quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

MARCOS DA ESTAGNAÇÃO ECONÔMICA DE RIO PARDO


1) Os sucessivos desmembramentos de território
                Quando foi oficialmente criada, em 1809, a Vila de Rio Pardo tinha uma área de 156.803 km², correspondendo a mais da metade do Rio Grande do Sul. Dentro deste vasto território já existiam muitos povoados em organização, que eram administrados pela Câmara de Vereadores de Rio Pardo. Aos poucos, estes povoados foram se organizando e desenvolvendo e, em 1819 começaram os desmembramentos do território de Rio Pardo, com a emancipação de Cachoeira do Sul que levou áreas dos atuais municípios de Alegrete, Santa Maria, Caçapava do Sul, São Gabriel e Santana do Livramento. Em 1833 foi a vez de São Borja e Cruz Alta, o que retirou de Rio Pardo o controle da fronteira norte - noroeste. Em 1849, Encruzilhada do Sul seguiu o exemplo das anteriores. A área de Rio Pardo ficou reduzida a cerca de 4.500 km² e, mesmo permanecendo ainda como centro econômico, político, cultural e militar, estes desmembramentos aos poucos foram tirando a sua importância. Deixou de ser fronteira, com o surgimento de novos pontos de partida para ocupação e desenvolvimento de produção econômica; perdeu arrecadação de impostos, multas, aluguéis de prédios públicos, pedágios, licenças; perdeu também autonomia financeira, ficando sujeito à aprovação de verbas pela Assembleia Provincial.
2) Transformações técnicas provocadas pela alteração nos modais de transporte
                Com a inauguração do trecho da estrada de ferro Porto Alegre-Santa Maria, passando por Rio Pardo (1885), o escoamento da produção municipal ficou mais fácil, mas, em compensação, tirou quase todo o movimento do porto do Jacuí.  A extensa região que até então era abastecida pelo entreposto comercial de Rio Pardo passou a exportar diretamente para Porto Alegre, beneficiando principalmente as localidades que não se situavam perto de rios navegáveis. Aos poucos, o porto de Rio Pardo passou a ser servido apenas por pequenos vapores que faziam o trajeto Rio Pardo – Porto Alegre.
                Outra transformação importante foi a introdução do barco a vapor. A partir de sua utilização, os maiores comerciantes e redistribuidores da Campanha e dos Campos de Cima da Serra passaram a fazer suas compras diretamente em Porto Alegre, deixando Rio Pardo fora do esquema, o que colaborou para a perda de sua condição de entreposto comercial.
3) Perda da função militar
                Rio Pardo nasceu com função militar. O núcleo populacional começou a desenvolver-se ao redor do Forte Jesus Maria José, com a proteção que o Regimento dos Dragões proporcionava. No período da consolidação do domínio português no Rio Grande do Sul, quando houve o enfrentamento com os índios missioneiros (1754-1756) e depois com os espanhóis (1762, 1773 e 1777), o Forte de Rio Pardo consolidou a posse portuguesa, resistindo a todas as investidas e passando à Histórica com o título de “Tranqueira Invicta”. No início do século XIX, com o estabelecimento definitivo das fronteiras portuguesas, o Forte Jesus Maria José perdeu sua importância estratégica. Entre 1858 e 1911 a cidade ainda foi sede de várias Escolas Militares. Mas o declínio da função militar aconteceu em 1928, com a retirada do 7º Batalhão de Caçadores, encerrando um período de longas tradições militares.
4) Inserção de diferentes grupos étnicos (alemães)
                A colonização alemã iniciada no Vale dos Sinos em 1824 e a ligação daquela região com os Campos de Cima da Serra prejudicaram o fornecimento de mercadorias que Rio Pardo fazia para aquelas áreas. A produção colonial de alimentos e produtos manufaturados cresceu rapidamente e colaborou para tirar a importância do entreposto comercial de Rio Pardo.
5) Falta de investimentos na industrialização e manutenção do modelo agropecuarista
                Apesar de sua origem militar, entre os séculos XVIII e XIX Rio Pardo destacou-se como um importante entreposto comercial.  Situado na margem esquerda do rio Jacuí, era um ponto central de chegada e redistribuição de mercadorias para boa parte do território da Província. Porém, muitos comerciantes que lucravam com este comércio vinham de outros locais, como Porto Alegre e Rio de Janeiro, e não tinham interesse em investir em Rio Pardo.  Quando os negócios começaram a diminuir, passaram a procurar outros lugares para aplicar seus lucros, ou, talvez, para adquirir terras e escravos.  Assim, não se formou uma burguesia comercial local, o que significa que o lucro do comércio não era investido aqui.
                A pecuária continuava sendo a atividade econômica mais importante, praticada de forma extensiva, com emprego de poucos trabalhadores, livres ou escravos. Os grande proprietário de terras preocupavam-se exclusivamente com as duas criações, sem investir na agricultura, obrigando os habitantes da Vila a comprar de fora os alimentos necessários.

6) Hegemonia e poder das oligarquias rurais que determinaram as diretrizes políticas do Município
                Os grupos que dominavam a vida política local, formados por pecuaristas latifundiários, militares e comerciantes não foram capazes de perceber as mudanças econômicas necessárias para manter o desenvolvimento da cidade. Havia apenas preocupação em melhorar as igrejas, o calçamento de ruas, o cais do porto, abrir ou conservar estradas manter o comércio, mas nada foi feito para desenvolver a produção artesanal e manufatureira, nem a agricultura.
               
REFERÊNCIAS
REZENDE, M. Q. Rio Pardo – História, Recordações e Lendas. 2. Ed.  Rio Pardo: 1987.
SCHNEIDER, L. C. Rio Pardo: Evolução urbana e patrimônio arquitetônico-urbanístico. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2005.
SILVEIRA, E. L. D. .  Transformações na organização espacial do município de Rio Pardo. Santa Maria: 2009. (Dissertação de Mestrado - Universidade de Santa Maria)
VOGT, O.;  SILVEIRA, R. L. L. (Org.) Vale do Rio Pardo: (re)conhecendo a região. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2001.

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