quarta-feira, 30 de novembro de 2016

RIO PARDO EM 1940


                 Documento existente no Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo nos mostra como era Rio Pardo naquela época.
                A população urbana era de 11.000 e a rural, 24.412 habitantes, existindo 1.230 prédios na área urbana.
                Ao descrever as ruas, diz que “não têm calçamento, a não ser uma rua que é calçada com pedra irregular, que foi calçada com as pedras do forte de Jesus Maria José, para recepcionar o Imperador D. Pedro II quando de sua passagem por esta cidade em visita à fronteira.” Na verdade, aqui há um erro: a rua citada é a atual Rua Júlio de Castilhos, mais conhecida por Rua da Ladeira, que foi calçada em 1813 e teve seu calçamento recuperado para receber o Imperador D. Pedro II e a Imperatriz Dona Teresa Cristina, que chegaram a Rio Pardo em 1º de Janeiro de 1846[1].
                  A cidade não tinha água encanada nem esgotos, mas já existia luz elétrica desde 1910.
             O atendimento à saúde era ainda precário, havendo muitos casos de tuberculose. Mas a cidade contava com um Posto de Higiene do Estado, inaugurado em 1939, e o Hospital dos Passos.
                Para a instrução pública, tínhamos dois grupos escolares estaduais, uma aula isolada nos subúrbios, um colégio de irmãs com internato e um colégio da Cooperativa dos Funcionários da Viação Férrea. Todas estas escolas juntas tinham 1.650 crianças matriculadas.
             Para sua diversão, a população contava com sete clubes de futebol, quatro sociedades recreativas, uma sociedade de tênis e diversas sociedades de bolão.
                 Nos transportes contávamos com a estrada de ferro, estradas de rodagem ligando Rio Pardo a Santa Cruz do Sul e Encruzilhada do Sul, Cachoeira do Sul, Candelária, Venâncio Aires e General Câmara. O porto do rio Jacuí ainda era ativo, com regular movimento de carga. A zona rural era atendida por ônibus, automóveis e caminhões, e as mercadorias eram, na sua maioria, ainda transportadas em carretas.
                    As indústrias existentes no município eram todas pequenas: engenhos de beneficiamento de arroz, serrarias, ferrarias, tanoarias, oficinas mecânicas, funilaria, olarias, fábrica de bebida sem álcool, fábrica de sabão, fábricas de café, fábrica de salame, padarias e confeitarias, fábrica de bolacha, alfaiatarias, sapatarias, selaria, moinho de farinha de milho, britadeira de granito, fábricas de móveis, caieiras, tipografias, curtume e tamancaria.
                Os administrados informavam ainda: “Rio Pardo está num a situação privilegiada quanto aos meios de comunicação, podendo por isto desenvolver outras indústrias, e achamos que para incrementar e trazer elementos produtores a esta cidade temos necessidade de fazermos o serviço de águas, serviço este que já está sendo projetado pela Secretaria de Obras Públicas.”
                Por fim, uma análise da situação política de Rio Pardo de 1930 até a implantação do Estado Novo em 10 de novembro de 1937:
                “A política dominante em 1930, nesta cidade, era a do Partido Republicano Rio-grandense, cujo chefe local era o Coronel José Antonio Pereira Rego, discordando desta chefia, alguns elementos, haviam formado uma dissidência que se orientara sob as ordens do Coronel Arthur Taurino de Rezende. Outro partido Rio-grandense – Libertador – era chefiado pelo Sr. Hygino Leitão.
                Em 1932 ficaram com o Governo Federal somente os da facção Pereirista, sendo que os dissidentes e Libertadores formaram ao lado dos Constitucionalistas.
            A mudança de regime nesta cidade foi recebida com geral agrado, tanto pelo partido dominante como pelo elemento da Frente Única.
                  O povo, que sempre foi o grande sacrificado nas lutas estéreis dos políticos, aceitou e acata com geral entusiasmo o Estado Novo.
          Auscultando-se as diferentes camadas sociais de nosso povo observa-se que todos compreendem os grandes benefícios advindos com o Estado Novo, e maldizem os regimes passados, que só prometiam e não realizavam.”

