RIO PARDO,
12 DE MAIO DE 1821 – O tempo esteve horrível durante todo o dia: esta manhã
fui ver o patrão do barco, ao qual tinha falado ontem; ele me garantiu que me
poderia levar e partiríamos ao meio-dia, caso o tempo melhorasse.
Após
alguns entendimentos ficou, afinal, resolvido que eu mandasse minha bagagem
para o porto. O sargento-mor me cedeu os bois e um carro. Parte de meus objetos
seguiu numa primeira viagem, sendo transportada ao barco; o restante estava
ainda em caminho quando o patrão me avisou que não poderia partir. Fiz voltar a
viatura e pernoitei ainda em Rio Pardo.
O patrão
do barco em que devo embarcar me afirmou que possuía dez barcos que faziam
continuamente a viagem entre Rio Pardo e Porto Alegre; sete, dentre eles,
pertencem a negociantes e três aos próprios patrões, que vivem dos fretes; cada
barco faz, anualmente, quinze a vinte viagens de ida e volta.
SOBRE O RIO
JACUÍ, perto da Estância dos Dourados, 13 de maio, 6 léguas – Tempo
admirável durante todo o dia. O resto da minha bagagem foi embarcada pela manhã
cedo; entretanto, partimos bem tarde, porque o patrão esperava cartas do
Comandante da Cidade.
Durante
minha estada em Rio Pardo, recebi toda a sorte de gentilezas do Sargento-Mor
José Joaquim de Figueiredo Neves e de seu irmão Tomás Aquino de Figueiredo
Neves, tendo jantado diariamente, em casa de um ou de outro. O tenente que
encontrei em Botucarai prestou-me também muitos favores. O Marechal Bento,
filho do Tenente-general Patrício, veio visitar-me duas vezes, mas não vi
ninguém da casa do General João de Deus, embora tivesse enviado carta a seu
filho mais velho, e viajado com o outro de Porto Alegre a Rio Grande.
De
regra, em todas as cidades do Brasil, a primeira pessoa a quem me dirigia com
algumas cartas de recomendação, presta-me todos os serviços de que necessito,
oferecendo-me muitas vezes, sua hospitalidade. É o tipo de proteção a que se
acham obrigados, em atenção a quem escreveu a carta recomendatória. Em nenhum
lugar recebi convites de quem quer que seja. Por consequência, não pude julgar
a sociedade de Rio Pardo, a qual me haviam gabado muito. Contaram-me que as
mulheres desta cidade tinham maneiras tão agradáveis quanto as de Montevidéu,
mas somente conheci a mulher e as filhas do sargento-mor, efetivamente muito
distintas e educadas.
No
momento de meu embarque, o Cirurgião-Mor Vicente veio ao porto e me prometeu
enviar, pelo sargento-mor, amostras de minerais. Esse cirurgião-mor, homem
instruído, conhecedor de Química e Mineralogia, foi encarregado pelo Conde de
Linhares, Dom Rodrigo, de realizar pesquisas sobre os minerais existentes nesta
capitania, e que em seguida viajou, com a mesma finalidade, pelos arredores do
Rio de Janeiro. Demorou-se longo tempo nesta cidade para relatar ao Ministro os
resultados de seus trabalhos, gastando ali muito dinheiro; suas descobertas
foram, porém, logo esquecidas, e ele retornou à sua terra cheio de desgostos.
REFERÊNCIAS
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: Martins Livreiro Editora, 1997. p. 365-368.
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