terça-feira, 21 de junho de 2016

PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACARELLO
4 – Índios em Rio Pardo: A Aldeia de São Nicolau

OBSERVAÇÃO: Pedro Castelo Sacarello produziu o documento que estamos transcrevendo na década de 1940, em resposta a um questionário do IBGE. Naquela época ainda não se tinha muito conhecimento sobre a Pré-História rio-pardense, nem maiores detalhes da posterior criação da Aldeia de São Nicolau.

Não existe, no interior do município de Rio Pardo, tribo alguma de índios, nem temos conhecimento de ter existido esse elemento indígena.
                Julgamos ter havido, em narrações históricas, certa confusão entre o grande aldeamento, ou redução de São Nicolau das Missões, e um pequeno grupo de índios, que feitos prisioneiros nos grandes combates havidos em 1756 na Fronteira, foram trazidos para a Aldeia de São Nicolau, aqui no Jacuí, situado entre a mataria na várzea da margem esquerda do Rio Pardo, à Oeste, o arroio do Couto a Leste, e finalmente, ao Norte, pontões de matos que cruzavam do rio ao arroio do Couto, formando assim um pequeno campestre circular, verdadeira e segura prisão para o índio criado em campo grande e sobre o lombo do bagual.
                Deste grupo de desterrados conhecemos membros de duas famílias: Barassi e Camaxo, dos quais hoje pouquíssimos podem existir, espalhados pelos arredores da Estação do Couto, ou Ramiz Galvão.
                Outra confusão que julgamos ter havido, está entre aldeamento de índios e acampamento de bugres; sendo que destes encontram-se vestígios em muitos lugares elevados, à beira, ou dentro de matos aonde existem sorventes de água; notando-se mais que o bugre, como verdadeiro silvícola que era, vivia exclusivamente na parte montanhosa da zona do rio Jacuí, ou seja, da margem esquerda deste para o lado da Serra Geral, e no interior desta; enquanto que o índio, de natureza selvagem como o bugre, mas diferente deste em seus hábitos de vida, arrojado e destro sobre o lombo do bagual, amava a amplidão das campinas do Sul, fugindo sempre ao cipoal do mato.


PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACARELLO
Respostas aos quesitos formulados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para o fim do Serviço Nacional de Recenseamento.
Documento disponível (cópia carbono datilografada) no Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo






segunda-feira, 13 de junho de 2016

TRANSCRIÇÃO DO REGISTRO DE UM REQUERIMENTO E PROVISÃO DE PROFESSOR

Ilustríssimo Senhor Juiz de Fora, e mais senhores da Câmara = Diz Joaquim Thomas de Bem Salinas, Professor Régio das Primeiras Letras desta Vila de Rio Pardo, que para ele, suplicante, começar o exercício de seu cargo, se lhe faz mister que Vossas Senhorias mandem que o escrivão desta Câmara registre nos livros dela a sua provisão, e que feitos os atos do costume seja destinado ao suplicante o dia em que deverá começar o seu curso letivo. Pelo que pede a Vossas Senhorias se sirvam deferir ao suplicante como pede= E receberá mercê= Cumpra-se e registre-se, e deverá imediatamente abrir a sua Aula, na conformidade do seu provimento. Rio Pardo, em vereança de 22 de novembro de 1820= seguem assinaturas das autoridades...
Fazemos saber aos que nossa Provisão  virem que mandando El Rei Nosso Senhor por Provisão expedida pelo Desembargo do Paço de 7 de fevereiro deste corrente ano criar e prover por concurso, entre outras, uma cadeira de Primeiras Letras na Vila de Rio Pardo e atendendo nós ao exame em que foi aprovado, e aos mais requisitos necessários, que concorrem na pessoa de Joaquim Thomas de Bem Salinas para exercer: havemos por bem em virtude da referida Provisão de 7 de fevereiro deste ano, provemos, como por esta o fazemos, ao dito Joaquim Thomas de Bem Salinas , no emprego de professor  da cadeira  de primeiras letras da Vila de Rio Pardo, com o ordenado de duzentos mil reis, indicado no plano  a ela anexo, e com a condição de que impetrará a confirmação desta daquele sobre dito Tribunal, cujo emprego exercitará enquanto bem servir e o não desmerecer, regulando-se pelas Instruções  Régias de 28 de junho de 1759, e haverá o mencionado ordenado pago aos quartéis pela Junta da Real Fazenda desta Capitania. Pelo que mandamos a todos a quem o conhecimento desta pertencer o deixe servir o dito emprego e gozar de todas as honras, privilégios e isenções, que por ele lhe são concedidas, e jurou na forma costumada, de que se fará assento nas costas desta e não pagará novos direitos pelos não dever na forma das Reais  Ordens e por firmeza de tudo lhe mandamos passar o presente por nós assinado e selado com o selo das Armas Reais, que se cumprirá na Secretaria deste Governo e nas mais partes a que tocar, dada nesta Capital  de Porto Alegre aos 25 de outubro de 1820.
Observação: Esta transcrição foi feita conforme o contexto da época (documento original).
 FONTE: Livro de Atas de 1818/1821 nas pg. 168 v. a 170.

