terça-feira, 5 de julho de 2016

COSME DA SILVEIRA E ÁVILA
Um dos açorianos pioneiros na região. A exemplo dos outros, chegou AP Rio Grande antes dos Casais de Número. Alcançou status de fazendeiro e expert nas lides campeiras.
Tropeiro, veio de Laguna e por duas vezes gerenciou fazendas do governo, de criação de cavalos e gado do exército.
Seu nome está ligado à feitura de queijos e aos primeiros cultivos de trigo no Rio Grande, já antes de 1737. O brigadeiro Silva Pais, em março de 1738, elogiou os queijos admiráveis e os trigais do pioneiro, motivo pelo qual Cosme é chamado de “pai da agricultura gaúcha”.
Nasceu na mesma vila de seu vizinho Antônio da Silveira Ávila e Matos – Vila Nova do Topo, ilha de São Jorge. Seu pai foi homem de relevo na ilha natal: capitão-mor Antônio da Silveira e Ávila, também nascido ali, a exemplo de sua mãe, Catarina Machado de Azevedo.
Veio jovem para o Brasil. Radicou-se sucessivamente em Laguna, Rio Grande, Viamão e Rio Pardo.
A Estância Real do Bojuru fora criada em 1737 pelo 1º governador do Rio Grande, o citado Silva Pais. Cosme foi seu primeiro maioral. Criava animais para remonta do exército e o fornecimento de carne e couro. Ficava entre o mar e a Lagoa dos Patos, a 14 léguas da barra do Rio Grande. Cosme ganhava o quinto da produção da estância. Os animais eram arrebatados da Vacaria do Mar, principalmente ao sul da Lagoa Mirim.
Na época, Cosme obteve duas datas de chãos em Rio Grande e uma légua de terra para cultivar no lado norte do canal, anos de 1738 e 1739.
Ainda em 1738, na governança de André Ribeiro Coutinho, foi preso e demitido da Bojuru por descumprir ordens (ocultou a ausência de dois peões do serviço real, e insistiu em por uma eguada num campo de um paisano, apesar de ter sido proibido por Coutinho). Mas retornou às funções na Bojuru e ali ficou até julho de 1742.
Não foi o único incidente com o governo. Ao tempo de Rio Pardo também se indispôs com famílias açorianas ao tentar alargar seus domínios em detrimento dos ilhéus. Foi chamado à razão e teve que recuar.
Porém, sempre contou com protetores de peso. Na pendência com o comandante Coutinho, foi defendido pelo brigadeiro Silva Pais e, por isso, voltou a dirigir a Bojuri.
Na década de 1750, Gomes Freire criou outra estância realenga perto da fortaleza de Rio Pardo e lembrou-se de Cosme, que voltou à função de maioral. Ele gostava do trato com animais, e o emprego era junto às suas fazendas.
Elas ficavam uma ao lado da outra. A principal chamava-se Nossa Senhora da Boa Esperança. Obteve-a por sesmaria em agosto de 1754. Confinava pelo norte com a Serra; pelo sul – rio Guaíba (Jacuí); leste – “Campos do Potreiro” (que eram dele); oeste – inicialmente com a estância dos sócios Santos e Matos, logo depois substituídos pelo Rincão Del Rei (estância do governo).
A fazenda “Campos do Potreiro” foi comprada do patriarca Azambuja. Ficava – como se viu – a leste da “Boa Esperança”, mas distante do rio Jacuí, pois confrontava pelo sul com o
Tenente Fernando Pereira Vieira (e seu sócio Alferes José de Souza), e a norte e leste com Francisco Machado da Silveira.
A principal media 4 x 1,5 légua; a segunda, 3 léguas de comprido por meia légua (na parte mais larga).
Cosme possuía uma boa carpintaria, chefiada pelo escravo Caetano, oficial de carpinteiro, com muitas ferramentas do ofício: badame, enxós (de 3 tipos: de mão, de duas mãos e de martelo), escopros, formões, guilherme, junteiras, limatão, rebote, rebolos, trado, serras manuais, travadeiras de serra, martelos, cepilho, verruma, etc.
Antes de Rio Pardo, tivera fazenda em Conventos (Santa Catarina) e na margem do rio Gravataí, onde recebeu sesmaria em 1740. Esta confrontava com a de João Lourenço Velloso. Aliás, é digno de nota que três fazendeiros da beira do Gravataí: Ornelas, Azambuja e ele (Cosme) acabaram  indo em bloco para o Baixo Jacuí. Era o espírito comunitário de ajuda mútua – já citado – tão necessário naquelas paragens ermas.
Casou-e a 29.12.1757 em Triunfo, com Rita Josefa da Silveira (açoriana da ilha do Pico). Tiveram só duas filhas: Joana (falecida em criança) e Inocência Josefa da Silveira. Esta, como única herdeira dos pais, casou-se duas vezes, primeiro com Francisco da Costa Morais e, depois, com Luiz Severino José de Carvalho (filho do cirurgião-mor do Presídio de Rio Grande, Sebastião Gomes de Carvalho).
As estâncias da família em Rio Pardo ainda se conservavam na segunda geração pós-Cosme, repartidas entre as suas netas.
Cosme, juntamente com Jerônimo de Ornelas, foi lembrado pelo General Gomes Freire pela ajuda que proporcionara em gado “para o abasto das tropas” na subida do Jacuí.
E seu nome – ainda que por pouco tempo – batizou o “riacho do Cosme”, duas léguas a oeste do arroio João Rodrigues. Trata-se do atual arroio Diogo Trilha.
Tendo especial devoção por São Francisco, ao falecer em 22.1.1767, foi amortalhado com hábito franciscano e sepultado da Igreja de Rio Pardo.
   ”  

VELLOSO FILHO, René Boeckel. Muralhas lusitanas no Baixo Jacuí – Os primeiros tempos de Santo Amaro e Rio Pardo. Porto Alegre: EST edições; 2008. p. 56-8.

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