domingo, 26 de fevereiro de 2017

O CARNAVAL EM RIO PARDO ENTRE 1920 E 1945

O Clube Literário e Recreativo foi, em Rio Pardo, o centro do Carnaval de uma parte da população. Dos encontros das famílias rio-pardenses nasceu o momento maior do carnaval local. No período de 1920 a 1945, a história do Carnaval é cheia de acontecimentos marcantes, de luxo, alegria e festa.
De assalto em assalto, da fazenda à residência na cidade, as brincadeiras que antecediam o Carnaval uniam os jovens. O clima era de alegria e os componentes dos cordões garantiam o sucesso da festa.
O corso, a rainha, a cavalaria, a corte, os cordões com fantasias multicoloridas, faziam do Carnaval a festa popular mais importante de Rio Pardo.
Buscando registrar este período, o Núcleo de Cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura elaborou um projeto, tendo como fontes de informação pessoas que fizeram parte dos acontecimentos. Este é o primeiro resultado de um trabalho de pesquisa que prossegue.
Nascidos nos salões do Clube Literário e Recreativo, dois cordões carnavalescos animavam a cidade em meados dos anos 30: “Tem Gente Ahi” e “Olha o Grupo”.
A animação não se limitava ao interior do Clube. Os dois cordões se encarregavam de agitar a cidade, realizando “assaltos” às fazendas rio-pardenses, que os recebiam com bebidas, salgados apetitosos e doces caseiros. Eram feitos depois do baile da escolha da rainha, que acontecia em 31 de dezembro, e se prolongavam até os dias de Carnaval.
Com muita animação, os cordões participavam do “corso”, que consistia em um desfile de automóveis realizado antes do Carnaval. Usavam confetes, serpentinas e lança-perfume em profusão.
Na ânsia de ser o melhor, cada cordão caprichava ao máximo, tanto nas fantasias como na animação. Era muito intensa a rivalidade entre os dois, levando-os a um atrito que resultou na retirada do “Tem Gente Ahi” do Clube Literário e Recreativo. A partir da separação, a rivalidade chegou ao fanatismo: os rivais cortavam relações quando chegava o Carnaval e numa ocasião houve bailes que se prolongaram até às 10 horas da manhã nos dois clubes, sendo necessária a interferência de médicos locais para encerrá-los.
Em torno das rainhas dos cordões girava toda a estrutura do Carnaval. Suas fantasias tinham um estilo, que determinava a ornamentação dos clubes e as fantasias dos seus cordões. Eram elas quem animavam os foliões, com sua beleza e sua alegria. Cercadas pela corte e protegidas pela cavalaria, desfilavam pelas ruas da cidade e, ao entrarem nos salões dos clubes, explodia a alegria que animava os foliões até a madrugada.
No Clube Literário e Recreativo, repleto de foliões, os clarins soavam e a rainha do “Olha o Grupo”, soberanamente, precedida pela corte, desfilava diante de seus súditos. Iniciava-se, assim, seu reinado, que se prolongaria por quatro noites de beleza, de cor e de euforia.
PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO PARDO/NÚCLEO DE CULTURA DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA/ 03/12/1991
FONTES – A produção desse texto baseou-se nos depoimentos das seguintes pessoas:
Edite Silva Schultze (03/12/1990)
Georgina Tarantino da Silva (03/12/1990)
Zilda Tarantino Comassetto (04/12/1990)
Flora Wunderlich Cintra (10/12/1990)
Joana Elisa Wunderlich Pellegrini (19/12/1990)
Maria Ferreira (20/12/1990)
Ilza Herzog Schultze (18/06/1991)

Em 1990 as entrevistas foram realizadas por Eneiva da Graça Lima Müller e Silvia Maria Wigner de Barros. A partir de 1991, contamos com a colaboração de Lurdes Eloisa Wunderlich da Rocha.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

MUNICÍPIO DE RIO PARDO (2 de 3)

