Talvez tenha chamado a
atenção ver que a Comissão reclama para a Aldeia este e outros edifícios.
Fundando-se na decadência, diremos mais, no abandono em que aquela Capela se
acha. Mas, Senhores, a missão da Paz é reparar as ruínas da guerra; esta
engoliu os pacíficos moradores dessa Aldeia, mortos em mais de um campo de
batalha por pensamentos políticos muito acima da sua pouca inteligência; porém
deixou alguns poucos restos deles, nobres pela sua coragem e constância, e
privados do pão pelo desarmamento da Província. É preciso, pois, acudir-lhes; é
preciso devolver-lhes o seu antigo terreno, hoje inculto, para que seus braços
o façam florescer e lhe dem cômoda existência, aumentando a abastança desta
Vila. E nem só para esses restos de Índios entende a Comissão que podem-se
aproveitar as terras da Aldeia, devolutas hoje. Há muitas ocultas misérias, há
muita gente arruinada pelo furacão da guerra a quem uma boa e Cristã política
aconselha alcançar os meios de continuar segura nessa senda do bem, que é tão
estreita e tão sujeita a escorregar, quando a necessidade nos empurra. Para
cabal conhecimento dessas terras, seria necessário levantar uma planta daquele
Distrito miudamente deslindada, e com explicação de quais terras ainda existem
habitadas, e quais estão abandonadas; e esta lembrança adaptada em pequena para
a Aldeia, seria da maior utilidade aplicada em geral ao Município; não somente
para conhecer dos seus realengos e poder com eles acudir a esses necessitados
de quem já talhamos, aos muitos soldados que hão de ser baixa e cuja boa
conduta os faça de tal merecedores, e mesmo em último caso a Colonos
estrangeiros, quanto também com um avançado passo para se realizar um mapa da
Província exato e minucioso, como exigem as suas necessidades civis e
militares. Esta medida imitada em todos os Municípios simultânea ou
sucessivamente, acabaria por produzir em poucos anos esse mapa tão preciso e
desejado; proporcionando aos Senhores Engenheiros do Exército, hoje em
quartéis, ocupação de tanta honra e proveito como utilidade. Daí resulta, que a
Comissão considera dever apresentar a Vossas Senhorias o levantamento destas duas plantas, como outras tantas
necessidades vitais do Município.
O tráfego e Comércio quer
desta Vila para a Campanha pela Cachoeira, quer dos Distritos do interior para
esta Vila necessitam de Campos de logradouro público, aonde as tropas de gados
ou carretas possam acampar, e pastorear seus animais. Para estes efeitos tem
servido sempre as vargens de São Nicolau e do Rio Pardo; e a Comissão entende
que Vossas Senhorias fariam um ótimo
serviço do Município obtendo a sua inteira cessão para propriedade municipal
inalienável.
A Comissão não duvida
Senhores Vereadores da insuficiência e pouca luz deste seu trabalho; seria
desconhecer o próprio acanhamento; mas espera que Vossas Senhorias o recebam como fruto dos melhores desejos e
mais aplicada meditação neste objeto; pois deste modo, Vossas Senhorias farão justiça aos sentimentos e esforços dos
infra assinados.
Vila do Rio Pardo,
15 de Junho de 1845.
Ilmos. Sres. Presidente e mais Vereadores
Da Câmara deste Município
(assinaturas)
Joze
de Souza e Silva
Abel
Correa da Camara
Francisco
Gomes da Silva Guimarães”
Referências:
Documento avulso nº 5
(Caixa Nº 46 – Documentos Avulsos – 1845) do acervo do Arquivo Histórico
Municipal de Rio Pardo
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