CIDADE DE
RIO PARDO, 29 de abril de 1821 – Acompanhado do Sargento-mor José Joaquim
de Figueiredo Neves e de seu irmão, o Capitão Tomás Aquino de Figueiredo Neves,
tirei o dia de hoje para fazer várias visitas. Apresentaram-me primeiro na casa
do Tenente-General Patrício José Correia da Câmara, que outrora serviu na Índia
e há muitos anos comanda nesta parte da província, onde nasceu. Apesar de quase
centenário, esse velho militar demonstra juízo e vivacidade.
Da casa
dele fomos à de seu filho, o Marechal Bento Correia da Câmara, que fez carreira
muito rápida devido à proteção do Ministro Tomás Antônio de Vilanova Portugal.
Enfim,
achei que deveria visitar o Marechal João de Deus Mena Barreto, um dos
primeiros comandantes da província das Missões, hoje Inspetor-geral das tropas
desta capitania.
Em toda
parte se falou muito dos últimos acontecimentos. Todos estão contentes de
possuir uma Constituição; prontos a lhe jurar fidelidade, embora não esteja
ainda feita; mas ninguém mostra o menor entusiasmo. Quanto ao que se passou em
Porto Alegre, riem-se disto como se fosse uma brincadeira inconsequente. Não me
canso de admirar a calma com que essa gente faz revoluções.
CIDADE DE
RIO PARDO, 30 DE ABRIL DE 1821 – Pode-se ir por terra daqui a Porto Alegre,
mas como é preciso, para isto, atravessar todos os rios que se lançam diante
desta cidade no Guaíba, resolvi embarcar aqui e vender meus bois, carroça e
cavalos; tive grande prejuízo sobre o preço da compra, no entanto devo ainda me
felicitar por sair de Montevidéu com uma carroça de minha propriedade, pois até
as Missões não teria encontrado uma para alugar e isso pelo menos me haveria de
custar infinitamente mais do que o prejuízo acarretado pela sua venda. O que me
impediu de tirar melhor partido da transação foi o fato de ser a carroça de
ingá, madeira aqui somente empregada como lenha; enquanto é usada em
construções em Montevidéu, onde as madeiras são extremamente raras.
As
índias dizem que se entregam aos homens de sua raça por dever, aos brancos por
interesses e aos negros por prazer.
VILA DE RIO
PARDO, 1º de maio de 1821 – Os dois mineiros a quem estou recomendado
tomaram informações para saber quando partiria daqui algum barco para Porto
Alegre; sabendo que havia um a ser carregado por esses dias, fui ter como o
Capitão-Mor, Tomás Aquino, em casa do Tenente-General Patrício, a fim de
pedir-lhe que ordenasse ao patrão desse barco receber-me com a minha bagagem e
meu pessoal. Isso é uma espécie de direito preferencial, concedido aos oficiais
e cidadãos comissionados pelo governo.
REFERÊNCIA
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: Martins Livreiro Editora, 1997. p. 360-361.
Nenhum comentário:
Postar um comentário