ESTATÍSTICA DEMOGRÁFICA
O município de Rio Pardo contava em 1858 uma população de 7.023 habitantes; em 1859, 9.984; em 1872, 12.512; em 1890, 21.320; em 1911 (censo municipal), 27.417; em 1918, 30.400.
Nos 2º e 3º distritos a população é grandemente constituída por alemães e seus descendentes; nos outros distritos predomina a população nacional.
O número de prédios existentes em 31 de dezembro de 1911 era de 4.550; atualmente excede de 5.000.
ESTUDO ECONÔMICO
O município de Rio Pardo ocupa uma superfície de 4.440 km². A área tributada em 1918 atingiu a 387.606 hectares, contando 4.206 contribuintes. A agricultura está bastante desenvolvida no município, que produz em grande e em regular escala milho, arroz, feijão, trigo, cevada, aveia, amendoim, fumo, ervilha, lentilha, abóbora, batata inglesa, batata doce, alfafa.
O município conta os núcleos coloniais da Costa da Serra (Candelária), Rio-Pardense, Sobrado, 7 de Setembro, Couto, Pinheiral, Rincão Del Rei, etc. A indústria pastoril é bastante importante, principalmente no Distrito de Capivari.
A população pecuária pode ser assim computada: 150.000 bovinos, 17.000 equinos, 3.000 muares, 30.000 ovinos, 800 caprinos e 80.000 suínos.
Já há cruzamento de gado com as raças hereford, durhan, polled-angus, devon, redpolled, holandesa, flamenga, zebu. O município conta 5 banheiros carrapaticidas.
O comércio do município é próspero. Em 1918 o número de casas comerciais lotadas era de 193, das quais 93 de 1ª, 5 de 2ª, 20 de 3ª e 75 de 4ª. Dentre as principais casas comerciais podemos enumerar: Albrecht Isenhardt, Alberto Lisboa, Carlos Julio Sperb, Carlos Pelegrini & Irmãos, Francisco Pelegrini, Fortunato Roque & Irmão, Marcondes Miguel, Maria Julia Bandeira & Filho, Roberto Wildt & Cia., Rodrigo Pereira da Cruz, Darcy Pinto Bandeira, Silva Barreto & Filho.
O município conta mais 3 farmácias, 2 fábricas de moagem e torrefação de café, 1 fábrica de malas, 11 engenhos a vapor, 19 serrarias, 1 salsicharia, 1 fábrica de banha, 2 cervejarias, 2 marcenarias a vapor, 12 marcenarias, 3 funilarias, 3 ourivesarias, 6 selarias, 15 atafonas, 7 sapatarias, 9 olarias, 3 curtumes, 7 caieiras, 23 ferrarias, 10 açougues, 5 padarias, 1 alambique, 11 moinhos, 2 fábricas de gasosas, 4 engenhos de erva-mate.
Dentre os seus mais importantes estabelecimentos industriais, o município conta os engenhos de descascar arroz de F. E. Wunderlich, Gonçalves, Raffo & Cia.
A exportação atinge a 3.000 contos e a importação a 2.500.
O município é cortado pela via férrea Porto Alegre a Uruguaiana, contando as estações de João Rodrigues, Rua Velha, Couto, Rio Pardo, Pederneiras e Bexiga. É servido pela navegação fluvial do rio Jacuí. Conta várias estradas de rodagem quer na margem direita, que na esquerda do rio Jacuí. Entre as principais, a que de Rio Pardo vai a Encruzilhada; a que, vindo de Cachoeira, atravessa o arroio Pequiri e vai ao município de São Jerônimo; a que, de Rio Pardo, vai a Santa Cruz; a que de Rio Pardo vai a Cachoeira; a que de Rio Pardo vai a Santo Amaro; a que, do Bexiga, vai a Candelária e aos campos do Sobradinho; a que de Candelária vai a Santa Cruz.
Em 1918 o município contava 7 automóveis, 94 carros, 1.074 carroças e 515 carretas.
Possui agências de correio na cidade, no povoado de Candelária e nas estações de João Rodrigues, Couto e Bexiga; estações telegráficas na cidade e no povoado de Candelária; centros telefônicos em Rio Pardo e Candelária.
A riqueza pública do município orça por 49 mil contos.
FONTE:

COSTA, Alfredo R. da (org.). O Rio Grande do Sul (II Volume). Município de Rio Pardo. Porto Alegre: Liv. do Globo, 1922.      p. 73-8.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

RIO PARDO EM 1845 (4/FINAL)

