terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

A FORTALEZA DE JESUS MARIA JOSÉ (RIO PARDO) (I) Luiz Ernani Caminha Giorgis


          Conforme Guilhermino César em sua obra História do Rio Grande do Sul - Período Colonial (p. 146), referindo-se às ações do Conde de Bobadela em Rio Pardo, no cumprimento da sua missão de demarcar as fronteiras estabelecidas pelo Tratado de Madri “providência militar de maior importância, fez construir no passo do Jacuí, dando origem à atual cidade de Rio Pardo, um pequeno forte, ou tranqueira, como se denominava, sob a invocação de Jesus-Maria-José (o mesmo nome dado por Silva Paes à primeira fortificação erguida no Rio Grande).” (César, 1970, p. 146).
             Assim, de abril a maio de 1752, “no alto de um penhasco sobranceiro ao rio Jacuí, dominando a várzea fronteira ao Sul e olhando altiva os coxilhões de Capivari ao Norte, foi construída a Fortaleza Jesus-Maria-José II, do Rio Pardo, inicialmente sob a forma de uma estacada.”
             O plano da estacada[1] foi delineado pelo engenheiro João Gomes de Mello e a sua construção foi realizada, em dois meses, por contingentes dos Dragões do Rio Grande, comandados pelo Tenente Coronel Thomaz Luiz Osorio, mais 60 aventureiros de Via-mão[2], ao comando de um tenente de Dragões, o lagunista Francisco Pinto Bandeira, pai do, mais tarde, famoso guerrilheiro gaúcho Major Rafael Pinto Bandeira.
             Francisco Pinto Bandeira foi o comandante da 1ª companhia organizada do Regimento de Dragões do Rio Grande. Alguns de seu bravos e ilustres descendentes se encontram sepultados na Igreja São Francisco em Rio Pardo, defronte à praça onde se encontra sepultado o General Andrade Neves, Barão do Triunfo.
             O delineamento da fortaleza mereceu reparos de um assessor do General Gomes Freire, o Engenheiro Militar Brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim. A construção teve que prosseguir, na iminência de um ataque indígena (Bento, Giorgis, 2005, p. 37).
             Conforme Guilhermino César: “Entre as maiores figuras da engenharia militar portuguesa [...] contava-se o Brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, natural da Colônia do Sacramento [...]. Sob sua direção foi cons-truído o forte de Rio Pardo, entre 1754 e 1755, conforme ofício de Gomes Freire (de 18 Fev 1755) ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos” (Cesar, 1970, p. 160).  
             Em função disso, Gomes Freire confirma Rio Pardo para local de concentração das tropas que seguiriam para os Sete Povos das Missões para o cumprimento das disposições do Tratado de Madri.
             Em 1754, ainda durante a construção da Fortaleza, aquela autoridade determina a transferência de parte dos Dragões de Rio Grande para Rio Pardo, origem dos Dragões de Rio Pardo, o que aumentou a presença militar na região.
              Os Dragões de Rio Grande se originaram, por sua vez, dos Dragões D’El Rei das Minas Gerais, tropa portuguesa chegada ao Brasil em 1719 e sediada em Vila Rica, hoje Ouro Preto.
             Em função destes imperativos, pressupostos e circunstâncias, conforme o Guia Histórico de Rio Pardo: “Estava fundada a cidade de Rio Pardo, que se chamou, por muito tempo, quartel de Rio Pardo, em vista da sua importância militar. O forte Jesus, Maria, José, repeliu as investidas dos indígenas e não permitiu, mais tarde, que as tropas castelhanas passassem. A fortaleza foi um obstáculo intransponível. E a resistência de Rio Pardo consolidou a conquista e a colonização dos portugueses no sul do Brasil. Até hoje o lugar onde se encontrava a fortaleza é denominado Alto da Fortaleza.” (Laytano, 1979, p. 86)  

GIORGIS, Luiz Ernani Caminha. Rio Pardo e a defesa das fronteiras. 1ª Edição. Porto Alegre: Copystar – Gráfica Expressa Porto Alegre, 2018. P.24-8.
               


[1] Local cercado e protegido por estacas ou paliçadas.
[2]Conforme o site da Prefeitura de Viamão (http://www.viamao.rs.gov.br/portal/cidade/1/Hist%C3%B3ria) a povoação foi elevada à categoria de freguesia em 1747. Em 1880 desmembrou-se de Porto Alegre para tornar-se vila e sede do município. Viamão foi o primeiro município do RS.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

PAISAGENS DE RIO PARDO


Principais  feições da paisagem

O Município de Rio Pardo apresenta uma complexa fisionomia natural, com mata nativa, campos com formações florísticas características e banhados. A transição entre estas formações é muitas vezes rápida e o contrato entre as áreas de campo e florestas, ocorre tanto no entorno de matas contínuas, quanto em áreas de vegetação ciliar dos rios e arroios ou até mesmo em capões de mato.
As atividades agrícolas e agropecuárias alteram o ambiente da região, principalmente na metade sul do município com o avanço de plantações de soja e de eucalipto em substituição aos campos de pecuária.
Estes ambientes característicos, em geral, o que caracteriza um ambiente é sua cobertura vegetal, acompanhada de suas respectivas características do meio físico. Os campos, matas, banhados, rios e o ambiente urbano, contribuem na dispersão e localização da biodiversidade ocorrente no município de Rio Pardo.

