sábado, 30 de abril de 2016

5 – MENDANHA APÓS A RETOMADA IMPERIALISTA DE RIO PARDO
                Logo depois do Combate do Rio Pardo foi a banda de Mendanha incorporada, ainda que contra a vontade dele, ao Exército Republicano. E foi por gratidão ao ato de Neto, permitindo-lhe enterrar o chefe Coronel Lisboa, que Mendanha escreveu a música do Hino Republicano Rio-Grandense.
                A Banda Militar de Mendanha continuou com os republicanos até que, em 1840, num dos derradeiros sítios de Porto Alegre, conseguiu evadir-se e ser aprisionada pelos legalistas imperiais.
                Identificada, depois, ficou Mendanha com sua Banda Militar em Porto Alegre até que, assumindo Caxias a Presidência do Estado e Comando em Chefe das Armas, Mendanha volta à atividade ao lado do imortal Condestável do Império, a quem acompanha pelas mesmas coxilhas, vilas e vilarejos por onde já andara ao lado dos republicanos, até a pacificação do Rio Grande do Sul, a 1º de março de 1845.
                Essa vida agitada e um tanto aventureira do modesto maestro autor do Hino da República Rio-Grandense, é, certamente, a culpada de quase nada mais se conhecer da sua vida e de sua obra. Basta, porém, o hino oficializado como símbolo musical do Rio Grande do Sul, para que fique perpetuado nas páginas eternas de nossa grande História.

FONTE:

Revolução Farroupilha – Walter Spalding – Petroquímica Triunfo, 1987. p. 148-9.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

4 – MENDANHA E O DUQUE DE CAXIAS

A respeito do enterro do Coronel Lisboa, episódio verdadeiramente comovedor, escreveu Caxias em ofício datado de Caçapava, 15 de setembro de 1844, ao Ministro do Império enviando um requerimento de Mendanha:
                “Remetendo a V. Exa. O requerimento do Inspetor Geral de todo o instrumental do exército Joaquim José de Mendanha, cumpre-me informar a V. Exa. Para levar ao conhecimento de S. M. o Imperador, que é verdade tudo quanto alega o suplicante, e que alguns fatos de sua vida militar que o tornam muito recomendável, ele deixou por modéstia de mencionar, sendo um deles o que praticou este insigne mestre de música, no dia 30 de abril de 1838 no desastroso combate do Rio Pardo, em que ele, abandonando os instrumentos de sua profissão, logo que principiou o combate, armou a todos os seus companheiros e com eles combateu ao lado do seu digno e bravo chefe o Coronel Guilherme José Lisboa, até que tendo sucumbido o dito coronel, e decidindo-se a vitória por parte dos rebeldes, quando os oficiais e soldados tinham acabado de entregar as suas armas e que estavam sendo insultados pelos rebeldes os cadáveres dos oficiais do Exército Imperial que jaziam sobre o campo do combate, ele teve a audácia de se dirigir diretamente ao general rebelde, e de lhe pedir licença para enterrar o seu chefe, com todas as honras fúnebres que correspondiam a sua patente e valor, e foi tal o desembaraço com que isto praticou que os mesmos rebeldes, como admirados, de tanta audácia, consentiram, ele com sua banda de música, e a sua custa fez o enterro de seu chefe com todas as formalidades da Igreja, e conservando-se ainda por mais de um ano prisioneiro, sem que nunca quisesse, como os mais tomar o serviço rebelde, teve a constância de desenterrar os ossos de seu chefe, e deles não se esquecer no momento em que foi resgatado pelas forças imperiais, na mesma Vila do Rio Pardo. Este procedimento, a sua ilibada conduta civil e militar, seus atos de valor em todas as ocasiões de perigo, e seus longos serviços de campanha, unido a um talento pouco vulgar para composições de músicas, o tem tornado digno da estimação de todo o exército.” (Barão de Caxias).