Talvez tenha chamado a atenção ver que a Comissão reclama para a Aldeia este e outros edifícios. Fundando-se na decadência, diremos mais, no abandono em que aquela Capela se acha. Mas, Senhores, a missão da Paz é reparar as ruínas da guerra; esta engoliu os pacíficos moradores dessa Aldeia, mortos em mais de um campo de batalha por pensamentos políticos muito acima da sua pouca inteligência; porém deixou alguns poucos restos deles, nobres pela sua coragem e constância, e privados do pão pelo desarmamento da Província. É preciso, pois, acudir-lhes; é preciso devolver-lhes o seu antigo terreno, hoje inculto, para que seus braços o façam florescer e lhe dem cômoda existência, aumentando a abastança desta Vila. E nem só para esses restos de Índios entende a Comissão que podem-se aproveitar as terras da Aldeia, devolutas hoje. Há muitas ocultas misérias, há muita gente arruinada pelo furacão da guerra a quem uma boa e Cristã política aconselha alcançar os meios de continuar segura nessa senda do bem, que é tão estreita e tão sujeita a escorregar, quando a necessidade nos empurra. Para cabal conhecimento dessas terras, seria necessário levantar uma planta daquele Distrito miudamente deslindada, e com explicação de quais terras ainda existem habitadas, e quais estão abandonadas; e esta lembrança adaptada em pequena para a Aldeia, seria da maior utilidade aplicada em geral ao Município; não somente para conhecer dos seus realengos e poder com eles acudir a esses necessitados de quem já talhamos, aos muitos soldados que hão de ser baixa e cuja boa conduta os faça de tal merecedores, e mesmo em último caso a Colonos estrangeiros, quanto também com um avançado passo para se realizar um mapa da Província exato e minucioso, como exigem as suas necessidades civis e militares. Esta medida imitada em todos os Municípios simultânea ou sucessivamente, acabaria por produzir em poucos anos esse mapa tão preciso e desejado; proporcionando aos Senhores Engenheiros do Exército, hoje em quartéis, ocupação de tanta honra e proveito como utilidade. Daí resulta, que a Comissão considera dever apresentar a Vossas Senhorias o levantamento destas duas plantas, como outras tantas necessidades vitais do Município.
O tráfego e Comércio quer desta Vila para a Campanha pela Cachoeira, quer dos Distritos do interior para esta Vila necessitam de Campos de logradouro público, aonde as tropas de gados ou carretas possam acampar, e pastorear seus animais. Para estes efeitos tem servido sempre as vargens de São Nicolau e do Rio Pardo; e a Comissão entende que Vossas Senhorias fariam um ótimo serviço do Município obtendo a sua inteira cessão para propriedade municipal inalienável.
A Comissão não duvida Senhores Vereadores da insuficiência e pouca luz deste seu trabalho; seria desconhecer o próprio acanhamento; mas espera que Vossas Senhorias o recebam como fruto dos melhores desejos e mais aplicada meditação neste objeto; pois deste modo, Vossas Senhorias farão justiça aos sentimentos e esforços dos infra assinados.
                Vila do Rio Pardo, 15 de Junho de 1845.
Ilmos. Sres. Presidente e mais Vereadores
Da Câmara deste Município
                                                               (assinaturas)
                                                               Joze de Souza e Silva
                                                               Abel Correa da Camara
                                                               Francisco Gomes da Silva Guimarães”  


Referências:

Documento avulso nº 5 (Caixa Nº 46 – Documentos Avulsos – 1845) do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

RIO PARDO EM 1845 (3)

