As primeiras confrarias negras
foram estabelecidas em Portugal no século XV e no Brasil começaram a ser
fundadas em 1552, vinculadas aos jesuítas. No Rio Grande do Sul três das mais
antigas são a de Viamão (1754), a de Mostardas (1773) e a de Rio Pardo (1774). Atendiam
educação religiosa ou socorro espiritual, assistência médica e busca de
identidade. Amparavam de diversos modos seus membros: na vida, com empréstimos,
alforrias e doações; na morte, com promoção do enterro em suas capelas e missa
para as almas. Também eram meio de produção cultural. Nos feriados cristãos –
em especial do seu padroeiro – irmãos promoviam festas com coroação de reis e rainhas
africanas, revivendo simbolicamente o mundo perdido. Faziam parte deste tipo de
irmandade negros forros; negros ainda escravizados; pardos e pretos; homens e
mulheres.
Este associativismo era visto
como uma fonte de conforto espiritual e psicológico, como uma arma contra a
discriminação social e racial e como instrumento político porque fomentava
surgimento de lideranças etnorreligiosas.
A hierarquia básica da Irmandade
era composta por Mesa Administrativa, Conselho de Irmãos, Coorte e Estado Maior
com suas Guardas. A Diretoria era eleita anualmente: juiz provedor, secretário,
tesoureiro e procurador, com atividades administrativas e pastorais. Elegiam
também os festeiros, o rei e a rainha, que com o juiz e a juíza organizavam as
festas de Nossa Senhora Rosário e São Benedito.
Em alguns lugares, devido à
perseguição promovida pelo clero, algumas irmandades desvincularam-se da Igreja
Católica.
Em
Rio Pardo a Irmandade de Nossa Senhora dos Homens de Cor começou a ser
organizada em 1773, com uma reunião dos homens de cor da cidade. Em 2 de
janeiro de 1774 foi realizada a primeira eleição, declarando-se a Irmandade
instituída. Em 1781 anexaram a ela a devoção a Nossa Senhora da Lampadosa,
composta de rei, rainha, juiz, juíza, tesoureiro, escrivão, procurador e 8
mesários, que funcionou até 1787. Em 1818 foi anexada a de São Benedito, com os
mesmos empregados. Em 1853 as duas devoções acrescentadas foram suprimidas,
ficando só a do Rosário.
As
festas religiosas, quermesses e procissões proporcionavam aos membros das
irmandades um momento privilegiado de convívio social. Para os escravos era dia
de interromper o trabalho forçado, de aliviar os sofrimentos do cativeiro e
encontrar seus semelhantes, Podia aproveitar para expressar sua cultura,
promovendo batuques e danças de tradição africana.
A Igreja Matriz de Rio Pardo
conserva ainda o altar de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, entre os altares
do Espírito Santo e o de Nossa Senhora das Dores, para o qual os irmãos
adquiriram uma linda imagem de Nossa Senhora do Rosário que foi colocada no seu
altar em 15 de dezembro de 1828. Este altar não possui peças de relevo dourado,
o que revela a origem humilde dos integrantes da Irmandade. Esta imagem foi
transferida para o Altar-mor em 1983, quando a imagem original foi furtada. O
altar da Irmandade dos Homens de Cor hoje é ocupado por uma imagem de Santa
Terezinha.
REFERÊNCIAS:
PESQUISA DOCUMENTAÇÃO
CURIA METROPOLITANA – PROFA. CENI FONTOURA, NOVEMBRO 2018.
MOREIRA, Paulo
Roberto Staud. Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Disponível em:
oikoseditora.com.br/fles/Centros%20de%20documentacao%20-%20E-book.pdf
VOGT, Olgário Paulo
(Org.); ROMERO, Maria Rosilane Zoch. Uma luz para a história do Rio Grande: Rio
Pardo 200 anos: cultura, arte e memória. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta
Santa Cruz, 2010.
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