FONTE:
Revolução Farroupilha – Walter Spalding – Petroquímica Triunfo, 1987. p. 148-9.



domingo, 17 de abril de 2016

3 – MENDANHA E O GENERAL NETO

                Rio Pardo estava ocupada pelas forças imperiais sob o comando do Marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto e do Brigadeiro Francisco Xavier da Cunha. Figuravam, também, entre estas forças oito companhias do 1º Batalhão de Caçadores, dois corpos de cavalaria, um esquadrão independente, três peças de artilharia e cinqüenta praças de infantaria, o depois Brigadeiro Bonifácio Isás  Calderon e o depois Barão do Triunfo José Joaquim de Andrade Neves. Na madrugada de 30 de abril de 1839 foram atacados, não de surpresa, pois já tinham conhecimento da marcha dos farroupilhas, e completamente derrotados.  As tropas farroupilhas compunham-se das forças de João Antônio Silveira, David Canabarro e Antônio de Souza Neto, que assumira o comando em chefe da operação.
                Ao final do combate, ficaram em campo 370 mortos, a maioria imperiais, muitos feridos e grande número de prisioneiros. Segundo Coruja Rilho, entre estes, estava “o pardo Joaquim José de Mendanha, chefe da banda de música dos imperialistas que, tendo conseguido fugir, foi preso pelo Capitão Prudêncio.
Mendanha foi apresentado com toda a banda de música ao General Neto. O valente chefe republicano declarou ao mestre de música e aos seus companheiros que podiam ficar tranqüilos, pois nada sofreriam. Animado com o acolhimento do General Neto, Mendanha deu um passo à frente e disse que desejava pedir-lhe um favor.
- O que queres, retrucou Neto.
- Saberá V. Exa. – respondeu Mendanha -, que no combate faleceu o bravo coronel mineiro,
Guilherme José Lisboa. Esse herói poderia salvar sua vida, pois que os republicanos o intimaram a que se rendesse, que nada lhe aconteceria. Ele assim não quis, e, ainda mesmo depois de ter sido ferido por bala e lança, continuou a pelejar. Afinal morreu e lá está o seu corpo atirado atrás da igreja... Queria enterrá-lo – concluiu Mendanha, comovido.
- É justo o seu pedido – disse Neto, e imediatamente deu providências nesse sentido.
Horas depois, o Coronel Lisboa era enterrado, e junto à sepultura apresentaram-se Neto e
todos os oficiais superiores do Exército Republicano, que assim vinham prestar uma homenagem ao soldado inimigo que soubera morrer com honra. Esse fato me foi referido por um dos raros sobrevivente do combate do Rio Pardo, o velho Chico Pedro, hoje empregado dos prados da Capital.”[1]

FONTE:  
Revolução Farroupilha – Walter Spalding – Petroquímica Triunfo, 1987. p. 147-8.



[1] CORUJA FILHO, Dr. Debatião Leão. Datas rio-grandenses. Divisão de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Globo, 1962. P. 108.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

