segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

RIO PARDO, CENTRO COMERCIAL
Dr. Alvarino F. Marques

               " Muito se tem escrito e falado sobre o papel histórico de Rio Pardo como baluarte militar da nossa formação geográfica e política, mas pouco se tem divulgado a respeito de sua função como entreposto comercial durante esse mesmo período, estabelecendo o elo econômico entre o vasto interior ainda nascente e a capital da Província – Porto Alegre – ou seu único porto marítimo – Rio Grande.
                Antes do advento das ferrovias e, mais tarde, das modernas auto-estradas, contávamos com um único meio de transporte importante, a navegação. As cargas mais pesadas só podiam viajar por água. Os transportes terrestres ficavam limitados a pesos e dimensões compatíveis com a capacidade física dos animais usados, seja para tracionarem os veículos, seja para levarem a carga no lombo.
                Por estas razões, só adquiriram real importância as localidades situadas à beira de água navegáveis, como foi o caso de Rio Pardo.
                Ademais de Fortaleza avançada no interior de uma ‘terra-de-ninguém’, Rio Pardo era um centro para onde convergiam as poucas mercadorias produzidas na zona rural: couros, sebo, erva-mate, cabelos e chifres. O comércio da cidade-forte adquiria os produtos das estâncias e trocava-os por artigos manufaturados indispensáveis e, antes de tudo, por sal. Esta era a mercadoria primordial para a vida de homens e animais.
                Com o progresso e a melhoria de situação dos estancieiros, principalmente com o assentamento de indústrias do charque, foram aumentando e tornando-se mais refinadas as exigências de consumo. As famílias que viveram nas estâncias até a época da Revolução de 93, passaram a mobiliar e arranjar melhor as casas, a vestir com mais apuro, a usar jóias, a consumir iguarias e bebidas importadas e a viajar em carruagens mais confortáveis.
                Todos esses artigos de consumo vinham de fora porque a indústria da Província era insipiente. Provinham do Rio de Janeiro, da Bahia e de outros centros mais adiantados, tanto do País como do estrangeiro.
                As mercadorias importadas chegavam por uma única via, a marítima, e eram distribuídas, do Porto de Rio Grande, para o interior, pela navegação das lagoas e dos rios.
                Rio Pardo foi, por muito tempo, o ponto final das embarcações fluviais. Mais tarde, também Cachoeira passou a ser um centro comercial importante – por localizar-se mais para dentro do interior rio-grandense. De Rio Pardo foi muita gente comerciar em Cachoeira, como os irmãos Antonio Vicente e José Antônio da Fontoura. Antônio Vicente tornou-se, além de comerciante, o menos guerreiro, mas talvez o mais político e negociador de todos os chefes farroupilhas, a grande figura da Paz de Ponche Verde."


FONTE: Recorte de jornal, sem data, local e página. Provavelmente Jornal A Folha.

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