domingo, 8 de maio de 2016

FESTA GROSSA EM RIO PARDO (2)

                Querendo o Tenente-Coronel Comandante da Fronteira do Rio Pardo do Continente do Sul, Patrício Corrêa da Câmara, dar com o Povo daquele lugar as mais evidentes provas da alegria, que lhes causara o feliz nascimento da Sereníssima Princesa da Beira, se esforçou em fazer por alguns dias uma das mais brilhantes festas, que se poderiam executar naquele lugar. A 4 de janeiro próximo passado o dito Comandante, depois de ter feito postar convenientemente toda a tropa que ali se achava, assim de pé, como de cavalo, se encaminhou com os Reverendos Sacerdotes e Cidadãos daquele lugar para a Igreja Matriz, onde assistiu a uma solene função de Missa cantada, estando exposto o Santíssimo Sacramento com a maior grandeza; por espaço de três dias tomou à sua conta repetir aquela função o Reverendo Vigário da Vara e Igreja do mesmo lugar, Manuel Marques de Sampaio, dando igualmente mostras do seu júbilo, e de um vassalo amante e fiel. Acabada a primeira função de Igreja, voltou o Comandante do mesmo modo acompanhado para a Praça onde estava formada a tropa, e aí se deu uma salva Real de 21 tiros de artilharia, e três descargas de mosqueteria, concorrendo para aumentar a alegria uma excelente Música que se ouvia junto da mesma tropa: concluída aquela agradável ação, se recolheu toda a tropa ao som dos mesmos instrumentos, repetindo-se no segundo e terceiro dias o mesmo que houve no primeiro. Nos primeiros dois dias se apresentaram na mesma Praça, que se achava maravilhosamente ornada, alguns sujeitos ricamente vestidos e montados em soberbos cavalos, e continuaram até à noite os seus jogos e divertimentos, havendo nos intervalos diferentes vistas e brincos de máscaras. Na noite do primeiro dia houve um excelente fogo, estando a Praça iluminada pelo modo mais vistoso; e tanto ali, como em toda a povoação continuaram as luminárias por três noites, fazendo uma vista que em todos excitava alegria. No segundo dia à noite se encaminhou o sobredito Comandante com o Povo ao teatro, onde se representaram por quatro noites excelentes Comédias com maravilhosas danças. No terceiro dia se fez ainda mais solene a função de Igreja, recitando nela uma muito eloqüente Oração o Reverendo Duarte Mendes de Sampaio: de tarde se cantou o Te Deum, e por fim houve uma bem asseada e religiosa Procissão. No mesmo dia, para maior solenidade, deu o sobredito Comandante um magnífico jantar, sendo a primeira saúde, feita a S.S. A.A. R.R., aplaudida com 21 tiros de canhão. No quarto dia, querendo continuar-se a mesma função, concorreram todos a ver um combate de touros; mas por ter sobrevindo uma repentina chuva se efetuou aquele divertimento com cães de fila de um modo muito vistoso. No quinto dia se concluiu todo o festejo com uma boa tarde de touros, excelentes danças, asseadas máscaras, e as melhores exibições que permitia aquele lugar, deixando a todos por extremo satisfeitos.

In Gazeta de Lisboa de 19 de julho de 1794. Apud Manuel Lopes de Almeida, Notícias Históricas de Portugal e Brasil (1751-1800), PP. 278-280.
FONTE:

CESAR, Guilhermino. Primeiros cronistas do Rio Grande do Sul – Estudo de fontes primárias da história rio-grandense acompanhado de vários textos. Porto Alegre: Gráfica Editora A Nação S.A., 1969. Edições da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p. 179-181.

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