sábado, 9 de julho de 2016

FONTES PARA UTILIDADE DO BEM PÚBLICO

A parte mais interessante da História é a que trata da Vida Cotidiana. É intrigante, por exemplo, imaginar como era o fornecimento de água numa época em que não existiam estações de tratamento.
No século XIX, a Câmara de Vereadores era encarregada de administrar o município. A ela competiam todas as atitudes que visavam melhorar à vida da população. Inclusive o fornecimento de água. Uma prova disso é o relatório da comissão encarregada pelos vereadores de verificar os lugares mais adequados para captação de água, em que se relata o que segue. Observem quantas informações interessantes, sobre o assunto em pauta e sobre outros detalhes relativos à Rio Pardo daquela época.
“A comissão encarregada da visita dos lugares mais próprios para as fontes nesta Vila, leva ao conhecimento da Câmara Municipal as observações que lhe foram possíveis fazer sobre estes estabelecimentos, que, em virtude da Lei, se acham debaixo da inspeção de nossas instituições municipais (...).
Determinar os lugares mais próprios e cômodos para abertura de fontes; escolher as melhores águas, e propor os melhores meios de remediar estas, quando sejam de todo cruas, tal é a honrosa tarefa que nos foi cometida e como este objeto seja, não só muito importante, como também uma medida de civilização dos Povos, é mister correspondermos à confiança, que a Câmara Municipal em nós depositou, sobre o objeto de tanta importância; e o meio melhor é de expor com toda a franqueza os nossos sentimentos(...).
Está provado pela química que a melhor água deve reunir a si as qualidades físicas seguintes: ser insípida, transparente, sem cor, sem cheiro, sem elasticidade; as químicas são: a dissolução pronta do sabão e nula a turvação pelos reativos; propriedades estas que sempre se concentram nas que se filtram ou correm através da área, que é agitada de movimento contínuo, a qual não apodrecem materiais vegetais ou animais. Pelo contrário, uma água que se demora sem movimento nas cavidades subterrâneas, que vem de terreno calcário, que não tem correntes reais, que nutre muitas plantas, de pouca profundidade, apresenta todos os caracteres opostos, seu sabor é fétido, ou nauseante, tem um cheiro ligeiramente podre, é verde ou amarelada; fervendo, turva-se; dá flocos com o sabão; os reativos ocasionam precipitados mais ou menos abundantes; pesa sobre o estômago (...).
A vista do exposto, e visitados os diferentes pontos desta Vila, resolveu a Comissão, atenta a necessidade, comodidade, ao número, à qualidade, às proporções que oferece o lugar, e a enormes dispêndios a que se devem opor, que três eram os pontos nos quais semelhantes estabelecimentos de necessidade se deverão criar: primeiro  a fonte velha, por nome de Joanna de Brum, ( onde) nasce a água do centro de um morro, terreno que pertence ao Tenente Antonio Vicente, que vem diretamente confrontar com a Rua  da ponte, havendo desta frente ao lugar  do seu nascimento pouco mais de 600 passos; segundo na frente da Rua da Boa Vista, indo procurar a água no centro de um segundo morro, ocupado no seu cume por algumas  propriedades, que fazem frente para a Rua de Santo Ângelo; terceiro, na frente da Rua do Açougue, indo se buscar a força da água no centro de um terceiro morro, no cume do qual está edificada a propriedade do finado Capitão Filisberto. Pelo que diz respeito à comodidade pública, não encontramos lugares mais apropriado ao seu número e suficientes, e a sua salubridade obtém-se facilmente, favorecendo sua evaporação, a benefício de canos e cascatas; ainda mesmo não se encontrando porção de água bastante nas covas destes morros para a criação de tais estabelecimentos, resolveu a mesma comissão, que em lugar destas  se fizessem cacimbas bem  construídas, a fim de evitar ao Povo de se servir de águas totalmente cruas e podres, não só para consumo de obras como também para lavagens domésticas, escusa esta de que se não podem  privar os pobres com particularidade, pela longitude  do rio  a diferentes pontos da povoação; obstando-se também  com este recurso a um grande número de moléstias, que tantos estragos têm feito (...), particularmente à escravatura.”

FONTE: Livros de Registros Gerais da Câmara Municipal – Nº28, páginas, 327/330

                Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo -AHMRP

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