               Este documento se encontra no AHMRP Biágio Soares Tarantino 

sábado, 11 de junho de 2016

UMA AULA DE PRIMEIRAS LETRAS PARA A VILA DE RIO PARDO

No início da colonização do Brasil, os jesuítas foram praticamente os únicos responsáveis pela educação. Ensinavam as primeiras letras, gramática latina e a doutrina católica. Somente em 1759 foram cridas as primeiras “aulas régias”, onde se ensinava latim, grego e retórica. A partir de então, a escola deveria servir ao Estado, e não mais à igreja. Cada “aula régia” era formada por uma unidade de ensino, com professor único, instalada para determinada disciplina. Era autônoma e isolada, pois não se articulava com outras escolas nem pertencia a qualquer escola. Não havia currículo, nem duração prefixada. Os alunos podiam se matricular em tantas “aulas” quantas fossem as disciplinas oferecidas ou que desejasse cursar. Os professores eram improvisados e mal pagos.
Em 1772 foi criado o subsídio literário, tributo sobre o abate de gado e produção de cachaça, destinado a manter o ensino público. No Rio Grande do Sul só começou a ser cobrado em 1814 e foram criadas várias “aulas” para ensinar a ler e escrever. Somente em 1820 foi criada a aula de primeiras letras de Rio Pardo.
No AHMRP temos o registro de um requerimento e provisão de professor de primeiras letras de Joaquim Thomas de Bem Salinas.

FONTES: Jornal de Rio Pardo, 10/11/2001.

Coluna do AHMRP

terça-feira, 7 de junho de 2016

REVOLUÇÃO FEDERALISTA

Ana Aurora do Amaral Lisboa, em consequência do posicionamento de sua família, sofreu perseguições políticas, exonerando-se do seu cargo público, entrando nas fileiras revolucionárias do Partido Federalista e sendo militante ativa da Revolução Federalista no Rio Grande do Sul em 1893.
Deste momento em diante dedicou-se ao magistério particular, e com o auxílio das irmãs Zamira e Carlota fundou o Colégio Particular Amaral Lisboa dirigindo-o de 1893 a 1924, em Rio Pardo.
Foi colaboradora do jornal "A Reforma" órgão do Partido Federalista chefiado por Gaspar Silveira Martins. Colaborou também em vários outros jornais políticos, como "O Canabarro" de Santana do Livramento, “Gaspar  Martins" de Santa Maria, entre outros.
A sua atuação e colaboração na imprensa e suas publicações, além de trazer um cunho educacional e apelos em auxílio ao desenvolvimento de sua terra natal, era o instrumento que utilizava para expressar suas ideias políticas.
Foi também poetiza, teatróloga e escritora, entre suas obras publicadas destacou-se "Minha Defesa" publicada em 1895. Pertenceu a sociedade feminina Sempre Viva e ao Grêmio Rio-Pardense de Letras.
Exerceu o magistério aproximadamente 55 anos, sendo que em 1915, criou um curso  noturno gratuito para adultos.(Muito antes de ser adotado o Curso de Ensino Supletivo em 1931).
Com idade avançada, Ana Aurora e sua irmã Zamira, em uma situação bastante humilde, viviam em uma pensão concedida pelo Governo Estadual. Ana Aurora faleceu em 22 de abril de 1951 com 90 anos de idade.


