“COSME DA SILVEIRA E ÁVILA
Um dos açorianos pioneiros na
região. A exemplo dos outros, chegou AP Rio Grande antes dos Casais de Número.
Alcançou status de fazendeiro e expert nas lides campeiras.
Tropeiro, veio de Laguna e por
duas vezes gerenciou fazendas do governo, de criação de cavalos e gado do
exército.
Seu nome está ligado à feitura
de queijos e aos primeiros cultivos de trigo no Rio Grande, já antes de 1737. O
brigadeiro Silva Pais, em março de 1738, elogiou os queijos admiráveis e os
trigais do pioneiro, motivo pelo qual Cosme é chamado de “pai da agricultura
gaúcha”.
Nasceu na mesma vila de seu
vizinho Antônio da Silveira Ávila e Matos – Vila Nova do Topo, ilha de São
Jorge. Seu pai foi homem de relevo na ilha natal: capitão-mor Antônio da
Silveira e Ávila, também nascido ali, a exemplo de sua mãe, Catarina Machado de
Azevedo.
Veio jovem para o Brasil.
Radicou-se sucessivamente em Laguna, Rio Grande, Viamão e Rio Pardo.
A Estância Real do Bojuru fora
criada em 1737 pelo 1º governador do Rio Grande, o citado Silva Pais. Cosme foi
seu primeiro maioral. Criava animais para remonta do exército e o fornecimento
de carne e couro. Ficava entre o mar e a Lagoa dos Patos, a 14 léguas da barra
do Rio Grande. Cosme ganhava o quinto da produção da estância. Os animais eram
arrebatados da Vacaria do Mar, principalmente ao sul da Lagoa Mirim.
Na época, Cosme obteve duas
datas de chãos em Rio Grande e uma légua de terra para cultivar no lado norte
do canal, anos de 1738 e 1739.
Ainda em 1738, na governança de
André Ribeiro Coutinho, foi preso e demitido da Bojuru por descumprir ordens
(ocultou a ausência de dois peões do serviço real, e insistiu em por uma eguada
num campo de um paisano, apesar de ter sido proibido por Coutinho). Mas
retornou às funções na Bojuru e ali ficou até julho de 1742.
Não foi o único incidente com o
governo. Ao tempo de Rio Pardo também se indispôs com famílias açorianas ao
tentar alargar seus domínios em detrimento dos ilhéus. Foi chamado à razão e
teve que recuar.
Porém, sempre contou com
protetores de peso. Na pendência com o comandante Coutinho, foi defendido pelo
brigadeiro Silva Pais e, por isso, voltou a dirigir a Bojuri.
Na década de 1750, Gomes Freire
criou outra estância realenga perto da fortaleza de Rio Pardo e lembrou-se de
Cosme, que voltou à função de maioral. Ele gostava do trato com animais, e o
emprego era junto às suas fazendas.
Elas ficavam uma ao lado da
outra. A principal chamava-se Nossa Senhora da Boa Esperança. Obteve-a por
sesmaria em agosto de 1754. Confinava pelo norte com a Serra; pelo sul – rio Guaíba
(Jacuí); leste – “Campos do Potreiro” (que eram dele); oeste – inicialmente com
a estância dos sócios Santos e Matos, logo depois substituídos pelo Rincão Del Rei
(estância do governo).
A fazenda “Campos do Potreiro”
foi comprada do patriarca Azambuja. Ficava – como se viu – a leste da “Boa
Esperança”, mas distante do rio Jacuí, pois confrontava pelo sul com o
Tenente Fernando Pereira Vieira (e seu sócio Alferes José de Souza), e a norte e leste com Francisco Machado da Silveira.
Tenente Fernando Pereira Vieira (e seu sócio Alferes José de Souza), e a norte e leste com Francisco Machado da Silveira.
A principal media 4 x 1,5 légua;
a segunda, 3 léguas de comprido por meia légua (na parte mais larga).
Cosme possuía uma boa
carpintaria, chefiada pelo escravo Caetano, oficial de carpinteiro, com muitas
ferramentas do ofício: badame, enxós (de 3 tipos: de mão, de duas mãos e de
martelo), escopros, formões, guilherme, junteiras, limatão, rebote, rebolos,
trado, serras manuais, travadeiras de serra, martelos, cepilho, verruma, etc.
Antes de Rio Pardo, tivera
fazenda em Conventos (Santa Catarina) e na margem do rio Gravataí, onde recebeu
sesmaria em 1740. Esta confrontava com a de João Lourenço Velloso. Aliás, é
digno de nota que três fazendeiros da beira do Gravataí: Ornelas, Azambuja e
ele (Cosme) acabaram indo em bloco para
o Baixo Jacuí. Era o espírito comunitário de ajuda mútua – já citado – tão necessário
naquelas paragens ermas.
Casou-e a 29.12.1757 em Triunfo,
com Rita Josefa da Silveira (açoriana da ilha do Pico). Tiveram só duas filhas:
Joana (falecida em criança) e Inocência Josefa da Silveira. Esta, como única
herdeira dos pais, casou-se duas vezes, primeiro com Francisco da Costa Morais
e, depois, com Luiz Severino José de Carvalho (filho do cirurgião-mor do
Presídio de Rio Grande, Sebastião Gomes de Carvalho).
As estâncias da família em Rio
Pardo ainda se conservavam na segunda geração pós-Cosme, repartidas entre as
suas netas.
Cosme, juntamente com Jerônimo
de Ornelas, foi lembrado pelo General Gomes Freire pela ajuda que proporcionara
em gado “para o abasto das tropas” na subida do Jacuí.
E seu nome – ainda que por pouco
tempo – batizou o “riacho do Cosme”, duas léguas a oeste do arroio João
Rodrigues. Trata-se do atual arroio Diogo Trilha.
Tendo especial devoção por São
Francisco, ao falecer em 22.1.1767, foi amortalhado com hábito franciscano e
sepultado da Igreja de Rio Pardo.
”
VELLOSO FILHO,
René Boeckel. Muralhas lusitanas no Baixo Jacuí – Os primeiros tempos de Santo
Amaro e Rio Pardo. Porto Alegre: EST edições; 2008. p. 56-8.
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