terça-feira, 31 de maio de 2016

A PROFESSORA PÚBLICA ANA AURORA DO AMARAL LISBOA

Ana Aurora diplomada com distinção em todas as matérias, isto é 10, o que segundo o então regulamento da Instrução Pública lhe dava certas vantagens, sendo uma delas requerer aula e ser nomeada independente de concurso...
Recebido o diploma em bela cerimônia no salão nobre da Escola Normal, regressou dona Ana Aurora para sua terra natal, Rio Pardo, onde grandes homenagens lhe foram prestadas pela brilhante conclusão do curso. Era a primeira mulher rio-pardense que se formava. Seu diploma corria de mão em mão, como legítimo troféu de vitória. E, com ele, o exemplar magnífico de “Os Lusíadas”.
Entretanto, não foi tão fácil, surge uma vaga na aldeia de São Nicolau, Ana Aurora seria a contemplada, mas como conta Ana, seu pai não quis que ela assumisse, pois surge outra pretendente e ela acaba assumindo em João Rodrigues, imensamente longe do centro urbano de Rio Pardo.
Apaixonada pelo magistério, apesar da resistência dos seus, porque era longe e ela deveria  morar lá, sozinha, Ana Aurora requereu a cadeira que lhe foi imediatamente concedida, assumindo, logo depois, a regência da escola.
E lá, ficou até 1888, indo visitar os pais só num feriado ou dia santo em sábado, seu pai falava  “para não correr o risco de faltar algum dia à sua obrigação”.
Seu pai ficou gravemente enfermo e vem a falecer, em 1884, mas dizia sempre à filha “cumpra com o seu dever; não abuse nunca”.
Finalmente, por portaria de 09 de novembro de 1888, firmada pelo presidente da Província,  era dona Ana Aurora promovida “para a primeira cadeira do segundo grau, do mesmo sexo (masculino) da cidade de Rio Pardo.
Proclamada a República, o ensino sofre diversas modificações. A ilustre professora, embora discordando da orientação positivista dada pelo governo à administração pública, foi conservada em seu posto. Em 1891 consegue permuta de aula e passa a ter exercício na cadeira do sexo feminino de Rio Pardo.
FONTE: Spalding Walter; A Grande Mestra, pag. 29/30.
            AHMRP Biágio  Soares Tarantino

domingo, 29 de maio de 2016

A ESTUDANTE ANA AURORA DO AMARAL LISBOA


A rio-pardense Ana Aurora do Amaral Lisboa estudou em Porto Alegre na Escola Normal, pois poucas escolas existiam no Rio Grande do Sul. O ensino era bastante deficiente até os fins do século XIX, quem quisesse aperfeiçoar-se deveria estudar fora.
Em 1879, Joaquim Pedro da Silva Lisboa seguiu com sua filha para a capital da Província, pois que ela aspirava ao magistério.
Hospedada em casa de parentes, matriculou-se na Escola Normal, o pai disse “estude com empenho”.
 O pai era inimigo de solicitar favores e pedir pistolões para quem quer que fosse. Para ele só o mérito contava. Só devia ser recompensado quem tivesse valor.
Ana Aurora diplomou-se em 1881 quando, Porto Alegre ainda era uma pequena cidade, com pouco mais de 39.000 habitantes. A estudante não tinha muitas opções para se divertir, mas, existia o Teatro São Pedro, serões e saraus do Partenão Literário, pois já naquele tempo possuía tendências literárias a moça estudante. Tendências, aliás, inatas, pois os seus tios, haviam sido grandes poetas. Muito pouco ela se divertiu e passeou no geral sua vida de estudante foi da escola para casa e da casa para a escola.
Simples e modesta, considerando-se muito feia, evitava aparecer. Teve ideia, de ir para um convento. Depois ... pensando na vida familiar que tanto amava, mudou de rumo. “E tornou-se professora, professora carinhosa que transformava a escola na mais legítima dependência do lar, cumprindo, dessa arte a finalidade, ou uma das finalidades das escolas: continuar, com mais amplitude, a obra dos pais.”
 Assim, pois, não lhe faltava tempo para estudar, e estudar muito. Aliás, estudiosa por natureza fazia questão de mostrar aos pais, Joaquim Lisboa, sempre tão rígido em seus princípios, que, para vencer, jamais precisaria de empenhos ou pistolões.
Nada se sabe de extraordinário, de sua vida de estudante. O que sabemos é que o conceito em que era tida a jovem estudante de Rio Pardo pelos próprios professores, e professores, como o velho Moré (lente de francês), a ponto de lhe confiarem às filhas para dela receberem conselhos.
Essa vida, firme e inquebrantável, foi o traço característico de Dona Ana Aurora até os últimos instantes de sua existência.

