quarta-feira, 2 de outubro de 2019

NICOLAU DREYS DESCREVE O COMÉRCIO EM RIO PARDO NO SÉCULO XIX


Em sua viagem pela Província do Rio Grande de São Pedro do Sul, Nicolau Dreys, comerciante francês que se radicou no Brasil, escreveu o livro ”Notícia descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul” publicado em 1839.
De sua passagem por Rio Pardo, falou sobre a produção de alimentos, o comércio e o transporte:

“A vila do Rio Pardo está longe de desfrutar a fartura que se observa em Porto Alegre; os trabalhos agrícolas de seus próprios cidadãos, ou de seus vizinhos satisfazem uma parte de sua precisões, mas em geral ela recebe de Porto Alegre, além das fazendas e de todos os mais produtos da indústria europeia, os víveres, que lhe faltam, maiormente os vinhos, os espíritos, os açúcares, e todos os mais gêneros alimentícios que o território  não fornece, menos talvez por falta de propriedade do que por insuficiência de trabalhadores; o trânsito dos objetos importados efetua-se pelo rio Jacuí, por meio de canoas bastante grandes, e às vezes maiores que alguns dos iates que navegam no Rio Grande e nas Lagoas. As mesmas embarcações carregam, na volta, os efeitos, com os quais Rio Pardo paga uma parte das importações, e entre eles figura a erva mate
geralmente de boa qualidade, verdadeira congonha, procedida, como já o temos notado, da mesma serrania que produz a erva do Paraguai. Todavia, essa navegação, que é sem perigo, não é sem inconvenientes, sendo o maior deles a necessária lentidão com que a canoa navega na ida para o Rio Pardo, obrigada, como está, a vencer a correnteza do rio, agarrando-se penosamente os marinheiros, quando lhes falta o vento, às árvores que crescem pelas margens, e isso quando a navegação é praticável, o que, segundo nossas indicações antecedentes, não acontece em toda a extensão do ano por causa da seca que deixa surgir as cachoeiras acima do nível das águas; nestas ocasiões a navegação fica reduzida a algumas canoas pequenas de voga, as quais anda mais ligeiras com menos dificuldades, mas cuja capacidade não chega, às vezes, para livrar totalmente o Rio Pardo de privações momentâneas.
As expedições de Porto Alegre para o Rio Pardo são tanto mais importantes, que a vila de Rio Pardo é uma espécie de depósito, donde as fazendas seguem para as povoações mais afastadas ao Sul e a Oeste, a navegação cessa ordinariamente, e em todos os tempos, para as canoas de carga, no Rio Pardo, e daí continua o transporte por terra até o Ibicuí-Guaçu, e mesmo até o Arapeí de um lado, e até o Uruguai de outro lado, por meio de carros grandes puxados por três, quatro e mais juntas de bois. É desse modo, e por esse caminho, que penetram no vasto território das Missões quase todas as fazendas, gêneros comestíveis e líquidos, que ali se consomem; é de presumir que uma parte dos mesmos efeitos se ponham em concorrência pelo Uruguai: porém, há de ser forçosamente uma quantidade muito diminuta, vista a extraordinária dilação da viagem e as despesas consecutivas a que tem de ocorrer o importador.”



REFERÊNCIA:
DREYS, Nicolau. Notícia Descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul. 4ª ed. Porto Alegre: Nova Dimensão/EDIPUCRS, 1990. p. 70-71.

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