A parte mais interessante da História é a
que trata da Vida Cotidiana. É intrigante, por exemplo, imaginar como era o
fornecimento de água numa época em que não existiam estações de tratamento.
No século XIX,
a Câmara de Vereadores era encarregada de administrar o município. A ela
competiam todas as atitudes que visavam melhorar à vida da população. Inclusive
o fornecimento de água. Uma prova disso é o relatório da comissão encarregada
pelos vereadores de verificar os lugares mais adequados para captação de água,
em que se relata o que segue. Observem quantas informações interessantes, sobre
o assunto em pauta e sobre outros detalhes relativos à Rio Pardo daquela época.
“A comissão
encarregada da visita dos lugares mais próprios para as fontes nesta Vila, leva
ao conhecimento da Câmara Municipal as observações que lhe foram possíveis
fazer sobre estes estabelecimentos, que, em virtude da Lei, se acham debaixo da
inspeção de nossas instituições municipais (...).
Determinar os
lugares mais próprios e cômodos para abertura de fontes; escolher as melhores
águas, e propor os melhores meios de remediar estas, quando sejam de todo
cruas, tal é a honrosa tarefa que nos foi cometida e como este objeto seja, não
só muito importante, como também uma medida de civilização dos Povos, é mister
correspondermos à confiança, que a Câmara Municipal em nós depositou, sobre o
objeto de tanta importância; e o meio melhor é de expor com toda a franqueza os
nossos sentimentos(...).
Está provado
pela química que a melhor água deve reunir a si as qualidades físicas
seguintes: ser insípida, transparente, sem cor, sem cheiro, sem elasticidade;
as químicas são: a dissolução pronta do sabão e nula a turvação pelos reativos;
propriedades estas que sempre se concentram nas que se filtram ou correm
através da área, que é agitada de movimento contínuo, a qual não apodrecem
materiais vegetais ou animais. Pelo contrário, uma água que se demora sem
movimento nas cavidades subterrâneas, que vem de terreno calcário, que não tem
correntes reais, que nutre muitas plantas, de pouca profundidade, apresenta
todos os caracteres opostos, seu sabor é fétido, ou nauseante, tem um cheiro
ligeiramente podre, é verde ou amarelada; fervendo, turva-se; dá flocos com o
sabão; os reativos ocasionam precipitados mais ou menos abundantes; pesa sobre
o estômago (...).
A vista do
exposto, e visitados os diferentes pontos desta Vila, resolveu a Comissão,
atenta a necessidade, comodidade, ao número, à qualidade, às proporções que
oferece o lugar, e a enormes dispêndios a que se devem opor, que três eram os
pontos nos quais semelhantes estabelecimentos de necessidade se deverão criar:
primeiro a fonte velha, por nome de
Joanna de Brum, ( onde) nasce a água do centro de um morro, terreno que
pertence ao Tenente Antonio Vicente, que vem diretamente confrontar com a
Rua da ponte, havendo desta frente ao
lugar do seu nascimento pouco mais de
600 passos; segundo na frente da Rua da Boa Vista, indo procurar a água no
centro de um segundo morro, ocupado no seu cume por algumas propriedades, que fazem frente para a Rua de
Santo Ângelo; terceiro, na frente da Rua do Açougue, indo se buscar a força da
água no centro de um terceiro morro, no cume do qual está edificada a
propriedade do finado Capitão Filisberto. Pelo que diz respeito à comodidade
pública, não encontramos lugares mais apropriado ao seu número e suficientes, e
a sua salubridade obtém-se facilmente, favorecendo sua evaporação, a benefício
de canos e cascatas; ainda mesmo não se encontrando porção de água bastante nas
covas destes morros para a criação de tais estabelecimentos, resolveu a mesma
comissão, que em lugar destas se
fizessem cacimbas bem construídas, a fim
de evitar ao Povo de se servir de águas totalmente cruas e podres, não só para
consumo de obras como também para lavagens domésticas, escusa esta de que se
não podem privar os pobres com
particularidade, pela longitude do
rio a diferentes pontos da povoação;
obstando-se também com este recurso a um
grande número de moléstias, que tantos estragos têm feito (...),
particularmente à escravatura.”
FONTE: Livros de Registros Gerais
da Câmara Municipal – Nº28, páginas, 327/330
Arquivo Histórico Municipal de
Rio Pardo -AHMRP
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