Manuel de Araújo – que ao apelido de família
acrescentaria, mais tarde, o nome Porto Alegre – nasceu no município de Rio
Pardo, em 29 de novembro de 1806. Era filho legítimo do português Francisco
José de Araújo, negociante, aqui na província, de fazendas e trigo, e de
Francisca Antônia Vianna, nascida em Viamão.
Aos cinco anos perde o pai. Sua mãe, precisada de
apoio moral e material, torna a casar-se. José Teixeira de Macedo, padrasto do
pequeno Manuel, certo de seus deveres, manda, sem perda de tempo, instruir o
enteado. Este corresponde mostrando diligência nos estudos. Uma única vez
gazeia. Falta à escola para apreciar a ornamentação da cidade, que a Câmara de
Porto Alegre mandara levar a efeito, com o fim de comemorar o nascimento do
Príncipe da Beira.
Está o menino com nada mais de doze anos, morre-lhe
o padrasto. Ao atingir os 16 – concluídos os estudos mais necessários – passa a
interessar-se pelo ofício de relojoeiro. Mas não é sua vocação. A natureza, com
seus motivos pitorescos e pinturescos, e a pintura exercem enorme fascínio
sobre sua alma de adolescente. Informando-se em livros rudimentares e
apreciando os artistas que surgem na província, vai se iniciando, primária,
deficientissimamente na matéria de seu gosto.
Por tal ocasião, toma o primeiro contato com a
cenografia. Num teatrinho particular, onde também representa, começa a
trabalhar em cenários. Aflige-se por não atinar com a maneira de dar
profundidade às cenas, representar as coisas ao longe e por desconhecer outros
pequenos segredos do “métier”. Persistente, curioso, chega, afinal, ao domínio
completo das leis da perspectiva e projeção.
Por esta época tem conhecimento da existência da
“Missão Artística Francesa”, que atua no Rio de Janeiro. Deseja muito ver a
coisa de perto. Falta-lhe, porém, ânimo para abandonar a mãe viúva, em busca de
conveniência sua.
Acontece-lhe, entretanto, um incidente que lhe
traria um novo rumo à vida. Lembra-se o jovem Manuel – isto lá por 1826 – de
organizar um concurso para saber qual a moça mais feia da cidade de Porto
Alegre. Ele próprio dá seu voto à filha de um figurão da terra. Queixa-se o pai
insultado ao governador. Este pretende castigar o atrevido e faz com que o
incluam na lista dos recrutados para os Dragões de Rio Pardo. Com mais boa
sorte que juízo, encontra-se o jovem desmiolado com o Visconde de Castro, irmão
da Marquesa de Santos, homem de elevada influência política, para cujo
prestígio apela. Ordena, sem demora, o poderoso senhor a baixa do recruta.
A atmosfera hostil, entretanto, poderia permanecer.
Por tal motivo, parte o rapaz para o Rio. Conhece e se faz aluno de Jean
Baptiste Debret (1768 – 1848), discípulo do famoso Jacques Louis David (1748 –
1825), pintor predileto de Napoleão Bonaparte. Cria-se logo uma amizade, que o
tempo solidificaria, entre Debret e Araújo.
Em 1829, em nome de seu mestre, consegue Porto
Alegre uma licença de José Clemente Pereira para uma exposição pública da
Academia de Belas Artes. Nesta, expõe, também, o rio-pardense, que é triplicemente
premiado: pintura, arquitetura e escultura.
Mas não se limita o nosso homem ao aprimoramento
nas artes. Frequenta os primeiros anos da Escola Militar, estuda filosofia,
anatomia e fisiologia. Inteligência ativa e interessada em setores múltiplos do
conhecimento humano, poderíamos chama-lo de um pequeno Leonardo.
Acha-se, por esta altura, otimamente relacionado. É
amigo dos bispos do Rio de Janeiro, Diamantina e Maranhão, dos irmãos Andrada,
de Evaristo da Veiga e até de Sua Majestade Imperial, cujo retrato pinta.
Promete-lhe o monarca leva-lo à Europa, onde o fará conhecer membros de sua
família e lhe facilitará novos estudos. Com o “7 de Abril”, porém, desfazem-se
os sonhos. Araújo não esquece, contudo, as considerações recebidas de Sua
Majestade. Assim é que em homenagem ao primeiro Pedro, mantém-se fiel ao
segundo.
A sonhada visita ao Velho Mundo há de lhe ser
proporcionada por Debret. Em julho de 1831, acompanhado do francês, parte para
a Europa. Em Paris, recebe aulas do Barão de Gross. Entre altos e baixos de
seus recursos financeiros, excursiona por onde pode, levando sempre que pode,
seu amigo Gonçalves de Magalhães. Com ele e Torres Homem, funda a revista
“Niterói”. Faz conhecimento com diversas figuras de alto conceito no cenário da
cultura europeia. Mantém proveitosa amizade com o enorme Visconde de Almeida
Garret.
REFERÊNCIA: Catálogo e Programa das Comemorações do
Sesquicentenário do Nascimento de
MANUEL DE ARAUJO PORTO ALEGRE BARÃO DE SANTO ÂNGELO), com notas biográficas de
José Julio Barros. Porto Alegre/Rio Pardo, novembro de 1956.
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