FESTA GROSSA EM RIO PARDO (1)
Quem sabe o que representou para
o Rio Grande a fortaleza de Rio Pardo, desde meados do século XVIII, pode
compreender o rápido desenvolvimento alcançado pela povoação ali erguida,
paralelamente às obras militares. O núcleo urbano, habitado de início por soldados,
índios e aventureiros de todo matiz, cresceu ordenadamente desde a instalação
de famílias açorianas no fértil vale do Jacuí. A gadaria missioneira, cobiçada
principalmente para a extração de couros, significou um atrativo econômico de
peso, mas o que de fato concorreu para dar expressão a Rio Pardo foi a
constante atividade militar ali empregada com o fim de repelir o avanço dos
platinos. Estes tentaram fazer a mesma coisa no Batovi e em Santa Tecla, sem
maior êxito. Chocaram-se desta forma, em mais de uma oportunidade, as duas
facções, enquanto os pueblos das Missões do Uruguai, expulsos os jesuítas, se
despovoavam e decaíam materialmente. Rio Pardo, de núcleo militar que era, se
transforma então no denominador comum da vida missioneira, atraindo para si a
indiada vaga, os peões de estância, os contrabandistas de gado. E o vale do
Jacuí, poderoso fixador de gentes, aproximou ainda mais da cultura
luso-brasileira a cultura hispano-guarani, permitindo que esta última fosse em
curto período absorvida pela primeira.
Em 1794, comandava a guarnição
da fronteira de Rio Pardo um velho lidador – o Tenente-Coronel Patrício José
Corrêa da Câmara, que se notabilizara na luta pela defesa do Rio Grande. Mas os
seus serviços à terra gaúcha não haviam ainda terminado; em 1801, com a
incorporação dos Sete Povos, é que teriam um coroamento de transcendente
significação.
Nesse quadro histórico se
emolduram as festas de 1794, adiante descritas em correspondência publicada
pela Gazeta de Lisboa. Soldados e civis, irmanados no burgo rio-grandense,
ouviram missa, sermão e música; puseram máscaras, praticaram equitação e
acenderam fogos e luminárias; representaram comédias e dançaram, assistiram a
touradas e corridas de cães. Uma festa grossa, em suma, para amenizar a sua
rude vida de fronteiros.
(Continua...)
FONTE:
CESAR, Guilhermino. Primeiros cronistas do Rio Grande
do Sul – Estudo de fontes primárias da história rio-grandense acompanhado de
vários textos. Porto Alegre: Gráfica Editora A Nação S.A., 1969. Edições da
Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p. 178-9.
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