terça-feira, 3 de dezembro de 2024

HISTÓRIA DO RINCÃO DOS NEGROS

 2ª   Parte       RINCÃO DOS NEGROS


...Em 1941 uma grande enchente de 41 dias e 41 noites , arrasa o Rincão e as plantações dos fazendeiros negros e brancos foram destruídas .O banco que havia financiado o plantio de arroz tomou dos agricultores quase tudo o que eles tinham principalmente animais e ferramentas. Com a impossibilidade de plantar, dois anos depois o negro, Sr. Estevão acabou vendendo “de língua” mais de quinze hectares de suas terras para Alvino Panta por “16 contos de réis”, assim como seu tio Doca e outros. Segundo dona Dorva negra moradora do Rincão, o Alvino Panta “tontio todos eles para poder comprar estas terras”. Então surge o nome Rincão dos Pantas, ainda hoje moram descendentes da família Panta no local com grandes extensões de terras. Foram anos de lutas e disputa de terras entre negros e os Pantas, guerras até com mortes, os negros queriam de volta suas terras e até hoje buscam seus direitos na justiça. O grande idealizador das emboscadas sofridas pelos negros era o Sr. Fernandes Panta.

A materialização dessa luta discriminatória, intolerante por demarcação de espaços não apenas territoriais geográficas, mas simbólicos, foi à construção de uma outra capela , maior e imponente, com uma torre majestosa resguardando um sino, a menos de uma outra capela da Bela Cruz e tendo por padroeira a mesma santa, para acolher fiéis brancos. Tal igreja, construída no início deste século era mais uma tentativa de intimidação e uma clara demonstração de força e poder de donos de terras brancos, bem como um símbolo de apropriação do território até então dos negros. Por muito tempo fica separado o rincão, os brancos na sua igreja e os negros na sua capela. Branco na dos Brancos e negros na dos negros.

“ Com a morte da Jacinta , a terra ficou para os negros. A família Panta, que possuía fazenda lindera,não aceitou a decisão e tentou de diversas formas retirá-los do local.Para tento reuniram 400 homens armados e ameaçavam invadir as casas durante a noite. Muitos negros morreram tentando defender suas casas. A resistência era liderada pelos irmãos Mantoca e Maneco Prudêncio. Um dia, a fechadura da igreja dos brancos emperrou e Mantoca ultrapassou a cerca para ajudar a abrir a porta. No dia seguinte, foi morto por alguns brancos.

Poucos negros descendentes dos 87 escravos possuem atualmente terras no local. Os demais se espalharam por várias cidades ao redor, mas grande maioria teria migrado para Porto Alegre, em busca principalmente de emprego, estabelecendo em bairros originariamente com predominância negra, como o Partenon ou Vila Jardim,logo depois para a região Metropolitana . Destas localidades partem todos os anos caravanas com ex-moradores e descendentes do Rincão dos Pretos, para participarem da Festa de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, que acontece no mês de dezembro. Um tradicional evento religioso e cultural integrado entre as duas Capelas, entre brancos e negros todos tem acesso as igrejas independentede raça , mas os negros organizam de um lado ( Capela Bela Cruz) e os brancos organizam do outro.( N. S. Conceição). O Rincão dos Negrosou dos Pretos é um local de referência para a cultura negra de Rio Pardo bem como do Estado do RS, no rincão podemos sentir a presença da história dos fatos e das lembranças vivas no olhar nos costumes no jeito de ser dos moradores do lugar.

FONTES: Dissertação de mestrado de Rui Leandro da Silva Santos/ UFRS; Dados organizados pelo Departamento da Cultura Negra de Rio Pardo, Secretaria de Turismo e Cultura, Zero  Hora, 03.11.1991, p.55

 

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