Os primeiros
habitantes europeus de Rio Pardo foram padres jesuítas espanhóis, que por volta
de 1633 implantaram em seu território três reduções: Jesus Maria (1633), São
Joaquim (1633) e São Cristóvão (1634). A partir de 1636 todas elas foram
arrasadas pelos bandeirantes e a região ficou novamente abandonada por quase
cem anos.
Em meados do
século XVIII, colonizadores portugueses começaram a sair da Vila de Laguna e
muitos se dirigiram ao continente de São Pedro do Rio Grande, a procura de
jazidas minerais e lugares seguros para futuras povoações.
Após o
Tratado de Madri (1750), a necessidade de traçar o novo limite entre terras de
Portugal e Espanha na América, fez surgir vários acampamentos militares e
fortes no Rio Grande do Sul. Em 1751 existia, em um passo sobre o Rio Pardo,
pouco acima de sua foz no Rio Jacuí, uma guarda portuguesa de 60 homens, sob o
comando do Tenente dos Dragões Francisco Pinto Bandeira. Nas proximidades deste
local, no atual alto da Fortaleza, foi iniciada a construção do Forte Jesus
Maria José (1752), quartel-general e depósito de munições e víveres de Gomes
Freire de Andrade, comandante das tropas portuguesas de demarcação.
Portanto, a
cidade nasceu numa colina, junto à confluência dos rios Jacuí e Pardo, que
serviam de barreira natural, em ótima posição estratégica que tornou a
Fortaleza obstáculo intransponível às investidas espanholas provenientes do rio
da Prata.
EVOLUÇÃO
DA CIDADE
Criada por
necessidade estritamente militar, a cidade de Rio Pardo manteve esta
característica até 1754. Os únicos civis eram familiares dos soldados, em
pequeno número. A população era flutuante, visto ser a região ponto de partida
para expedições militares de demarcação. Em 1754 a situação começou a mudar com
a chegada de casais açorianos, que aglutinaram-se entre os arroios Couto e
Diogo Trilha, na Rua Velha, próximo a um destacamento dos dragões, e aos poucos
espalharam-se, formando os povoados de Ramiz Galvão, Rincão Del Rei,
Capivarita, João Rodrigues, São José do Taquari e Nossa Senhora da Conceição de
Cachoeira. A população passou a ser fixa, instalando-se em ranchos de barro, no
terreno do antigo quartel. O comércio supria as necessidades das tropas em
marcha.
Os colonos
açorianos influenciaram a vida urbana de Rio Pardo e a sua atividade econômica.
Sua vinda e o término das invasões espanholas mudaram, aos poucos, o aspecto
predominantemente militar, que foi dando lugar à característica comercial, a
ponto de em 1787 a região ser uma das principais produtoras de trigo e, em
1820, o trigo e o couro predominarem no movimento de exportação do porto da
cidade.
Simultaneamente,
conforme a população crescia, Rio Pardo foi se estendendo, subindo colina acima
no sentido norte, pela atual rua Júlio de Castilhos (Ladeira). Alcançada esta
crista, a cidade passou a se desenvolver na extensão da mesma, no sentido da
atual rua General Andrade Neves.
Entre 1819 e
1820, Saint-Hilaire assim descrevia a cidade: “Sobre a crista de elevada
colina, corre a principal rua, ficando as demais nos flancos dessa e de outras
colinas adjacentes. A maior parte das ruas não se comunicam diretamente umas
com as outras; por assim dizer, não passam de grupos de casas, atiradas aqui e
ali, entremeadas de gramados, terrenos baldios e de cercados plantados com
laranjeiras: conjunto variado e agradável a vista. A praça pública é pequena. A
igreja paroquial forma um de seus lados e não está ainda acabada, o mesmo
acontecendo a duas outras pequenas igrejas existentes na cidade (...). A rua
principal é, em parte calçada e as demais ainda não o são.”
Anos mais tarde
outro viajante, Arsène Isabelle, visitou e descreveu nossa cidade: “Ocupavam-se
do calçamento e alinhamento das ruas; as novas teem cômodas calçadas. Há três
igrejas construídas no mesmo plano de todas as do Brasil, quer dizer, com muita
simplicidade. Rio Pardo conta 5 a 6 mil habitantes; o número das casas parecia
comportar mais; mas não há comumente senão uma só família em cada casa, o que
dá muita extensão à cidade. O comércio é próspero, porque este ponto é o
armazém de abastecimento das cidades e vilas do norte e oeste; dali partem
continuamente tropas de mulas e carretas para todas as povoações do interior.
As comunicações com Porto Alegre são muito rápidas; o transporte de mercadorias
pesadas é feito por barcos de coberta, com vinte toneladas; as mercadorias
leves e de pequeno volume, e os viajantes são transportados em grandes pirogas
armadas em barcos.”
Em 8 de maio
de 1769 foi criada a Freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo. Neste
ano, seu imenso território compreendia desde a margem direita do rio Taquari
até a fronteira e tinha por limite, ao sul, o rio Jacuí. Com esta divisão, a
Vila de Rio Pardo passou a ser ponto de comércio intenso, que dela se irradiava
para a serra do noroeste, o Uruguai e as coxilhas do sul (Caçapava, Cachoeira e
São Gabriel). Sua economia baseava-se no comércio, na produção agro-pecuária e
na exploração da cal.
Em 1846, Rio
Pardo foi elevada à condição de cidade. Continuava o desenvolvimento entre o
porto do Jacuí e as duas saídas terrestres, uma a leste (para Santa Cruz,
colônia alemão ali fundada em 1848) e a outra ao norte (para Cachoeira).
Melhoramentos
nas ruas, posturas municipais adequadas, ruas e casas emplacadas, a existência
da Escola Militar e a de linha fluvial regular, mantiveram o grau de progresso
até cerca de 1865.
Posteriormente,
vários fatos se somaram e influíram desfavoravelmente: uma epidemia de
cólera-morbus, a perda da Escola Militar e o progresso cada vez maior de Santa
Cruz; mas o fator culminante se deu com a inauguração em 1885 da ferrovia Porto
Alegre – Santa Maria.
Esta
ferrovia terminou com o transporte fluvial que trazia a carga de Porto Alegre
para ser escoada por carretas e carroças das regiões circunvizinhas, e tirou da
cidade a função de “porto de pouso” dos viajantes que se dirigiam para a serra
e a campanha. No traçado urbano, este fato influiu no sentido de danificar a
ligação porto-centro ativo no alto-estação ferroviária. Mas a vida da cidade
passou a estagnar.
Rio Pardo
hoje é uma cidade de tradição histórica, por sua participação em vários fatos
importantes da formação portuguesa do Rio Grande do Sul, da qual dão testemunho
muitos prédios antigos, de primorosa arquitetura. Este é um aspecto pouco
explorado, que poderia dar ótimos resultados econômicos se o turismo fosse
organizado.
REFERÊNCIA:
PANATIERI, Raimundo Tarantino. Estudos preliminares sobre o “Sobrado do seu
Cazuca”. Rio Pardo: Movimento Preservacionista S.O.S. – Rio Pardo, 1988. (Não
publicado).