Cotidiano nos povoados e vilas da mineração colonial (MG, MT e GO)
Informações sobre o
Brasil Colônia que ajudam a entender como os fatos aconteceram em Rio Pardo
seguindo os padrões portugueses.
A VILA
Os
portugueses tinham uma forma própria de organizar a ocupação das terras
brasileiras na época colonial. Na região de mineração, por exemplo, o traçado inicial
dos povoados que se formavam era constituído por ruas tortuosas e exigiam a
construção de uma capela, em torno da qual eram construídas as casas dos
moradores. Em frente à capela era reservado um espaço que seria muito
importante, pois além de permitir possíveis ampliações do templo seria também
importante local para encontro dos habitantes.
No
início da sua formação, a maioria das ruas era de terra batida. Apenas as ruas
mais importantes, como aquela que levava à igreja matriz, e que era chamada de “Rua
Direita”, recebia calçamento, feito com pedras extraídas na região.
Quando o
povoado crescia e era elevado à condição de vila, era providenciado o seu
centro administrativo, onde ficaria a Casa de Câmara e Cadeia. Na frente deste
prédio devia-se erguer um pelourinho, a partir do qual media-se o tamanho do
território no entorno da vila e que servia também para o anúncio dos editais da
Câmara, das normas da Coroa, das sentenças dos condenados e da execução de
castigos impostos a escravos infratores.
AS CASAS
Os
habitantes não eram proprietários dos terrenos onde construíam suas casas: eles
eram propriedade da Coroa portuguesa e seu uso era administrado pela Câmara,
que devia cobrar um imposto pelo seu uso.
As casas
eram construídas bem próximas umas das outras e no alinhamento da rua. A parede
da frente da casa era o limite entre a rua e o terreno. As janelas eram
protegidas por duas folhas de madeira, para proteger os habitantes das
intempéries e dos ladrões: vidros eram privilégio de poucos!
A porta
da frente das casas dava para uma sala, onde eram recebidas as visitas e
aconteciam os saraus e festas. Se o dono da casa fosse um comerciante, essa
parte poderia ser uma loja. Os quartos de dormir, os locais das refeições e de
outras necessidades da vida doméstica eram privativos da família. Havia um tipo
de quarto de dormir que não possuía janelas, para evitar que os ventos
trouxessem doenças e preservar a intimidade das mulheres. As moças de boa
família não podiam ser vistas em casa por estranhos, nem andar sozinhas pelas
ruas. Nos fundos da casa ficavam as dependências reservadas aos serviços
domésticos (cozinha, despensa) e a saída para o quintal, onde poderia haver uma
pequena horta e áreas destinadas à criação de porcos e galinhas.
As casas
dos mais ricos eram sobrados de dois ou três andares. O primeiro andar podia ser uma loja, ter um
espaço fechado reservado para a senzala, uma cocheira para os animais, ou um
depósito de alimentos; nos andares superiores, sala, quartos e demais salas
íntimas. Não havia banheiro, usava-se um urinol, levado por um escravo para os
fundos, onde era despejado num grande barril, que chamavam de “tigre”, que era esvaziado
por um escravo quando ficava cheio em lugar determinado da vila. Não havia água
encanada. Para o banho, um escravo buscava água nos chafarizes da vila, enchia um
barril limpo do quintal, jarros e bacias dos quartos, em cima de móveis
próprios. A pessoa se lavava com uma esponja, secando-se com uma toalha. A água
suja e demais dejetos do banho eram despejados pelo escravo no “tigre”.
São
interessantes os detalhes de uma cozinha no século XVIII: carne seca, banha de
porco dentro de um barril para conservar carnes frescas, lenha, panelas de
ferro, barro ou pedra penduradas acima do braseiro. O chão era de terra batida,
apenas os mais ricos o revestiam com madeira. A comida era servida em vasilhas
de madeira e consumida com as mãos, usando apenas uma faca.
Os
móveis de uma casa eram poucos: uma mesa com cadeiras ou bancos, baús para
guardar roupas e outros objetos pessoais. Poucos usavam cama: a maioria da
população dormia em redes ou esteiras no chão.
REFERÊNCIA
ANDRIOLO, Arley. Viver e morar no século XVIII –
O cotidiano nos povoados e vilas da mineração colonial. São Paulo: Editora
Saraiva, 1999. Coleção Que História é essa? p. 23-31.
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