REFERÊNCIA:
Códice Geral 239 – 1940, do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo



[1] Ver postagem de 22 de março de 2016.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

BERÇO DA NOBREZA GAÚCHA

Riqueza e luxo marcaram o período de efervescência comercial.
Nesta época, em que as moedas muito tilintavam em Rio Pardo, os sinais de opulência eram evidentes.
Hemetério Velloso da Silveira apontou que as festas realizadas nas igrejas eram aparatosas e completas. Os torneios e as cavalhadas também ostentavam o poder aquisitivo de uma parcela da população. Os saraus familiares eram animados  com a dança do solo inglês, do minuete afandangado, da gaivota, do cachucha e da contradança antiga, desbancada pelas quadrilhas. Eram bem desempenhados  os espetáculos teatrais, em que brilhavam  Felipe Néri, Mello e Albuquerque, Borba e outros jovens amadores – mais tarde chamados para representarem papéis proeminentes na política rio-grandense.
Dante de Laytano deixou registrado, em seus escritos, que Rio Pardo foi berço  da nobreza gaúcha. Que  os velhos solares ainda  guardam o fausto  de uma época quando em seus salões, à luz de candelabros de ouro  e prata, rebrilhavam os fardões cobertos de condecorações  e as joias preciosas que as damas ostentavam na elegância das toiletes custosas.


FONTE: Uma Luz para a História do  Rio Grande, Rio Pardo 200 anos, Olgário Paulo Vogt- Maria Rosilane Romero, 2010.
                                Arquivo Histórico Municipal

domingo, 13 de novembro de 2016

ILUMINAÇÃO PÚBLICA EM RIO PARDO NO SÉCULO XIX


                As autoridades municipais de Rio Pardo, em 1848, resolvem aceitar a proposta de João Francisco Tavares para custear a iluminação da cidade.
                Elevado da categoria de vila para a da cidade dois anos antes, são tomadas várias iniciativas para o melhoramento da urbe e entre alinhamento de ruas, ajardinamento de praças e calçamento de rampas, cuidou-se desse importante serviço público que era a iluminação.
                Rio Pardo foi a quarta cidade a ser criada no Rio Grande do Sul. A primeira Porto Alegre, em 1823, a segunda e terceira, Rio Grande e subsequentemente Pelotas, ambas em 1835; e temos aí em 1846, o Rio Pardo e depois apenas em 1855 é que possuiríamos uma quinta cidade na província que é Jaguarão, pois todos os outros centros de população são vilas ou quando muito sedes de distritos, uma vez que não usamos a palavra aldeia.
                O contrato de arrematação nos revela o sistema de iluminação. O arrematante era obrigado a conservar os lampiões limpos e completamente acesos desde o anoitecer até amanhecer o dia, nas noites em que não houvesse lua; e, nas em que houvesse, por todo o tempo que ela não iluminasse.
                Igualmente era obrigado a conservar os lampiões acesos nas noites em que devendo aparecer a lua, assim não aconteceria por causa do mau tempo e os conservaria acesos por todo o tempo que a lua estivesse encoberta.
                Existiriam, na cidade, setenta e dois lampiões, ganhando o arrematante seis mil e oitenta réis por cada um e previa-se aumento do número.
                O arrematante evidentemente ficava obrigado a fazer os consertos dos lampiões, ferros, vidros, capacetes, e mais utensílios.
                Qualquer pessoa do povo podia representar ao procurador da Câmara, por escrito ou  verbalmente, quando achasse algum lampião apagado, citando também as testemunhas que, com ela, presenciaram o fato.
                Havia para o arrematante uma multa de mil réis por cada torcida que se conservasse apagada mais de uma hora.
                Excluíam-se os casos de noite de luar e de tempestade.
                Às patrulhas, rondas de polícia, guardas municipais, inspetores de quarteirões, fiscais da Câmara e suplentes ficava pertencendo a pontual e minuciosa inspeção e fiscalização dos lampiões.          Muita gente para zelar por setenta e dois postes.

