domingo, 13 de janeiro de 2019

IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS HOMENS DE COR DE RIO PARDO


As primeiras confrarias negras foram estabelecidas em Portugal no século XV e no Brasil começaram a ser fundadas em 1552, vinculadas aos jesuítas. No Rio Grande do Sul três das mais antigas são a de Viamão (1754), a de Mostardas (1773) e a de Rio Pardo (1774). Atendiam educação religiosa ou socorro espiritual, assistência médica e busca de identidade. Amparavam de diversos modos seus membros: na vida, com empréstimos, alforrias e doações; na morte, com promoção do enterro em suas capelas e missa para as almas. Também eram meio de produção cultural. Nos feriados cristãos – em especial do seu padroeiro – irmãos promoviam festas com coroação de reis e rainhas africanas, revivendo simbolicamente o mundo perdido. Faziam parte deste tipo de irmandade negros forros; negros ainda escravizados; pardos e pretos; homens e mulheres.
Este associativismo era visto como uma fonte de conforto espiritual e psicológico, como uma arma contra a discriminação social e racial e como instrumento político porque fomentava surgimento de lideranças etnorreligiosas.
A hierarquia básica da Irmandade era composta por Mesa Administrativa, Conselho de Irmãos, Coorte e Estado Maior com suas Guardas. A Diretoria era eleita anualmente: juiz provedor, secretário, tesoureiro e procurador, com atividades administrativas e pastorais. Elegiam também os festeiros, o rei e a rainha, que com o juiz e a juíza organizavam as festas de Nossa Senhora Rosário e São Benedito.
Em alguns lugares, devido à perseguição promovida pelo clero, algumas irmandades desvincularam-se da Igreja Católica.
                Em Rio Pardo a Irmandade de Nossa Senhora dos Homens de Cor começou a ser organizada em 1773, com uma reunião dos homens de cor da cidade. Em 2 de janeiro de 1774 foi realizada a primeira eleição, declarando-se a Irmandade instituída. Em 1781 anexaram a ela a devoção a Nossa Senhora da Lampadosa, composta de rei, rainha, juiz, juíza, tesoureiro, escrivão, procurador e 8 mesários, que funcionou até 1787. Em 1818 foi anexada a de São Benedito, com os mesmos empregados. Em 1853 as duas devoções acrescentadas foram suprimidas, ficando só a do Rosário.
                As festas religiosas, quermesses e procissões proporcionavam aos membros das irmandades um momento privilegiado de convívio social. Para os escravos era dia de interromper o trabalho forçado, de aliviar os sofrimentos do cativeiro e encontrar seus semelhantes, Podia aproveitar para expressar sua cultura, promovendo batuques e danças de tradição africana.           
A Igreja Matriz de Rio Pardo conserva ainda o altar de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, entre os altares do Espírito Santo e o de Nossa Senhora das Dores, para o qual os irmãos adquiriram uma linda imagem de Nossa Senhora do Rosário que foi colocada no seu altar em 15 de dezembro de 1828. Este altar não possui peças de relevo dourado, o que revela a origem humilde dos integrantes da Irmandade. Esta imagem foi transferida para o Altar-mor em 1983, quando a imagem original foi furtada. O altar da Irmandade dos Homens de Cor hoje é ocupado por uma imagem de Santa Terezinha.

REFERÊNCIAS:
PESQUISA DOCUMENTAÇÃO CURIA METROPOLITANA – PROFA. CENI FONTOURA, NOVEMBRO 2018.

MOREIRA, Paulo Roberto Staud. Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Disponível em:
oikoseditora.com.br/fles/Centros%20de%20documentacao%20-%20E-book.pdf


VOGT, Olgário Paulo (Org.); ROMERO, Maria Rosilane Zoch. Uma luz para a história do Rio Grande: Rio Pardo 200 anos: cultura, arte e memória. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, 2010.

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