segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O CADETE E SUA VIDA ANEDÓTICA

                                              
Tenente Francisco de Paula Cidade, foi aluno da Escola Militar em Rio Pardo, viveu várias histórias, boas e não tão boas, muitas memórias que não conseguiu apaga-las e escreveu livro contando muitas das condições precárias, difíceis e maus tratos nas escolas militares do Sul e do Brasil.
O cadete passou de Portugal ao Brasil com as mesmas facécias, com os mesmos costumes, mediante simples adaptação. Lá deve ter sido o espadachim, o guitarrista; aqui foi o tocador de violão o cantador de modinhas, o metidiço à capoeira... Filhos eram de oficiais, de nobres e de gente endinheirada, conforme o seu grau, em regra superiormente alfabetizados, chegavam rapidamente a sargentos, mas podiam, como se viu, ser apenas soldados rasos, se isso lhes conviesse. Terríveis conquistadores, muitos vícios, não gostavam muito de pagar as lavadeiras, mas sabiam morrer agarrados aos panos da Bandeira de seu corpo de tropas. Muitas saudades deixaram os cadetes...
... Na Velha cidade rio-grandense de Rio Pardo existiu, antes de lá ir à Escola Preparatória e de Tática, uma Escola de Tiro, que anualmente se enchia de cadetes, que animavam com suas estroinices o ambiente daquele recanto bucólico. Antes da instalação da Escola, Rio Pardo já era atormentada pelos fantasmas. Quem não gostasse de ter maus encontros, era melhor que não saísse à rua em horas mortas. Muito homem valente tomou ali parte em desagradáveis maratonas, por ter-se animado a ficar fora de casa até mais tarde. Ao dobrar a esquina, esbarrava com um cortejo mortuário, quase sempre constituído por um carro de bois, que transportava um caixão de defunto, guiado por um carreteiro de altura descomunal que empunhava um tocheiro que mal bruxuleava. O cidadão corria até entrar em casa, onde, reza a tradição, não devia olhar para a luz, sob pena de perder os sentidos. Parece que o diabo se associava, com seu espírito inventivo, a essas aparições, que tomavam mil aspectos diferentes.
Quando a Escola de Tiro chegou ao Rio Pardo, alguns cadetes pagaram o seu tributo e também correram como quaisquer outros mortais…uma dúzia deles tratou de reagir e de quebrar o encanto…costumava transitar gigantesca, figura humana, branca, vaporosa, arrastando atrás de si enorme cauda, que se estendia pelo chão escuro. O grupo resolveu cercar o fabuloso vulto e conversar com ele... uns levaram cruzes e rezas fortes, mas outros preferiram levar cacetes e outros armas. Pouco antes da meia-noite a hora das almas do outro mundo, segundo as velhas gerações, estavam todos a postos estrategicamente.
De repente, o BRUTO aparece à luz das estrelas, porque a cidade dormia às escuras. Marcha lentamente, como convém a um fantasma de boa qualidade....
Quem vem lá? Alto ou lá vai bala! ...
O fantasma, como que tocado por uma oração forte, detém-se e diminui de altura...continua a minguar e de todos os lados surgem os cadetes mais animosos, que dele se aproximaram. O monstro era de carne e osso. Autêntico comerciante, que desse disfarce se utilizava para poder chegar a um lugar em que queria entrar sem ser visto. A escada de cordas de D. João cedia lugar a um bom par de pernas de pau. O Duende, recebida a sua confissão, foi deixado em paz, mas logo depois as ruas de Rio Pardo não eram mais o teatro de operações de um ou dois fantasmas de verdadeiros bandos deles. É que a moda havia pegado e o sistema deixou de ser privilégio de seus criadores. E os cadetes passaram a explorar largamente a invenção.

