terça-feira, 10 de dezembro de 2024
NECESSIDADES PARA A GOVERNANÇA DA VILA DO RIO PARDO
MAPA ESTATÍSTICO DA VILA DO RIO PARDO
Vila de Rio Pardo contendo todas as povoações do seu termo e mais quesitos da Portaria da Intendência do Estado dos Negócios da Justiça de 18 de novembro de 1825, exigido por oficio do Desembargador Ouvidor Geral da Comarca de 07 de abril deste corrente ano de 1826.
POVOAÇÕES:
VILA DO RIO PARDO - Fogos (casas) 730.
Nome das povoações - São José de Taquari - 320;
Povoado de Santo Amaro - 262;
Capela da Santa Barbara da Encruzilhada -244;
Capela de S. José de Camaquam -101
Povoamento de Santa Ana 53
Capela de S. Sebastião de Bagé -347
Os Sete Povos das Missões - 485.
Este documento se encontra no Arquivo Histórico de Rio Pardo no códice geral nº 16 do ano de 1826.
Nele se encontra a descrição das POVOAÇÕES do termo de Rio Pardo.
Aqui estamos descrevendo a “Vila do Rio Pardo”, características e modo de vida, conforme documento.
MODO DE VIDA – comércio, criação de gado vacum, alguns cavalar, muito pouco lanígero e lavoura.
QUALIDADE DE LAVOURA- milho, feijão, alguma mandioca e hoje pouco trigo em consequência das estações.
INDÚSTRIA - algum curtume de couros e tecidos ordinários de algodão e engenhos d’água de serrar.
USOS COSTUMES E MODO POLITICO DE PENSAR- adaptam o sistema atual porem, no geral são pouco obedientes as justiças em consequência da Educação e preponderância Militar.
DISTANCIAS – Esta Vila cujo clima é saudável, esta 21 léguas ao Poente da Cidade de Porto Alegre, sobre a embocadura do Rio que lhe dá o nome e tem juiz de fora.
Fonte: Códice Geral n º 16 de 1826 pg.103 e 104
segunda-feira, 9 de dezembro de 2024
EVOLUÇÃO ADMINISRATIVA DE RIO PARDO
CAPITANIA DO RIO GRANDE DE SÃO PEDRO À CAMARA MUNICIPAL DE RIO PARDO
Os primeiros povoados criados no Rio Grande do Sul surgiram em função da conquista e defesa do território. A região, originalmente habitada somente por índios, foi disputada por portugueses e espanhóis e os conflitos armados eram constantes. Até vencer a disputa pelo território, os portugueses não podiam constituir um governo oficial e para consolidar as terras conquistadas contavam com o auxílio dos padres católicos. Os religiosos foram importantes, porque também faziam o controle da população civil. Além do serviço religioso e da preservação dos bons costumes, era o padre que fazia os registros de nascimento, casamentos e mortes. Através destes registros, as pequenas capelas serviam às cerimônias religiosas, mas também eram importantes para descobrir assassinatos, epidemias e possibilidade de conflitos. Além disto, a reunião dos fiéis na capela era a única oportunidade de convívio social entre as pessoas dos primeiros grupos sociais que se formavam e nestas ocasiões as autoridades aproveitavam para comunicar as decisões do governo. Por isto, os primeiros povoados surgiam ao redor de uma Capela Curada – aquela que era regularmente visitada por um padre, que realizava as celebrações religiosas, fazia os registros necessários e transmitia as determinações do governo português. Quando o povoado crescia, aumentando sua população, a Capela Curada podia ser transformada numa Freguesia. A capelinha era aumentada, e logo o povoado atingia o status de paróquia, com Igreja Matriz. O passo seguinte era a criação da Vila. A partir de então, já se formara um núcleo urbano, com instalação da Câmara de Vereadores e autonomia político-administrativa.
Rio Pardo passou por todas estas fases. Tudo começou em 1750, com a assinatura do Tratado de Madri entre Espanha e Portugal, determinando novos limites nos domínios americanos. A partir daí, foi determinada a construção de depósitos de munições e víveres para as tropas portuguesas que iriam demarcar os novos limites. O depósito de Rio Pardo evoluiu para uma tranqueira e, com a Guerra Guaranítica, para a Fortaleza Jesus Maria José.
