- Instruções
do Conde de Bobadela ao Comandante dos Dragões do Rio Pardo, cel. Thomaz Luiz
Osório. Contribuição ao Almanaque do Correio do Povo, pelo Museu Histórico
“Barão de Santo Ângelo”, de Rio Pardo.
Embora relacionado ou citado por eminentes
historiadores patrícios, é o documento pouco conhecido em seu contexto.
Antecede e prevê os acontecimentos que se tornaram
altamente históricos nas lutas e nos trabalhos da formação territorial do Rio
Grande do Sul com a fixação das fronteiras Meridionais do País.
Ressalta, além de outros conceitos:
a) Os elevados conhecimentos da região pelo Conde
de Bobadela, General Gomes Freire de Andrade;
b)A preocupação com a grande concentração dos
índios aldeados no Quartel de Rio Pardo, ocasionando, em consequência, o seu
parcelamento para novos aldeamentos na Cachoeira do Fandango e Aldeia dos
Anjos, origens, respectivamente, dos municípios de Cachoeira do Sul e de
Gravataí;
c) A importância da posição de Rio Pardo e de sua
fortificação como Tranqueira (Fortaleza Jesus Maria José);
d) A preocupação pela defesa da Vila do Rio Grande;
e) As infrações do Tratado de Madrid (1750);
f) A criação das defesas e fortificações de Chuí,
São Miguel e Santa Tereza.
A seguir o documento de 1762 em seu estilo
original:[1]
“Instruções que deve seguir o sr. Coronel de
Dragões Thomaz Luiz Ozorio.
Com a maior brevidade, e com a menos novidade que
for possível, por se não alvorotarem os índios Tapes, que estão em esse
Quartel, sairá V. S dele, deixando aí o seu Sargento Major com o número de cem
Dragões, os mais Práticos desse País, com o capitão Francisco Pinto Bandeira,
um Tenente, um Alferes e um Furriel, e com o resto marchará V. S{ para o
Quartel do Rio Grande, por terra, a não ter embarcações prontas para o fazer
pelo rio; e como em Tororutama há cavalaria gorda, e em estado de serviço, não
tirará V. Sª sem grande necessidade, de cavalhada, que temos em esse Presídio,
mais que a precisa para montar, na marcha se a fizer por terra.
Ao Sargento Major ordeno, o que deve obrar, tanto
no reparo dessa fortaleza, como no mais, que respeita a defensa desse partido,
e Barreira, e mudança dos índios.
O novo governador do Rio Grande, pelo último aviso,
que me faz, sei o deplorável estado, em que se acha, pois os cirurgiões
desconfiam possa vencer as moléstias, que o tem atacado no último fim. Se o
dito governador houver falecido, ou falecer, V. Sª se encarregará do governo; e
como a experiência nos tem dado a ver, que á o presente para a defensa, se faz
mais precisa e útil a residência de V. Sª em São Miguel, ou Chuí, sendo o
governador morto, V. Sª se encarregue do governo enquanto não dou outra
providência, e continue com brevidade a sua marcha para a fronteira com todos
os oficiais, e soldados de seu regimento, pois é certo, quanto maior número de
cavalaria tivermos nela, tanto mais defendida, e segura se conservará a
povoação do Rio Grande, donde a dificuldade da entrada por mar defende as
muitas famílias estabelecidas. No terreno, que medeia daquela vila até Chuí; é
o antemural a tropa, e a fortificação que fizermos no sítio da Angostura, só
essa nos poderá livrar o golpe; e como na guarda de Chuí se não pode fazer
defensa, que cubra o dito terreno, de nos fortificarmos na dita angostura
tiraremos o bem da nossa conservação. E posto que o irmos ganhar aquele
importante passo sem a certeza de estar rota a guerra entre as duas Coroas, é
uma infração do Tratado, que ultimamente se nos tem mandado guardar com a
observância, do que estava em prática antes do Tratado de limites. Contudo,
ajustará V. Sª com o governador, ou com o capitão de infantaria, que ficar
interinamente comandando no Rio Grande, e com o Provedor da Fazenda Real, a
maior e breve remessa de cal e tijolo, que se puder adiantar, cuja remessa
trabalhará V. Sª para que se acomode na parte que mais chegada possa ser a dita