O mapa a seguir demonstra a transição entre as formações florestais ocorrentes na região. 
Imagem demonstrando os mosaicos da vegetação no território rio-pardense: as matas e florestas de galeria ao longo dos rios e as áreas de campo e agricultura.

FONTE: Ecologia & Biogeografia do município de Rio Pardo, 2018. Nilmar A. de Melo e Vladimir M Panta

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

SOBRE A AGRICULTURA EM RIO PARDO


As terras produzem duas vezes por ano, quando se alternam o milho e o trigo. Planta-se o trigo de maio a agosto, e se recolhe principalmente em dezembro. Imediatamente após, queima-se a palha e planta-se o milho na mesma terra sem cultivá-la, fazendo-se apenas covas com a enxada para aí colocar a semente. – O milho que se planta na terra onde já se colheu o trigo chama-se milho do tarde; plantam-se com ele abóboras. Este milho é aquele que dá mais esperança de uma boa colheita, porque as espigas, antes de sua maturação, recebem as chuvas de fevereiro e março. Chama-se milho do cedo o que se planta em outubro e, por conseguinte, em terras onde não se colheu o trigo. Muitas vezes, suas colheitas não são copiosas como as do primeiro, porque ele cresce durante uma estação em que as chuvas se tornam mais raras. Com o milho de cedo, planta-se feijão, que só necessita, nesse país, do sereno das noites.
Quando se planta em mata virgem, abate-se, queima-se, lavra-se a terra à enxada, e pela primeira vez aí se planta sempre milho; corta-se o mato em novembro, queima-se em dezembro; planta-se imediatamente após. A terra não precisa ser limpa. Colhe-se em maio ou junho. Semeia-se o trigo à mão, depois se dá uma capina por cima da semente, pois não surgem senão ervas rasteiras. É inútil limpar a terra. Corta-se o trigo abaixo da espiga, com a foicinha, depois se corta a palha rente à terra para queimá-la.
Já no segundo ano, as raízes das árvores estão bastante podres para se fazer uso do arado, depois da colheita do milho, evitando-se os troncos que não foram queimados. Mas nessa segunda vez, como na primeira, não se trabalha a terra a não ser para cobrir a semente; no final de quatro a cinco anos, cessa-se de plantar milho nessas terras. Após a colheita do trigo, deixa-se crescer a erva até fevereiro; dá-se uma capina e às vezes duas. Semeia-se e dá-se uma nova monda. No plantio do trigo basta arrancar à mão o cálamo ou balanz e o joio, mas limpam-se à enxada o milho e o feijão. Alguns agricultores usam o arado para tal limpeza, tendo-se o cuidado de colocar uma focinheira nos bois.
Os índios servem-se da charrua atrelada a um só cavalo conduzido por um menino.
Quando se vê que a terra não produz mais como antes, deixa-se repousá-la. Ao final de três a quatro anos pode-se já cortar e queimar as capoeiras. Sobre as cinzas, semeia-se o trigo; dá-se uma capinação para cobrir a semente, em seguida, plantam-se no mesmo ano, milho e trigo, como nas roças novas, e continua-se da mesma forma até que a terra tenha necessidade de novo repouso.
Ao desmatar-se um campo pela primeira vez, dão-se de suas a três capinas, conforme a terra seja mais ou menos forte, e após cada capina passa-se a grade. Semeia-se o trigo pela primeira vez, dando-se sempre com a mão uma segunda capina para cobrir a semente. Nas terras extremamente férteis, plantam-se uma ou duas vezes por ano milho e trigo, em seguida planta-se apenas trigo. Ao fim de quatro ou cinco anos, deixa-se repousar a terra. O trigo chega a reproduzir de dez a cinquenta por um: cinquenta nas terras férteis; dez nas terras já cansadas. Vêem-se terras que produzem até cem por um. Bate-se o trigo com os animais, de igual modo já descrito em Santa Teresa, tendo-se o cuidado de cobrir a eira com a palha para a terra se conservar consistente e uniforme. Para o milho, não se utiliza nenhum batedor, mas se desfazem as espigas à mão. O feijão é batido da mesma forma que o trigo por meio de animais ou com varas.
Planta-se mandioca só nos campos ou nas capoeiras muito antigas, onde não há mais troncos. Antes do plantio, dão-se três capinas, colocando-se mudas, em covas de 3 palmos de distância uns dos outros. Alguns lavradores colhem-na ao cabo de seis meses, outros ao fim de ano e meio. Planta-se mandioca em outubro para se colher em maio e junho.
Planta-se a mandioca em outubro e, para impedir que a geada faça perecer as mudas, enterram-nas profundamente no solo.
Planta-se arroz; mas é um dos grãos mais incertos por causa da instabilidade do tempo. Quando este é favorável, o arroz rende até duzentos e trezentos e mais por um, mas quando faltam as chuvas, dá muito pouco, e ainda o que se planta em terras pouco úmidas alcança melhor êxito do que aquele que é semeado em terras alagadiças, porque estas últimas, pelo ardor do sol, se transformam para atingir uma dureza extrema e matam a semente. É o arroz cabeludo o que se planta o mais das vezes.
Para se plantar o arroz, dá-se geralmente uma capina com a enxada, limpando-se a terra conforme se deseja.
Algumas pessoas plantam algodão para consumo próprio, mas as geadas lhe fazem muitos estragos. Os algodoeiros só produzem bem nos quatro ou cinco primeiros anos, principalmente no segundo e terceiro. Cortam-se anualmente, rente ao solo, os caules. O algodão é branco e fino, mas de fio curto.
O trigo é vendido em sacos de couro cru, com seis a 12 alqueires. O número de alqueires é indicado por sinais na borda do surrão; o negociante adquire o surrão após a declaração do lavrador; mas esse obriga a colocar sua chancela no surrão e se responsabiliza pela quantidade declarada. Se há reclamações por parte do consumidor, é, então, condenado a pagar seis mil réis de  multa por surrão e um mês de cadeia.