FONTE: Spalding, Walter A Grande Mestra pag. 25/29
 ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL BIÁGIO SOARES TARANTINO RIO PARDO


sábado, 28 de maio de 2016

PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
2 – Cosme Da Silveira Ávila e a Fazenda Nossa Senhora da Boa Esperança (2ª parte)   

                Torna-se aqui necessária esta observação: o lugar denominado Rua Velha está situado à margem esquerda do rio Jacuí, ao qual se comunica pelo Porto das Mesas – de fácil acesso em qualquer ocasião, e assim denominado desde tempos remotos.
                Pelas boas condições do meio, sua excelente topografia e boa qualidade das terras adjacentes, de campo e matos, devemos supor ter sido este lugar, o escolhido para colocação da sede da importantíssima fazenda de Nossa Senhora da Boa Esperança, cujo aparecimento devemos admitir anterior a dos quartéis sobre o Rio Pardo, devido a sua forte atuação nos posteriores fornecimentos às tropas aí aquarteladas, desde 1752. 
                O Porto das Mesas, entrada para a grande fazenda de Cosme da Silveira Ávila, deve ter sido também entrada para os quartéis sobre o rio Pardo e Jacuí, se levarmos em consideração sua distância de apenas nove quilômetros, e mais especialmente as enormes dificuldades que deveriam apresentar, em épocas remotas, as extensas várzeas alagadiças, cheias de lagoas e cobertas de matos carrasquentos[1], existentes em ambas as margens do rio Jacuí, da barra do rio Pardo para baixo, aonde se erguia o Alto da Fortaleza.
                Assim sendo, deve ter se tornado contínua a comunicação entre os Quartéis do Alto da Fortaleza e o Porto das Mesas; pelo que recebeu este lugar o nome de Rua Velha, o qual conserva até hoje, e com mais razão de ser deste nome, se recordarmos que o próprio General Gomes Freire veio por terra de Santo Amaro aos Quartéis, enquanto que veio pelo rio a tropa e o trem até o Porto das Mesas, derradeiro sobre o Jacuí naqueles tempos remotos.
                Dos Quartéis do Rio Pardo, seguiu o exército de Gomes Freire, com seu chefe à frente, por terra, até um passo sobre o rio Jacuí, que devemos supor ser o Passo de São Lourenço, por ser o mais antigo na direção de nossas fronteiras do Sul, objetivo daquele General.
                Não podemos passar em silêncio o quanto conhecemos de histórico sobre a personalidade de Cosme da Silveira Ávila, que julgamos o precursor dos Quartéis.