Em 1801 os portugueses conseguiram conquistar os Sete Povos das Missões e só então começou a organização administrativa do Rio Grande do Sul. Em 1807 foi criada a Capitania-Geral de São Pedro do Rio Grande do Sul. Dois anos depois foram criadas as quatro primeiras vilas da nova capitania: Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha. A posterior instalação de suas respectivas Câmaras de Vereadores finalmente iniciou a vida administrativa. Antes da escolha do ponto estratégico na foz do rio Pardo para depósito das tropas demarcadoras do Tratado de Madri existiam nas cercanias algumas estâncias de criação de gado. A partir de 1752, com a instalação da Fortaleza Jesus Maria José, o território foi sendo conquistado e quando as fronteiras com os territórios dominados pela Espanha começaram a se definir, a administração começou a se organizar. Tudo começou pela administração religiosa, como era o procedimento padrão. Em 1762 a região já era Capela Curada, instalada numa pequena capela construída em 1759, dedicada a Santo Ângelo. Em 1769 foi a Capela Curada passou foi promovida a Freguesia, agora tendo como padroeira Nossa Senhora do Rosário. Em 1779 foi inaugurada uma nova igreja, localizada mais perto da Fortaleza. O passo seguinte foi a criação da Vila, que aconteceu com a Provisão de 7 de outubro de 1809, e a posterior instalação da primeira Câmara Municipal em 20 de maio de 1811.
REFERÊNCIA:
História da Paróquia Nossa Senhora do Rosário – Rio Pardo (acesso: 24/02/2019)
http://www.mitrascs.com.br/paroquias/historia/46
BACK, José Renato. Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo – Diocese de
Santa Cruz do Sul. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, 1986. Instituto de Teologia e Ciências Religiosas – Curso de Teologia.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2024
BIAGIO SOARES TARANINO
DIA DO SEU ANIVERSÁRIO, 08 DE DEZEMBRO.
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
HISTÓRIAS DE SOBREVIVENTES DOS 87 ESCRAVOS - JACINTA SOUZA
História de Jacira de Souza
“Eu e minha irmã Inácia.
Somos as únicas sobreviventes dos antigos 87 escravos de dona Jacinta, não sei a minha idade, só sei que era menina ainda quando da guerra que chamam de rosas e desde aqueles tempos sempre acompanhei e tomei parte nas nossas festas que eram tão boas e que foram trazidas por nossos pais do Congo. A festa sempre teve rei e rainha, o juiz da vara, a juíza do ramalhete, o capitão da bandeira e o procurador da festa, que era animada por muitos instrumentos: Cange, trombeta, tambores, chocalho e depois também violão, executavam o quicumbi, e o samba, danças principais da festa.
Nas procissões toda diretoria usavam vestimentas especiais e coroas, as moças na frente faziam as evoluções e manobras e os outros acompanhavam. O trajeto da procissão era da casa grande até a capelinha. No meu tempo de menina senhora mandava vir da cidade o padre para rezar missa, e de tarde ela sentava rodeada de crianças para assistiras danças”.
Os preparativos para a festa começam meses antes, tendo cada igreja um grupo de pessoas que a organizam. Na Capela Bela Cruz, é encargo atualmente de uma diretoria auxiliada por moradores do local e da sede do Município. Essa diretoria é eleita pela comunidade frequentadora da Capela Bela Cruz, por um período de dois anos, e constituída por presidente, vice- presidente, tesoureiro e conselho fiscal. Na outra igreja, “dos brancos”, a organização se dá a partir de dois casais de festeiros, contando também com a colaboração de um grupo local. Dessa forma, as festas ainda hoje são organizadas separadamente.
No sábado que acontece a festa, o barracão pertencente a capela da Bela Cruz, o “barracão dos negros’, já se encontra agitado desde o início da tarde. Homens se preocupam, principalmente, com as bebidas e com a acomodação das mesas. As mulheres são vistas principalmente na cozinha, preparando as comidas que serão consumidas no baile, á noite, e no dia seguinte. E também na capela, ornamentando-a, com flores e ramos,tarefa com muito cuidado e dedicação.
Embora as festividades em comemoração a Santa sejam no domingo, a festa em si começa ao anoitecer de sábado, com a chegada de pessoas do local esperando amigos e parentes que vem de longe para a festa e, especialmente, para o baile que ocorre nesta noite. São comercializados pelos festeiros, bebidas , doces, churrasco, almoço com variadas saladas e uma variedade de artesanatos e novidades, de pessoas da cidade e muitos ambulantes de fora que vem para trabalhar na festa.
