As terras produzem duas vezes por ano, quando se
alternam o milho e o trigo. Planta-se o trigo de maio a agosto, e se recolhe
principalmente em dezembro. Imediatamente após, queima-se a palha e planta-se o
milho na mesma terra sem cultivá-la, fazendo-se apenas covas com a enxada para
aí colocar a semente. – O milho que se planta na terra onde já se colheu o
trigo chama-se milho do tarde;
plantam-se com ele abóboras. Este milho é aquele que dá mais esperança de uma
boa colheita, porque as espigas, antes de sua maturação, recebem as chuvas de
fevereiro e março. Chama-se milho do
cedo o que se planta em outubro e, por conseguinte, em terras onde não se
colheu o trigo. Muitas vezes, suas colheitas não são copiosas como as do
primeiro, porque ele cresce durante uma estação em que as chuvas se tornam mais
raras. Com o milho de cedo, planta-se feijão, que só necessita, nesse país, do
sereno das noites.
Quando se planta em mata virgem, abate-se,
queima-se, lavra-se a terra à enxada, e pela primeira vez aí se planta sempre
milho; corta-se o mato em novembro, queima-se em dezembro; planta-se
imediatamente após. A terra não precisa ser limpa. Colhe-se em maio ou junho.
Semeia-se o trigo à mão, depois se dá uma capina por cima da semente, pois não
surgem senão ervas rasteiras. É inútil limpar a terra. Corta-se o trigo abaixo
da espiga, com a foicinha, depois se corta a palha rente à terra para
queimá-la.
Já no segundo ano, as raízes das árvores estão
bastante podres para se fazer uso do arado, depois da colheita do milho, evitando-se
os troncos que não foram queimados. Mas nessa segunda vez, como na primeira,
não se trabalha a terra a não ser para cobrir a semente; no final de quatro a
cinco anos, cessa-se de plantar milho nessas terras. Após a colheita do trigo,
deixa-se crescer a erva até fevereiro; dá-se uma capina e às vezes duas.
Semeia-se e dá-se uma nova monda. No plantio do trigo basta arrancar à mão o
cálamo ou balanz e o joio, mas limpam-se à enxada o milho e o feijão. Alguns
agricultores usam o arado para tal limpeza, tendo-se o cuidado de colocar uma
focinheira nos bois.
Os índios servem-se da charrua atrelada a um só
cavalo conduzido por um menino.
Quando se vê que a terra não produz mais como
antes, deixa-se repousá-la. Ao final de três a quatro anos pode-se já cortar e
queimar as capoeiras. Sobre as cinzas, semeia-se o trigo; dá-se uma capinação
para cobrir a semente, em seguida, plantam-se no mesmo ano, milho e trigo, como
nas roças novas, e continua-se da mesma forma até que a terra tenha necessidade
de novo repouso.
Ao desmatar-se um campo pela primeira vez, dão-se
de suas a três capinas, conforme a terra seja mais ou menos forte, e após cada
capina passa-se a grade. Semeia-se o trigo pela primeira vez, dando-se sempre
com a mão uma segunda capina para cobrir a semente. Nas terras extremamente
férteis, plantam-se uma ou duas vezes por ano milho e trigo, em seguida
planta-se apenas trigo. Ao fim de quatro ou cinco anos, deixa-se repousar a
terra. O trigo chega a reproduzir de dez a cinquenta por um: cinquenta nas
terras férteis; dez nas terras já cansadas. Vêem-se terras que produzem até cem
por um. Bate-se o trigo com os animais, de igual modo já descrito em Santa
Teresa, tendo-se o cuidado de cobrir a eira com a palha para a terra se
conservar consistente e uniforme. Para o milho, não se utiliza nenhum batedor,
mas se desfazem as espigas à mão. O feijão é batido da mesma forma que o trigo
por meio de animais ou com varas.
Planta-se mandioca só nos campos ou nas capoeiras
muito antigas, onde não há mais troncos. Antes do plantio, dão-se três capinas,
colocando-se mudas, em covas de 3 palmos de distância uns dos outros. Alguns
lavradores colhem-na ao cabo de seis meses, outros ao fim de ano e meio.
Planta-se mandioca em outubro para se colher em maio e junho.
Planta-se a mandioca em outubro e, para impedir que
a geada faça perecer as mudas, enterram-nas profundamente no solo.
Planta-se arroz; mas é um dos grãos mais incertos
por causa da instabilidade do tempo. Quando este é favorável, o arroz rende até
duzentos e trezentos e mais por um, mas quando faltam as chuvas, dá muito
pouco, e ainda o que se planta em terras pouco úmidas alcança melhor êxito do
que aquele que é semeado em terras alagadiças, porque estas últimas, pelo ardor
do sol, se transformam para atingir uma dureza extrema e matam a semente. É o
arroz cabeludo o que se planta o mais das vezes.
Para se plantar o arroz, dá-se geralmente uma
capina com a enxada, limpando-se a terra conforme se deseja.
Algumas pessoas plantam algodão para consumo
próprio, mas as geadas lhe fazem muitos estragos. Os algodoeiros só produzem
bem nos quatro ou cinco primeiros anos, principalmente no segundo e terceiro.
Cortam-se anualmente, rente ao solo, os caules. O algodão é branco e fino, mas
de fio curto.
O trigo é vendido em sacos de couro cru, com seis a
12 alqueires. O número de alqueires é indicado por sinais na borda do surrão; o
negociante adquire o surrão após a declaração do lavrador; mas esse obriga a
colocar sua chancela no surrão e se responsabiliza pela quantidade declarada.
Se há reclamações por parte do consumidor, é, então, condenado a pagar seis mil
réis de multa por surrão e um mês de
cadeia.
REFERÊNCIA:
SAINT-HILAIRE,
Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1997.
P. 476-8.
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