FONTE: Cadetes e Alunos Militares Através dos Tempos, Gen. Francisco de Paula Cidade. Biblioteca do Exército, 1961


LENDA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

É conhecida a seguinte narrativa passada de geração em geração, relatada por antigos moradores deste Município.
Na campanha da fixação de fronteiras do Brasil, RIO PARDO, que foi o extremo meridional na época entre 1750 á 1800, sustentou muitas guerra e guerrilhas vitoriosas com inimigo audaz, merecendo por isto, seu baluarte, a alcunha de TRANQUEIRA DO RIO PARDO.
O oficial comandante de um dos postos avançados da Fortaleza, tinha o hábito de, alta madrugada, levantar-se para rezar o Rosário ao ar livre. Em certa ocasião percebeu de leve ruído, muito ao longe, que lhe pareceu tropel de cavalos e tilintar de esporas ou contato de lanças ou espadas. Escutando melhor, teve a confirmação de suas suspeitas, certificando tratar-se de inimigos. Dando com tempo o alarme, pode preparar a resistência, combatendo com denodo e bravura; vencendo, pôz em retirada o inimigo traiçoeiro, graças a piedosa devoção com Maria Santíssima.
Agradecido à Senhora do Rosário, prometera colaborar na construção de um Templo em sua honra, motivo pelo qual relatavam os antigos a mudança da invocação de Freguesia de Santo Ângelo do Rio Pardo para a de NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, padroeira desde então com a construção da nova Matriz em 1769. Esta mudança é confirmada por um documento de lembranças sobre as Igrejas do Rio Pardo, existente no Arquivo Histórico Municipal, em data de 1769, em 8 de Maio, que diz: “JOSÉ ANTONIO DA MOTTA, VIGÁRIO DA VARA E DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE VIAMÃO por faculdade que tenho do Exmo. Revmo. Sr. Frei Antonio do Desterro, Bispo do Rio de Janeiro para rubricar todos os livros da minha Comarca e os mais que se compreendem nas Igrejas de todo o Continente do Rio Grande, Viamão e Rio Pardo; numerei e rubriquei este com a minha rubrica breve “MOTTA”, o que há de servir de Tombo para se lançarem nele com toda a clareza e individuação todos os bens de Fábrica, e outro livro para tão bem se copiarem todas as ordens de S. Exma. Revma. que se remeterem à freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Rio Pardo que algum tempo se intitulava Santo Ângelo, cuja mudança se fez por despacho que vi do dito Exmo. e Revmo. Sr., a instancia dos moradores do dito Rio Pardo.
Por estes motivos e pela grande veneração sempre dedicada pelos rio-pardenses à excelsa Padroeira, suas festas eram feitas na criação do Município, pela Câmara Municipal e posteriormente pelas Irmandades conjuntas do Santíssimo Sacramento e N. S. do Rosário, como provam vários documentos existentes no mesmo Arquivo.
                                                                              Rio Pardo, 3 de Outubro de 1946.
BIAGIO TARANTINO, Diretor do Arquivo Histórico Municipal.
177ª Festa de Nossa Senhora do Rosário, comemorativa do Centenário da elevação de Rio Pardo, á categoria de Cidade, mandado distribuir pelos festeiros:

Antonio F. de Toledo e Odila Pellegrini Wunderlich, em 7 – 10 – 1946.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

EXISTIU O "REGIMENTO DE DRAGÕES DE RIO PARDO" (2)

MINISTÉRIO DO EXÉRCITO
III EXÉRCITO
1ª Divisão de Cavalaria
Regimento “Dragões do Rio Grande” (3º R C)
Of Nº 8-RP/70                                                                            São Luis Gonzaga, RS, em 15 Abr 70

                                                                                                    Do Cmt do Rgt “D R G” (3º R C)
                                                                                                    Ao Sr Prefeito Municipal de Rio Pardo
                                                                                                                                             Assunto:INFORMAÇÃO (presta)                                                                                              
ANEXO: 1 (uma) flâmula.

