RIO
PARDO, CENTRO COMERCIAL
Dr. Alvarino F. Marques
" Muito
se tem escrito e falado sobre o papel histórico de Rio Pardo como baluarte
militar da nossa formação geográfica e política, mas pouco se tem divulgado a
respeito de sua função como entreposto comercial durante esse mesmo período,
estabelecendo o elo econômico entre o vasto interior ainda nascente e a capital
da Província – Porto Alegre – ou seu único porto marítimo – Rio Grande.
Antes
do advento das ferrovias e, mais tarde, das modernas auto-estradas, contávamos
com um único meio de transporte importante, a navegação. As cargas mais pesadas
só podiam viajar por água. Os transportes terrestres ficavam limitados a pesos
e dimensões compatíveis com a capacidade física dos animais usados, seja para
tracionarem os veículos, seja para levarem a carga no lombo.
Por
estas razões, só adquiriram real importância as localidades situadas à beira de
água navegáveis, como foi o caso de Rio Pardo.
Ademais
de Fortaleza avançada no interior de uma ‘terra-de-ninguém’, Rio Pardo era um
centro para onde convergiam as poucas mercadorias produzidas na zona rural:
couros, sebo, erva-mate, cabelos e chifres. O comércio da cidade-forte adquiria
os produtos das estâncias e trocava-os por artigos manufaturados indispensáveis
e, antes de tudo, por sal. Esta
era a mercadoria primordial para a vida de homens e animais.
Com
o progresso e a melhoria de situação dos estancieiros, principalmente com o
assentamento de indústrias do charque, foram aumentando e tornando-se mais
refinadas as exigências de consumo. As famílias que viveram nas estâncias até a
época da Revolução de 93, passaram a mobiliar e arranjar melhor as casas, a
vestir com mais apuro, a usar jóias, a consumir iguarias e bebidas importadas e
a viajar em carruagens mais confortáveis.
Todos
esses artigos de consumo vinham de fora porque a indústria da Província era
insipiente. Provinham do Rio de Janeiro, da Bahia e de outros centros mais
adiantados, tanto do País como do estrangeiro.
As
mercadorias importadas chegavam por uma única via, a marítima, e eram
distribuídas, do Porto de Rio Grande, para o interior, pela navegação das
lagoas e dos rios.
Rio
Pardo foi, por muito tempo, o ponto final das embarcações fluviais. Mais tarde,
também Cachoeira passou a ser um centro comercial importante – por localizar-se
mais para dentro do interior rio-grandense. De Rio Pardo foi muita gente
comerciar em Cachoeira, como os irmãos Antonio Vicente e José Antônio da Fontoura.
Antônio Vicente tornou-se, além de comerciante, o menos guerreiro, mas talvez o
mais político e negociador de todos os chefes farroupilhas, a grande figura da
Paz de Ponche Verde."
FONTE: Recorte de
jornal, sem data, local e página. Provavelmente Jornal A Folha.