LEONIDA LIMA FRANTZ
Nasceu em Capivarita, distrito de Rio Pardo em vinte e oito
de setembro de mil novecentos e dez.(28/09/1910)
Filha de Antonio Augusto Frantz e de Olímpia de Lima Frantz.
Aos oito anos, veio morar na cidade com a família e estudou na Escola Ernesto
Alves.
Quando criança, sua brincadeira predileta era “aulinha” e
seus alunos eram pauzinhos fincados no chão. Foi uma criança alegre e criativa.
Terminado o primário, estudou na antiga Escola Normal de
Porto Alegre, então a única escola normal do estado. Chamava-se Colégio dos
Anjos, em regime de internato dirigido por freiras, onde hoje é o Instituto de
Educação Emilio Mayer.
Formou-se aos 18 anos e iniciou no Magistério em Caçapava do
Sul, no Grupo Escolar da cidade, contratada pelo estado. Lá esteve por nove
anos.
Retornando para Rio Pardo foi designada para o Grupo Escolar
Ramiz Galvão, onde foi à primeira diretora.
Posteriormente, lecionou na Escola Ernesto Alves, como
alfabetizadora. Fez parte do Grupo de professoras na criação do curso normal.
Também lecionava no INSTITUTO EDUCACIONAL DE MENORES (ABRIGO
DE MENORES), de 1º ao 5º ano. Além dos conteúdos de aula, ela ensinava o
catecismo e, nas tardes de sábado, trabalhava na “Pequena Oficina”, organizada
por ela em uma sala do prédio. Os meninos trabalhavam com marcenaria e recebiam
encomendas de “chiqueirinhos” para as crianças e placas de anúncios e com o
dinheiro, compravam mais materiais.
Com o trabalho na horta, além de ensinar o cultivo de terra,
ela iniciava o estudo do sistema métrico, calculando as medidas de áreas.
Este trabalho com os meninos teve um valor muito
significativo em sua vida, pois através dele, eles se sentiam valorizados. Este
trabalho também significava um resgate da cidadania destes meninos na formação
humana. Muitos deles eram órfãos ou estavam em situação de abandono e então a
professora era uma referencia de carinho, de disciplina e de incentivo.
Sua maior paixão foi à alfabetização e a natureza... Criou seu
próprio método e seus alunos logo aprendiam a ler, escrever e calcular.
O método consistia em uma história que se passava numa
chácara, com muito verde, laguinho, animais de estimação como a macaca sapeca,
o cachorrinho Totó, a vaca Malhada, patinhos, galinhas, cavalos, entre outros.
Os personagens principais eram o menino Bibi e a menina
Zazá, que moravam na chácara. Também tinha o aviador que passava largando
cartinhas.
A história era toda desenhada no quadro com giz colorido. As
crianças se envolviam com a história e, cada dia, chegavam em casa contando as
novidades que aprendiam brincando. Eram alfabetizadas em pouco tempo.
Muitos de seus alunos ainda lembram com carinho daquela
época.
Mais tarde, depois de aposentada, adquiriu sua morada no
bairro Boa Vista, exatamente como sempre sonhara ... uma linda casinha, lagoa
com patinhos e com canoa, um campinho, balanço, horta, pomar, jardim, pertinho
do Aeroclube...
Seu cantinho era uma
mistura de encanto e magia...
Sua casa tinha vida! Estava sempre cheia de crianças... Nos
domingos as pessoas costumavam visitá-la, para passar momentos agradáveis junto
a natureza e para ouvir histórias, contadas por ela.
Leonida, ou tia Nida, está presente na memória de muita
gente...
Era uma mulher forte, correta, determinada, criativa,
alegre, solidária, religiosa, idealista, e, acima de tudo, ousada para sua
época. Conquistou espaços, levantou bandeiras, viveu intensamente.
Costumava repetir uma frase: “Quem não vive para servir, não
serve para viver”. E, em sua vida, serviu de exemplo e modelo para muitos.
Na comunidade da Boa Vista, atuou ativamente, participando
voluntariamente de diversas obras assistenciais, culturais e religiosas. Foi vereadora
nos anos de 1960 a 1963 em Rio Pardo
Fundou o CTG Flor da Querência; participou do MASA-
Movimento Assistencial Santo Amaro; catequista por muitos anos; fundou o
Apostolado da Oração; Era voluntária a no CEBEM; Organizou campanhas
assistenciais aos flagelados de enchentes; Participou ativamente da Pastoral da
Saúde; Integrou o Clube de Mães Joana D’Arc.
Para ela o estudo, a cultura e o trabalho eram valores
essenciais.
No inicio dos anos 50, chegava a pagar taxi para que seus
sobrinhos e vizinhança que moravam no Morro das Pedras, pudessem vir estudar na
cidade.
Incentivava os estudos a acolhida em sua casa meninas e
moças do interior que “paravam” com ela para estudar.
Nos aniversários de sobrinhos e vizinhos, costumava
presentear com coleções de livros, que eram deixados na estante de sua sala
para que todos pudessem ler e pesquisar.
Em sua casa, mais particularmente em sua sala, tinha um
tapete de couro peludo, umas almofadas,
uma cadeira de balanço, uma estante com discos de vinil, uma eletrola, livros,
gavetas com fotos antigas...
E ali tia Nida, reunia crianças e jovens para ouvir músicas,
recitar poesias, contar histórias e anedotas, olhar fotos... Oferecendo um
delicioso suco com bolo.
Este tempo de coisas
simples e puras fizeram a diferença na vida de muitas crianças. E a história
vai se perpetuando... Pois estas vivências são contadas de pai para filho,
através das gerações.
Entender, relembrar e respeitar o passado, valorizando o
presente, são formas de construir um futuro com sabedoria.
FONTES: História oral, relatados por
Claudia D’Avila Melo - Sobrinha neta - 28 setembro de 2019. AHMRP