1. Com referência ao Vosso fonograma de 11 Abr 70, apraz-me informar-vos os dados que dizem respeito à passagem do Regimento “Dragões do Rio Grande” (3º R C), pela cidade de Rio Pardo. Para tal transcrevo o que abaixo segue, tirado do livro histórico do Regimento:
“Mandado organizar junto ao Canal de Rio Grande, pelo Brigadeiro SILVA PAES, a 3 de maio de 1737, em 1752, por ordem de GOMES FREIRE DE ANDRADE, o Regimento deslocou-se para a margem esquerda do Rio Pardo, em sua confluência com o Jacuí, sob o comando de THOMAS LUIZ OSÓRIO. Passou então a ter a denominação de “Dragões do Rio Pardo”. Esta mudança de local foi motivada pela necessidade de apurar os trabalhos das comissões mistas demarcadoras dos limites de 1750, que trocara a Colônia de Sacramento pelas Missões Orientais. Assim, deu origem à atual cidade de Rio Pardo. A 1º de dezembro de 1824, o Regimento “Dragões do Rio Pardo” recebeu, por Decreto, a numeração de 5º Regimento de Cavalaria. Em 1835 o então 5º Regimento de Cavalaria, revolta-se, sob o comando do Tenente MANUEL LUIZ OSÓRIO, por ter aderido à Revolução Farroupilha e, em 1836, por Decreto do Governo, foi o 5º Recebimento de Cavalaria considerado dissolvido. A 30 de novembro de 1852, por Decreto nº 1074, é reorganizado o 5º Regimento de Cavalaria, sendo a sua reorganização efetiva se efetuado a 4 de março de 1854, no Acampamento da Trilha, nas proximidades da cidade de São Gabriel”.
Portanto, o hoje 3º Regimento de Cavalaria (antigo 5º RC), denominado DRAGÕES DO RIO GRANDE. Teve outrora a denominação de “DRAGÕES DO RIO PARDO” e foi em torno do seu aquartelamento que surgiu essa histórica comuna. Aí teve sua sede, segundo nosso registro histórico, de 1752 a 1856.

2. Aproveito a oportunidade para apresentar os meus votos de elevada estima e distinta consideração.

                                                                                                                             (Assinado)
                                                                                        JORGE DUARTE ESCOSTEGUY – Ten Cel -
                                                                                              Cmt do Rgt “D R G” (3º R C )      



Referência: Fotocópia grampeada junto a recorte do Diário de Notícias de 2 de abril de 1957, sem indicação de página

EXISTIU O “REGIMENTO DE DRAGÕES DO RIO PARDO”