                Em 1739, quando Cosme foi demitido do posto de Maioral da Fazenda Real do Bojurú, toda a zona do Jacuí, do rio Pardo para baixo, estava sendo percorrida pelos primeiros povoadores de Viamão, que tendo aberto um Passo sobre o grandioso Guaíba, Rio Grande de então, subiam às águas do volumoso rio Jacuí em grandes explorações.
                Pelos dizeres do Sargento-mor Luiz Manoel de Azevedo, em suas Memórias relativas à – Expedição de Gomes Freire, devemos admitir que naquela época, em 1752, já houvessem povoadores na margem Norte, ou esquerda, do rio Jacuí, de Santo Amaro para baixo; povoadores estes que disse o referido Sargento-mor serem antigos naquela data, 1752.
                Demitido violentamente, por questões de administração da Fazenda Real, Cosme voltou ao Viamão, daí deve ter seguido pelo Jacuí acima, estabelecendo-se junto e para Oeste de João Alves Mourão, que devia ser morador antigo no lugar, e talvez companheiro de Cosme em expedições anteriores.
                Logo em seguida procurou ele adquirir o terreno ocupado, conseguindo isso em arrematação feita na Vila de Santa Catarina, pelo Juízo dos ausentes.
                E assim obteve a extensão superficial compreendida entre divisas certas, e por nós conhecidas como sendo: do arroio Diogo Trilha a Oeste e o arroio do Couto a Leste, na divisa com terras do Rincão Del Rei,  cujo nome vem também citado na descrição dos imóveis apresentados para inventário. As outras eram: ao Norte a Serra Geral e ao Sul o rio Guaíba, Jacuí de hoje.
                Além desta grande extensão de terras de campo e matos Cosme possuiu mais, por compra a Francisco Xavier de Azambuja, uma grande fração compreendida entre os arroios Diogo Trilha e Taquari-Mirim, a Oeste e Leste respectivamente; fazendo divisa ao Norte pela Serra Geral e ao Sul por certo arroio bastante volumoso, que tem suas nascentes nos serros de Itacolomi, e Cultivados, e faz barra na margem esquerda do arroio Diogo Trilha, cujo nome ignoramos.
                Esta fração de terras colocou Cosme em contato territorial com o Tenente de Dragões Francisco Fagundes Machado da Silveira, seu compadre duas vezes, e possuidor dos grandes Faxinais do Tamanco, aonde assenta hoje a cidade de Venâncio Aires.
                Muito ativo, trabalhador e excelente administrador de sua fazenda de Nossa Senhora da Boa Esperança, tornou-se próspera em pouco mais de 20 anos, de 1740 a 1763, conforme cálculo nosso pelos dados que temos; mas logo após sua morte começou a Fazenda a decair, e precipitou sua queda o fato de ter Cosme dado em fiança ao Fisco Nacional este seu precioso imóvel, de maneira a torná-lo dependente da liquidação de contas do então Almoxarife do Quartel do Rio Pardo.

PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
Respostas aos quesitos formulados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para o fim do Serviço Nacional de Recenseamento.
Documento disponível (cópia carbono datilografada) no Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo




[1] Matos rasteiros.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
O AUTOR EXPLICA SUAS FONTES:  “(...) devo declarar que meus estudos sobre as tradições históricas de minha terra natal, foram sempre baseados no pleno conhecimento que tenho do local, nos informes certos, positivos de velhos moradores, que desapareceram há muito na voragem do tempo e finalmente no histórico de dois documentos antigos que se referem ao caso: o primeiro documento se encontra publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, correspondente ao 1º trimestre de 1937, de páginas 75 a páginas 94, sob o título – A expedição de Gomes Freire. Foi fornecido ao Instituto pelo falecido Coronel J. C. Rego Monteiro, em cópia extraída de II – 35 – 36 – 25 na Bca.Nal.Rio. O segundo documento se encontra hoje recolhido ao Arquivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, e contém o traslado do testamento de Cosme da Silveira Ávila, em apenso aos autos do inventário procedido por morte do mesmo Cosme, mas já esfacelados – com falta da maior parte das folhas.”

1 – Cosme Da Silveira Ávila e a Fazenda Nossa Senhora da Boa Esperança (1ª parte)   
                Conta a tradição histórica, que a primeira penetração em terras sobre o Rio Pardo aconteceu de 1750[1] a 1751[2], quando[3] foi portada no [4]Passo do Rio Pardo-, sob o comando do Tenente de Dragões Francisco Pinto Bandeira, uma Guarda contra as invasões dos índios vindos das Missões, em depredações aos fazendeiros já existentes sobre a margem esquerda do rio Jacuí a jusante do Rio Pardo.
                Entre estas grandes fazendas de criação de gado vacum e cavalar e lanígeros, devemos contar a grande Fazenda de Nossa Senhora da Boa Esperança, compreendida entre os atuais arroios do Couto e Diogo Trilha e pertencente à Cosme da Silveira Ávila, aí falecido em princípio de 1764, deixando seu testamento público feito no mesmo lugar de sua habitação aos 23 de Novembro de 1763.
                Cosme da Silveira Ávila era ilhéu português, que esteve em Viamão durante alguns anos, até que saiu de lá em fins de 1763, conjuntamente com Francisco Pinto Bandeira e Sebastião Francisco Chaves, acompanhando as forças do Coronel Cristóvão Pereira de Abreu, em sua marcha para o Rio Grande.
                Com a entrada pela barra do Rio Grande, a formação do Presídio do mesmo nome pelo invicto General José da Silva Paes, em 19 de fevereiro de 1737, foram logo em seguida nomeados: Cosme da Silveira Ávila para Maioral da Fazenda Real do Bojurú, Francisco Pinto Bandeira, para Tenente dos Dragões e Sebastião Francisco Chaves para Tenente de uma Companhia de Ordenanças, também criada pelo mesmo General Silva Paes.
                Durante o Governo deste, Cosme conservou-se no Bojurú, que progrediu muito; mas logo em seguida se desouve com o Coronel André Ribeiro Coutinho, substituto de Silva Paes no Comando do Presídio, e em 1739 estava demitido desaparecendo seu nome do cenário político.
                Reapareceu finalmente aos 23 de novembro de 1763, em um testamento público feito na casa de sua residência, situada no interior de sua grande Fazenda denominada, como já dissemos, de Nossa Senhora da Boa Esperança, contendo então para mais de cinco mil rezes, com várias centenas de animais cavalares e lanígeros e onde haviam extensos cercados de plantação, em que trabalhava a numerosa escravatura do rico proprietário, cuja residência devia estar situada no lugar conhecido até hoje pelo nome de Rua Velha, a dez quilômetros aproximadamente para leste de Rio Pardo.
                Podemos informar com segurança que o primeiro terreno escolhido para uma ocupação permanente, foi no interior do grande território compreendido entre o rio Jacuí e a Serra Geral, ao Sul e Norte respectivamente, e entre Rio Pardo a Oeste e arroio do Couto a Leste; território este reconhecido, desde a primeira penetração na zona do Jacuí, em 1715, como sendo necessário para fins militares, pelo que foi deixado como realengo[5], sob a denominação de Rincão Del Rei, que conserva até hoje. Em seu recanto ocidental, sobre as margens esquerdas dos rios Jacuí e Pardo foi aonde colocaram a Guarda, à que nos referimos no quesito anterior, cujo paradeiro devia ser o  Alto da Fortaleza, assim denominado pela extensão de sua visual e por ser situado sobre a Praça dos Quartéis, que foram construídos posteriormente, em 1752, com a chegada das tropas que acompanharam o Governador do Rio de Janeiro, Capitão General Gomes Freire de Andrade, em sua ida para as Missões. (continua...)

PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
Respostas aos quesitos formulados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para o fim do Serviço Nacional de Recenseamento.
Documento disponível (cópia carbono datilografada) no Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo




[1] Riscada a lápis na cópia carbono.
[2] Alterada para 1753, a caneta vermelha, na cópia carbono.
[3] Anotado em preto, acima das palavras: “Quando foi”, a palavra “fevereiro”.
[4] Anotado em vermelho: “1º com o Furriel de DRAGÕES, Francisco Manoel de Souza e Távora.”
[5] Próprio do rei; real; régio.

sexta-feira, 20 de maio de 2016



 HÁ 205 ANOS... 

