terça-feira, 3 de maio de 2016

FESTA GROSSA EM RIO PARDO (1)

                Quem sabe o que representou para o Rio Grande a fortaleza de Rio Pardo, desde meados do século XVIII, pode compreender o rápido desenvolvimento alcançado pela povoação ali erguida, paralelamente às obras militares. O núcleo urbano, habitado de início por soldados, índios e aventureiros de todo matiz, cresceu ordenadamente desde a instalação de famílias açorianas no fértil vale do Jacuí. A gadaria missioneira, cobiçada principalmente para a extração de couros, significou um atrativo econômico de peso, mas o que de fato concorreu para dar expressão a Rio Pardo foi a constante atividade militar ali empregada com o fim de repelir o avanço dos platinos. Estes tentaram fazer a mesma coisa no Batovi e em Santa Tecla, sem maior êxito. Chocaram-se desta forma, em mais de uma oportunidade, as duas facções, enquanto os pueblos das Missões do Uruguai, expulsos os jesuítas, se despovoavam e decaíam materialmente. Rio Pardo, de núcleo militar que era, se transforma então no denominador comum da vida missioneira, atraindo para si a indiada vaga, os peões de estância, os contrabandistas de gado. E o vale do Jacuí, poderoso fixador de gentes, aproximou ainda mais da cultura luso-brasileira a cultura hispano-guarani, permitindo que esta última fosse em curto período absorvida pela primeira.
                Em 1794, comandava a guarnição da fronteira de Rio Pardo um velho lidador – o Tenente-Coronel Patrício José Corrêa da Câmara, que se notabilizara na luta pela defesa do Rio Grande. Mas os seus serviços à terra gaúcha não haviam ainda terminado; em 1801, com a incorporação dos Sete Povos, é que teriam um coroamento de transcendente significação.
                Nesse quadro histórico se emolduram as festas de 1794, adiante descritas em correspondência publicada pela Gazeta de Lisboa. Soldados e civis, irmanados no burgo rio-grandense, ouviram missa, sermão e música; puseram máscaras, praticaram equitação e acenderam fogos e luminárias; representaram comédias e dançaram, assistiram a touradas e corridas de cães. Uma festa grossa, em suma, para amenizar a sua rude vida de fronteiros.
(Continua...)
FONTE:

CESAR, Guilhermino. Primeiros cronistas do Rio Grande do Sul – Estudo de fontes primárias da história rio-grandense acompanhado de vários textos. Porto Alegre: Gráfica Editora A Nação S.A., 1969. Edições da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p. 178-9.

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