quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

HISTÓRICO DO MUNICÍPIO

Os primeiros habitantes europeus de Rio Pardo foram padres jesuítas espanhóis, que por volta de 1633 implantaram em seu território três reduções: Jesus Maria (1633), São Joaquim (1633) e São Cristóvão (1634). A partir de 1636 todas elas foram arrasadas pelos bandeirantes e a região ficou novamente abandonada por quase cem anos.
Em meados do século XVIII, colonizadores portugueses começaram a sair da Vila de Laguna e muitos se dirigiram ao continente de São Pedro do Rio Grande, a procura de jazidas minerais e lugares seguros para futuras povoações.
Após o Tratado de Madri (1750), a necessidade de traçar o novo limite entre terras de Portugal e Espanha na América, fez surgir vários acampamentos militares e fortes no Rio Grande do Sul. Em 1751 existia, em um passo sobre o Rio Pardo, pouco acima de sua foz no Rio Jacuí, uma guarda portuguesa de 60 homens, sob o comando do Tenente dos Dragões Francisco Pinto Bandeira. Nas proximidades deste local, no atual alto da Fortaleza, foi iniciada a construção do Forte Jesus Maria José (1752), quartel-general e depósito de munições e víveres de Gomes Freire de Andrade, comandante das tropas portuguesas de demarcação.
Portanto, a cidade nasceu numa colina, junto à confluência dos rios Jacuí e Pardo, que serviam de barreira natural, em ótima posição estratégica que tornou a Fortaleza obstáculo intransponível às investidas espanholas provenientes do rio da Prata.
EVOLUÇÃO DA CIDADE
Criada por necessidade estritamente militar, a cidade de Rio Pardo manteve esta característica até 1754. Os únicos civis eram familiares dos soldados, em pequeno número. A população era flutuante, visto ser a região ponto de partida para expedições militares de demarcação. Em 1754 a situação começou a mudar com a chegada de casais açorianos, que aglutinaram-se entre os arroios Couto e Diogo Trilha, na Rua Velha, próximo a um destacamento dos dragões, e aos poucos espalharam-se, formando os povoados de Ramiz Galvão, Rincão Del Rei, Capivarita, João Rodrigues, São José do Taquari e Nossa Senhora da Conceição de Cachoeira. A população passou a ser fixa, instalando-se em ranchos de barro, no terreno do antigo quartel. O comércio supria as necessidades das tropas em marcha.
Os colonos açorianos influenciaram a vida urbana de Rio Pardo e a sua atividade econômica. Sua vinda e o término das invasões espanholas mudaram, aos poucos, o aspecto predominantemente militar, que foi dando lugar à característica comercial, a ponto de em 1787 a região ser uma das principais produtoras de trigo e, em 1820, o trigo e o couro predominarem no movimento de exportação do porto da cidade.
Simultaneamente, conforme a população crescia, Rio Pardo foi se estendendo, subindo colina acima no sentido norte, pela atual rua Júlio de Castilhos (Ladeira). Alcançada esta crista, a cidade passou a se desenvolver na extensão da mesma, no sentido da atual rua General Andrade Neves.
Entre 1819 e 1820, Saint-Hilaire assim descrevia a cidade: “Sobre a crista de elevada colina, corre a principal rua, ficando as demais nos flancos dessa e de outras colinas adjacentes. A maior parte das ruas não se comunicam diretamente umas com as outras; por assim dizer, não passam de grupos de casas, atiradas aqui e ali, entremeadas de gramados, terrenos baldios e de cercados plantados com laranjeiras: conjunto variado e agradável a vista. A praça pública é pequena. A igreja paroquial forma um de seus lados e não está ainda acabada, o mesmo acontecendo a duas outras pequenas igrejas existentes na cidade (...). A rua principal é, em parte calçada e as demais ainda não o são.”
Anos mais tarde outro viajante, Arsène Isabelle, visitou e descreveu nossa cidade: “Ocupavam-se do calçamento e alinhamento das ruas; as novas teem cômodas calçadas. Há três igrejas construídas no mesmo plano de todas as do Brasil, quer dizer, com muita simplicidade. Rio Pardo conta 5 a 6 mil habitantes; o número das casas parecia comportar mais; mas não há comumente senão uma só família em cada casa, o que dá muita extensão à cidade. O comércio é próspero, porque este ponto é o armazém de abastecimento das cidades e vilas do norte e oeste; dali partem continuamente tropas de mulas e carretas para todas as povoações do interior. As comunicações com Porto Alegre são muito rápidas; o transporte de mercadorias pesadas é feito por barcos de coberta, com vinte toneladas; as mercadorias leves e de pequeno volume, e os viajantes são transportados em grandes pirogas armadas em barcos.”
Em 8 de maio de 1769 foi criada a Freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo. Neste ano, seu imenso território compreendia desde a margem direita do rio Taquari até a fronteira e tinha por limite, ao sul, o rio Jacuí. Com esta divisão, a Vila de Rio Pardo passou a ser ponto de comércio intenso, que dela se irradiava para a serra do noroeste, o Uruguai e as coxilhas do sul (Caçapava, Cachoeira e São Gabriel). Sua economia baseava-se no comércio, na produção agro-pecuária e na exploração da cal.
Em 1846, Rio Pardo foi elevada à condição de cidade. Continuava o desenvolvimento entre o porto do Jacuí e as duas saídas terrestres, uma a leste (para Santa Cruz, colônia alemão ali fundada em 1848) e a outra ao norte (para Cachoeira).
Melhoramentos nas ruas, posturas municipais adequadas, ruas e casas emplacadas, a existência da Escola Militar e a de linha fluvial regular, mantiveram o grau de progresso até cerca de 1865.
Posteriormente, vários fatos se somaram e influíram desfavoravelmente: uma epidemia de cólera-morbus, a perda da Escola Militar e o progresso cada vez maior de Santa Cruz; mas o fator culminante se deu com a inauguração em 1885 da ferrovia Porto Alegre – Santa Maria.
Esta ferrovia terminou com o transporte fluvial que trazia a carga de Porto Alegre para ser escoada por carretas e carroças das regiões circunvizinhas, e tirou da cidade a função de “porto de pouso” dos viajantes que se dirigiam para a serra e a campanha. No traçado urbano, este fato influiu no sentido de danificar a ligação porto-centro ativo no alto-estação ferroviária. Mas a vida da cidade passou a estagnar.
Rio Pardo hoje é uma cidade de tradição histórica, por sua participação em vários fatos importantes da formação portuguesa do Rio Grande do Sul, da qual dão testemunho muitos prédios antigos, de primorosa arquitetura. Este é um aspecto pouco explorado, que poderia dar ótimos resultados econômicos se o turismo fosse organizado.


REFERÊNCIA: PANATIERI, Raimundo Tarantino. Estudos preliminares sobre o “Sobrado do seu Cazuca”. Rio Pardo: Movimento Preservacionista S.O.S. – Rio Pardo, 1988. (Não publicado). 

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