Recebemos do Diretor do Museu do Estado, prof. Dante da Laytano, a seguinte carta:
Senhor Diretor do DIÁRIO DE NOTÍCIAS – Cumprimentos.
Tive ontem o prazer de ler a esplêndida edição de aniversário do DIÁRIO DE NOTÍCIAS onde, infelizmente, encontrei a transcrição de um parecer negando a existência do “Regimento de Dragões do Rio Pardo”, o que não está de acordo com a verdade histórica.
Quando da publicidade da citada opinião contra o Diretor do Museu do Estado, permiti-me, noutros termos, dizer mais ou menos o seguinte:
- Fui convidado pela cidade de Rio Pardo para presidir a Comissão de Comemorações do Bicentenário do “Regimento dos Dragões de Rio Pardo” e, portanto, se alguém deu fato por consumado, evidentemente que não foi eu. Apenas me limitei aceitar tão honroso encargo. Porque estou firme em acreditar na existência do “Regimento de Dragões de Rio Pardo”.
- Aurélio Porto escreveu, como sempre, magistral estudo – “O Regimento de Dragões do Rio Pardo na Expansão Geográfica do Rio Grande do Sul” (Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, III e IV Trimestres do ano VI). As afirmações do mestre devem ser respeitadas;
- Historiadores militares do Rio Grande do Sul, tais como os Generais Paula Cidade, Borges Fortes, De Paranhos Antunes e os tenentes-coronéis   João de Deus Noronha Mena Barreto e Rêgo Monteiro (Diretor do Arquivo do Exército), além de muitos outros, referem-se tacitamente em todas as passagens e oportunidades da crônica de nossos feitos ao “Regimento de Dragões do Rio Pardo”;
- Os historiadores civis do Rio Grande do Sul aludem as obras e vitórias do “Regimento de Dragões do Rio Pardo”.
- Coube ao Sr. Biagio Tarantino, diretor do Museu do Rio Pardo, defender a verdade, fazendo triunfar os fatos, dando à histórica e invicta cidade, fronteira colonial do século XVIII e capital provisória da Capitania de São Pedro, mais um título que lhe cabe: sede do “regimento de Dragões do Rio Pardo”, durante quase um século.
Pois, ignorando-se que a tradição faz a própria história e que se o Regimento não era do Rio Pardo, lá esteve aquartelado mais de oitenta (80) anos, o que é respeitável acontecimento.
Bem, nas “Coleções das Leis do Império do Brasil”, volume I, tomo correspondente de 1822 a 1825, à página 400, figura o Decreto de 1º de dezembro de 1824, que dá nova denominação às forças do Exército Brasileiro.
O que se lê? Simplesmente isto: que a antiga denominação de “Regimento de Dragões do Rio Pardo” será substituída pelo novo nome – 3º Regimento de Cavalaria Ligeira.
O decreto é assinado por S.M. D. Pedro I e pelo seu Ministro da Guerra, Brigadeiro João Vieira de Carvalho.
Se o Regimento de Dragões do Rio Pardo nunca teve o nome de Regimento de Dragões do Rio Pardo, por que o Imperador e alta patente do Exército de após a independência, na redação de um decreto oficial, chamam ao Regimento da cidade histórica, de Regimento de Dragões do Rio Pardo?
Concluindo, resumo os argumentos que mostram a existência dos Dragões de Rio Pardo: a) argumentos baseados nos textos dos historiadores gaúchos (com pouquíssimas exceções); b) argumentos baseados na pesquisa, com o caso de Aurélio Pôrto e De Paranhos Antunes; c) argumentos baseados na tradição, pois não é possível desprezar perto de um século de existência no Rio Pardo de um regimento de cavalaria; d) argumentos baseados em documentos oficiais, nos quais se pode consubstanciar a lei achada por Walter Spalding e divulgada por Biágio Tarantino (Decreto Imperial de 1º XII 1824).
Queira aceitar, Sr. Diretor, as minhas felicitações pelo aniversário do DIÁRIO DE NOTÍCIAS, aliás, ocorrido a 1º de março, o meu reconhecimento pela publicação destacada de um capítulo de minha monografia que está na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a minha gratidão por permitir que eu defenda as tradições da ilustre cidade do Rio Pardo. (a) DANTE DE LAYTANO (Diretor do Museu do Estado e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul).


Referência: Recorte original do jornal “Diário de Notícias” de 2 de abril de 1957, sem indicação de página.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

HISTÓRIA DO CARNAVAL EM RIO PARDO

Um pouco da História do Carnaval em Rio Pardo

Em nossa Cidade existiam duas sociedades culturais rivais, A Sempre Viva e Açucena. Sem nenhum vínculo carnavalesco, mas através destas, que surgiram os primeiros cordões, por volta de 1920.
Sendo extinta as sociedades, integrantes da Açucena formam o Cordão intitulado "Tem Gente Ahi", enquanto a sociedade Sempre Viva, formou o Cordão "Olha o Grupo". Mesmo tendo uma função diferente das sociedades anteriores, seus Cordões herdaram a rivalidade das duas antigas sociedades.
No inicio, os dois cordões pertenciam ao Clube Literário, mas pela rivalidade, logo o"Tem Gente Ahi" desvinculou-se do Clube.
Nos primeiros tempos de folia, não existia carnaval de rua. A única manifestação que havia na rua era o desfile dos cordões, que depois dirigiam-se aos Clubes. 
O nome "Olha o Grupo" se deu, devido a um personagem rio-pardense que andava pela cidade gritando "Olha o Grupo", e alguns rapazes começaram a imitá-lo. Formavam um grupo muito animado e durante os bailes,não só de carnaval, gritavam "Olha o Grupo", sendo tirado daí então o nome do cordão quando foi criado.

FONTE: Projeto de pesquisa SMEC, 1992, Silvia W. Barros.