FONTE: Parte de um texto de Universitárias Fábia Winck e Ianae Marques.
               AHMRP Biagio Soares Tarantino


domingo, 5 de junho de 2016

NOVO REGIME POLÍTICO


Ana Aurora estava apta para continuar seu magistério, agora como mestra de meninas,  no novo regime político do Brasil. Pouco tempo entretanto, duraria esta situação. Acontecimentos político-sociais iriam traçar fundo sulco entre o governo estadual e a eximia professora.
O golpe de Estado de Deodoro da Fonseca seria o principio do incêndio que por longos cinco anos traria o Rio Grande do Sul numa roda viva. A princípio, a queda de Júlio de Castilhos e o retorno de Castilhos. A Revolução Federalista, violenta, dividindo por completa a família gaúcha, lançando uns contra os outros membros. Os Amaral Lisboa consideravam uma ingratidão exilar D. Pedro II já às portas da morte, voltaram-se contra a situação. Dona Ana Aurora se mantinha serena, a irmã Carlota eximia poetisa, escrevia versos contra os republicanos, elevando a personalidade de Gumercindo Saraiva. Entretanto, não publicava esses versos, mas acabaram públicos e a intriga chegou a tal ponto que Júlio de Castilhos, sem dar maiores explicações, resolveu transferir Dona Ana Aurora, que nada tinha com isso, para Vila Rica, terra natal de Castilhos.
Em carta de 1937 ao Dr. Getúlio Vargas conta Ana Aurora: Exerci o magistério 10 anos, sendo 6 em distrito rural e 4 nesta cidade como professora do 2º grau por acesso. Em 1893 fui removida para Vila Rica, sem explicação alguma dos motivos. Ofendida em meus sentimentos de professora estritamente cumpridora de meus deveres. Renunciei ao magistério público e abri no mesmo ano o “Colégio Amaral Lisboa” associada à minha irmã Zamira, que já lecionava particularmente.
Houve um movimento de protesto por assim dizer coletivo, pois até as autoridades escolares se manifestaram, mas em vão, pois não voltaria atrás.
A carta que então dirigiu ao Dr. Júlio de Castilhos declara que não aceita a sua remoção e que nesta data apresenta a sua demissão, exonera-se do cargo do magistério...
...Prestava serviço ao seu país e não a vós ou ao partido que vos sustenta; vós, porém, entendeis o contrário, e punis com uma remoção injusta... não há de servir de alvo de intrigas e vinganças mesquinhas.
Quando o Rio Grande voltar ao regime da Lei, voltará também a demissionária a ocupar o honroso posto de que é hoje arrancada, com violação da Lei. (10/06/1893).

FONTE: Spalding, Walter - A Grande Mestra – ed. Sulina,1953
 AHMRP Biágio Soares Tarantino



PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
3 – A criação e organização do povoado que daria origem à Vila de Rio Pardo
O Quartel do Rio Pardo foi ampliado convenientemente sob as vistas do General Gomes Freire de Andrade, em 1752. Devido ao estado de agitação dos índios contra os portugueses e espanhóis na Fronteira, foi grande, desde o início,  o movimento de tropas vindas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, para de Rio Pardo seguirem aos campos de batalha.
                Depois de instaladas as tropas nos quartéis, construídos ao redor do Alto da Fortaleza e criadas as enfermarias e outros prédios nas imediações dos primeiros, foram procuradas acomodações para as famílias dos oficiais e subalternos ao longo das vias de comunicação para o interior da Praça, denominada dos Quartéis, e de saída para a Fronteira, de maneira a serem observadas as formalidades exigidas pelo governo de Portugal, de dar sempre os  núcleos militares, ou de povoadores civis criados, a feição de Povoação nova, com suas ruas, Praças e lugares para Igreja, cemitério e outros estabelecimentos públicos.
                Desta observância e da necessidade urgente de construções fora do grande quadro dos quartéis, foram levados os engenheiros militares a demarcar as ruas; para o qual fim traçaram duas linhas quase paralelas, com direção Sul – Norte; e partindo uma do canto Nordeste do grande quadro, foi encontrar o vão, ou Passo, sobre o Rio Pardo, no lugar aonde havia sido construída uma ponte de madeira, a qual deu origem ao nome de Rua da Ponte – hoje General Auto.
                A outra linha ou rua, denominada Direita – hoje Julio de Castilhos, teve princípio sobre a lateral Norte da Praça dos Quartéis, no canto Noroeste da mesma, e seguiu ao alto divisor das águas, com caídas para Sul ao rio Jacuí, e com caídas ao Norte para o rio Pardo; em o qual lugar teve início mais tarde a antiga rua Santo Ângelo , hoje General Andrade Neves.
                Entre as duas primeiras ruas, à uma quadra aproximadamente distante da lateral Norte da Praça dos Quartéis, foi deixado um espaço, suficientemente grande, para Capela ou Igreja, em frente a qual ficou também delimitado o terreno para uma Praça, ou Largo, denominado da Igreja, hoje Floriano Peixoto.
                A Oeste deste princípio de Povoação foram abertos valos profundos, com direção Sul-Norte a partir da margem esquerda do rio Jacuí, e indo a esquerda do rio Pardo, pouco abaixo do Passo de trânsito para Fronteira.
                O terreno recluso entre estes valos e o rio Pardo, em uma extensa volta que o mesmo rio dá para Oeste, serviu por longos anos de Potreiro, destinado ao uso dos Quartéis, com aproveitamento do campo e tiragem de madeiras e outros materiais de construção, tais como tijolos e telhas de barro. Findas as lutas contra as invasões espanholas, foi este Potreiro doado, de 1790 a 1798, pelo Governo de Portugal e sob cláusula de usufruto, à Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Rio Pardo; razão porque é conhecido até hoje pelo nome de Potreiro de Nossa Senhora. 
                Ao mesmo tempo que se desenvolvia o Povoado para Norte e Oeste do grande quadro dos Quartéis, as exigências de acomodações nas imediações destes fazia com que fosse ocupado o terreno no lado Leste, lado da entrada para o reduto; tendo assim origem as ruas do Carvalinho, conhecida até hoje por este nome, e a rua da Ferraria depois Pau da Bandeira, e atualmente 13 de Maio.
                Em vista de documentos antigos devemos admitir ter sido rápido o desenvolvimento do Quartel do Rio Pardo e Fronteira, de 1752 a 1780, término das invasões espanholas e quando teve início, para a Tranqueira do Rio Pardo, assim cognominada pelos invasores, a transição de uma vida essencialmente militar para uma vida comercial em grande escala; isso devido meramente à cessação das operações de guerra nas nossas fronteiras de Sul e Oeste, a formação das Estâncias e subseqüente aparecimento de novos povoados.
                Entre os documentos antigos, de muito valor histórico, conhecemos o mapa original do levantamento da vila do Rio Pardo em 1829, procedido a mandado da então Câmara Municipal, pelo engenheiro alemão João Martinho Buff.
                Posteriormente, desaparecendo o forte Jesus, Maria e José, situado na altaneira frente do Alto da Fortaleza, foi surgido aos pés deste o Porto do Rio Pardo sobre o Jacuí o qual tornou a desaparecida Tranqueira  um centro comercial de primeira ordem, verdadeiro empório do comércio da Fronteira e Cima da Serra; e assim conservou-se até começarem, nas próprias ruas do Rio Pardo, então vila, os tumultos sangrentos, prenúncios da grande revolução de 1835.
               
PESQUISAS HISTÓRICAS DE PEDRO CASTELO SACCARELLO
Respostas aos quesitos formulados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para o fim do Serviço Nacional de Recenseamento.

Documento disponível (cópia carbono datilografada) no Arquivo Histórico Municipal de Rio Pardo