quinta-feira, 22 de agosto de 2019

OLARIA ANTONIO OLINTO MEURER


HISTÓRIAS PASSADAS
 Entrevista com a  Srª Erna Catarina Meurer Rocha


Erna Meurer
Casa da Família
Meu pai comprou a Olaria por volta de 1930, do Sr. Pascoalote e do Sr. Faustino de Souza Batista. Eram duas olarias pequenas na localidade do Camargo.Fabricávamos tijolos e telhas manualmente, pois não havia no local energia elétrica. Dona Erna fala com muita propriedade como eram feitas as telhas: colocavam o barro nos tanques grandes de mais ou menos 5 m por 5 m de comprimento e de 3 m de altura, o preparo de medidas era feito por tantas carretas de terra, barro, areia, em proporções iguais e água. A água que usávamos era encanada de uma vertente próxima. Esta mistura era trabalhada por vários dias, depois tirada dos tanques em carros de mão para levar ao tonel tocado a gasogênio (carvão) ou óleo. O barro era amassado e cortado em tamanhos de tijolos e amassado novamente no tonel para ficar bem sovado e liso tirando assim todas as impurezas que por ventura ainda ficassem, pois estas impurezas no barro poderiam quebrar a telha quando secassem.
Chaminé da Olaria e Galpão já desativado ,mas com máquinas dentro.
Com o barro na forma as telhas eram levadas para prensar. A prensa era limpa com querosene e parafina quente usando um pano para passar e não se queimar. Colocava uma chapa na forma para prensar (prensa a mão) puxavam a prensa e colocavam num tabuleiro de madeira. Depois de prensada, virava em cima de uma tabuleta de madeira onde se limpavam as barbelas (sobras).
Forma manual telha  canoa
Outro funcionário colocava, nas prateleiras de baixo, pois não podia pegar muito ar (vento) nas telhas porque arrebentavam. Ainda tinha de fazer o retoque nos encaixes para não ficar empenada na colocação das casas e não dar goteiras, e este serviço eram feito mais por mulheres. Após três dias, as telhas já secas eram arriadas e levadas ao forno para queimar. O forno devia estar em aquecimento leve, após mais quente e por último o arrocho para o término da queimada. Para abrir o forno Dona Erna disse que teria de ser na temperatura certa, para tirar as telhas com as mãos e usando tamancos de madeira nos pés porque eram grossos e não teria perigo de se queimar. Na olaria haviam muitos empregados, mas para alguns serviços eram pessoas especializadas, para a queima era o queimador e auxiliares.
Estera para assar os tijolos
Forno para queimar os tijolos
Depois da queima tinha o trabalho de classificação, primeira, segunda e até terceira usada para galpões. Algumas telhas saiam com problemas, trincadas ou empenadas. Para a classificação tínhamos um funcionário especializado que conhecia pelo som, a qualidade da telha, com apenas um toque de madeira sabia em que classe deveria ser classificada.
A venda do produto era feita em Rio Pardo e nas cidades vizinhas.
A família morou um bom tempo junto da Olaria e lá nasceram quase todos os meus irmãos, foi formando uma quase vila com as famílias dos empregados que eram muitos. Com o tempo, papai sentiu a necessidade de criar uma escola municipal e construiu uma sala para ali ser ministrada aula para os filhos dos empregados porque ficava longe de outras escolas e no inverno dava muito transtorno a saída das crianças para estudar. A Professora era a senhora Polinia Panta Meurer. Falou-nos que os filhos também ajudavam os pais na Olaria.Disse éramos quase uma família, patrões e empregados.Quando necessário, eram levados para a cidade de carro para receberem assistência médica. Nas datas comemorativas as famílias eram presenteadas com doces, cucas feitas por mim, refrigerantes e um corte de tecido para os empregados e sua família. Na pequena vila do Camargo havia também uma enfermaria pequena para atendermos os doentes e trata-los após serem medicados ficavam de repouso, tínhamos dois quartos com camas disponíveis para as necessidades, eu ajudava nos cuidados, até fazia injeções. Éramos uma comunidade bastante unida, a família Meurer ajudava em tudo, até em batizados e casamentos dos empregados da Olaria. Conversando com a senhora Erna para despedirmos, agradecidas pela sua atenção, ela comentou que “algumas pessoas dizem”: Aí... como era boa a vida antigamente, e eu digo “só se era pra ti, porque pra mim não era nada fácil, cortar lenha de machado e até carregar água da fonte e coar”... Acho que hoje as coisas são bem mais fáceis.

Carrinho máquina para carregar tijolos
Forma de madeira para tijolos maciços





Ventilador, resfriador da máquina


FONTE: Projeto"O Barro ocupa seu espaço", AHMRP, 2007.


Jornal RP 12 e 19/10/2007.

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