Cordão que saiu do Clube Literário,  criou uma nova sede a Rua Andrade Neves esquina General Osório

sábado, 3 de fevereiro de 2018

VIVER E MORAR NO SÉCULO XVIII

Cotidiano nos povoados e vilas da mineração colonial (MG, MT e GO)
Informações sobre o Brasil Colônia que ajudam a entender como os fatos aconteceram em Rio Pardo seguindo os padrões portugueses.
A VILA
Os portugueses tinham uma forma própria de organizar a ocupação das terras brasileiras na época colonial. Na região de mineração, por exemplo, o traçado inicial dos povoados que se formavam era constituído por ruas tortuosas e exigiam a construção de uma capela, em torno da qual eram construídas as casas dos moradores. Em frente à capela era reservado um espaço que seria muito importante, pois além de permitir possíveis ampliações do templo seria também importante local para encontro dos habitantes.
No início da sua formação, a maioria das ruas era de terra batida. Apenas as ruas mais importantes, como aquela que levava à igreja matriz, e que era chamada de “Rua Direita”, recebia calçamento, feito com pedras extraídas na região.
Quando o povoado crescia e era elevado à condição de vila, era providenciado o seu centro administrativo, onde ficaria a Casa de Câmara e Cadeia. Na frente deste prédio devia-se erguer um pelourinho, a partir do qual media-se o tamanho do território no entorno da vila e que servia também para o anúncio dos editais da Câmara, das normas da Coroa, das sentenças dos condenados e da execução de castigos impostos a escravos infratores.
AS CASAS
Os habitantes não eram proprietários dos terrenos onde construíam suas casas: eles eram propriedade da Coroa portuguesa e seu uso era administrado pela Câmara, que devia cobrar um imposto pelo seu uso.
As casas eram construídas bem próximas umas das outras e no alinhamento da rua. A parede da frente da casa era o limite entre a rua e o terreno. As janelas eram protegidas por duas folhas de madeira, para proteger os habitantes das intempéries e dos ladrões: vidros eram privilégio de poucos!
A porta da frente das casas dava para uma sala, onde eram recebidas as visitas e aconteciam os saraus e festas. Se o dono da casa fosse um comerciante, essa parte poderia ser uma loja. Os quartos de dormir, os locais das refeições e de outras necessidades da vida doméstica eram privativos da família. Havia um tipo de quarto de dormir que não possuía janelas, para evitar que os ventos trouxessem doenças e preservar a intimidade das mulheres. As moças de boa família não podiam ser vistas em casa por estranhos, nem andar sozinhas pelas ruas. Nos fundos da casa ficavam as dependências reservadas aos serviços domésticos (cozinha, despensa) e a saída para o quintal, onde poderia haver uma pequena horta e áreas destinadas à criação de porcos e galinhas.
As casas dos mais ricos eram sobrados de dois ou três andares.  O primeiro andar podia ser uma loja, ter um espaço fechado reservado para a senzala, uma cocheira para os animais, ou um depósito de alimentos; nos andares superiores, sala, quartos e demais salas íntimas. Não havia banheiro, usava-se um urinol, levado por um escravo para os fundos, onde era despejado num grande barril, que chamavam de “tigre”, que era esvaziado por um escravo quando ficava cheio em lugar determinado da vila. Não havia água encanada. Para o banho, um escravo buscava água nos chafarizes da vila, enchia um barril limpo do quintal, jarros e bacias dos quartos, em cima de móveis próprios. A pessoa se lavava com uma esponja, secando-se com uma toalha. A água suja e demais dejetos do banho eram despejados pelo escravo no “tigre”.
São interessantes os detalhes de uma cozinha no século XVIII: carne seca, banha de porco dentro de um barril para conservar carnes frescas, lenha, panelas de ferro, barro ou pedra penduradas acima do braseiro. O chão era de terra batida, apenas os mais ricos o revestiam com madeira. A comida era servida em vasilhas de madeira e consumida com as mãos, usando apenas uma faca.
Os móveis de uma casa eram poucos: uma mesa com cadeiras ou bancos, baús para guardar roupas e outros objetos pessoais. Poucos usavam cama: a maioria da população dormia em redes ou esteiras no chão.
REFERÊNCIA
ANDRIOLO, Arley. Viver e morar no século XVIII – O cotidiano nos povoados e vilas da mineração colonial. São Paulo: Editora Saraiva, 1999. Coleção Que História é essa? p. 23-31.