2 – A COMPOSIÇÃO DA MÚSICA DO HINO RIO-GRANDENSE

                É bem curiosa a história da composição desse Hino da República Rio-Grandense (Revolução Farroupilha), escrito por Mendanha, sendo prisioneiro e monarquista. Foi composto semanas após o combate do Rio Pardo, em que fora preso com sua banda. Há, entretanto, quem diga ter esse hino sido posterior, e que o primeiro composto foi o Hino de Rio Pardo, que o mesmo farroupilha José Gabriel Teixeira teria conservado e tocado muitas vezes em festividades levadas a efeito em Rio Pardo. O que entretanto se sabe ao certo, é que foi pela primeira vez executado em público, como Hino da República, em 1839, conforme se lê no órgão oficial da República, nº 46, de 6 de março daquele ano: “No dia 24 (de fevereiro) as cinco horas da tarde, o Exmo. Presidente, acompanhado do seu Estado-Maior e das autoridades locais foi reunir-se ao Governo para assim fazer sua entrada solene na vila, o que efetuou depois de ter cumprimentado a S. Exa. O Sr. Ministro da Fazenda, os Magistrados e mais empregados de todas as repartições. Vinha escoltando o Trem de Guerra e o Material das Oficinas públicas, uma força das três armas comandada pelo valoroso Tenente-Coronel Moraes. A banda militar dirigida pelo hábil Professor Mendanha a precedia tocando o Hino Nacional.” Várias letras foram escritas para ele: uma de Serafim de Alencastre; outra de Francisco Pinto da Fontoura, poeta popular conhecido por Chiquinho da Vovó que viveu até a República e impingiu a sua letra como a oficial do hino, e finalmente a letra oficial, que não é nenhuma das duas, mas um arranjo com partes de uma e de outra, publicado em O Povo, nº 63, de 4 de maio de 1839, e em que relata a realização de um grande baile, aberto com a execução e canto do Hino Nacional, que reproduz integralmente, antes de reproduzir esta letra. Parece que esta foi a primeira vez que o hino foi publicamente cantado. Diz a notícia: “Antes que elas (as danças) principiassem, postos de pé em torno do Pavilhão, todos os cidadãos e senhoras convidados, cantou-se, acompanhado da Música, o Hino da Nação.”
                Foi esta música, por se ter conservado, que deu celebridade a Joaquim José de Mendanha. Não fosse isso, em virtude de sua modéstia, talvez jamais seu nome fosse recordado pois tudo quanto compôs se perdeu ou perdeu sua identidade ao cair em domínio público, passando para o campo do folclore. Será que um dia conseguiremos identificar alguma composição de Mendanha em nosso rico folclore?

FONTE:
Revolução Farroupilha – Walter Spalding – Petroquímica Triunfo, 1987. p.146-7.



sábado, 9 de abril de 2016




O COMBATE DO RIO PARDO E O HINO RIO-GRANDENSE

                No próximo dia 30 completam-se 178 anos do Combate do Rio Pardo, quando forças republicanas derrotaram os imperialistas em Rio Pardo. Em decorrência do ocorrido nesse dia, a música do Hino Rio-Grandense foi composta em Rio Pardo. Em homenagem a esse fato histórico, segue-se uma série de 5 pequenos textos que juntos apresentam a versão de Walter Spalding sobre os fatos.
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1 – JOAQUIM JOSÉ DE MENDANHA      

                Joaquim José de Mendanha era filho de escravos, mas nasceu liberto em Diamantina, no ano de 1800. Sentou praça no 2º Batalhão de caçadores em 1822. Fez no mesmo batalhão a campanha de Pernambuco e a do Rio Grande do Sul de 1827 a 1829, tempo em que concluiu a guerra e obteve a escusa do serviço. Entretanto, tornou a engajar-se como mestre de música do mesmo batalhão. Nesta qualidade, marchando para a Bahia, ali persistiu até 1831 e em seu regresso à Corte, dissolvido o Corpo em consequência dos movimentos políticos, não podendo empregar-se na sua profissão como militar, seguiu para Pernambuco. Aí, após vários contratempos, conseguiu engajar-se no Corpo de Permanentes, durante dois anos. Regressando à Corte, foi admitido como músico da Capela Imperial e em seguida marchou com o 2º Batalhão de Caçadores para o Rio Grande do Sul, onde permaneceu o resto de sua vida.
                Com a revolução, acompanhou o exército legal ao campo da luta e no Combate de Rio Pardo, ocorrido a 30 de abril de 1838, foram aprisionados ele e todos os componentes da banda. Liberto novamente, em 1840, voltou ao exército legal e quando Caxias, em 1842, assumiu a Presidência da Província e o Comando em Chefe das Armas, designou-o para organizar a Banda de Música que deveria ir buscar a esposa de D. Pedro II.
                Mendanha faleceu em Porto Alegre, a 2 de setembro de 1885. Modesto, muito simples, espírito profundamente liberal embora imperialista, não casou. Sua vida resumiu-se à sua atividade musical, mesmo não tendo sido um grande músico, ficando no meio termo entre um grande compositor e um compositor medíocre. Deixou diversas composições sacras e profanas, mas que se perderam. Dele somente se salvou, e graças ao rio-pardense José Gabriel Teixeira, do Rio Pardo, que pertenceu às hostes farroupilhas e conheceu e conviveu com Mendanha, a música do Hino da República Rio-Grandense, depois oficializado como Hino do Estado. Não é uma peça rica, mas delicada e vibrante como devem ser os hinos.