Auto de Criação desta nova Villa do Rio Pardo e levantamento do Pilourinho Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil outo centos e onze annos aos vinte de mayo do dito anno, nesta Villa de Nossa Senhora do Rosário do Rio Pardo onde foi vindo o Doutor Ouvidor Corrigidor desta Comarca Antonio Monteiro da Rocha comigo Escrivão, sendo ahi por elle forão convocadas todas as pessoas da Nobreza e Povo estando todos presentes se levantou o Pelourinho com as exignas competentes que denotão a Jurisdição Real a cujo acto se alternarão por três vezes as palavras: Viva o Príncipe Regente Nosso Senhor. Elevantado assim com esta sulenidade o dito Pilourinho ouve elle Ministro por formada esta nova Vila emandou fazer este auto emque assignou com a Nobreza e Povo que presente assignou com a Nobreza e Povo que presente seachava eu Guilherme Ferreira de Abreu Escrivão da Ouvidoria e Correição da Comarca o escrevy e asigney.
Rocha GAbreu
João Machado Silvrª. [Silveira]
José Roiz [Rodrigues] Caetano Coelho [...]

FONTE:
Livro Termo de Criação da Vila de Rio Pardo - nº 01 - 1811
Páginas 03 verso, 04 e 05

ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL BIÁGIO SOARES TARANTINO - RIO PARDO

segunda-feira, 16 de maio de 2016

REGRAS PARA TRANSCRIÇÃO DE DOCUMENTOS HISTÓRICOS

Quem trabalha diariamente com documentos originais sabe que não é nada fácil, mas há a necessidade de analise constante de cada documento e observação de cada detalhe escrito.
Os documentos originais são raridades, papeis amarelados pelo tempo,ressecados, cheios de caracteres rabiscados com pena, muitas vezes abreviados, que criam um clima mágico do momento histórico em que foram produzidos. Em primeiro lugar, é preciso decifrar "os rebuscados e floreados caracteres,congelados no papel, que tornam mais difícil a compreensão do texto".E depois de entender cada letra,cada palavra,é preciso aprender o sentido do que está sendo dito. E aí surge uma nova dificuldade,uma vez que as palavras mudam de sentido conforme a época e o contexto em que são usadas. E não é só o sentido que muda: a grafia também. Por exemplo:há alguns anos atrás- nem tanto assim!- escrevíamos "graphia" e" pharmacia".
Bem: para sistematizar o trabalho existem normas a serem seguidas.Não vale cada um fazer o que quiser, pois se for assim, corremos o risco de deformar a verdade histórica, por interpretar mal os documentos que a registram. Além disso, para permitir que um número maior de pessoas tenha acesso aos documentos é recomendável transcrevê-los e publicá-los.
Algumas regras básicas para a transcrição dos documentos históricos;
-separar as palavras grafadas unidas indevidamente e unir as sílabas ou letras grafadas separadamente,também de forma indevida;
-o "s", que era escrito com sinais"js" e 'j",será transcrito como "ss" ou "s" respectivamente;
- as falhas que comprometem a compreensão do texto original devem ser indicadas pelo uso da palavra latina (sic);
- a acentuação, a pontuação e as letras maiúsculas originais devem ser mantidas;
-as palavras que estão quase ou totalmente ilegíveis,mas que pode ser entendida pelo sentido do texto,serão escritas entre colchetes;
- a divisão de parágrafos deve ser mantida como se apresenta no original;
Existem  ainda outras normas a serem seguidas...

