História de Jacira de Souza
“Eu e minha irmã Inácia.
Somos as únicas sobreviventes dos antigos 87 escravos de dona Jacinta, não sei a minha idade, só sei que era menina ainda quando da guerra que chamam de rosas e desde aqueles tempos sempre acompanhei e tomei parte nas nossas festas que eram tão boas e que foram trazidas por nossos pais do Congo. A festa sempre teve rei e rainha, o juiz da vara, a juíza do ramalhete, o capitão da bandeira e o procurador da festa, que era animada por muitos instrumentos: Cange, trombeta, tambores, chocalho e depois também violão, executavam o quicumbi, e o samba, danças principais da festa.
Nas procissões toda diretoria usavam vestimentas especiais e coroas, as moças na frente faziam as evoluções e manobras e os outros acompanhavam. O trajeto da procissão era da casa grande até a capelinha. No meu tempo de menina senhora mandava vir da cidade o padre para rezar missa, e de tarde ela sentava rodeada de crianças para assistiras danças”.
Os preparativos para a festa começam meses antes, tendo cada igreja um grupo de pessoas que a organizam. Na Capela Bela Cruz, é encargo atualmente de uma diretoria auxiliada por moradores do local e da sede do Município. Essa diretoria é eleita pela comunidade frequentadora da Capela Bela Cruz, por um período de dois anos, e constituída por presidente, vice- presidente, tesoureiro e conselho fiscal. Na outra igreja, “dos brancos”, a organização se dá a partir de dois casais de festeiros, contando também com a colaboração de um grupo local. Dessa forma, as festas ainda hoje são organizadas separadamente.
No sábado que acontece a festa, o barracão pertencente a capela da Bela Cruz, o “barracão dos negros’, já se encontra agitado desde o início da tarde. Homens se preocupam, principalmente, com as bebidas e com a acomodação das mesas. As mulheres são vistas principalmente na cozinha, preparando as comidas que serão consumidas no baile, á noite, e no dia seguinte. E também na capela, ornamentando-a, com flores e ramos,tarefa com muito cuidado e dedicação.
Embora as festividades em comemoração a Santa sejam no domingo, a festa em si começa ao anoitecer de sábado, com a chegada de pessoas do local esperando amigos e parentes que vem de longe para a festa e, especialmente, para o baile que ocorre nesta noite. São comercializados pelos festeiros, bebidas , doces, churrasco, almoço com variadas saladas e uma variedade de artesanatos e novidades, de pessoas da cidade e muitos ambulantes de fora que vem para trabalhar na festa.
São dezenas de ônibus vindos de várias cidades do Estado principalmente da região metropolitana de PAO, foguetório anuncia a chegada dos grupos, os encontros e reencontros se tornam momentos emocionantes. Parentes e amigos se abraçam numa alegria contagiante, pois além dos turistas e da comunidade rio-pardense, a grande maioria dos visitantes são descendentes do Rincão que somente nesta data retornam a terra natal. O Baile acontece no sábado à noite e no domingo à tarde, juntamente com apresentações artísticas no pavilhão ao lado da capela da Bela Cruz e é organizado pela diretoria.
FONTE: Entrevista Jacira Souza ex- escrava, ao jornal de Cachoeira do Sul, 1952.
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