FONTE:
Revolução Farroupilha – Walter Spalding – Petroquímica Triunfo, 1987. p. 144-6.

terça-feira, 5 de abril de 2016

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PIONEIRO DA APICULTURA

“FREDERICO AUGUSTO HANEMANN - O palpitante e futuroso evento da história da Apicultura em Rio Pardo, na empolgante pesquisa inicial sobre a vida e a obra da extraordinária personalidade de pioneiro que foi Frederico Augusto Hanemann, na Picada do Mel, entre os arroios Cabral e Passo da Areia, onde se estabeleceu desde que aqui chegou, no longínquo ano de 1853, com apenas duas colmeias de palha, de suas abelhinhas pretas, domésticas, alemãs, as “Abelhas Européias Cárnicas”, da espécie Apis Mellifera, fundando, após, um estabelecimento modelar de Apicultura, a que denominou de Fazenda Abelina, o único em todo o território Nacional, tornando-se por isso “O Pai da Abelha no Brasil”, no testemunho dos Apicultores e Cientistas paulistas, Dom Amaro Van Emelen, o meigo monge das abelhas, Arthur Tank Bergmann e Amadeu Barbiellini que, como tal, o homenagearam através de publicação Apícola de 1919.
Frederico Augusto Hanemann foi um imigrante de nacionalidade alemã, que, como outros agricultores, veio participar da florescente colonização de São Leopoldo. Contava com 34 anos de idade quando aqui chegou, acompanhado de sua esposa Frederica Guilhermina e uma filha nascida a bordo do navio à vela e em pleno mar, dando-lhe por isso, o nome de Cosmopolitina. O navio levou três meses para chegar a Porto Alegre.
Provinha do Reino da Saxônia e foi o primeiro que chegou ao Brasil com a finalidade de se dedicar à criação de ABELHAS, por métodos racionalizados e mais modernos da época.
Não se agradando das condições naturais da região dos Sinos, para a sua especialidade, subiu de lancha o rio Jacuí, fixando-se em Rio Pardo.
O local escolhido de matas e campestres em uma área de 180 hectares, nele, em 1868, fundou o Estabelecimento Apícola que denominou “Fazenda Abelina”.
Apresentou muitas práticas e inventos para o melhoramento e o desenvolvimento da Apicultura no país, destacando-se a primeira máquina centrífuga na América, destinada para extração do mel e aproveitamento dos favos - gaiolas para rainha - caixas gigantes, controle de rainhas e de enxames, etc.
Difundiu a abelha e o sistema racional para todo o Brasil, e para alguns na América do Sul.
Possuindo cultura científica e literária, seus relatórios e artigos descrevendo a aclimatização, as excepcionais vantagens e produção das abelhas em Rio Pardo, relativamente as da Europa, para revistas especializadas da Alemanha e da Áustria e para as Associações Científicas, revolucionou a apicultura europeia e atraiu muitos dos seus compatriotas, entre eles, o notável Prof. Emílio Schenk.
A Fazenda Abelina para os rio-pardenses e outros habitantes de outros municípios que com suas Carretas no intenso tráfico Comercial então existente, ali pousavam ou sesteavam, por ser, o transito para Serra, Missões ou Fronteira, era um verdadeiro Paraíso terrestre, um confortável Paradouro como se diria hoje.
A população rio-pardense, quase toda, aos domingos, nas mais variadas conduções, passavam o dia nos alegres Piqueniques, saboreando suculentos churrascos, cafés com cucas e milho-broto com néctar das abelhas e os saborosos VINHOS por ele elaborados, tanto de uva como de mel, este uma espécie de champangna que denominava Hidro mel. Também valsas e polcas eram dançadas ao bom gosto germânico, pois tanto Hanemann como os filhos executavam instrumentos musicais.”

FONTE:
Revista, O Apicultor. Porto Alegre: Sulina, 1968.
Disponível no Arquivo Histórico Municipal Biágio Soares Tarantino de Rio Pardo, RS.