FONTES: Boletim Informativo do Arquivo Público nº 05/96 e Boletim da Associação dos Arquivistas Brasileiros, nº  03/94 - Jornal de Rio Pardo de 09/02/2002 -  AHMRP



domingo, 15 de maio de 2016

NOTÍCIAS CHEGAVAM APÓS SEIS MESES

O  Rio Grande do Sul no início do século dezenove era dividido em apenas quatro Vilas, sendo uma delas Rio Pardo. Todos os acontecimentos históricos que acorreram no Brasil tiveram reflexos na localidade. Entre os documentos do arquivo histórico, se encontram ofícios sobre o casamento de D. Pedro I e a Proclamação da República. Por causa da precariedade da comunicação na época, os documentos na maioria das vezes chegavam a Rio Pardo apenas seis meses após o acontecimento, mas causavam grandes comemorações entre a população.
O Arquivo Histórico de Rio Pardo é procurado com frequência , principalmente por universitários,por causa dos dados que possui relacionados à história do Estado nos períodos colonial e imperial. Também  professores de história, escritores, arquitetos, estudantes de turismo, eventos, genealogia...
Os códices do arquivo reúnem muitos documentos como ofícios, cartas, nomeações de professores, médicos,naturalizações, cartas de sesmarias, pagamento de expostos e muitos outros documentos.
Grande parte dos registros são em manuscritos o que dificulta a pesquisa , exigindo especialista para decifrá-los. Em muitos documentos não é mais possível verificar as informações por causa da ação do tempo, das traças e brocas.
O acervo do Arquivo  é um dos mais antigos do Estado, com aproximadamente 100 mil documentos em manuscritos, temos ainda uma vasta coleção de jornais de Rio Pardo iniciando em 1889.

FONTES; Jornal Gazeta do Sul do dia 25/08/2001- Arquivo Histórico Municipal Biágio Soares Tarantino

domingo, 8 de maio de 2016

FESTA GROSSA EM RIO PARDO (2)

                Querendo o Tenente-Coronel Comandante da Fronteira do Rio Pardo do Continente do Sul, Patrício Corrêa da Câmara, dar com o Povo daquele lugar as mais evidentes provas da alegria, que lhes causara o feliz nascimento da Sereníssima Princesa da Beira, se esforçou em fazer por alguns dias uma das mais brilhantes festas, que se poderiam executar naquele lugar. A 4 de janeiro próximo passado o dito Comandante, depois de ter feito postar convenientemente toda a tropa que ali se achava, assim de pé, como de cavalo, se encaminhou com os Reverendos Sacerdotes e Cidadãos daquele lugar para a Igreja Matriz, onde assistiu a uma solene função de Missa cantada, estando exposto o Santíssimo Sacramento com a maior grandeza; por espaço de três dias tomou à sua conta repetir aquela função o Reverendo Vigário da Vara e Igreja do mesmo lugar, Manuel Marques de Sampaio, dando igualmente mostras do seu júbilo, e de um vassalo amante e fiel. Acabada a primeira função de Igreja, voltou o Comandante do mesmo modo acompanhado para a Praça onde estava formada a tropa, e aí se deu uma salva Real de 21 tiros de artilharia, e três descargas de mosqueteria, concorrendo para aumentar a alegria uma excelente Música que se ouvia junto da mesma tropa: concluída aquela agradável ação, se recolheu toda a tropa ao som dos mesmos instrumentos, repetindo-se no segundo e terceiro dias o mesmo que houve no primeiro. Nos primeiros dois dias se apresentaram na mesma Praça, que se achava maravilhosamente ornada, alguns sujeitos ricamente vestidos e montados em soberbos cavalos, e continuaram até à noite os seus jogos e divertimentos, havendo nos intervalos diferentes vistas e brincos de máscaras. Na noite do primeiro dia houve um excelente fogo, estando a Praça iluminada pelo modo mais vistoso; e tanto ali, como em toda a povoação continuaram as luminárias por três noites, fazendo uma vista que em todos excitava alegria. No segundo dia à noite se encaminhou o sobredito Comandante com o Povo ao teatro, onde se representaram por quatro noites excelentes Comédias com maravilhosas danças. No terceiro dia se fez ainda mais solene a função de Igreja, recitando nela uma muito eloqüente Oração o Reverendo Duarte Mendes de Sampaio: de tarde se cantou o Te Deum, e por fim houve uma bem asseada e religiosa Procissão. No mesmo dia, para maior solenidade, deu o sobredito Comandante um magnífico jantar, sendo a primeira saúde, feita a S.S. A.A. R.R., aplaudida com 21 tiros de canhão. No quarto dia, querendo continuar-se a mesma função, concorreram todos a ver um combate de touros; mas por ter sobrevindo uma repentina chuva se efetuou aquele divertimento com cães de fila de um modo muito vistoso. No quinto dia se concluiu todo o festejo com uma boa tarde de touros, excelentes danças, asseadas máscaras, e as melhores exibições que permitia aquele lugar, deixando a todos por extremo satisfeitos.