São dezenas de ônibus vindos de várias cidades do Estado principalmente da região metropolitana de PAO, foguetório anuncia a chegada dos grupos, os encontros e reencontros se tornam momentos emocionantes. Parentes e amigos se abraçam numa alegria contagiante, pois além dos turistas e da comunidade rio-pardense, a grande maioria dos visitantes são descendentes do Rincão que somente nesta data retornam a terra natal. O Baile acontece no sábado à noite e no domingo à tarde, juntamente com apresentações artísticas no pavilhão ao lado da capela da Bela Cruz e é organizado pela diretoria.
FONTE: Entrevista Jacira Souza ex- escrava, ao jornal de Cachoeira do Sul, 1952.
FESTA DE NOSSA SENHORA IMACULADA DA CONCEIÇÃO
Festa de nossa senhora imaculada da conceição acontece todo o ano no mês de dezembro na localidade de Arroio das Pedras interior de rio pardo, no assim chamado rincão dos negros ou dos pretos. Este local por se originar de uma doação de terras, em testamento, feita pela fazendeira Jacinta Ana Maria Jesus de Souza, antes de sua morte em favor de seus 87 escravos, A partir desta força étnica cultural que possui o Rincão é que nasce a Festa de Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
A existência de duas capelas, lado a lado a menos de 20 metros uma da outra; “a dos brancos”, Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição e “a dos negros” Capela da Imaculada Conceição.
A Festa através de seu aspecto simbólico possibilita que estigmas, pré-conceitos e outras formas de discriminação racial sejam, ritualisticamente, dramatizados, de modo que possam se tornar estratégias de sobrevivência, ou mesmo de resistência. O Rincão, sua festa seu povo, se constituem um referencial cultural onde outras comunidades de negros ou mesmo outras etnias, podem se reconhecer, já que, de modo geral, a historiografia” oficial” não dá atenção a estes fatos. Pode se encontrar, nesse lugar, exemplo de construção da História de uma comunidade que a cada ano reverencia seu passado e utiliza sua identidade étnica, selecionando ressemantizando elementos que lhes são significativos.
A festa é uma tradição anual que acontece no dia consagrado á Santa, oito de dezembro. Porém quando este dia não cai em um domingo à festa é transferida para o próximo fim de semana. Hoje a festa quando este dia não cai em um domingo à festa é transferida para o próximo fim de semana. Hoje a festa inicia na sexta feira e se estende até o anoitecer do domingo. A festa de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, vem acontecendo à muitos anos embora os moradores não saibam precisar á quanto tempo a festa acontece. Na verdade pelo relato da senhora Jacira de Souza, uma das escravas da Dona Jacinta, em entrevista ao Jornal do Povo de Cachoeira do Sul, em 1952, a festa remontaria o período escravocrata.
FONTE: Entrevista Jacira Souza ex- escrava, ao jornal de Cachoeira do Sul, 1952.
HISTÓRIA DO RINCÃO DOS NEGROS
2ª Parte RINCÃO DOS NEGROS
...Em 1941 uma grande enchente de 41 dias e 41 noites , arrasa o Rincão e as plantações dos fazendeiros negros e brancos foram destruídas .O banco que havia financiado o plantio de arroz tomou dos agricultores quase tudo o que eles tinham principalmente animais e ferramentas. Com a impossibilidade de plantar, dois anos depois o negro, Sr. Estevão acabou vendendo “de língua” mais de quinze hectares de suas terras para Alvino Panta por “16 contos de réis”, assim como seu tio Doca e outros. Segundo dona Dorva negra moradora do Rincão, o Alvino Panta “tontio todos eles para poder comprar estas terras”. Então surge o nome Rincão dos Pantas, ainda hoje moram descendentes da família Panta no local com grandes extensões de terras. Foram anos de lutas e disputa de terras entre negros e os Pantas, guerras até com mortes, os negros queriam de volta suas terras e até hoje buscam seus direitos na justiça. O grande idealizador das emboscadas sofridas pelos negros era o Sr. Fernandes Panta.
A materialização dessa luta discriminatória, intolerante por demarcação de espaços não apenas territoriais geográficas, mas simbólicos, foi à construção de uma outra capela , maior e imponente, com uma torre majestosa resguardando um sino, a menos de uma outra capela da Bela Cruz e tendo por padroeira a mesma santa, para acolher fiéis brancos. Tal igreja, construída no início deste século era mais uma tentativa de intimidação e uma clara demonstração de força e poder de donos de terras brancos, bem como um símbolo de apropriação do território até então dos negros. Por muito tempo fica separado o rincão, os brancos na sua igreja e os negros na sua capela. Branco na dos Brancos e negros na dos negros.