Entretanto todas estas obras dedicadas do Comércio serão incompletas se o nosso rio tão rico e tão fecundo para o Município continuar obstruindo-se com os despojos das enchentes sem que a laboriosa mão do homem vá em auxílio à natureza. Grande parte do ano sabem Vossas Senhorias quão difícil é a navegação por ele acima, e a Comissão se persuade que muitas cachoeiras ainda existem porque ninguém tratou de desmanchá-las. É uma obra que deve ser de algum dispêndio; mas que julgamos indispensável para tirar pleno proveito do famoso canal que nos deu a Providência, e que facilmente pode ser custeada por uma imposição sobre os barcos de carreira isentos até hoje de qualquer encargo.
A Comissão tem-se estendido neste ramo de melhoramentos e indicado obras que acaso façam acusar de contraditória com os princípios que ostentou no começo deste relatório. Uma vez por todas, ela reputará de novamente que as construções que servem para impulsar o fomento do Comércio, indústria e agricultura não são mais que simples adiantamentos ou empréstimos, que de si mesmos ressarcem o que custam. Mas por isso mesmo é que, daqui em diante, a Comissão não escreverá senão mais acunhadamente, porque passa a numerar outros que, bem que de alta necessidade e importância moral, são dessas obras que caem inteiramente sobre os cofres e pouca indenização prometem.
Em primeira linha apontaremos a nossa Igreja Matriz. Poucas fábricas existem na Província capazes de competir com esta em gosto e em grandeza; mas parada, por deficiência de meios, os Senhores Vereadores sabem que tem sofrido e diariamente sofre maior ruína. A decência do Culto, e mesmo a bem entendida economia, exigem que se acabe este Templo sobre os seus primeiros planos; e obras de tão grande mérito será uma dotação real para a nossa Vila.
Mas, reclamando para esta toda a preferência, a Comissão não esquece que a Encruzilhada e Aldeia se acham desprovidas de Capelas suficientes, e que o Culto Divino é ali celebrado em edifícios totalmente impróprios à majestade do destino que lhes deram. Embora mais modesta, em nome da Religião, a Comissão depreca[1] a Vossas  Senhorias que empreguem todos seus esforços por alcançar a estas duas povoações duas Igrejas capazes de infundir ao povo o respeito que o Culto necessita. A Comissão não pode deixar também no esquecimento a precisão que tem o populoso Distrito da Cruz Alta de se lhe edificar uma Capela aonde acudam as suas espirituais necessidades. Muitas causas há que privam com frequência a sua comunicação com esta Vila, e durante elas, durante todo ano, essa população numerosa se acha privada da primeira e mais sólida base da moral e bom régimen.
A propósito de Cemitérios não há no Município um só que ao devido respeito pelas cinzas dos finados una as qualidades higiênicas que a ciência tem mostrado necessárias. Aqui, na Vila, os Cemitérios fartos de cadáveres, com que já não podem, empestam a povoação em cujo centro se conservam. As nossas Igrejas prenham os próprios muros de catacumbas; e com prejuízo dos vivos, e com desrespeito talvez da majestade do sítio, convertem-se em amplas carneiras para se fazer de alguma renda. Tal estado não é compatível, Senhores, com o bem estar do Município, e com as ideias que convêm inspirar ao povo, ainda muito abalado e descrido por essa longa e desorganizadora luta que termina. Por isso a Comissão aponta a construção de Cemitérios em locais idôneos nesta Vila, Encruzilhada, Aldeia e Cruz Alta como um dos principais melhoramentos que o Município requer.

Referências:
Documento avulso nº 5 (Caixa Nº 46 – Documentos Avulsos – 1845) do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo
OBSERVAÇÃO: Documento transcrito com ajustes ortográficos.



[1] Solicita, suplica

sábado, 11 de fevereiro de 2017

RIO PARDO EM 1845 (2)


