II ª Parte
DIRETORIA DO COLÉGIO DISTRITAL
Rio Pardo, 17 de novembro de 1902.
Prédio na Rua Andrade Neves esquina Júlio de Castilho, centro. |
Ilutre Cidadão Franco Rodrigues Ferreira M.D.
Intendente do município de Rio Pardo
Convidado por V. Sa. Para apresentar o orçamento dos
utensílios e material de ensino necessário a este Colégio durante o ano de
1903, tenho a honra de vo-lo enviar, esperando que vosso patriotismo inspirado
e o amor ao bem público encontrarão em minhas humildes, mas sinceras palavras,
a verdade nua, singela, incontestável; e, portanto não regateareis esforços
para amparar uma instituição que até politicamente desempenhará em breve, um
papel importantíssimo no vosso município para argumentar o triumpho de nossos
comuns aspirações.
No aludido orçamento figuram não só aqueles objetos indispensáveis
ao ensino como também não deixei de falar no fabrico de móveis com diferentes
dimensões; visto que estes se revestem dessa lacuna, prejudicial ao
desenvolvimento físico das crianças, as quais poderão adquirir deslocamento na
espinha pelo motivo de assentar-se em bancos mais altos ou mais baixos de que
devem.
Muito preocupa meu espírito o diminuto tamanho das salas
onde funcionam as aulas, porque não comportam o numero de alunos que atualmente
tem. A frente do edifício já é imprópria para as lições da manhã porque os
raios do sol penetram até a outra parede, obrigando os alunos a inquietarem-se
com a luz mui forte.
As destinadas para as aulas elementares, que devam ser as
melhores estão em mui piores condições higiênicas por terem uma única abertura.
A pedagogia manda que a luz deva estar na razão de 1:10, isto é, para cada dez
metros de superfície da sala deve ter um metro de abertura na parede para
janela. Pois até nesse ponto as saletas das aulas elementares estão em
desarmonia, porque precisariam duas janelas. Quando os dias são nublados
tornam-se essas divisões do edifício mui escuras. Chama vossa particular
atenção para o que vou dizer-vos, por ser de muito maior gravidade e
responsabilidade para nós: - Todos os pedagogistas estão de acordo com isto:
cada aluno precisa de 30 metros cúbicos de ar puro numa hora; donde se conclui
que uma sala para 25 discípulos precisa 750 ms. Daquele indispensável elemento
da vida animal; ora, tendo cada aula um volume inferir a 125 metros cúbicos, é
claro que a saúde das crianças sofrerá, preparando suas delicadas naturezas
para as graves moléstias do aparelho respiratório.
A lei do ensino
moderno tendo por base a preparação do indivíduo para a vida intelectual, moral
e física, é indubitável que em um, corpo doente não pode vicejar um ensinamento
intelectual e moral.
Como o governo do Estado não pode tomar medidas atinentes(
relativo )a remediar os males, que acabo de indicar-vos, (aquisição de
edifícios próprios) e sim as administrações locais, cabe, pois, a estas a
execução desse fácil problema.
Na Exposição
Pedagógica do Rio de Janeiro, viu-se que em muitos países com a República
Argentina, Estados Unidos, França, Portugal e outros a legislação do ensino
prescreve regras higiênicas e pedagógicas, que são observadas em todas as
escolas, marcando por exemplo o espaço necessário para cada menino, o numero de
janelas e sua colocação, o numero de alunos proporcional as dimensões da sala,
os metros de altura que deve ser o edifício, os utensílios que deve ser cada
escola e outras cautelas a bem da educação física das crianças.
São de eminente pedagogista Conselheiro Leoncio de Carvalho
atual Reitor da Universidade Livre e Popular do Rio de Janeiro as palavras que
seguem: “Por melhor que sejam os professores, os programas, os métodos de
ensino, não preencherão o seu fim, se lhes falharem os edifícios e materiais escolares.
Em casas estreitas, mal situadas e desprovidas de luz e ar
não se pode atender convenientemente a Educação física dos alunos. Sem mapas
globos, instrumentos e aparelhos apropriados é impossível o ensino intuitivo,
cuja superioridade todos insuficientes e impraticáveis o ensino intuitivo, cuja
superioridade todos reconhecem. Obrigados a servirem-se de bancos e de mesas
insuficientes e anti-higiênicos, constroem os meninos defeitos e enfermidade
que tornam disforme seu corpo e abatem as forças do seu espírito. É pelas casas
e pelo material das escolas, observa hipeau?, que melhor se a juíza dos
sentimentos de um povo a respeito da educação.”
Sendo V. S. responsável pela escolha do edifício, que deve
ser higiênico e eu pelo ensino dos alunos, cabe-nos, portanto, o patriótico e
imperioso, dever de prevenir-nos de futuros males.
Saúde e fraternidade
Baltazar dos Santos Paz
,
Diretor
FONTE: C G 115 p. 211 a 213 1902. AHMRP
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