In Gazeta de Lisboa de 19 de julho de 1794. Apud Manuel Lopes de Almeida, Notícias Históricas de Portugal e Brasil (1751-1800), PP. 278-280.
FONTE:

CESAR, Guilhermino. Primeiros cronistas do Rio Grande do Sul – Estudo de fontes primárias da história rio-grandense acompanhado de vários textos. Porto Alegre: Gráfica Editora A Nação S.A., 1969. Edições da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p. 179-181.

terça-feira, 3 de maio de 2016

FESTA GROSSA EM RIO PARDO (1)

                Quem sabe o que representou para o Rio Grande a fortaleza de Rio Pardo, desde meados do século XVIII, pode compreender o rápido desenvolvimento alcançado pela povoação ali erguida, paralelamente às obras militares. O núcleo urbano, habitado de início por soldados, índios e aventureiros de todo matiz, cresceu ordenadamente desde a instalação de famílias açorianas no fértil vale do Jacuí. A gadaria missioneira, cobiçada principalmente para a extração de couros, significou um atrativo econômico de peso, mas o que de fato concorreu para dar expressão a Rio Pardo foi a constante atividade militar ali empregada com o fim de repelir o avanço dos platinos. Estes tentaram fazer a mesma coisa no Batovi e em Santa Tecla, sem maior êxito. Chocaram-se desta forma, em mais de uma oportunidade, as duas facções, enquanto os pueblos das Missões do Uruguai, expulsos os jesuítas, se despovoavam e decaíam materialmente. Rio Pardo, de núcleo militar que era, se transforma então no denominador comum da vida missioneira, atraindo para si a indiada vaga, os peões de estância, os contrabandistas de gado. E o vale do Jacuí, poderoso fixador de gentes, aproximou ainda mais da cultura luso-brasileira a cultura hispano-guarani, permitindo que esta última fosse em curto período absorvida pela primeira.
                Em 1794, comandava a guarnição da fronteira de Rio Pardo um velho lidador – o Tenente-Coronel Patrício José Corrêa da Câmara, que se notabilizara na luta pela defesa do Rio Grande. Mas os seus serviços à terra gaúcha não haviam ainda terminado; em 1801, com a incorporação dos Sete Povos, é que teriam um coroamento de transcendente significação.
                Nesse quadro histórico se emolduram as festas de 1794, adiante descritas em correspondência publicada pela Gazeta de Lisboa. Soldados e civis, irmanados no burgo rio-grandense, ouviram missa, sermão e música; puseram máscaras, praticaram equitação e acenderam fogos e luminárias; representaram comédias e dançaram, assistiram a touradas e corridas de cães. Uma festa grossa, em suma, para amenizar a sua rude vida de fronteiros.
(Continua...)
FONTE:

CESAR, Guilhermino. Primeiros cronistas do Rio Grande do Sul – Estudo de fontes primárias da história rio-grandense acompanhado de vários textos. Porto Alegre: Gráfica Editora A Nação S.A., 1969. Edições da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p. 178-9.