Motivos idênticos, idênticas circunstâncias, impelem a Comissão para recomendar a construção de outra ponte no Passo da Cavalhada e a estrada que vem do Distrito da Costa da Serra além de Rio Pardo; e com maior urgência ainda a abertura e franqueamento da Picada do Botucaraí, que comunica com estes o Distrito de Cima da Serra. Distrito rico, cheio de proporções para florescer, e que definha a míngua de uma via porque extraia os seus produtos, ou que dê coragem para empreender nele trabalhos de maior consequência. Nem é só no interesse do Distrito da Serra que a Comissão lembra a facilitação deste caminho: por ali é fácil abrirem-se mais breves e cômodas comunicações com o Município da Cruz Alta, e por este modo mais uma fonte de prosperidade para o nosso. Essa estrada porém, necessita com muita urgência uma boa ponte no lugar chamado Estiva, ponte sem a qual qualquer trabalho será nulo, e que as localidades tornam de execução facílima.
O que deixamos apontado sobre este, é no nosso entender igualmente aplicável no Caminho da Encruzilhada, frequentemente interceptado pelo Capivary, e que entretanto é um dos canais mais proveitosos para o nosso Comércio, como aquele um dos Distritos mais produtores e dignos de atenção.
Contudo, a Comissão entende que ainda maior consideração merece a estrada que leva a Cachoeira e a construção de uma ponte no Passo do Botucaraí: porém, esta não pode prescindir de ser muito bem construída, não só pela rapidez e força do rio como pela importância e continuidade de trânsito que deve suportar. O Passo debaixo, no entender da Comissão, é o que apresenta mais facilidades para semelhante fábrica; mas em qualquer dois que se levante, é necessário apoiá-la por calçadas e cortaduras que façam transitáveis as duas vargens que tem de ambos os lados. Ainda aqui, a Comissão torna a lembrar que a sua missão pela nomeação de V. Sas. , é restringir a simples apontamentos gerais, cuja aplicação carece de maiores e mais miúdas indagações locais, e de luzes que os seus membros não possuem.
Neste artigo de pontes e de estradas, não sem desígnio deixou a Comissão para o fim a Ponte de Rio Pardo. Essa construção, testemunho de coragem e constância dos nossos antepassados, que com tão poucos meios alcançaram o que hoje nem arremedar tem podido o resto da Província, é não obstante insuficiente para as necessidades do Comércio atual. Pessoas entendidas têm julgado que o lançamento de areias sobre os solidíssimos pilares existentes não seria obra de exagerado custo, ao mesmo tempo que pouparia os continuados gastos de reparo e as freqüentes impossibilitações no trânsito, e como em todas as mais, a despesa feita nesta ponte era mais fácil de repor com um pequeno direito de passagem, limitado a curto número de anos. Não seria, porém, completa e proveitosa esta obra, se a vargem não recebesse na mesma ocasião uma boa calçada e sangradouros para a estação das enchentes, e se simultaneamente não se limpasse o álveo[1] do rio para lhe dar caixa suficiente quando as chuvas engrossam as suas águas. Nem tão pouco poderíamos considerar tudo concluído se a rua íngreme e quebrada que para lá conduz, não fosse calçada e melhor nivelada para poder transitar-se sem perigo em todo tempo; sendo certo que no seu atual estado é mais antes um estorvo que uma via.
Em igual caso se acha o nosso desembarque, e de iguais obras precisa. Não parece que a nossa Vila seja um lugar de Comércio, um depósito forçado de grande parte da Campanha, quando vemos tão descuidados os meios e facilidades do Comércio. No entanto não julgamos que um Cais fosse obra tão tamanha que não pudesse ser levada a cabo sem grande sacrifício, e a bem disso a Comissão a reputa como base indispensável para ser calçada sólida e duradouramente a rua chamada da Praia, e que sem grave prejuízo não pode continuar no estado mísero em que se acha. Além dessa rua, a do Brasil e as outras que comunicam a Ponte com o desembarque necessitam ou calçadas totalmente novas, ou reparações importantes nas que existem; e as despesas que ocasionem são bem fáceis de cobrir com uma imposição sobre as (cargas?) do tráfego, cuja má construção os torna em grande parte a ruína das calçadas. Também precisa-se de um concerto análogo na do Santo Anjo entre o alto do Francês e a Casa da Pólvora. Nada mais arriscado e dificultoso que passar esse pedaço entre sangas e quebradas profundas ou atoleiros; ao mesmo tempo que neste ponto se pode considerar que acaba a estrada vindo da Costa da Serra e Santo Amaro pelo Couto, e a que conduz do Rincão Nacional e Aldeia de São Nicolau.


Referências:
Documento avulso nº 5 (Caixa Nº 46 – Documentos Avulsos – 1845) do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo

[1] Álveo: leito do rio; sulco; escavação

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

MUNICÍPIO DE RIO PARDO (1 de 3)

Este texto foi um dos tantos presentes intelectuais de Lurdes Eloisa Wunderlich da Rocha, em outubro de 1998. Dona Eloisa foi uma grande companheira dos tempos do Núcleo de Cultura, sempre atenta às informações que pudessem nos ensinar mais sobre nossa cidade. Que saudade!!               

