sábado, 18 de fevereiro de 2017

RIO PARDO EM 1845 (4/FINAL)

Talvez tenha chamado a atenção ver que a Comissão reclama para a Aldeia este e outros edifícios. Fundando-se na decadência, diremos mais, no abandono em que aquela Capela se acha. Mas, Senhores, a missão da Paz é reparar as ruínas da guerra; esta engoliu os pacíficos moradores dessa Aldeia, mortos em mais de um campo de batalha por pensamentos políticos muito acima da sua pouca inteligência; porém deixou alguns poucos restos deles, nobres pela sua coragem e constância, e privados do pão pelo desarmamento da Província. É preciso, pois, acudir-lhes; é preciso devolver-lhes o seu antigo terreno, hoje inculto, para que seus braços o façam florescer e lhe dem cômoda existência, aumentando a abastança desta Vila. E nem só para esses restos de Índios entende a Comissão que podem-se aproveitar as terras da Aldeia, devolutas hoje. Há muitas ocultas misérias, há muita gente arruinada pelo furacão da guerra a quem uma boa e Cristã política aconselha alcançar os meios de continuar segura nessa senda do bem, que é tão estreita e tão sujeita a escorregar, quando a necessidade nos empurra. Para cabal conhecimento dessas terras, seria necessário levantar uma planta daquele Distrito miudamente deslindada, e com explicação de quais terras ainda existem habitadas, e quais estão abandonadas; e esta lembrança adaptada em pequena para a Aldeia, seria da maior utilidade aplicada em geral ao Município; não somente para conhecer dos seus realengos e poder com eles acudir a esses necessitados de quem já talhamos, aos muitos soldados que hão de ser baixa e cuja boa conduta os faça de tal merecedores, e mesmo em último caso a Colonos estrangeiros, quanto também com um avançado passo para se realizar um mapa da Província exato e minucioso, como exigem as suas necessidades civis e militares. Esta medida imitada em todos os Municípios simultânea ou sucessivamente, acabaria por produzir em poucos anos esse mapa tão preciso e desejado; proporcionando aos Senhores Engenheiros do Exército, hoje em quartéis, ocupação de tanta honra e proveito como utilidade. Daí resulta, que a Comissão considera dever apresentar a Vossas Senhorias o levantamento destas duas plantas, como outras tantas necessidades vitais do Município.
O tráfego e Comércio quer desta Vila para a Campanha pela Cachoeira, quer dos Distritos do interior para esta Vila necessitam de Campos de logradouro público, aonde as tropas de gados ou carretas possam acampar, e pastorear seus animais. Para estes efeitos tem servido sempre as vargens de São Nicolau e do Rio Pardo; e a Comissão entende que Vossas Senhorias fariam um ótimo serviço do Município obtendo a sua inteira cessão para propriedade municipal inalienável.
A Comissão não duvida Senhores Vereadores da insuficiência e pouca luz deste seu trabalho; seria desconhecer o próprio acanhamento; mas espera que Vossas Senhorias o recebam como fruto dos melhores desejos e mais aplicada meditação neste objeto; pois deste modo, Vossas Senhorias farão justiça aos sentimentos e esforços dos infra assinados.
                Vila do Rio Pardo, 15 de Junho de 1845.
Ilmos. Sres. Presidente e mais Vereadores
Da Câmara deste Município
                                                               (assinaturas)
                                                               Joze de Souza e Silva
                                                               Abel Correa da Camara
                                                               Francisco Gomes da Silva Guimarães”  


Referências:

Documento avulso nº 5 (Caixa Nº 46 – Documentos Avulsos – 1845) do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo

Nenhum comentário:

Postar um comentário