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Comunidade Quilombola Rincão dos Negros, ou
Rincão dos Pretos, ou Quilombo de Arroio das Pedras interior de Rio Pardo!
Aqui, a nossa maior riqueza é a terra, a terra que faz brotar o alimento do
corpo e da alma. Aqui no Rincão se faz história, aqui a gente canta, a gente
dança, a gente ora, rezamos a Nossa Senhora, que de uma Bela Cruz Imaculada
salvou um povo, aqueles ancestrais dos Prudêncio, dos Souza, de Percília e
Mantoca, há, guerreiros deste lugar. Aqui a gente respira lembranças, heranças
de 87 Irmãos, de uma querida Amiga Jacinta, de uma Cruz, de uma árvore
centenária, de uma oração de uma Abolição, de onde tudo começou! ” O Rincão dos
Negros fica localizado em Arroio das Pedras, interior de Rio Pardo RS. Trata-se
de um Quilombo reconhecido pela Fundação Palmares e conhecido nacionalmente
pela grandeza de sua História.
Rio Pardo tem um Quilombo único no Brasil, onde
temos duas Igrejas Católicas da mesma Padroeira Nossa Senhora da Conceição,
ambas separadas, a dos Brancos e a dos Negros. Conta a história, que uma
fazendeira solteira e sem filhos, chamada Jacinta Souza era dona de todo
rincão, isso na época da escravatura no Brasil. Ela tinha como característica o
bom trato com seus 87 escravos. A Fazendeira antes de morrer alforriou-os e fez
a doação de suas terras para eles. Ela ensinou seus ex. escravos a rezar e
estudar a Bíblia Católica todos os dias no rincão, debaixo de uma imponente
Árvore que até hoje permanece no local. No local foi construída uma Cruz de
madeira, onde os escravos continuaram rezando após a morte de sua Sinhá,
iniciaram a construção da Capela de Nossa Senhora da Bela Cruz, a “Igreja dos
Negros! O Quilombo Rincão dos Negros vivenciou várias guerras e batalhas entre
os descendentes dos escravos e alguns familiares da Fazendeira Jacinta Souza,
além de outros poderosos do local.
O Objetivo sempre foi defender suas terras e
para os Brancos o principal objetivo era tomar posse das terras que
possivelmente seriam dos Negros. Foram anos de disputa, de sangue derramado, de
muita dor e mortes que marcaram esta faze da história do Rincão dos Negros. A
Luta, a resistência e a coragem dos afros descendentes prevaleceram e até hoje
prevalece no corpo e na alma dos Filhos do Rincão dos Negros.
Hoje somos
pequenos agricultores, homens e mulheres que lutam diariamente pela
sobrevivência, com um diferencial que nos distancia dos nossos ancestrais,
hoje, somos instruídos, temos inteligência e capacidade física e intelectual
para nos defender de toda e qualquer forma de agressão, preconceito ou desrespeito.
Somos nós os Pretos filhos do Rincão, somos nós os Negros Quilombolas de Rio
Pardo.
Hoje a Comunidade é composta por 40 famílias Quilombolas. São na maioria
pequenos agricultores, os mais jovens continuam migrando para a cidade de Rio
Pardo e cidades vizinhas em busca de trabalho e renda. A Festa de Nossa Senhora
da Imaculada Conceição permanece aguçando a fé e a religiosidade católica dos
Negros e dos Brancos do Rincão de Arroio das Pedras.
OBS: Teoricamente, hoje as
Igrejas são abertas ao público de todas as raças e etnias. Não existe
proibição, nem existe mais separação por cor da pele no Rincão dos Negros. As
Igrejas ambas têm suas diretorias e suas agendas de eventos. NA PRÁTICA: Devido
ao histórico de lutas, batalhas, discriminação, cerca e divisão de áreas, ficou
entranhado enraizado na cultura de ambas as partes a separação ! Hoje os Negros
continuam cuidando da sua Capela, realizando os seus eventos separadamente dos
brancos. “Não é proibido, mas nós, negros não ficamos à vontade em estar na Igreja
dos Brancos, a história é muito presente e até hoje os negros do Rincão ouvem
ofensas, passam por constrangimentos, são arrebatados por olhares que
amedrontam por alguns. Mas existe o respeito, a tentativa de cada um viver no
seu espaço respeitando o espaço do outro. Mas a Divisão continua, agora por
vontade própria !
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