segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

RIO PARDO EM 1845 (1)

A Comissão nomeada por Vossas Senhorias para investigar que melhoramentos materiais precisa o Município, a fim de Vossas Senhorias poderem dar satisfação cabal do ofício de Sua Excelência o Senhor Presidente datado em 15 do passado, tem-se entregado com íntimo prazer às diligências precisas, e, convenientemente habilitada, ela vem hoje apresentar o resultado dos seus trabalhos. Da sua narração verão Vossas Senhorias pouco teve que agregar dos apontamentos que alguns dos seus membros, antigos Vereadores da Câmara transacta[1], consignaram em ofício de 6 de fevereiro de 1843 do mesmo Excelentíssimo Presidente da Província e na ata que empossou Vossas Senhorias.
O município, Senhores, se acha numa decadência espantosa. Os nove anos da finada luta não passaram vãmente sobre a nossa terra. Numerosas ruínas, fortunas devastadas o atestam de qualquer parte. Mas o Rio Pardo possui  para fortuna uma população morigerada e trabalhadeira, e meios naturais de rápido fomento. Muitos dos nossos Distritos eminentemente agrícolas, não carecem senão de medidas que os encorajem, e sobretudo de vias de trânsito e comunicação, para fazer com a sua riqueza, a riqueza geral do Município. Vede ai, Senhores, por que o primeiro olhar da Comissão virou-se para as nossas estradas, e as águas que as retalham. No seu entender, pois, os caminhos que cruzam desta Vila para Santo Amaro, e as costas do Taquari e Faxinais da Serra, devem merecer uma atenção especial e sérios cuidados de concerto. Ainda não estamos em estado de empreender estradas levadas a perfeição européia ou dos Estados Unidos, a Comissão conhece-o e sente-o palpavelmente, porém, Senhores, estradas próprias para os nossos carros e carretas, estradas que facilitem a extração do milho, da mandioca, e de outras produções desta interessante porção do Município são muito praticáveis, e só por grande desleixo poderá alguém reputá-las impossíveis. Nesse trânsito é verdade que se precisam várias pontes; os arroios do João Rodrigues, do Diogo Trilha e do Couto; mas essas pontes, Senhores Vereadores, são de construção fácil e singela. Em presença de necessidades urgentes e vitais o que nos cumpre é ver de remediá-las sem aspirar ao monumento, sem almejar construções grandiosas que mais ser vem de alimento a pequena vaidade de bairro, do que às verdadeiras precisões do povo, para quem, e para que somente, devemos ocupar-nos.
De ordinário a mais diminuta estrutura se reveste aos nossos olhos de proporções tão grandes, e por tanto de tais dificuldades, que afinal a deficiência de nossos meios nos faz cair em desalento, e à força de querer muito, concluímos por ficar sem nada. Não obstante, ninguém pense que a Comissão aconselha no interesse de uma mal entendida economia, essas construções efêmeras que só prestam para dar uma nomeada imerecida ao zelo dos que as empreendem, e cuja tênue duração torna-as nulas para o proveito daqueles em cujo serviço se dizem empreendidas. Esses arroios de pequeno caudal na sua maior parte, próximos ou cobertos de matas suficientes, dão muitas facilidades para se lhes lançar pontes sólidas, e cômodas, e de longa duração. A maior parte até de pedra podiam recebê-las sem causar maiores dispêndios, e um exame profissional, a Comissão confia que confirmaria estas ideias. Além disso tais empresas trazem consigo a sua recompensa, um ligeiro tributo de passagem ressarciria em pouco tempo o seu importe, e os Cofres Provinciais  ficariam quites por um simples adiantamento dos seus fundos. Isto, dado que não se julgasse preferível arrematar a empresa, ou que, caso impossível, não se achasse concorrência suficiente para elas. De todas estas pontes, porém, as do Couto primeiramente, e depois a do Diogo Trilha são da maior necessidade, e mesmo as mais custosas. A do Couto necessita trabalhos de esgotamento e uma calçada para a vargem deste lado, intransitável em ocasiões de chuvas, e a do Trilha iguais trabalho e talvez mais uma ponte para o Lagoão que desta banda impede o trajeto mais obstinadamente ainda do que o mesmo arroio. A Comissão reduz-se a fazer apontamentos; nem se acha habilitada, nem fez exames suficientes; nem tão pouco foi nomeada para indicar o melhor modo de se conseguir essas obras. Talvez uma mudança de local, uma nova linha, um pequeno círculo, bastem a remover ou diminuir as dificuldades que se antolham à primeira vista, e aumentar as vantagens e proporções que já para as construir existem.
Referências:
Documento avulso nº 5 (Caixa Nº 46 – Documentos Avulsos – 1845) do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo
OBSERVAÇÃO: Documento transcrito com ajustes ortográficos.



[1] Que já passou

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