Uma Testemunha da história
Em 1954, o jornalista Francisco J. Frantz realizou uma
entrevista com Inácia Garcia de Souza, popularmente conhecida como Tia
Inácia. Ela estava, então, prestes a
comemorar o seu 129º aniversário. Morava em uma humilde choupana na periferia
da cidade de Santa Cruz do Sul.
Tia Inácia nascera em
Rio Pardo em 24 de junho de 1825. Durante boa parte de sua vida havia sido
escrava. Contou ao jornalista que a maioria de seus senhores havia sido bons
com ela, nada tendo que se queixar deles. Lembrava especialmente de dona
Jacintha, uma boa senhora que havia deixado uma valiosa fazenda para usufruto
de seus escravos e descendentes.
Mas as histórias sobre a escravidão não paravam por aí. Ela
contou que também existiam senhores ruins com os seus cativos. Referiu-se a um
velho Mathias, proprietário de muitos escravos, que inclusive teria morrido de
raiva com a notícia da lei de libertação.
Relatou, ainda que os malcriados, morenos ou pretos, eram punidos com
enforcamento no chamado “Pau da Bandeira”, onde estava construída a forca. “Com
a corda no pescoço eram obrigados a cantar para dar respeito ao povo que
assistia aos enforcamentos. Eu mesmo assisti a dois enforcamentos, mas não
gostava disso porque era judiaria. Os condenados eram obrigados a cantar”. E
Tia Inácia cantou:
Quem tiver filhos
Que lhes dê educação
Para depois não darem
Dor no coração.
Se a minha mãe me
desse surra
Quando merecia
Hoje não estaria
Nesta agonia.
Sexta – feira
Hora de missa
Aperta carrasco
Para entregar à justiça.
Na hora do “aperta carrasco”, este pulava nas costa do
condenado decretando o seu rápido fim.
FONTE: 200 ANOS - Uma Luz para a História do Rio Grande nº 12, 2009, AHMRP.
Tia Inácia- foto de jornal |