COMÉRCIO NO RIO GRANDE DO SUL NOS SÉCULOS
XVIII E XIX
Em
1737 os portugueses fundaram o Presídio de Rio Grande, seu primeiro
estabelecimento oficial no Rio Grande do Sul. Em 1767 os comerciantes do Rio de
Janeiro eram os mais interessados na manutenção do comércio do rio da Prata
(Colônia de Sacramento), como relata o Conde de Cunha em outubro daquele ano:
“(...) este
negócio interessa os mineiros que por este modo não pagam quinto; produz grande
utilidade aos contrabandistas que o são todos os homens de negócio desta terra,
e esta é a causa porque todos se interessam na conservação da Praça, e não
porque para ela mandem fazendas que avultem, nem apareçam nas Alfândegas.”
(p. 100)
O
Rio Grande do Sul era abastecido pelo Rio de Janeiro e as exportações gaúchas
limitavam-se aos couros, trigo, manteiga e queijos em pequenas quantidades, ou
seja, o comércio gaúcho estava ligado aos interesses dos comerciantes do Rio de
Janeiro e da Colônia de Sacramento.
A partir de 1780 as exportações gaúchas
incluíam também o charque e seus derivados e ganharam maior importância para o
abastecimento interno da América Portuguesa, crescendo rapidamente e chegando a
representar entre 28 e 49% do valor das exportações do Rio de Janeiro para
Portugal no período 1802-1807. No mercado interno, os produtos gaúchos distribuíam-se
pelas praças do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.
O
grupo mercantil que atuou no Rio Grande do Sul nesse período era quase todo
proveniente de comerciantes portugueses que se estabeleceram primeiramente no
Rio de Janeiro e iniciaram sua carreira na Colônia de Sacramento e a seguir
criaram vínculos com o Rio Grande do Sul, mas os que conseguiam os melhores
resultados retornavam para o Rio de Janeiro.
Os comerciantes “de menor cabedal e necessariamente mais aventureiros,
acabavam por se fixar definitivamente na fronteira do sul, acompanhando sua
expansão. Antônio Alves Guimarães saiu em 1750 de Portugal para o Rio de
Janeiro para ali estabelecer algum comércio; passou com seu negócio de fazendas
para o porto de Rio Grande e depois para a povoação de Rio Pardo e continuou
com o mesmo modo de vida para as Missões do Uruguai na Expedição que então
fazia o Conde de Bobadela. Foi, portanto, um comerciante que acompanhou o
exército português na campanha de demarcação de limites e n a guerra
guaranítica. Acabada esta, voltou com seu negócio ao quartel de Rio Pardo.”
(p. 102)
Por
volta de 1794 o negociante do Rio de Janeiro Antônio Luís Escova Araújo
mantinha negócios em Lisboa, Porto, Angola, Açores, Santa Catarina, Minas
Gerais e Rio Grande do Sul. “(...) para Lisboa negociava em remessas de couro,
açúcar e dinheiro, para o Porto arroz e em dinheiro; para as ilhas, açúcares,
farinhas, aguardente, melado e algodão; para Angola em algumas aguardentes da
terra e das ilhas; para o Rio Grande (...) em uma sumaca fazia lastro de
aguardentes e molhados e algumas outras coisas de encomenda e que também
negociava para Porto Alegre para onde remetia ao seu corresponde André Alves Pereira
os gêneros que ele lhe pedia, e da mesma para o seu correspondente em Rio
Pardo, Mateus Simões Pires.” (AHU, RJ, Cx. 156, doc. 69 – 22/7/1794). Os
comerciantes recebiam de Lisboa e do Porto fazendas e molhados; das ilhas
aguardentes, vinho, panos de linho; de Angola, escravos. Para Rio Grande e
Santa Catarina mandava miudezas e gêneros da Europa: cabos, alcatrão, breu[1],
pregos, estopas[2], bertanhas[3],
olandas[4],
linhos, fitas e escravos.
FONTE: OSÓRIO, Helen. Comerciantes do Rio Grande de
São Pedro: formação, recrutamento e negócios de um grupo mercantil da América
Portuguesa. In: Revista Brasileira de História, nº 39, Vol 20. Associação
Nacional de História, São Paulo: ANPUH/Humanitas Publicações, 2000. P. 99-116.
[1]
Betume artificial composto de sebo, resina e outros ingredientes, usado para
impermeabilizar o tabuado de navios; substância obtida pela destilação do
alcatrão da hulha; piche.
[2] Produto derivado do linho, sendo aproveitada de diversas
formas: cordoaria, calafetagem, na confecção de vestuário, limpeza e
conservação de veículos, limpezas de graxas e resíduos químicos em geral.
[3]
Tecido muito fino, de algodão ou linho.
[4]
Tecido muito fino, fabricado na Holanda.
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