quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

RIO PARDO EM 1845 (3)

Entretanto todas estas obras dedicadas do Comércio serão incompletas se o nosso rio tão rico e tão fecundo para o Município continuar obstruindo-se com os despojos das enchentes sem que a laboriosa mão do homem vá em auxílio à natureza. Grande parte do ano sabem Vossas Senhorias quão difícil é a navegação por ele acima, e a Comissão se persuade que muitas cachoeiras ainda existem porque ninguém tratou de desmanchá-las. É uma obra que deve ser de algum dispêndio; mas que julgamos indispensável para tirar pleno proveito do famoso canal que nos deu a Providência, e que facilmente pode ser custeada por uma imposição sobre os barcos de carreira isentos até hoje de qualquer encargo.
A Comissão tem-se estendido neste ramo de melhoramentos e indicado obras que acaso façam acusar de contraditória com os princípios que ostentou no começo deste relatório. Uma vez por todas, ela reputará de novamente que as construções que servem para impulsar o fomento do Comércio, indústria e agricultura não são mais que simples adiantamentos ou empréstimos, que de si mesmos ressarcem o que custam. Mas por isso mesmo é que, daqui em diante, a Comissão não escreverá senão mais acunhadamente, porque passa a numerar outros que, bem que de alta necessidade e importância moral, são dessas obras que caem inteiramente sobre os cofres e pouca indenização prometem.
Em primeira linha apontaremos a nossa Igreja Matriz. Poucas fábricas existem na Província capazes de competir com esta em gosto e em grandeza; mas parada, por deficiência de meios, os Senhores Vereadores sabem que tem sofrido e diariamente sofre maior ruína. A decência do Culto, e mesmo a bem entendida economia, exigem que se acabe este Templo sobre os seus primeiros planos; e obras de tão grande mérito será uma dotação real para a nossa Vila.
Mas, reclamando para esta toda a preferência, a Comissão não esquece que a Encruzilhada e Aldeia se acham desprovidas de Capelas suficientes, e que o Culto Divino é ali celebrado em edifícios totalmente impróprios à majestade do destino que lhes deram. Embora mais modesta, em nome da Religião, a Comissão depreca[1] a Vossas  Senhorias que empreguem todos seus esforços por alcançar a estas duas povoações duas Igrejas capazes de infundir ao povo o respeito que o Culto necessita. A Comissão não pode deixar também no esquecimento a precisão que tem o populoso Distrito da Cruz Alta de se lhe edificar uma Capela aonde acudam as suas espirituais necessidades. Muitas causas há que privam com frequência a sua comunicação com esta Vila, e durante elas, durante todo ano, essa população numerosa se acha privada da primeira e mais sólida base da moral e bom régimen.
A propósito de Cemitérios não há no Município um só que ao devido respeito pelas cinzas dos finados una as qualidades higiênicas que a ciência tem mostrado necessárias. Aqui, na Vila, os Cemitérios fartos de cadáveres, com que já não podem, empestam a povoação em cujo centro se conservam. As nossas Igrejas prenham os próprios muros de catacumbas; e com prejuízo dos vivos, e com desrespeito talvez da majestade do sítio, convertem-se em amplas carneiras para se fazer de alguma renda. Tal estado não é compatível, Senhores, com o bem estar do Município, e com as ideias que convêm inspirar ao povo, ainda muito abalado e descrido por essa longa e desorganizadora luta que termina. Por isso a Comissão aponta a construção de Cemitérios em locais idôneos nesta Vila, Encruzilhada, Aldeia e Cruz Alta como um dos principais melhoramentos que o Município requer.

Referências:
Documento avulso nº 5 (Caixa Nº 46 – Documentos Avulsos – 1845) do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo
OBSERVAÇÃO: Documento transcrito com ajustes ortográficos.



[1] Solicita, suplica

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