REFERÊNCIA:
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1997. P. 476-8.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

DEOCLÉCIO DE PARANHOS ANTUNES


                                                                                                                           
Ten. Cel. Deoclécio Paranhos de Antunes

DE PARANHOS ANTUNES nasceu no Estado do RS, em 1902,na velha cidade de RIO PARDO, a “Bruges a morta do torrão gaúcho”, como ele próprio a cognominou. Pertence ao exército nacional, tendo sido declarado aspirante a oficial, em 1927 no Rio, onde fez seus estudos. Ultimamente muito se tem dedicado à história, publicando principalmente no “Correio do Povo” de Porto Alegre uma série importante de estudos sobre a grande revolução farroupilha.
Infalível trabalhador, alguns livros publicados: “Arrulhos” e “Parque Abandonado”, poesia. História de Rio Pardo, de Cachoeira, Ideias Heterogêneas e Contraditórias, Episódios e perfis de 1835, etc.

FONTE: Episódios e Perfis de 1835. Livraria do Globo Porto Alegre, 1935.
DE PARANHOS ANTUNES, 1935. AHMRP



Orelha do livro Episódios e Perfis
Alguns livros do autor

domingo, 2 de fevereiro de 2020

PROCISSÕES, DEVOÇÕES E FESTAS DE IGREJA


                      Citação do Snr. Pedro Castelo Sacarello, em Relatório encaminhado ao I.B.G.E. após o Recenseamento de 1940 (outubro de 1941), que diz = “...Devido ainda às grandes distâncias e ao fato de haver em cada Freguesia, ou Capela, sacerdotes em número suficiente para os Ofícios Divinos, que sempre as realizavam nas Igrejas desses longínquos Distritos; e devido especialmente ao comércio que atraia poderosamente para esses centros povoados os moradores da Campanha, iam eles se abstendo de comparecer na vila, mesmo em ocasiões das grandes festividades de Corpus Christi e da Padroeira, em que se manifestava o alto sentimento religioso dos moradores no interior da antiga Fortaleza e nos seus arredores em um raio de várias léguas; em ocasiões em que saiam à rua as procissões formadas pelas ricas confrarias, pelas diversas Irmandades, pelos magnatas civis e pelos oficiais superiores da guarnição, à cujo encargo eram entregues as varas do rico pálio, sendo entregue às Damas a guarda de honra do andor de Nossa Senhora do Rosário, a qual aparecia coberta de suas ricas vestes de gala e de suas joias preciosas, que eram, como donativos, a expressão pura e carinhosas de um verdadeiro amor filial, de tantas devotas já então desaparecidas da vida terrena.
                Estas procissões, feitas anualmente, eram formadas por duas extensas alas de Irmãos, cobertos de suas vistosas paramentas, levando tochas na mão e ao centro seus Estandartes, sendo acompanhados, pelos lados exteriores das filas, pelo povo devoto, que respondia às rezas dos Irmãos, caminhando lentamente pelas ruas determinadas, e pisando sempre sobre um chão juncado de flores e folhas verdes.
                À retaguarda do pálio, ia, acompanhando a procissão, uma numerosa Guarda de Honra, comandada por um oficial e trajando todos os fardamentos de gala. Após esta Guarda seguia a música observando-se o mesmo rigor no traje; a qual, de trato em trato, nos pontos principais do trajeto, tocava uma peça sacra, enquanto paravam as rezas.
                Eram características destas festas religiosas, quer no interior das Igrejas, quer nas ruas da vila, uma respeitosa devoção Cristã, praticada com grande esplendor, mas com toda humildade, sem vislumbre de vaidade.

REFERÊNCIA: Estudos de Biagio Soares Tarantino