UM OFFICIO PEDINDO PROVIDÊNCIAS, PARA IMPEDIR UMA EPIDEMIA
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Conselho da Câmara 1811 Rua Andrade Neves |
Nesta Cidade foi nomeada uma Comissão pela Câmara Municipal
para emitir o seu parecer a cerca das providencias a tomar, a fim de
conservar o asseio da Cidade, e povoações conforme as
atuais circunstancias, para prevenir a invasão da epidemia, que
infelizmente reina em algumas províncias do Norte do
Império, vem submeter a consideração da Câmara o que lhe parece mais urgente,
em atenção aos meios disponíveis de que a Câmara Municipal pode
lançar mão . A Comissão entende que com base nas Posturas
Municipais, para evitar, não só o aparecimento da epidemia de cólera morbus que
flagela parte do Império, que lavem roupas, acima da Ponte do Rio Pardo, em ambas as margens, e proibindo-se tomar água
do JacUY. carroças que abastecem a Cidade as quais
deverão prover-se dela no Rio Pardo acima da Ponte, compreendendo também
esta proibição, as escravas que carregam água em barris.
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As lavadeiras no rio Pardo |
A Comissão entende que a Câmara para fiscalizar o cumprimento de
suas posturas relativas ao asseio de saúde dos habitantes da Cidade e do
Município não deve descansar só no zelo dos seus empregados subalternos, também
deve empenhar o zelo e esforços dos empregados da polícia, e não deixar por
considerações pessoas de fazer visitas domiciliares, para inspecionar o asseio
do interior das casas, pátios, áreas e quintais, se a Câmara Municipal, tivesse
meios em que pudesse rasgar a rua que segue do canto da Rua Direita e soteia de Jose Walter a
calçada que conduz á rampa do Jacuy, e pudesse por esse lado dar
esgoto as águas que entretem e conservam um charco lodoso em frente ao Quartel
do Destacamento, seria o parecer da Comissão que por ahi se encaminhassem as
águas, ainda que fosse nesse lugar dada maior largura afastando o
paredão para dentro dos terrenos, para maior cômodo dos carros que
transitam e que necessitam atravessar a Ladeira para mais facilmente
subirem. Mas atendendo-a Comissão que muito demorará ainda esta obra, não
obstante os meios que para realizá-las ministre S. Exca. O Sr. Presidente da
Província, lembra a Comissão um meio pronto e que lhe parece eficaz
para enxugar o lodaçal da
Rua Direita, com o que se evitará o desenvolvimento de
miasmas, e exalações pestilentos, que muito bem podem infeccionar o Quartel,
em que se acham aglomerados as praças do destacamento, o meio que julga dever
em pregar-se é a abertura de um valo na parte inferir do paredão que toma a
entrada do Beco da Pascoinha na Rua
Direita, e na parte superior pela Rua Direita seguindo da Praça da
Matriz
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Rua Direita- Ladeira hoje, Igreja Matriz e a praça |
pelo lado do passeio ao correr do muro da propriedade do Marechal Gaspar
Menna Barreto, cortando-se um rego que profunde gradualmente até os bueiros do
paredão, em modo que os descubra todas, para por eles descerem as águas e
escoarem pelo valo, que as dirige para o Beco da Pascoinha. A existência de
outro charco no terreno do canto do referido Beco e Rua da Ponte, parece
contrariar a opinião da Comissão, de esgotar-se por esse lado as águas do
lodaçal da Rua Direita, mas desde que se refletir na facilidade de se dar
escoamento á esse charco, rebaixando-se a calçada que atravessa a Rua da Ponte
na frente desse Beco, a objeção desaparece. Os quintais das casas da rua da
Ponte com frente ao Oeste cumpre serem esgotados da água estagnada que neles se
conserva, e o meio está na maior profundidade que devem ter os regos ou canos
de escoamento dela para o córrego do referido Beco.
Com pouco trabalho, e dispêndio que a Comissão não pode
calcular, e menos indicar, a humidade da Rua do Açougue, pode muito diminuir,
esgotando-se parte da água que a humedece pela travessa do Açougue á Rua
Direita suportando uma fiada de pedra, ou rampa e a terra para não ser escavada
pela água, no fundo do terreno do finado Cirurgião Vicente se pode
aproveitar o córrego de escoamento ahi existente, fazendo conseguir
por meio de encanamento, ou de valos á um cano, que nessa altura atravesse a
Rua do Açougue e sobra da água da Cisterna Pública , e a que mana da
coxilha, e casa do Major Antonio Prudente da Fonseca, que deverá ser
considerado á dar livre esgoto as águas que humedecer o seu prédio, cumprindo
com a obrigação que lhe impõem as posturas municipais, com o que muito
melhorará a Praça da Matriz,
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Praça da Matriz, hoje |
encharcada também pela humidade que conserva a
sombra da casa arruinada de Orlando Coelho da Silva, que deve ser compelido á
reparar o prédio, ou aliás demoli-lo para evitar o foco de miasmas que a
comissão observou nessa casa arruinada... ( Este officio continua...)
Obs. Rua Direita é a mesma Rua da Ladeira e hoje é a Júlio de Castilhos, calçada com pedras irregulares por volta de 1813.
FONTE: Registros Gerais da Câmara - RG nº 50 p. 299/302, 1855. AHMRP Neuza Quadros, 2020
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