Referência: História particular de velha cidade do Rio Grande do Sul, de DANTE DE LAYTANO

terça-feira, 8 de novembro de 2016

UMA” SEMENTE” REPUBLICANA EM RIO PARDO


Dois anos após a fundação do partido Republicano Rio- Grandense (1882) foi criado o Clube Republicano do Rio Pardo. Suas reuniões eram realizadas no Hotel Brasil, antiga sede da Prefeitura. O número de sócios do clube aumentava ano após ano. Ali surgiram figuras importantes para o movimento republicano, como Ernesto Alves de Oliveira, ferrenho defensor castilhista. Ele se tornaria o substituto de Júlio de Castilhos na direção do jornal A Federação. Destacou-se também como republicano Heráclito Americano de Oliveira. Foi de sua autoria o projeto para a aprovação da bandeira estadual. Além  do órgão oficial do Partido Republicano , em Rio Pardo, no  ano de 1887 começou a circular um novo periódico regional intitulado  O Patriota, jornal que se identificava  com os ideais da causa.
Às vésperas da queda  Casa dos Bragança e Orleans, foi realizada no quinto (5º) distrito de Iruy, a Conferência Republicana. Ela foi presidida e idealizada por Ernesto Alves de Oliveira e relatada em A Federação em 4 de janeiro de 1889 conforme se lê no jornal “O Companheiro Ernesto discursou para um grande número de cavalheiros na casa  do comerciante  José Pascal, sendo o discurso  acompanhado com muita atenção por todos os que estavam no local. O nosso companheiro foi sempre ouvido com facilidade, com a qual outros têm querido hipotecar o braço do Rio Grande à causa ingrata dos Bragança e Orleans.”

FONTES: RIO PARDO 200 ANOS UMA LUZ PARA A HISTÓRIA DO RIO GRANDE

   JORNAL GAZETA DO SUL-RS/2008





DOUTORA RITA LOBATO


Rita Lobato Velho Lopes nasceu em 7 de junho de 1866 no Rio Grande(RS), tornando-se mundialmente famosa por ter sido a primeira mulher brasileira a concluir o curso de Medicina. Frequentou o curso secundário em Pelotas (RS) e demonstrou desde cedo a sua vocação para a Medicina. Mas apesar do Decreto Imperial de 1879, de D. Pedro II, autorizar as mulheres a frequentarem  cursos de faculdades e obterem um título acadêmico, os preconceitos e machismos da época dificultaram muito, pois a “moda” praticada era relegar a mulher às funções domésticas...
Rita matriculou-se inicialmente na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas, não suportando as gozações, boicotes e perseguições, transferiu sua matrícula para a Faculdade de Medicina de Salvador (BA). Determinada em obter o titulo de médica, venceu a hostilidade inicial dos colegas e até dos professores, conquistando, aos poucos, a simpatia de todos, até receber do corpo docente da tradicional faculdade baiana as maiores considerações.
Especializou-se em Obstetrícia e Ginecologia, defendendo tese sobre “A Operação Cesariana”. Em
1887 tornou-se a primeira mulher brasileira e a segunda da América Latina a obter diploma de Médica. Após a formatura, voltou ao Rio Grande do Sul, onde se casou com Antonio Maria Amaro Freitas, com quem teve uma única filha, Ísis. Clinicou em Porto Alegre durante alguns anos, mas depois decidiu se radicar em Rio Pardo (RS), onde exerceu a profissão de 1910 a 1925.
Por sua dedicação, profissionalismo e amor ao próximo, passou a ser adorada pela população de Rio Pardo, que a elegeu vereadora pelo partido Libertador em 1935, e exerceu o mandato com dedicação e perseverança, cobrando das autoridades um maior empenho quanto à saúde da população. Exerceu seu mandato até 1937, quando Getúlio Vargas decretou o Estado Novo, que fechou as Câmaras Municipais. Um exemplo de sua dedicação e amor à Medicina foi o fato de que em todos os domingos e feriados saía pelos bairros da cidade, a pé, consultando os habitantes de casa em casa gratuitamente, colocando, em prática, verdadeiramente, o “JURAMENTO DE HIPÓCRATES”.
Passou os últimos anos de sua vida na Estância do Capivari, em Rio Pardo (RS). Em 1953 veio a falecer, aos 87 anos de idade.

FONTES:  Texto de João Carlos Ruller/ São José do Rio Preto- SP- 2015.

               Arquivo Histórico Rio Pardo- RS/AHMRP.