FESTA GROSSA EM RIO PARDO (2)
Querendo o Tenente-Coronel
Comandante da Fronteira do Rio Pardo do Continente do Sul, Patrício Corrêa da
Câmara, dar com o Povo daquele lugar as mais evidentes provas da alegria, que
lhes causara o feliz nascimento da Sereníssima Princesa da Beira, se esforçou
em fazer por alguns dias uma das mais brilhantes festas, que se poderiam
executar naquele lugar. A 4 de janeiro próximo passado o dito Comandante,
depois de ter feito postar convenientemente toda a tropa que ali se achava,
assim de pé, como de cavalo, se encaminhou com os Reverendos Sacerdotes e
Cidadãos daquele lugar para a Igreja Matriz, onde assistiu a uma solene função
de Missa cantada, estando exposto o Santíssimo Sacramento com a maior grandeza;
por espaço de três dias tomou à sua conta repetir aquela função o Reverendo
Vigário da Vara e Igreja do mesmo lugar, Manuel Marques de Sampaio, dando
igualmente mostras do seu júbilo, e de um vassalo amante e fiel. Acabada a
primeira função de Igreja, voltou o Comandante do mesmo modo acompanhado para a
Praça onde estava formada a tropa, e aí se deu uma salva Real de 21 tiros de
artilharia, e três descargas de mosqueteria, concorrendo para aumentar a
alegria uma excelente Música que se ouvia junto da mesma tropa: concluída
aquela agradável ação, se recolheu toda a tropa ao som dos mesmos instrumentos,
repetindo-se no segundo e terceiro dias o mesmo que houve no primeiro. Nos
primeiros dois dias se apresentaram na mesma Praça, que se achava
maravilhosamente ornada, alguns sujeitos ricamente vestidos e montados em
soberbos cavalos, e continuaram até à noite os seus jogos e divertimentos,
havendo nos intervalos diferentes vistas e brincos de máscaras. Na noite do
primeiro dia houve um excelente fogo, estando a Praça iluminada pelo modo mais
vistoso; e tanto ali, como em toda a povoação continuaram as luminárias por
três noites, fazendo uma vista que em todos excitava alegria. No segundo dia à
noite se encaminhou o sobredito Comandante com o Povo ao teatro, onde se
representaram por quatro noites excelentes Comédias com maravilhosas danças. No
terceiro dia se fez ainda mais solene a função de Igreja, recitando nela uma
muito eloqüente Oração o Reverendo Duarte Mendes de Sampaio: de tarde se cantou
o Te Deum, e por fim houve uma bem
asseada e religiosa Procissão. No mesmo dia, para maior solenidade, deu o
sobredito Comandante um magnífico jantar, sendo a primeira saúde, feita a S.S.
A.A. R.R., aplaudida com 21 tiros de canhão. No quarto dia, querendo
continuar-se a mesma função, concorreram todos a ver um combate de touros; mas
por ter sobrevindo uma repentina chuva se efetuou aquele divertimento com cães
de fila de um modo muito vistoso. No quinto dia se concluiu todo o festejo com
uma boa tarde de touros, excelentes danças, asseadas máscaras, e as melhores
exibições que permitia aquele lugar, deixando a todos por extremo satisfeitos.
In Gazeta de Lisboa de
19 de julho de 1794. Apud Manuel Lopes de Almeida, Notícias Históricas de
Portugal e Brasil (1751-1800), PP. 278-280.
FONTE:
CESAR, Guilhermino. Primeiros cronistas do Rio Grande
do Sul – Estudo de fontes primárias da história rio-grandense acompanhado de
vários textos. Porto Alegre: Gráfica Editora A Nação S.A., 1969. Edições da
Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p. 179-181.
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