angostura, mas sempre reservada da vista da patrulha castelhana, que
menezialmente vem correr aquela Campanha, como também é indispensável fazer
faxinas o mais perto que ser possa, para nos cobrirmos de pronto. Logo que me
chegue alguma notícia da nossa Corte, ou da nossa neutralidade, ou da guerra
com Castela, e França, sem perder tempo expeço embarcação d ilha de Santa
Catarina, e daquele governador, pelas paradas, chegaram a V. Sª as minhas
cartas, e a certeza das reais determinações. Das pessas de campanha, de que nos
servimos nas passadas, mando recolher a este cidade as quatro feitas no reinado
de Sr. D. João V; das seis deixará V. Sª três para ajudarem a defensa das que
há em essa Tranqueira, e as outras, que V. Sª achar mais a propósito as leve em
sua companhia para as ter na nova
barreira, ou em São Miguel, como melhor lhe parecer, e do Rio Grande se podem
tirar as mais que forem necessárias para aquela fronteira. Como no Rio Grande
há carpinteiros do Trem, adiante V. Sª madeiras, não só para essa, mas para a
mais artilharia, que se entender montar-se, tanto na parte de Chuí como na
Tranqueira, que tenho mandado fazer no Rio Grande na parte, em que está o
hospital.
Quando residi dessa parte, formei duas companhias
de cavalaria dos moradores das Estâncias
até Chuí; não só em estas, mas havendo homens como há, cavalos, V. Sª formará
mais as para que houver número, sendo o de sessenta cavalos cada uma companhia,
pondo-lhe por oficiais as pessoas mais ativas, e podendo ser nobres, que houver
no distrito das ditas companhias: a de que era capitão Felix José, mandei
passar Patente ao tenente da mesma, Antonio José Pereira.
As Ordenanças de pé fará V. Sª regular, para que se conserve em estado de
defender as suas casas e famílias, e em tudo, o que toca a sua formatura
entrará V. Sª, no caso de haver falecido o governador, que sendo ele vivo, lhe
toca a economia, e regularidade do que lhe diz respeito, como da vila do Rio
Grande, e suas dependências, o que não obstante no que for em defensa, ou
fortificação da angostura da parte de Chuí, se V. Sª não concordar com o meu
parecer, declaro V. Sª execute, tanto na trincheira, como na disposição da
guarda da campanha, o que entender mais próprio, e conveniente, por ser certo,
que a experiência de V. Sª, e o muito que há talado esta campanha, faz
provável, que outras experiências lhe ditam os projetos que põe em prática.
Félix José fica a partir para a ilha de Santa
Catarina, e leva todo o dinheiro, que me é possível remeter, tanto para esse,
como para os mais presídios, e continuarei com quanto caiba na minha
diligência. V. Sª nesta ocasião fará recolher ao Corpo todos os soldados que se
acham pelas estâncias, guardas de cavalhadas e registros, mandando o Provedor
por nestes, fiéis capazes, que devem ser pagos pela Provedoria da Fazenda Real,
o que lhes for arbitrado, e nas demais partes supriram alguns peões com
capatazes, os que forem da aprovação de V. Sª, e dos Provedores da Fazenda
Real.
É preciso venham, para serem sem demora
consertadas, as armas que estiverem inúteis, para se dar breve providência,
como relação do estado do todo. Em esta ocasião me serve de grande alívio a
certeza, de que V. Sª conhece o gênio
dos nossos inimigos, e as vantagens, com que em umas partes oprimem, e as em
que a nossa disposição, atividade, valor, e fidelidade e os avantejamos.
Nas embarcações que se ficam expedindo, direito, o
que convier e o que mais ocorrer. Rio de Janeiro a dez de maio de mil
setecentos e sessenta e dois (1762). Conde de Bobadella. – (Documento doado ao
Museu de Rio Pardo pelo sr. Tácito Osório de Azambuja)
REFERÊNCIA: Almanaque
do Correio do Povo – 1971 – Companhia Jornalística Caldas Júnior
OBS: Almanaque
Correio do Povo foi publicado de 1916 até 1984
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