sábado, 11 de fevereiro de 2017

RIO PARDO EM 1845 (2)


Motivos idênticos, idênticas circunstâncias, impelem a Comissão para recomendar a construção de outra ponte no Passo da Cavalhada e a estrada que vem do Distrito da Costa da Serra além de Rio Pardo; e com maior urgência ainda a abertura e franqueamento da Picada do Botucaraí, que comunica com estes o Distrito de Cima da Serra. Distrito rico, cheio de proporções para florescer, e que definha a míngua de uma via porque extraia os seus produtos, ou que dê coragem para empreender nele trabalhos de maior consequência. Nem é só no interesse do Distrito da Serra que a Comissão lembra a facilitação deste caminho: por ali é fácil abrirem-se mais breves e cômodas comunicações com o Município da Cruz Alta, e por este modo mais uma fonte de prosperidade para o nosso. Essa estrada porém, necessita com muita urgência uma boa ponte no lugar chamado Estiva, ponte sem a qual qualquer trabalho será nulo, e que as localidades tornam de execução facílima.
O que deixamos apontado sobre este, é no nosso entender igualmente aplicável no Caminho da Encruzilhada, frequentemente interceptado pelo Capivary, e que entretanto é um dos canais mais proveitosos para o nosso Comércio, como aquele um dos Distritos mais produtores e dignos de atenção.
Contudo, a Comissão entende que ainda maior consideração merece a estrada que leva a Cachoeira e a construção de uma ponte no Passo do Botucaraí: porém, esta não pode prescindir de ser muito bem construída, não só pela rapidez e força do rio como pela importância e continuidade de trânsito que deve suportar. O Passo debaixo, no entender da Comissão, é o que apresenta mais facilidades para semelhante fábrica; mas em qualquer dois que se levante, é necessário apoiá-la por calçadas e cortaduras que façam transitáveis as duas vargens que tem de ambos os lados. Ainda aqui, a Comissão torna a lembrar que a sua missão pela nomeação de V. Sas. , é restringir a simples apontamentos gerais, cuja aplicação carece de maiores e mais miúdas indagações locais, e de luzes que os seus membros não possuem.
Neste artigo de pontes e de estradas, não sem desígnio deixou a Comissão para o fim a Ponte de Rio Pardo. Essa construção, testemunho de coragem e constância dos nossos antepassados, que com tão poucos meios alcançaram o que hoje nem arremedar tem podido o resto da Província, é não obstante insuficiente para as necessidades do Comércio atual. Pessoas entendidas têm julgado que o lançamento de areias sobre os solidíssimos pilares existentes não seria obra de exagerado custo, ao mesmo tempo que pouparia os continuados gastos de reparo e as freqüentes impossibilitações no trânsito, e como em todas as mais, a despesa feita nesta ponte era mais fácil de repor com um pequeno direito de passagem, limitado a curto número de anos. Não seria, porém, completa e proveitosa esta obra, se a vargem não recebesse na mesma ocasião uma boa calçada e sangradouros para a estação das enchentes, e se simultaneamente não se limpasse o álveo[1] do rio para lhe dar caixa suficiente quando as chuvas engrossam as suas águas. Nem tão pouco poderíamos considerar tudo concluído se a rua íngreme e quebrada que para lá conduz, não fosse calçada e melhor nivelada para poder transitar-se sem perigo em todo tempo; sendo certo que no seu atual estado é mais antes um estorvo que uma via.
Em igual caso se acha o nosso desembarque, e de iguais obras precisa. Não parece que a nossa Vila seja um lugar de Comércio, um depósito forçado de grande parte da Campanha, quando vemos tão descuidados os meios e facilidades do Comércio. No entanto não julgamos que um Cais fosse obra tão tamanha que não pudesse ser levada a cabo sem grande sacrifício, e a bem disso a Comissão a reputa como base indispensável para ser calçada sólida e duradouramente a rua chamada da Praia, e que sem grave prejuízo não pode continuar no estado mísero em que se acha. Além dessa rua, a do Brasil e as outras que comunicam a Ponte com o desembarque necessitam ou calçadas totalmente novas, ou reparações importantes nas que existem; e as despesas que ocasionem são bem fáceis de cobrir com uma imposição sobre as (cargas?) do tráfego, cuja má construção os torna em grande parte a ruína das calçadas. Também precisa-se de um concerto análogo na do Santo Anjo entre o alto do Francês e a Casa da Pólvora. Nada mais arriscado e dificultoso que passar esse pedaço entre sangas e quebradas profundas ou atoleiros; ao mesmo tempo que neste ponto se pode considerar que acaba a estrada vindo da Costa da Serra e Santo Amaro pelo Couto, e a que conduz do Rincão Nacional e Aldeia de São Nicolau.


Referências:
Documento avulso nº 5 (Caixa Nº 46 – Documentos Avulsos – 1845) do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo

[1] Álveo: leito do rio; sulco; escavação

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