quarta-feira, 14 de agosto de 2019

NICOLAU DREYS DESCREVE O CLIMA GAÚCHO E UMA CHUVA DE PEDRA EM RIO PARDO


Em 1839 o francês Nicolau Dreys publicou um livro no Rio de Janeiro, narrando suas experiências e vivências como comerciante no extremo sul. A obra aborda o período da Guerra Civil no Rio Grande do Sul, com descrição do meio geográfico, dos núcleos urbanos e da população, destacando o caráter e os costumes dos habitantes, com amplas informações sobre a economia.
Ao descrever o clima, diz que: “Há chuvas, é verdade, porém locais e rápidas, e quase nunca acompanhadas daquela perseverança que torna a vizinhança dos Trópicos tão enfadonha e pestífera. Em compensação, se as chuvas são acidentais e de pouca duração, os ventos acometem o Rio Grande com uma regularidade que poucas modificações admite em sua permanência e força. Já fizemos ver a  natural influência que exerce sobre a exsicação[1]local esse poderoso agente auxiliar, sempre em atividade; é possível que sua ação prejudicasse também a multiplicação das searas, desfazendo continuadamente os vapores aquosos; todavia, é tão útil à salubridade, tão proveitoso para a indústria, que, apesar daquele efeito contrário, ainda problemático, deve-se considerar o vento como um dos mais ativos benfeitores do país.
São raras nas planícies meridionais do Rio Grande as cristalizações pluviais. Mas, nas partes setentrionais, esse meteoro é mais ordinário; presenciamos no Rio Pardo uma tremenda chuva de pedras, e também foi esse um dos mais furiosos furacões que temos visto nos dois hemisférios. Num instante, a vila  não ofereceu senão montões de ruínas; todas as vidraças e grande parte dos telhados caíram quebrados; paredes inteiras foram derrubadas, e outras crivadas como pela metralha; todas as árvores das quintas ficaram quase reduzidas ao tronco principal, e muito gado  morreu no campo adjacente. Citamos esse exemplo, não para que se conclua ser esse o estado habitual do país, mas sim, para insistirmos sobre a diferença que sempre existe entre as temperaturas do Norte e do Sul da província, sendo as chuvas alguma coisa mais frequentes ao Norte, e por isso mais expostas aos acidentes de congelação, que determinam nas camadas superiores da atmosfera os eflúvios de frio vindos do Sul.”

REFERÊNCIA:
DREYS, Nicolau. Notícia Descritiva da Província do Rio Grande de S. Pedro do Sul. Quarta edição. Porto Alegre: Nova Dimensão/EDIPUCRS, 1990. p. 54-55.


[1] Privação de umidade

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