ESTUDO TERRITORIAL
O município de Rio Pardo limita-se com os de Santo Amaro, Venâncio Aires, Santa Cruz, Cachoeira, Encruzilhada e São Jerônimo.
Os terrenos ao sul do Jacuí são constituídos de conglomeratos e tabatingas sobrepostas à bacia carbonífera, que atravessa o Jacuí e corre numa grande extensão.
Os do norte pertencem à formação triássica e os do sul à formação miocena. O território é montanhoso ao norte e leste, ligeiramente acidentado nas outras partes do município.
Dispõe de bom sistema hidrográfico, sendo regado pelos rios Jacuí, Pardo, Pardinho e Botucaraí, e vários arroios. Os passos do Jacuí, Pederneiras, João Nunes e João Franco, os dois primeiros no Jacuí e os dois últimos no Capivari, possuem barcas. O clima é ameno e temperado.
ESTUDO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO
Constitui uma circunscrição municipal. Faz parte do 2º Distrito eleitoral federal. O município é constituído por 6 distritos administrativos, a saber: 1º - Rio Pardo; 2º - Couto; 3º - Costa da Serra; 4º - Cruz Alta; 5º - Capivari; 6º - Rincão Del Rei.
Os municípios de Rio Pardo e Santa Cruz formam uma comarca de 2ª entrância, criada por decreto de 11 de março de 1833.
Na cidade de Rio Pardo, que outrora foi importante centro militar, aquartela um corpo de trem. Faz parte da diocese de Santa Maria, e consta as paróquias de Nossa Senhora do Rosário do Rio Pardo e Nossa Senhora da Candelária. Além das duas matrizes, conta com as seguintes capela filiais: São Francisco de Assis (com as mais belas imagens do Rio Grande do Sul), Nossa Senhora dos Passos, Divino Espírito Santo – todas na zona urbana; Santo Amaro, no bairro da Boa Vista; São Nicolau; Nossa Senhora do Rosário do Passo do Sobrado; Sagrado Coração de Jesus do Rincão Del Rei; Nossa Senhora do Rincão do Inferno. Possui um templo evangélico, no povoado de Candelária.
RESUMO HISTÓRICO
Teve início no forte de Jesus, Maria, José, mandado construir depois da assinatura do Tratado de Madri, com o intuito de defender as nossas fronteiras de então. No ano de 1753 foi erigida, no Alto da Fortaleza, uma capela consagrada à Santa Família; em 1759, os povoadores edificaram outra capela dedicada a Santo Ângelo, e que, por portaria de 15 de dezembro, foi criada capela curada. Elevada à categoria de freguesia, sob o orago de Nossa Senhora do Rosário, segundo Pizarro, em 8 de maio de 1769.
Instalada a matriz com toda solenidade, e com a presença do benemérito governador José Marcelino de Figueiredo, em 3 de outubro de 1779. Elevada à categoria de vila por Alvará de 27 de abril de 1809, foi solenemente instalada pelo ouvidor geral e corregedor da comarca, Dr. Antonio Monteiro da Rocha, em 20 de maio de 1811. A sua primeira Câmara assim ficou constituída: Antonio José de Carvalho Guimarães, José Antonio de Souza, Manoel Antonio P. Guimarães, José Velloso Rebello, Manoel Luiz da Cunha.
A vila de Rio Pardo foi elevada à categoria de cidade por lei provincial de 31 de março de 1846.
Após a instalação da República, foi organizada uma junta para administrar o município, sucedendo a esta mais duas outras. Em 24 de setembro foi nomeado primeiro intendente o coronel Francisco Alves de Azambuja, que exerceu o cargo por quatro anos e foi eleito para o quatriênio seguinte. O atual intendente é o Major Artur Taurino de Rezende.
FONTE:
COSTA, Alfredo R. da.(org.) O Rio Grande do Sul (II Volume).Município de Rio Pardo.Porto Alegre:Liv.do Globo,1922. p. 73-8.
Existe um exemplar no Arquivo Histórico de Rio Pardo.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O MONGE

“De 11 de janeiro de 1843 até 1847 foi pároco o Padre José Soares do Patrocínio Mendonça, carioca, que gozou da estima dos fiéis. Nessa época, em 1846, aparece em Rio Pardo uma figura estranha, um italiano, trajando hábito preto com cordão branco, que aparentava espírito religioso e vida austera. Tornou-se conhecido pelo nome de ‘Monge’. O povo recorria a ele. O provedor da Irmandade do Senhor dos Passos e outras pessoas insistiram com o pároco Padre Patrocínio Mendonça para que consentisse a fazer uma prática na capela da Irmandade.  Foi infeliz. Usou linguagem grosseira e desacatou as famílias presentes. Desceu do púlpito e se retirou da cidade. Mesmo assim foi atingido por diversas bengaladas. Daqui foi habitar o cume do Botucaraí, fez uma ermida dedicada a Santo Antão, onde havia fonte de água dita milagrosa. Muita gente ignorante ia até lá. Afirmava que se comunicava com os anjos. Devido a aglomeração do povo não faltavam as imoralidades. O Presidente da Província, General De Andrea, em 1848, mandou despejá-lo do local. Tratava-se provavelmente do Monge João Maria Agostini, que estivera na Serra de São Martinho, perto de Santa Maria, onde construiu capela de Santo Antão e tornou célebre a fonte chamada do ‘Monge’”. (HUBERT, 1998, p. 26)

