Recebemos
do Diretor do Museu do Estado, prof. Dante da Laytano, a seguinte carta:
“Senhor
Diretor do DIÁRIO DE NOTÍCIAS – Cumprimentos.
Tive
ontem o prazer de ler a esplêndida edição de aniversário do DIÁRIO DE NOTÍCIAS
onde, infelizmente, encontrei a transcrição de um parecer negando a existência
do “Regimento de Dragões do Rio Pardo”, o que não está de acordo com a verdade
histórica.
Quando
da publicidade da citada opinião contra o Diretor do Museu do Estado,
permiti-me, noutros termos, dizer mais ou menos o seguinte:
1º - Fui
convidado pela cidade de Rio Pardo para presidir a Comissão de Comemorações do
Bicentenário do “Regimento dos Dragões de Rio Pardo” e, portanto, se alguém deu
fato por consumado, evidentemente que não foi eu. Apenas me limitei aceitar tão
honroso encargo. Porque estou firme em acreditar na existência do “Regimento de
Dragões de Rio Pardo”.
2º -
Aurélio Porto escreveu, como sempre, magistral estudo – “O Regimento de Dragões
do Rio Pardo na Expansão Geográfica do Rio Grande do Sul” (Revista do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, III e IV Trimestres do ano VI). As
afirmações do mestre devem ser respeitadas;
3º -
Historiadores militares do Rio Grande do Sul, tais como os Generais Paula Cidade,
Borges Fortes, De Paranhos Antunes e os tenentes-coronéis João de Deus Noronha Mena Barreto e Rêgo
Monteiro (Diretor do Arquivo do Exército), além de muitos outros, referem-se
tacitamente em todas as passagens e oportunidades da crônica de nossos feitos
ao “Regimento de Dragões do Rio Pardo”;
4º - Os
historiadores civis do Rio Grande do Sul aludem as obras e vitórias do
“Regimento de Dragões do Rio Pardo”.
5º -
Coube ao Sr. Biagio Tarantino, diretor do Museu do Rio Pardo, defender a
verdade, fazendo triunfar os fatos, dando à histórica e invicta cidade,
fronteira colonial do século XVIII e capital provisória da Capitania de São
Pedro, mais um título que lhe cabe: sede do “regimento de Dragões do Rio
Pardo”, durante quase um século.
Pois,
ignorando-se que a tradição faz a própria história e que se o Regimento não era
do Rio Pardo, lá esteve aquartelado mais de oitenta (80) anos, o que é
respeitável acontecimento.
Bem, nas
“Coleções das Leis do Império do Brasil”, volume I, tomo correspondente de 1822
a 1825, à página 400, figura o Decreto de 1º de dezembro de 1824, que dá nova
denominação às forças do Exército Brasileiro.
O que se
lê? Simplesmente isto: que a antiga denominação de “Regimento de Dragões do Rio
Pardo” será substituída pelo novo nome – 3º Regimento de Cavalaria Ligeira.
O
decreto é assinado por S.M. D. Pedro I e pelo seu Ministro da Guerra,
Brigadeiro João Vieira de Carvalho.
Se o
Regimento de Dragões do Rio Pardo nunca teve o nome de Regimento de Dragões do
Rio Pardo, por que o Imperador e alta patente do Exército de após a
independência, na redação de um decreto oficial, chamam ao Regimento da cidade
histórica, de Regimento de Dragões do Rio Pardo?
Concluindo,
resumo os argumentos que mostram a existência dos Dragões de Rio Pardo: a)
argumentos baseados nos textos dos historiadores gaúchos (com pouquíssimas
exceções); b) argumentos baseados na pesquisa, com o caso de Aurélio Pôrto e De
Paranhos Antunes; c) argumentos baseados na tradição, pois não é possível
desprezar perto de um século de existência no Rio Pardo de um regimento de
cavalaria; d) argumentos baseados em documentos oficiais, nos quais se pode
consubstanciar a lei achada por Walter Spalding e divulgada por Biágio
Tarantino (Decreto Imperial de 1º XII 1824).
Queira
aceitar, Sr. Diretor, as minhas felicitações pelo aniversário do DIÁRIO DE
NOTÍCIAS, aliás, ocorrido a 1º de março, o meu reconhecimento pela publicação
destacada de um capítulo de minha monografia que está na Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro e a minha gratidão por permitir que eu
defenda as tradições da ilustre cidade do Rio Pardo. (a) DANTE DE LAYTANO
(Diretor do Museu do Estado e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande
do Sul).
Referência: Recorte original do jornal “Diário de
Notícias” de 2 de abril de 1957, sem indicação de página.
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