Em 1839 o francês Nicolau Dreys publicou um livro no Rio de Janeiro,
narrando suas experiências e vivências como comerciante no extremo sul. A obra
aborda o período da Guerra Civil no Rio Grande do Sul, com descrição do meio
geográfico, dos núcleos urbanos e da população, destacando o caráter e os
costumes dos habitantes, com amplas informações sobre a economia.
Ao descrever o clima, diz que: “Há chuvas, é verdade, porém locais e
rápidas, e quase nunca acompanhadas daquela perseverança que torna a vizinhança
dos Trópicos tão enfadonha e pestífera. Em compensação, se as chuvas são
acidentais e de pouca duração, os ventos acometem o Rio Grande com uma
regularidade que poucas modificações admite em sua permanência e força. Já
fizemos ver a natural influência que
exerce sobre a exsicação[1]local
esse poderoso agente auxiliar, sempre em atividade; é possível que sua ação
prejudicasse também a multiplicação das searas, desfazendo continuadamente os
vapores aquosos; todavia, é tão útil à salubridade, tão proveitoso para a
indústria, que, apesar daquele efeito contrário, ainda problemático, deve-se
considerar o vento como um dos mais ativos benfeitores do país.
São raras nas planícies meridionais do Rio Grande as cristalizações
pluviais. Mas, nas partes setentrionais, esse meteoro é mais ordinário; presenciamos
no Rio Pardo uma tremenda chuva de pedras, e também foi esse um dos mais
furiosos furacões que temos visto nos dois hemisférios. Num instante, a
vila não ofereceu senão montões de
ruínas; todas as vidraças e grande parte dos telhados caíram quebrados; paredes
inteiras foram derrubadas, e outras crivadas como pela metralha; todas as
árvores das quintas ficaram quase reduzidas ao tronco principal, e muito
gado morreu no campo adjacente. Citamos
esse exemplo, não para que se conclua ser esse o estado habitual do país, mas
sim, para insistirmos sobre a diferença que sempre existe entre as temperaturas
do Norte e do Sul da província, sendo as chuvas alguma coisa mais frequentes ao
Norte, e por isso mais expostas aos acidentes de congelação, que determinam nas
camadas superiores da atmosfera os eflúvios de frio vindos do Sul.”
REFERÊNCIA:
DREYS, Nicolau. Notícia
Descritiva da Província do Rio Grande de S. Pedro do Sul. Quarta edição. Porto
Alegre: Nova Dimensão/EDIPUCRS, 1990. p. 54-55.
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