HISTÓRIAS PASSADAS
Entrevista com a Srª Erna Catarina Meurer Rocha
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Erna Meurer |
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Casa da Família |
Meu pai comprou a Olaria por
volta de 1930, do Sr. Pascoalote e do Sr. Faustino de Souza Batista. Eram duas
olarias pequenas na localidade do Camargo.Fabricávamos tijolos e telhas
manualmente, pois não havia no local energia elétrica. Dona Erna fala com muita
propriedade como eram feitas as telhas: colocavam o barro nos tanques grandes
de mais ou menos 5 m por 5 m de comprimento e de 3 m de altura, o preparo de
medidas era feito por tantas carretas de terra, barro, areia, em proporções
iguais e água. A água que usávamos era encanada de uma vertente próxima. Esta
mistura era trabalhada por vários dias, depois tirada dos tanques em carros de
mão para levar ao tonel tocado a gasogênio (carvão) ou óleo. O barro era
amassado e cortado em tamanhos de tijolos e amassado novamente no tonel para
ficar bem sovado e liso tirando assim todas as impurezas que por ventura ainda
ficassem, pois estas impurezas no barro poderiam quebrar a telha quando
secassem.
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Chaminé da Olaria e Galpão já desativado ,mas com máquinas dentro. |
Com o barro na forma as telhas eram levadas para prensar. A prensa
era limpa com querosene e parafina quente usando um pano para passar e não se
queimar. Colocava uma chapa na forma para prensar (prensa a mão) puxavam a
prensa e colocavam num tabuleiro de madeira. Depois de prensada, virava em cima
de uma tabuleta de madeira onde se limpavam as barbelas (sobras).
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Forma manual telha canoa |
Outro
funcionário colocava, nas prateleiras de baixo, pois não podia pegar muito ar
(vento) nas telhas porque arrebentavam. Ainda tinha de fazer o retoque nos
encaixes para não ficar empenada na colocação das casas e não dar goteiras, e
este serviço eram feito mais por mulheres. Após três dias, as telhas já secas
eram arriadas e levadas ao forno para queimar. O forno devia estar em
aquecimento leve, após mais quente e por último o arrocho para o término da
queimada. Para abrir o forno Dona Erna disse que teria de ser na temperatura
certa, para tirar as telhas com as mãos e usando tamancos de madeira nos pés
porque eram grossos e não teria perigo de se queimar. Na olaria haviam muitos
empregados, mas para alguns serviços eram pessoas especializadas, para a queima
era o queimador e auxiliares.
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Estera para assar os tijolos |
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Forno para queimar os tijolos |
Depois da queima tinha o trabalho de
classificação, primeira, segunda e até terceira usada para galpões. Algumas
telhas saiam com problemas, trincadas ou empenadas. Para a classificação tínhamos
um funcionário especializado que conhecia pelo som, a qualidade da telha, com
apenas um toque de madeira sabia em que classe deveria ser classificada.
A venda do produto era feita
em Rio Pardo e nas cidades vizinhas.
A família morou um bom tempo
junto da Olaria e lá nasceram quase todos os meus irmãos, foi formando uma
quase vila com as famílias dos empregados que eram muitos. Com o tempo, papai
sentiu a necessidade de criar uma escola municipal e construiu uma sala para
ali ser ministrada aula para os filhos dos empregados porque ficava longe de
outras escolas e no inverno dava muito transtorno a saída das crianças para
estudar. A Professora era a senhora Polinia Panta Meurer. Falou-nos que os
filhos também ajudavam os pais na Olaria.Disse éramos quase uma família, patrões
e empregados.Quando necessário, eram levados para a cidade de carro para
receberem assistência médica. Nas datas comemorativas as famílias eram
presenteadas com doces, cucas feitas por mim, refrigerantes e um corte de
tecido para os empregados e sua família. Na pequena vila do Camargo havia
também uma enfermaria pequena para atendermos os doentes e trata-los após serem
medicados ficavam de repouso, tínhamos dois quartos com camas disponíveis para
as necessidades, eu ajudava nos cuidados, até fazia injeções. Éramos uma comunidade
bastante unida, a família Meurer ajudava em tudo, até em batizados e casamentos
dos empregados da Olaria. Conversando com a senhora Erna para despedirmos,
agradecidas pela sua atenção, ela comentou que “algumas pessoas dizem”: Aí...
como era boa a vida antigamente, e eu digo “só se era pra ti, porque pra mim
não era nada fácil, cortar lenha de machado e até carregar água da fonte e
coar”... Acho que hoje as coisas são bem mais fáceis.
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Carrinho máquina para carregar tijolos |
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Forma de madeira para tijolos maciços |
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Ventilador, resfriador da máquina
FONTE: Projeto"O Barro ocupa seu espaço", AHMRP, 2007.
Jornal RP 12 e 19/10/2007.
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32 anos do falecimento de Antônio Olinto Meurer.
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