terça-feira, 5 de janeiro de 2016

COMÉRCIO NO RIO GRANDE DO SUL NOS SÉCULOS XVIII E XIX

                Em 1737 os portugueses fundaram o Presídio de Rio Grande, seu primeiro estabelecimento oficial no Rio Grande do Sul. Em 1767 os comerciantes do Rio de Janeiro eram os mais interessados na manutenção do comércio do rio da Prata (Colônia de Sacramento), como relata o Conde de Cunha em outubro daquele ano: “(...) este negócio interessa os mineiros que por este modo não pagam quinto; produz grande utilidade aos contrabandistas que o são todos os homens de negócio desta terra, e esta é a causa porque todos se interessam na conservação da Praça, e não porque para ela mandem fazendas que avultem, nem apareçam nas Alfândegas.” (p. 100)
                O Rio Grande do Sul era abastecido pelo Rio de Janeiro e as exportações gaúchas limitavam-se aos couros, trigo, manteiga e queijos em pequenas quantidades, ou seja, o comércio gaúcho estava ligado aos interesses dos comerciantes do Rio de Janeiro e da Colônia de Sacramento.
                 A partir de 1780 as exportações gaúchas incluíam também o charque e seus derivados e ganharam maior importância para o abastecimento interno da América Portuguesa, crescendo rapidamente e chegando a representar entre 28 e 49% do valor das exportações do Rio de Janeiro para Portugal no período 1802-1807. No mercado interno, os produtos gaúchos distribuíam-se pelas praças do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.
                O grupo mercantil que atuou no Rio Grande do Sul nesse período era quase todo proveniente de comerciantes portugueses que se estabeleceram primeiramente no Rio de Janeiro e iniciaram sua carreira na Colônia de Sacramento e a seguir criaram vínculos com o Rio Grande do Sul, mas os que conseguiam os melhores resultados retornavam para o Rio de Janeiro.  Os comerciantes “de menor cabedal e necessariamente mais aventureiros, acabavam por se fixar definitivamente na fronteira do sul, acompanhando sua expansão. Antônio Alves Guimarães saiu em 1750 de Portugal para o Rio de Janeiro para ali estabelecer algum comércio; passou com seu negócio de fazendas para o porto de Rio Grande e depois para a povoação de Rio Pardo e continuou com o mesmo modo de vida para as Missões do Uruguai na Expedição que então fazia o Conde de Bobadela. Foi, portanto, um comerciante que acompanhou o exército português na campanha de demarcação de limites e n a guerra guaranítica. Acabada esta, voltou com seu negócio ao quartel de Rio Pardo.” (p. 102)
                Por volta de 1794 o negociante do Rio de Janeiro Antônio Luís Escova Araújo mantinha negócios em Lisboa, Porto, Angola, Açores, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. “(...) para Lisboa negociava em remessas de couro, açúcar e dinheiro, para o Porto arroz e em dinheiro; para as ilhas, açúcares, farinhas, aguardente, melado e algodão; para Angola em algumas aguardentes da terra e das ilhas; para o Rio Grande (...) em uma sumaca fazia lastro de aguardentes e molhados e algumas outras coisas de encomenda e que também negociava para Porto Alegre para onde remetia ao seu corresponde André Alves Pereira os gêneros que ele lhe pedia, e da mesma para o seu correspondente em Rio Pardo, Mateus Simões Pires.” (AHU, RJ, Cx. 156, doc. 69 – 22/7/1794). Os comerciantes recebiam de Lisboa e do Porto fazendas e molhados; das ilhas aguardentes, vinho, panos de linho; de Angola, escravos. Para Rio Grande e Santa Catarina mandava miudezas e gêneros da Europa: cabos, alcatrão, breu[1], pregos, estopas[2], bertanhas[3], olandas[4], linhos, fitas e escravos.

FONTE: OSÓRIO, Helen. Comerciantes do Rio Grande de São Pedro: formação, recrutamento e negócios de um grupo mercantil da América Portuguesa. In: Revista Brasileira de História, nº 39, Vol 20. Associação Nacional de História, São Paulo: ANPUH/Humanitas Publicações, 2000. P. 99-116.
               




[1] Betume artificial composto de sebo, resina e outros ingredientes, usado para impermeabilizar o tabuado de navios; substância obtida pela destilação do alcatrão da hulha; piche.
[2] Produto derivado do linho, sendo aproveitada de diversas formas: cordoaria, calafetagem, na confecção de vestuário, limpeza e conservação de veículos, limpezas de graxas e resíduos químicos em geral.
[3] Tecido muito fino, de algodão ou linho.
[4] Tecido muito fino, fabricado na Holanda.

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