REFERÊNCIA:

HUBERT, Arlindo. História da Igreja no Rio Grande do Sul (1822-1889). Vol. II. Coleção Teologia Nº 13. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.  Disponível em: https://books.google.com.br

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

UMA” SEMENTE” REPUBLICANA EM RIO PARDO


    Dois anos após a fundação do partido Republicano Rio- Grandense (1882) foi criado o Clube Republicano do Rio Pardo. Suas reuniões eram realizadas no Hotel Brazil, antiga sede da Prefeitura. O número de sócios do clube aumentava ano após ano. Ali surgiram figuras importantes para o movimento republicano, como Ernesto Alves de Oliveira, ferrenho defensor castilhista. Ele se tornaria o substituto de Júlio de Castilhos na direção do jornal A Federação. Destacou-se também como republicano Heráclito Americano de Oliveira. Foi de sua autoria o projeto para a aprovação da bandeira estadual. Além do órgão oficial do Partido Republicano, em Rio Pardo, no  ano de 1887 começou a circular um novo periódico regional intitulado “ O Patriota”, jornal que se identificava  com os ideais da causa.
     Às vésperas da queda Casa dos Bragança e Orleans, foi realizada no quinto (5º) distrito de Iruy, a Conferência Republicana. Ela foi presidida e idealizada por Ernesto Alves de Oliveira e relatada em A Federação em 4 de janeiro de 1889 conforme se lê no jornal “O Companheiro Ernesto discursou para um grande número de cavalheiros na casa  do comerciante  José Pascal, sendo o discurso  acompanhado com muita atenção por todos os que estavam no local. O nosso companheiro foi sempre ouvido com facilidade, com a qual outros têm querido hipotecar o braço do Rio Grande à causa ingrata dos Bragança e Orleans.”

FONTES: RIO PARDO 200 ANOS UMA LUZ PARA A HISTÓRIA DO RIO GRANDE

   JORNAL GAZETA DO SUL-RS/2008 -AHMRP

CASA DE JOÃO PEREIRA MONTEIRO

                                     
   João Pereira Monteiro foi Provedor - Mor da Irmandade dos Passos e militar de destaque, recebendo ao longo da sua vida profissional várias condecorações. Era muito estimado pela população rio-pardense, por seus atos de caridade. Seu nome esteve sempre ligado aos grandes empreendimentos da cidade, na sua época. Exemplo disso foi sua presença no ato de lançamento da pedra fundamental da Casa de Caridade, em janeiro de 1848.
   João Pereira Monteiro morava em um sobrado localizado na esquina das ruas Andrade Neves e João Pessoa. Sua construção majestosa era digna de abrigar tão ilustre personagem  de nossa história. Esse prédio aparece no cadastro feito por João Martinho Buff para a primeira planta de Rio Pardo, com título de concessão  a João  Pereira Monteiro  em 07 de junho de 1805.
   Pertenceu à família Cruzeiro e teve, ao longo  de sua trajetória, várias formas de ocupação. Uma das mais marcantes foi o funcionamento ali, por muitos anos, do Bazar Cruzeiro, como o sobrado é conhecido pela população. Hoje o prédio foi vendido para a Rede de Farmácias São João e  foi todo reformado.

