sábado, 28 de maio de 2016

PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
2 – Cosme Da Silveira Ávila e a Fazenda Nossa Senhora da Boa Esperança (2ª parte)   

                Torna-se aqui necessária esta observação: o lugar denominado Rua Velha está situado à margem esquerda do rio Jacuí, ao qual se comunica pelo Porto das Mesas – de fácil acesso em qualquer ocasião, e assim denominado desde tempos remotos.
                Pelas boas condições do meio, sua excelente topografia e boa qualidade das terras adjacentes, de campo e matos, devemos supor ter sido este lugar, o escolhido para colocação da sede da importantíssima fazenda de Nossa Senhora da Boa Esperança, cujo aparecimento devemos admitir anterior a dos quartéis sobre o Rio Pardo, devido a sua forte atuação nos posteriores fornecimentos às tropas aí aquarteladas, desde 1752. 
                O Porto das Mesas, entrada para a grande fazenda de Cosme da Silveira Ávila, deve ter sido também entrada para os quartéis sobre o rio Pardo e Jacuí, se levarmos em consideração sua distância de apenas nove quilômetros, e mais especialmente as enormes dificuldades que deveriam apresentar, em épocas remotas, as extensas várzeas alagadiças, cheias de lagoas e cobertas de matos carrasquentos[1], existentes em ambas as margens do rio Jacuí, da barra do rio Pardo para baixo, aonde se erguia o Alto da Fortaleza.
                Assim sendo, deve ter se tornado contínua a comunicação entre os Quartéis do Alto da Fortaleza e o Porto das Mesas; pelo que recebeu este lugar o nome de Rua Velha, o qual conserva até hoje, e com mais razão de ser deste nome, se recordarmos que o próprio General Gomes Freire veio por terra de Santo Amaro aos Quartéis, enquanto que veio pelo rio a tropa e o trem até o Porto das Mesas, derradeiro sobre o Jacuí naqueles tempos remotos.
                Dos Quartéis do Rio Pardo, seguiu o exército de Gomes Freire, com seu chefe à frente, por terra, até um passo sobre o rio Jacuí, que devemos supor ser o Passo de São Lourenço, por ser o mais antigo na direção de nossas fronteiras do Sul, objetivo daquele General.
                Não podemos passar em silêncio o quanto conhecemos de histórico sobre a personalidade de Cosme da Silveira Ávila, que julgamos o precursor dos Quartéis.
                Em 1739, quando Cosme foi demitido do posto de Maioral da Fazenda Real do Bojurú, toda a zona do Jacuí, do rio Pardo para baixo, estava sendo percorrida pelos primeiros povoadores de Viamão, que tendo aberto um Passo sobre o grandioso Guaíba, Rio Grande de então, subiam às águas do volumoso rio Jacuí em grandes explorações.
                Pelos dizeres do Sargento-mor Luiz Manoel de Azevedo, em suas Memórias relativas à – Expedição de Gomes Freire, devemos admitir que naquela época, em 1752, já houvessem povoadores na margem Norte, ou esquerda, do rio Jacuí, de Santo Amaro para baixo; povoadores estes que disse o referido Sargento-mor serem antigos naquela data, 1752.
                Demitido violentamente, por questões de administração da Fazenda Real, Cosme voltou ao Viamão, daí deve ter seguido pelo Jacuí acima, estabelecendo-se junto e para Oeste de João Alves Mourão, que devia ser morador antigo no lugar, e talvez companheiro de Cosme em expedições anteriores.
                Logo em seguida procurou ele adquirir o terreno ocupado, conseguindo isso em arrematação feita na Vila de Santa Catarina, pelo Juízo dos ausentes.
                E assim obteve a extensão superficial compreendida entre divisas certas, e por nós conhecidas como sendo: do arroio Diogo Trilha a Oeste e o arroio do Couto a Leste, na divisa com terras do Rincão Del Rei,  cujo nome vem também citado na descrição dos imóveis apresentados para inventário. As outras eram: ao Norte a Serra Geral e ao Sul o rio Guaíba, Jacuí de hoje.
                Além desta grande extensão de terras de campo e matos Cosme possuiu mais, por compra a Francisco Xavier de Azambuja, uma grande fração compreendida entre os arroios Diogo Trilha e Taquari-Mirim, a Oeste e Leste respectivamente; fazendo divisa ao Norte pela Serra Geral e ao Sul por certo arroio bastante volumoso, que tem suas nascentes nos serros de Itacolomi, e Cultivados, e faz barra na margem esquerda do arroio Diogo Trilha, cujo nome ignoramos.
                Esta fração de terras colocou Cosme em contato territorial com o Tenente de Dragões Francisco Fagundes Machado da Silveira, seu compadre duas vezes, e possuidor dos grandes Faxinais do Tamanco, aonde assenta hoje a cidade de Venâncio Aires.
                Muito ativo, trabalhador e excelente administrador de sua fazenda de Nossa Senhora da Boa Esperança, tornou-se próspera em pouco mais de 20 anos, de 1740 a 1763, conforme cálculo nosso pelos dados que temos; mas logo após sua morte começou a Fazenda a decair, e precipitou sua queda o fato de ter Cosme dado em fiança ao Fisco Nacional este seu precioso imóvel, de maneira a torná-lo dependente da liquidação de contas do então Almoxarife do Quartel do Rio Pardo.

PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
Respostas aos quesitos formulados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para o fim do Serviço Nacional de Recenseamento.
Documento disponível (cópia carbono datilografada) no Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo




[1] Matos rasteiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário