quinta-feira, 11 de abril de 2019

SAINT-HILAIRE EM RIO PARDO (5)


RIO PARDO, 12 DE MAIO DE 1821 – O tempo esteve horrível durante todo o dia: esta manhã fui ver o patrão do barco, ao qual tinha falado ontem; ele me garantiu que me poderia levar e partiríamos ao meio-dia, caso o tempo melhorasse.
Após alguns entendimentos ficou, afinal, resolvido que eu mandasse minha bagagem para o porto. O sargento-mor me cedeu os bois e um carro. Parte de meus objetos seguiu numa primeira viagem, sendo transportada ao barco; o restante estava ainda em caminho quando o patrão me avisou que não poderia partir. Fiz voltar a viatura e pernoitei ainda em Rio Pardo.
O patrão do barco em que devo embarcar me afirmou que possuía dez barcos que faziam continuamente a viagem entre Rio Pardo e Porto Alegre; sete, dentre eles, pertencem a negociantes e três aos próprios patrões, que vivem dos fretes; cada barco faz, anualmente, quinze a vinte viagens de ida e volta.
SOBRE O RIO JACUÍ, perto da Estância dos Dourados, 13 de maio, 6 léguas – Tempo admirável durante todo o dia. O resto da minha bagagem foi embarcada pela manhã cedo; entretanto, partimos bem tarde, porque o patrão esperava cartas do Comandante da Cidade.
Durante minha estada em Rio Pardo, recebi toda a sorte de gentilezas do Sargento-Mor José Joaquim de Figueiredo Neves e de seu irmão Tomás Aquino de Figueiredo Neves, tendo jantado diariamente, em casa de um ou de outro. O tenente que encontrei em Botucarai prestou-me também muitos favores. O Marechal Bento, filho do Tenente-general Patrício, veio visitar-me duas vezes, mas não vi ninguém da casa do General João de Deus, embora tivesse enviado carta a seu filho mais velho, e viajado com o outro de Porto Alegre a Rio Grande.
De regra, em todas as cidades do Brasil, a primeira pessoa a quem me dirigia com algumas cartas de recomendação, presta-me todos os serviços de que necessito, oferecendo-me muitas vezes, sua hospitalidade. É o tipo de proteção a que se acham obrigados, em atenção a quem escreveu a carta recomendatória. Em nenhum lugar recebi convites de quem quer que seja. Por consequência, não pude julgar a sociedade de Rio Pardo, a qual me haviam gabado muito. Contaram-me que as mulheres desta cidade tinham maneiras tão agradáveis quanto as de Montevidéu, mas somente conheci a mulher e as filhas do sargento-mor, efetivamente muito distintas e educadas.
No momento de meu embarque, o Cirurgião-Mor Vicente veio ao porto e me prometeu enviar, pelo sargento-mor, amostras de minerais. Esse cirurgião-mor, homem instruído, conhecedor de Química e Mineralogia, foi encarregado pelo Conde de Linhares, Dom Rodrigo, de realizar pesquisas sobre os minerais existentes nesta capitania, e que em seguida viajou, com a mesma finalidade, pelos arredores do Rio de Janeiro. Demorou-se longo tempo nesta cidade para relatar ao Ministro os resultados de seus trabalhos, gastando ali muito dinheiro; suas descobertas foram, porém, logo esquecidas, e ele retornou à sua terra cheio de desgostos.

REFERÊNCIAS
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro Editora, 1997. p. 365-368.

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