1) Os sucessivos desmembramentos de território
Quando
foi oficialmente criada, em 1809, a Vila de Rio Pardo tinha uma área de 156.803
km², correspondendo a mais da metade do Rio Grande do Sul. Dentro deste vasto
território já existiam muitos povoados em organização, que eram administrados
pela Câmara de Vereadores de Rio Pardo. Aos poucos, estes povoados foram se
organizando e desenvolvendo e, em 1819 começaram os desmembramentos do
território de Rio Pardo, com a emancipação de Cachoeira do Sul que levou áreas
dos atuais municípios de Alegrete, Santa Maria, Caçapava do Sul, São Gabriel e
Santana do Livramento. Em 1833 foi a vez de São Borja e Cruz Alta, o que
retirou de Rio Pardo o controle da fronteira norte - noroeste. Em 1849,
Encruzilhada do Sul seguiu o exemplo das anteriores. A área de Rio Pardo ficou
reduzida a cerca de 4.500 km² e, mesmo permanecendo ainda como centro
econômico, político, cultural e militar, estes desmembramentos aos poucos foram
tirando a sua importância. Deixou de ser fronteira, com o surgimento de novos
pontos de partida para ocupação e desenvolvimento de produção econômica; perdeu
arrecadação de impostos, multas, aluguéis de prédios públicos, pedágios,
licenças; perdeu também autonomia financeira, ficando sujeito à aprovação de
verbas pela Assembleia Provincial.
2) Transformações técnicas provocadas pela
alteração nos modais de transporte
Com
a inauguração do trecho da estrada de ferro Porto Alegre-Santa Maria, passando
por Rio Pardo (1885), o escoamento da produção municipal ficou mais fácil, mas,
em compensação, tirou quase todo o movimento do porto do Jacuí. A extensa região que até então era abastecida
pelo entreposto comercial de Rio Pardo passou a exportar diretamente para Porto
Alegre, beneficiando principalmente as localidades que não se situavam perto de
rios navegáveis. Aos poucos, o porto de Rio Pardo passou a ser servido apenas
por pequenos vapores que faziam o trajeto Rio Pardo – Porto Alegre.
Outra
transformação importante foi a introdução do barco a vapor. A partir de sua
utilização, os maiores comerciantes e redistribuidores da Campanha e dos Campos
de Cima da Serra passaram a fazer suas compras diretamente em Porto Alegre,
deixando Rio Pardo fora do esquema, o que colaborou para a perda de sua
condição de entreposto comercial.
3) Perda da função militar
Rio
Pardo nasceu com função militar. O núcleo populacional começou a desenvolver-se
ao redor do Forte Jesus Maria José, com a proteção que o Regimento dos Dragões
proporcionava. No período da consolidação do domínio português no Rio Grande do
Sul, quando houve o enfrentamento com os índios missioneiros (1754-1756) e
depois com os espanhóis (1762, 1773 e 1777), o Forte de Rio Pardo consolidou a
posse portuguesa, resistindo a todas as investidas e passando à Histórica com o
título de “Tranqueira Invicta”. No início do século XIX, com o estabelecimento
definitivo das fronteiras portuguesas, o Forte Jesus Maria José perdeu sua
importância estratégica. Entre 1858 e 1911 a cidade ainda foi sede de várias
Escolas Militares. Mas o declínio da função militar aconteceu em 1928, com a
retirada do 7º Batalhão de Caçadores, encerrando um período de longas tradições
militares.
4) Inserção de diferentes grupos étnicos (alemães)
A
colonização alemã iniciada no Vale dos Sinos em 1824 e a ligação daquela região
com os Campos de Cima da Serra prejudicaram o fornecimento de mercadorias que
Rio Pardo fazia para aquelas áreas. A produção colonial de alimentos e produtos
manufaturados cresceu rapidamente e colaborou para tirar a importância do
entreposto comercial de Rio Pardo.
5) Falta de investimentos na industrialização e
manutenção do modelo agropecuarista
Apesar
de sua origem militar, entre os séculos XVIII e XIX Rio Pardo destacou-se como
um importante entreposto comercial.
Situado na margem esquerda do rio Jacuí, era um ponto central de chegada
e redistribuição de mercadorias para boa parte do território da Província.
Porém, muitos comerciantes que lucravam com este comércio vinham de outros
locais, como Porto Alegre e Rio de Janeiro, e não tinham interesse em investir
em Rio Pardo. Quando os negócios
começaram a diminuir, passaram a procurar outros lugares para aplicar seus
lucros, ou, talvez, para adquirir terras e escravos. Assim, não se formou uma burguesia comercial
local, o que significa que o lucro do comércio não era investido aqui.
A
pecuária continuava sendo a atividade econômica mais importante, praticada de
forma extensiva, com emprego de poucos trabalhadores, livres ou escravos. Os
grande proprietário de terras preocupavam-se exclusivamente com as duas
criações, sem investir na agricultura, obrigando os habitantes da Vila a
comprar de fora os alimentos necessários.
6) Hegemonia e poder das oligarquias rurais que
determinaram as diretrizes políticas do Município
Os
grupos que dominavam a vida política local, formados por pecuaristas
latifundiários, militares e comerciantes não foram capazes de perceber as
mudanças econômicas necessárias para manter o desenvolvimento da cidade. Havia
apenas preocupação em melhorar as igrejas, o calçamento de ruas, o cais do
porto, abrir ou conservar estradas manter o comércio, mas nada foi feito para
desenvolver a produção artesanal e manufatureira, nem a agricultura.
REFERÊNCIAS
REZENDE, M. Q. Rio
Pardo – História, Recordações e Lendas. 2. Ed.
Rio Pardo: 1987.
SCHNEIDER, L. C. Rio
Pardo: Evolução urbana e patrimônio arquitetônico-urbanístico. Santa Cruz do
Sul: EDUNISC, 2005.
SILVEIRA, E. L. D.
. Transformações na organização espacial
do município de Rio Pardo. Santa Maria: 2009. (Dissertação de Mestrado -
Universidade de Santa Maria)
VOGT, O.; SILVEIRA, R. L. L. (Org.) Vale do Rio Pardo:
(re)conhecendo a região. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2001.
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