“UM
POUCO DE HISTÓRIA
Deve
Rio Pardo aos fundadores dos Sete Povos das Missões, como muitos outros
municípios do Rio Grande do Sul, o primeiro povoamento do seu solo por gente
civilizada, pois na sua bela porém árdua tarefa de catequizadores, os
missioneiros vieram até essa terra, então habitada por selvagens, plantando no
seu seio a primeira semente do marco da civilização, isto por volta mais ou
menos do ano de 1633, conforme rezam os anais da história.
Embora
só muito depois fosse fundado, após terem passado sobre seu chão os
bandeirantes, desbravadores intrépidos dessa terra virgem, pode-se dizer que
datam daí daquela data o início da vida primordial de Rio Pardo.
Vieram
mais tarde os primeiros moradores portugueses, lá pelo ano de 1724, e de
simples Taba que era, Rio Pardo foi se fazendo um aldeamento regular,
tornando-se logo depois a praça forte das nossas forças, refreando a conquista
do Rio Grande do Sul pelos castelhanos, nas suas diversas tentativas de
invasão, dentre as quais as façanhas armadas de 1773 e de 1777.
Fazendo
limite, então, com as fronteiras espanholas, Rio Pardo pela sua posição
estratégica, cercado de um lado pelo rio Pardinho e do outro pelo rio Jacuí,
barreiras naturais, deveria ser um baluarte, em caso de guerra, e realmente o
foi.
Pelo
ano de 1750, por ordem de D. João VI, foram demarcados os limites do nosso
Estado, pelo tratado entre Portugal e Espanha, sendo Rio Pardo escolhido para
centro de depósitos de munições e víveres, em cuja localidade fez o general
Gomes Freire de Andrade o seu Quartel-General, e dois anos depois, mandava construir
à margem esquerda do rio Jacuí o célebre Forte Jesus-Maria-José, fortaleza essa
que serviu de acantonamento ao não menos célebre Regimento dos Dragões, trazido
para guarnecer a praça.
Com
a construção desse Forte, do qual ainda hoje existem as suas ruínas nas
barrancas do Alto da Fortaleza, como ficou sendo conhecido aquele local, Rio
Pardo começou a se desenvolver, datando dessa época a regularidade da sua vida
social e comercial.
O
perfil de Rio Pardo foi se delineando, e apesar das lutas daqueles tempos e do
troar das bocas de fogo postadas nos pontos estratégicos, o lugar começou a
prosperar. O aldeamento aos poucos ia se tornando populoso, transformando-se em
lugarejo pitoresco; as ruas iam se formando; o comércio se incrementando; as
casas iam aparecendo, e quando a paz com os espanhóis veio trazer a tranqüilidade
para as famílias rio-grandenses, já Rio Pardo tinha foros de Vila, com regular
movimento e como base de concentração militar, raiando então a alvorada da sua
vida áurea, que teria projeções gigantescas através do tempo, contribuindo em
todas as campanhas em que o Brasil se viu empenhado, com o sangue dos seus
filhos, cuja índole de guerreiros traziam nas veias, transmitida das gerações
que forjaram no fogo das batalhas uma raça de bravos.
Descerrando
a cortina do tempo, à sombra da qual ficaram vibrando os feitos de gerações
gloriosas, vamos descobrir a nossa velha cidade, primeiramente “Jequi”, depois “Vila
do Príncipe” e atualmente Rio Pardo, como vanguardeira das primeiras lutas que
sustentou o Brasil na conquista do Rio Grande do Sul, alvo da cobiça dos
espanhóis, que esbarravam sempre às margens do rio Jacuí, onde se erguia a
fortaleza invencível, que nunca conseguiram transpor!
Os
anos 1754, 1762, 1773 e 1777, foram uma sequência de lutas para o Rio Grande do
Sul, e Rio Pardo foi sempre a barreira intransponível, sobre a qual vinha
quebrar-se a fúria do inimigo.
Datam
daí, desses anos de incertezas para os destinos do nosso Estado, os feitos
gloriosos dos filhos de Rio Pardo. Aparece, primeiramente, pelo ano de 1801,
José Borges do Canto, que capitaneando um grupo de guerrilhas, deserta da sua
guarnição, para dar combate aos povos das Missões, ao lado de outros companheiros,
e tão bem se houve dessa façanha arriscada, que conquistou galões, volvendo
vitorioso ao corpo da sua tropa.
À
José Borges do Canto, um dos primeiros grandes rio-pardenses e aos seus
companheiros de luta, devemos a conquista da região missioneira, a zona mais
rica que possui o nosso Estado.
Aparece,
ainda, por essa mesma época, - 1801, - João de Deus Mena Barreto, esse bravo
guerreiro, que como soldado do Regimento dos Dragões se impõe pelo seu destemor
ao perigo, nas cruentas pelejas que então se travavam, e de simples soldado,
alcança o elevado posto de General e mais tarde o de Visconde de São Gabriel.
E,
como simbolizando as glórias que os filhos de Rio Pardo conquistaram noutros
tempo, para nossa Pátria, esses dois rio-pardenses – José Borges do Canto e
João de Deus Mena Barreto – abriram o grande livro da nossa história, em cujas
páginas vamos descobrir nomes ilustres, que honram as tradições deste chão
glorioso, e de cujos feitos as gerações que passam devem se orgulhar! “
(ANTUNES, Duminiense Paranhos. Rio Pardo, “Cidade-Monumento”.
Porto Alegre: Livraria do Globo, 1946. p. 29-33)
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