FONTE: Guia Histórico de Rio Pardo, Dante de Laytano
              Arquivo Histórico Municipal-Memória Viva


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

RIO PARDO EM 1845 (1)

A Comissão nomeada por Vossas Senhorias para investigar que melhoramentos materiais precisa o Município, a fim de Vossas Senhorias poderem dar satisfação cabal do ofício de Sua Excelência o Senhor Presidente datado em 15 do passado, tem-se entregado com íntimo prazer às diligências precisas, e, convenientemente habilitada, ela vem hoje apresentar o resultado dos seus trabalhos. Da sua narração verão Vossas Senhorias pouco teve que agregar dos apontamentos que alguns dos seus membros, antigos Vereadores da Câmara transacta[1], consignaram em ofício de 6 de fevereiro de 1843 do mesmo Excelentíssimo Presidente da Província e na ata que empossou Vossas Senhorias.
O município, Senhores, se acha numa decadência espantosa. Os nove anos da finada luta não passaram vãmente sobre a nossa terra. Numerosas ruínas, fortunas devastadas o atestam de qualquer parte. Mas o Rio Pardo possui  para fortuna uma população morigerada e trabalhadeira, e meios naturais de rápido fomento. Muitos dos nossos Distritos eminentemente agrícolas, não carecem senão de medidas que os encorajem, e sobretudo de vias de trânsito e comunicação, para fazer com a sua riqueza, a riqueza geral do Município. Vede ai, Senhores, por que o primeiro olhar da Comissão virou-se para as nossas estradas, e as águas que as retalham. No seu entender, pois, os caminhos que cruzam desta Vila para Santo Amaro, e as costas do Taquari e Faxinais da Serra, devem merecer uma atenção especial e sérios cuidados de concerto. Ainda não estamos em estado de empreender estradas levadas a perfeição européia ou dos Estados Unidos, a Comissão conhece-o e sente-o palpavelmente, porém, Senhores, estradas próprias para os nossos carros e carretas, estradas que facilitem a extração do milho, da mandioca, e de outras produções desta interessante porção do Município são muito praticáveis, e só por grande desleixo poderá alguém reputá-las impossíveis. Nesse trânsito é verdade que se precisam várias pontes; os arroios do João Rodrigues, do Diogo Trilha e do Couto; mas essas pontes, Senhores Vereadores, são de construção fácil e singela. Em presença de necessidades urgentes e vitais o que nos cumpre é ver de remediá-las sem aspirar ao monumento, sem almejar construções grandiosas que mais ser vem de alimento a pequena vaidade de bairro, do que às verdadeiras precisões do povo, para quem, e para que somente, devemos ocupar-nos.
De ordinário a mais diminuta estrutura se reveste aos nossos olhos de proporções tão grandes, e por tanto de tais dificuldades, que afinal a deficiência de nossos meios nos faz cair em desalento, e à força de querer muito, concluímos por ficar sem nada. Não obstante, ninguém pense que a Comissão aconselha no interesse de uma mal entendida economia, essas construções efêmeras que só prestam para dar uma nomeada imerecida ao zelo dos que as empreendem, e cuja tênue duração torna-as nulas para o proveito daqueles em cujo serviço se dizem empreendidas. Esses arroios de pequeno caudal na sua maior parte, próximos ou cobertos de matas suficientes, dão muitas facilidades para se lhes lançar pontes sólidas, e cômodas, e de longa duração. A maior parte até de pedra podiam recebê-las sem causar maiores dispêndios, e um exame profissional, a Comissão confia que confirmaria estas ideias. Além disso tais empresas trazem consigo a sua recompensa, um ligeiro tributo de passagem ressarciria em pouco tempo o seu importe, e os Cofres Provinciais  ficariam quites por um simples adiantamento dos seus fundos. Isto, dado que não se julgasse preferível arrematar a empresa, ou que, caso impossível, não se achasse concorrência suficiente para elas. De todas estas pontes, porém, as do Couto primeiramente, e depois a do Diogo Trilha são da maior necessidade, e mesmo as mais custosas. A do Couto necessita trabalhos de esgotamento e uma calçada para a vargem deste lado, intransitável em ocasiões de chuvas, e a do Trilha iguais trabalho e talvez mais uma ponte para o Lagoão que desta banda impede o trajeto mais obstinadamente ainda do que o mesmo arroio. A Comissão reduz-se a fazer apontamentos; nem se acha habilitada, nem fez exames suficientes; nem tão pouco foi nomeada para indicar o melhor modo de se conseguir essas obras. Talvez uma mudança de local, uma nova linha, um pequeno círculo, bastem a remover ou diminuir as dificuldades que se antolham à primeira vista, e aumentar as vantagens e proporções que já para as construir existem.
Referências:
Documento avulso nº 5 (Caixa Nº 46 – Documentos Avulsos – 1845) do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo
OBSERVAÇÃO: Documento transcrito com ajustes ortográficos.



[1] Que já passou