“ Com a morte da Jacinta , a terra ficou para os negros. A família Panta, que possuía fazenda lindera,não aceitou a decisão e tentou de diversas formas retirá-los do local.Para tento reuniram 400 homens armados e ameaçavam invadir as casas durante a noite. Muitos negros morreram tentando defender suas casas. A resistência era liderada pelos irmãos Mantoca e Maneco Prudêncio. Um dia, a fechadura da igreja dos brancos emperrou e Mantoca ultrapassou a cerca para ajudar a abrir a porta. No dia seguinte, foi morto por alguns brancos.
Poucos negros descendentes dos 87 escravos possuem atualmente terras no local. Os demais se espalharam por várias cidades ao redor, mas grande maioria teria migrado para Porto Alegre, em busca principalmente de emprego, estabelecendo em bairros originariamente com predominância negra, como o Partenon ou Vila Jardim,logo depois para a região Metropolitana . Destas localidades partem todos os anos caravanas com ex-moradores e descendentes do Rincão dos Pretos, para participarem da Festa de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, que acontece no mês de dezembro. Um tradicional evento religioso e cultural integrado entre as duas Capelas, entre brancos e negros todos tem acesso as igrejas independentede raça , mas os negros organizam de um lado ( Capela Bela Cruz) e os brancos organizam do outro.( N. S. Conceição). O Rincão dos Negrosou dos Pretos é um local de referência para a cultura negra de Rio Pardo bem como do Estado do RS, no rincão podemos sentir a presença da história dos fatos e das lembranças vivas no olhar nos costumes no jeito de ser dos moradores do lugar.
FONTES: Dissertação de mestrado de Rui Leandro da Silva Santos/ UFRS; Dados organizados pelo Departamento da Cultura Negra de Rio Pardo, Secretaria de Turismo e Cultura, Zero Hora, 03.11.1991, p.55
segunda-feira, 2 de dezembro de 2024
HISTÓRICO DO RINCÃO DOS NEGROS
Autor: Padre Back
O Rincão localiza-se a 35 km da sede do Município, tendo acesso por uma estrada não asfaltada e servida de uma linha diária de ônibus coletivo. Trata-se de uma região com vocação histórica voltada para a agricultura, necessitando de grande quantidade de mão de obra escrava, no período escravocrata, e mesmo depois dele, para suprir a demanda da grande quantidade de fazendas existentes. É nesse cenário de uma grande fazenda que nasce o Rincão, sendo no percurso de sua história vários nomes, sendo o mais significativo “Rincão dos Pretos”.
A história do nome deste lugar, ao longo do tempo, já conta um pouco do percurso dos escravos da Fazenda Jacinta Ana Maria Jesus de Souza. Por ser de propriedade da família Souza, esse lugar era chamado antigamente de Rincão dos Souzas. Esta senhora rica , solteira e sem filhos, antes de morrer, alforriara os seus 87 escravos e deixara a metade de sua fazenda e uma afilhada e a outra metade para seus escravos.
A religiosidade de dona Jacinta fez com que ela mandasse fincar no alto de uma coxilha, bem próximo a sua casa , uma possante cruz de madeira, no local onde as missas eram rezadas, em volta da qual, após sua morte, os negros ergueram uma pequena capela, denominada por eles de Capela da Bela Cruz, tendo por padroeira Nossa Senhora da Conceição.
Sobre o marco da porta central desta capela consta o ano de 1888 como data de sua construção até hoje muito simples. A partir de então o local passou a ser chamado de Rincão dos Pretos. Uma aldeia com expressivo número de moradores pretos descendentes de escravos que ainda hoje cultuam costumes dos seus antepassados. Aos poucos um processo de expropriação, a quase totalidade das terras deixadas para os ex- escravos, após a morte da senhora Jacinta, foi parar nas mãos de poucos latifundiários brancos. As terras do Rincão tinham como limites as terras dos Pantas. Muitos destes negros teriam vendido suas terras a um dos Pantas Sr. Alvino Panta, mas estas transações não aconteceram de forma legal, teria sido”tudo de língua, ou seja, não havia escritura em cartório de registros de imóveis.