terça-feira, 15 de dezembro de 2015

UM POUCO DE HISTÓRIA
                Deve Rio Pardo aos fundadores dos Sete Povos das Missões, como muitos outros municípios do Rio Grande do Sul, o primeiro povoamento do seu solo por gente civilizada, pois na sua bela porém árdua tarefa de catequizadores, os missioneiros vieram até essa terra, então habitada por selvagens, plantando no seu seio a primeira semente do marco da civilização, isto por volta mais ou menos do ano de 1633, conforme rezam os anais da história.
                Embora só muito depois fosse fundado, após terem passado sobre seu chão os bandeirantes, desbravadores intrépidos dessa terra virgem, pode-se dizer que datam daí daquela data o início da vida primordial de Rio Pardo.
                Vieram mais tarde os primeiros moradores portugueses, lá pelo ano de 1724, e de simples Taba que era, Rio Pardo foi se fazendo um aldeamento regular, tornando-se logo depois a praça forte das nossas forças, refreando a conquista do Rio Grande do Sul pelos castelhanos, nas suas diversas tentativas de invasão, dentre as quais as façanhas armadas de 1773 e de 1777.
                Fazendo limite, então, com as fronteiras espanholas, Rio Pardo pela sua posição estratégica, cercado de um lado pelo rio Pardinho e do outro pelo rio Jacuí, barreiras naturais, deveria ser um baluarte, em caso de guerra, e realmente o foi.
                Pelo ano de 1750, por ordem de D. João VI, foram demarcados os limites do nosso Estado, pelo tratado entre Portugal e Espanha, sendo Rio Pardo escolhido para centro de depósitos de munições e víveres, em cuja localidade fez o general Gomes Freire de Andrade o seu Quartel-General, e dois anos depois, mandava construir à margem esquerda do rio Jacuí o célebre Forte Jesus-Maria-José, fortaleza essa que serviu de acantonamento ao não menos célebre Regimento dos Dragões, trazido para guarnecer a praça.
                Com a construção desse Forte, do qual ainda hoje existem as suas ruínas nas barrancas do Alto da Fortaleza, como ficou sendo conhecido aquele local, Rio Pardo começou a se desenvolver, datando dessa época a regularidade da sua vida social e comercial.
                O perfil de Rio Pardo foi se delineando, e apesar das lutas daqueles tempos e do troar das bocas de fogo postadas nos pontos estratégicos, o lugar começou a prosperar. O aldeamento aos poucos ia se tornando populoso, transformando-se em lugarejo pitoresco; as ruas iam se formando; o comércio se incrementando; as casas iam aparecendo, e quando a paz com os espanhóis veio trazer a tranqüilidade para as famílias rio-grandenses, já Rio Pardo tinha foros de Vila, com regular movimento e como base de concentração militar, raiando então a alvorada da sua vida áurea, que teria projeções gigantescas através do tempo, contribuindo em todas as campanhas em que o Brasil se viu empenhado, com o sangue dos seus filhos, cuja índole de guerreiros traziam nas veias, transmitida das gerações que forjaram no fogo das batalhas uma raça de bravos.
                Descerrando a cortina do tempo, à sombra da qual ficaram vibrando os feitos de gerações gloriosas, vamos descobrir a nossa velha cidade, primeiramente “Jequi”, depois “Vila do Príncipe” e atualmente Rio Pardo, como vanguardeira das primeiras lutas que sustentou o Brasil na conquista do Rio Grande do Sul, alvo da cobiça dos espanhóis, que esbarravam sempre às margens do rio Jacuí, onde se erguia a fortaleza invencível, que nunca conseguiram transpor!
                Os anos 1754, 1762, 1773 e 1777, foram uma sequência de lutas para o Rio Grande do Sul, e Rio Pardo foi sempre a barreira intransponível, sobre a qual vinha quebrar-se a fúria do inimigo.
                Datam daí, desses anos de incertezas para os destinos do nosso Estado, os feitos gloriosos dos filhos de Rio Pardo. Aparece, primeiramente, pelo ano de 1801, José Borges do Canto, que capitaneando um grupo de guerrilhas, deserta da sua guarnição, para dar combate aos povos das Missões, ao lado de outros companheiros, e tão bem se houve dessa façanha arriscada, que conquistou galões, volvendo vitorioso ao corpo da sua tropa.
                À José Borges do Canto, um dos primeiros grandes rio-pardenses e aos seus companheiros de luta, devemos a conquista da região missioneira, a zona mais rica que possui o nosso Estado.
                Aparece, ainda, por essa mesma época, - 1801, - João de Deus Mena Barreto, esse bravo guerreiro, que como soldado do Regimento dos Dragões se impõe pelo seu destemor ao perigo, nas cruentas pelejas que então se travavam, e de simples soldado, alcança o elevado posto de General e mais tarde o de Visconde de São Gabriel.
                E, como simbolizando as glórias que os filhos de Rio Pardo conquistaram noutros tempo, para nossa Pátria, esses dois rio-pardenses – José Borges do Canto e João de Deus Mena Barreto – abriram o grande livro da nossa história, em cujas páginas vamos descobrir nomes ilustres, que honram as tradições deste chão glorioso, e de cujos feitos as gerações que passam devem se orgulhar!

(ANTUNES, Duminiense Paranhos. Rio Pardo, “Cidade-Monumento”. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1946. p. 29-33)

Nenhum comentário:

Postar um comentário