PESQUISAS
HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
2 – Cosme Da
Silveira Ávila e a Fazenda Nossa Senhora da Boa Esperança (2ª parte)
Torna-se
aqui necessária esta observação: o lugar denominado Rua Velha está situado à
margem esquerda do rio Jacuí, ao qual se comunica pelo Porto das Mesas – de
fácil acesso em qualquer ocasião, e assim denominado desde tempos remotos.
Pelas
boas condições do meio, sua excelente topografia e boa qualidade das terras
adjacentes, de campo e matos, devemos supor ter sido este lugar, o escolhido
para colocação da sede da importantíssima fazenda de Nossa Senhora da Boa
Esperança, cujo aparecimento devemos admitir anterior a dos quartéis sobre o
Rio Pardo, devido a sua forte atuação nos posteriores fornecimentos às tropas
aí aquarteladas, desde 1752.
O
Porto das Mesas, entrada para a grande fazenda de Cosme da Silveira Ávila, deve
ter sido também entrada para os quartéis sobre o rio Pardo e Jacuí, se levarmos
em consideração sua distância de apenas nove quilômetros, e mais especialmente
as enormes dificuldades que deveriam apresentar, em épocas remotas, as extensas
várzeas alagadiças, cheias de lagoas e cobertas de matos carrasquentos[1],
existentes em ambas as margens do rio Jacuí, da barra do rio Pardo para baixo,
aonde se erguia o Alto da Fortaleza.
Assim
sendo, deve ter se tornado contínua a comunicação entre os Quartéis do Alto da
Fortaleza e o Porto das Mesas; pelo que recebeu este lugar o nome de Rua Velha,
o qual conserva até hoje, e com mais razão de ser deste nome, se recordarmos
que o próprio General Gomes Freire veio por terra de Santo Amaro aos Quartéis,
enquanto que veio pelo rio a tropa e o trem até o Porto das Mesas, derradeiro
sobre o Jacuí naqueles tempos remotos.
Dos
Quartéis do Rio Pardo, seguiu o exército de Gomes Freire, com seu chefe à
frente, por terra, até um passo sobre o rio Jacuí, que devemos supor ser o
Passo de São Lourenço, por ser o mais antigo na direção de nossas fronteiras do
Sul, objetivo daquele General.
Não
podemos passar em silêncio o quanto conhecemos de histórico sobre a
personalidade de Cosme da Silveira Ávila, que julgamos o precursor dos Quartéis.
Em
1739, quando Cosme foi demitido do posto de Maioral da Fazenda Real do Bojurú,
toda a zona do Jacuí, do rio Pardo para baixo, estava sendo percorrida pelos
primeiros povoadores de Viamão, que tendo aberto um Passo sobre o grandioso
Guaíba, Rio Grande de então, subiam às águas do volumoso rio Jacuí em grandes
explorações.
Pelos
dizeres do Sargento-mor Luiz Manoel de Azevedo, em suas Memórias relativas à –
Expedição de Gomes Freire, devemos admitir que naquela época, em 1752, já
houvessem povoadores na margem Norte, ou esquerda, do rio Jacuí, de Santo Amaro
para baixo; povoadores estes que disse o referido Sargento-mor serem antigos
naquela data, 1752.
Demitido
violentamente, por questões de administração da Fazenda Real, Cosme voltou ao
Viamão, daí deve ter seguido pelo Jacuí acima, estabelecendo-se junto e para
Oeste de João Alves Mourão, que devia ser morador antigo no lugar, e talvez
companheiro de Cosme em expedições anteriores.
Logo
em seguida procurou ele adquirir o terreno ocupado, conseguindo isso em arrematação
feita na Vila de Santa Catarina, pelo Juízo dos ausentes.
E
assim obteve a extensão superficial compreendida entre divisas certas, e por
nós conhecidas como sendo: do arroio Diogo Trilha a Oeste e o arroio do Couto a
Leste, na divisa com terras do Rincão Del Rei, cujo nome vem também citado na descrição dos
imóveis apresentados para inventário. As outras eram: ao Norte a Serra Geral e
ao Sul o rio Guaíba, Jacuí de hoje.
Além
desta grande extensão de terras de campo e matos Cosme possuiu mais, por compra
a Francisco Xavier de Azambuja, uma grande fração compreendida entre os arroios
Diogo Trilha e Taquari-Mirim, a Oeste e Leste respectivamente; fazendo divisa
ao Norte pela Serra Geral e ao Sul por certo arroio bastante volumoso, que tem
suas nascentes nos serros de Itacolomi, e Cultivados, e faz barra na margem
esquerda do arroio Diogo Trilha, cujo nome ignoramos.
Esta
fração de terras colocou Cosme em contato territorial com o Tenente de Dragões
Francisco Fagundes Machado da Silveira, seu compadre duas vezes, e possuidor
dos grandes Faxinais do Tamanco, aonde assenta hoje a cidade de Venâncio Aires.
Muito
ativo, trabalhador e excelente administrador de sua fazenda de Nossa Senhora da
Boa Esperança, tornou-se próspera em pouco mais de 20 anos, de 1740 a 1763,
conforme cálculo nosso pelos dados que temos; mas logo após sua morte começou a
Fazenda a decair, e precipitou sua queda o fato de ter Cosme dado em fiança ao
Fisco Nacional este seu precioso imóvel, de maneira a torná-lo dependente da
liquidação de contas do então Almoxarife do Quartel do Rio Pardo.
PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
Respostas aos
quesitos formulados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para
o fim do Serviço Nacional de Recenseamento.
Documento disponível (cópia carbono
datilografada) no Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo
Nenhum comentário:
Postar um comentário