ao
seguinte dia, passávamos pelas Três Vendas, pela estância do Chico Thimotheo,
começando e continuando a avistar, por mais dois dias, mais próximo ou mais
afastado, conforme as curvas da estrada, o majestoso Cerro do Botucaraí,
notável por sua excepcional posição sobre a encosta da Serra Geral e por ter
sido um dos asilos do célebre Monge que primeiro estivera nas Águas Santas do
Campestre, localidade que adiante descreveremos.
Passada
a magnífica ponte de pedra sobre o arroio Butucaraí, subimos por uma suave
encosta até a modesta fazenda de Manoel José Severo.
REFERÊNCIA
SILVEIRA, Hemetério
José Velloso da. As Missões Orientais e seus antigos domínios. Porto Alegre:
ERUS, 1979. Estante Rio-Grandense União de Seguros. (Primeira Edição: 1909) p. 152-4.
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